Capítulo 47: Campeã caída!

[Wild Area - Galar]

Anos atrás

    Saltando de pedra em pedra num extenso lago, uma mulher de camiseta branca suada, mas segurando uma bolsa muito chique, simulava uma fuga embora ninguém a perseguisse. Havia um rádio portátil saindo de um dos bolsos do cinto que rodeava sua barriga.

"A relação do homem com a natureza sempre foi de desigualdade. Enquanto o homem precisa da natureza para viver, prejudica o meio ambiente."

    A mulher, em um de seus saltos, agarrou-se nos galhos de uma árvore, se impulsionando ofegante para cima dele. Ela encostou no tronco e olhou a paisagem, sentindo a brisa em seus cabelos.

"Com o desenvolvimento das civilizações, foram custados mais recursos naturais sem que as consequências futuras fossem levadas em consideração."

    Disparando uma Shadow Ball contra as pedras que bloqueavam a entrada de uma caverna, uma Gourgeist abria caminho para a mulher passar. Por trás dela, o topo da caverna desabava e uma pedra caiu por cima de um de seus sapatos, a obrigando a deixá-lo para trás para continuar correndo.

"Mas a natureza nunca precisou do homem..."

    Quando a mulher nadava batendo os braços o mais rápido que conseguia, por trás dela sua Togekiss a disparava ataques, treinando-a para desviar do que fosse passar. Em determinado momento ela foi atingida em uma das mãos, deixando uma marca vermelha. Mesmo com a dor, continuou nadando até o final do percurso.

"Atualmente busca-se por um equilíbrio entre as necessidades do homem e sua relação com a natureza. Agora, um depoimento de Ramos..."

Diantha: Equilíbrio... — disse, desligando o radio e procurando por uma garrafa d'água em outro bolso de seu cinto. Ela destampa e joga o líquido por cima do rosto, refrescando-se.

    Ao seu lado, Gardevoir também fazia o mesmo. Assim como sua Treinadora, também havia feito o mesmo treino, saltando pelas pedras, na caverna e na água. Diantha a olhou com um sorriso e as duas encostaram as testas, abraçando-se sorrindo.

[Wild Area - Galar]

Atualmente

    Vagando pelas redondezas, Golett não tinha pressa alguma de ver a paisagem. Ele colhe uma flor, mas todas as pétalas são arrancadas com o vento. Uma batalha acontecia ali e os movimentos que se chocavam eram intensos.

Bea: Machamp, mantenha o foco! Temos que vencer! Temos que fazer mais!!!

    Numa chuva de socos, Machamp dava tudo de si. Tinha as canelas levemente cristalizadas e várias marcas roxas pelo corpo.

    Estava combatendo contra o Mr.Rime Nezly, que girava seu cajado de gelo tão rápido que conseguia bloquear todos os socos. Seus olhos nem piscavam, parecia ter chamas por dentro.

Diantha: Nezly... — Ela percebeu assim que viu Machamp prender o cajado entre duas de suas mãos e usas as livres para socar a barriga do Pokemon, o chutando para trás.

Bea: Vital Throw!

    Dando uma cambalhota, Machamp pega Nezly e o passa por todos os seus braços até arremessá-lo com toda a força no chão, arrancando gramíneas e terra para os lados. Diantha segurou no colar de seu pescoço, fechando os olhos e abaixando levemente a cabeça.

Bea: Diantha — disse, mastigando uma barra de chocolate. Machamp recebia ajuda de Machop e Machoke, que faziam curativos em seu corpo. — A luta foi intensa, uma pena não estar perto da minha posição no ranking.

Diantha: Eu não tenho nenhum ponto ainda — disse, abaixando-se para pegar Nezly, o borrifando uma poção. — Obrigada, querida, pelo treino.

Bea: O que aconteceu com a sua Gardevoir? 

Diantha: Oh, sobre isso... Estou só tentando variar, tchauzinho! — Ela se levantou rapidamente, regressando Nezly, pegando sua bolsa e acenando.

Bea: Certo... — Sem entender muito, ela volta ao seu treinamento, não se importando muito.

Diantha: Ai, saiam de mim! — Ela balançava os braços tentando afastar alguns Beedrill que voavam por perto. — Porcaria de repelentes que não funcionam!! Nezly, ataca elas!

~Rime! — Ele girou o cajado, afastando as abelhas.

Diantha: Lindo, por isso que você é meu melhor amigo! — Ela piscou ao Pokemon que imitou o gesto, piscando de volta. — Nossa, meus pés já estão mortinhos! Já estamos aqui há quantas horas?

    Nezly mostrou três dedos, o que Diantha interpretou como 3 horas, mas a verdade é que foram 30 minutos. Ela se espreguiça e gesticula para Nezly entregar a mochila que carregava.

Diantha: Aí estão eles, macarons da cafeteria da Valéria, os melhores — disse, jogando um para dentro da boca, mas seus dentes bateram e ela não o sentiu. — Ué?

    Com o macaron preso um de seus ferrões, Beedrill o mastiga, gostando do sabor. Ela chama pelas amigas e todas se enfiam na mochila de Diantha, roubando toda a comida.

Diantha: Ai, mas não sobrou nadinha... — Ela é consolada por Nezly, que o entrega uma folha. — Sabe que eu só sou vegana na frente das câmeras, não sabe?

    Exaustos e famintos, Diantha e Nezly escutam suas barrigas roncarem. As narinas da Campeã começam a sentir algo e ela fica atenta, seguindo o cheiro. Nezly usa a bengala para abrir caminho entre arbustos e os dois veem uma panela pendurada por cima de uma fogueira. Braços fortes de um homem moreno com muitos pelos cozinhavam algo gostoso, mexendo com uma colher de madeira.

Diantha: Huuum cheirinho gostoso... — Ela salivava, mas se esconde quando o homem olha para o arbusto.

 — Ora, para que tanta timidez? Venha, aproxime-se, pode se juntar e aproveitar o curry! — disse o homem, acenando para o arbusto.

Diantha: Quanta gentileza, eu estou mesmo com fome e...

    Passando por Diantha, um Pangoro sorridente se senta próximo da fogueira, a deixando com vergonha de ter entendido errado. O homem então a percebe, gargalhando.

 — Mas também vai ficar parada aí? — Ele perguntou e Diantha dessa vez conferiu o redor para ver se não tinha outro Pokemon. — Venha, se está com fome eu fico feliz em servi-la um almoço.

Diantha: Obrigada, é muita simpatia para uma pessoa só — disse, sentando-se no tronco de árvore que o homem também estava. Ela então repara nas roupas dele, vendo um manto surrado e sentindo um cheiro não tão agradável. — P-Pensando melhor, eu não posso aceitar, já estou indo...

 — Quer já passar para a sobremesa? — Diantha corou com a pergunta, mas ele então mostrou um saco de marshmallows.

~Rime! — Nezly mostrou que queria ficar logo após sua barriga roncar.

Diantha: Ai, mas é um mendigo...

 — Não sou mendigo — disse o homem entre risadas. — Mas se estiver com fome, pode se servir, Diantha.

Diantha: Como sabe meu nome? — Assustada, ela já colocava o curry no prato.

 — Hehe... O que faz por aqui, tão longe de Kalos?

Diantha: Espera... — Ela olha bem para o rosto do homem, que sorria e servia Pangoro. — Eu que te pergunto! O que você está fazendo aqui? — Enfatizou o você. — Alder, o Campeão de Unova! Já gravei muitos filmes nos estúdios de lá!

"Inclusive a premiere do meu lançamento mais recente foi um sucesso, todos amaram!"

Alder: Ah, você sabe, que jeito melhor de me conectar com o mundo se não vivendo na natureza?

Diantha: Então é mesmo um mendigo... Espera, não está gravando o que estou falando, né?

Alder: Não... Olha, eu não tenho mais o título pelo qual me chamou — disse, provando o curry e fazendo biquinho. — Que delícia! Mas precisa de mais pimenta.

Diantha: É o quê?!

Alder: Sim, é verdade. Há uma menina prodígio em Unova, uma Treinadora muito habilidosa com um talento realmente raro para lidar com dragões. Seu nome é Iris — disse, vendo a surpresa no rosto de Diantha. — Foi uma honra passar o meu posto para ela. Quer mais curry?

Diantha: M-Mas... Não está triste com isso?

Alder: Por que estaria? Iris está competindo no Galarian Star Tournament, já deve estar no Top 8, onde jamais cheguei.

Diantha: Ah... — Alder notou seu desânimo. — Eu ainda mantenho o meu título, mas as pessoas não acreditam mais em mim, então seria melhor se eu saísse como você fez.

Alder: Como assim?

 

Diantha: Por acaso não tem internet? Sem querer ofender todas as cidades que ainda não possuem acesso e... — Ela percebeu Alder confuso. — Desculpe, força do hábito... Mas é isso, as pessoas me massacram na mídia. Qualquer coisa que faço é motivo para me detonarem a semana inteira, me sinto uma piada desde que não fui capaz de lutar contra uma organização inteira que ameaçava Kalos...

Alder: Eu estava perguntando sobre as pessoas não acreditarem em você, não no motivo disso. E daí que falam tanto a seu respeito?

Diantha: E daí? Como e daí? Como posso mostrar que me preocupo com as pessoas se elas acham que estou mentindo ou que não sou capaz de fazer nada?

~Pango? — O panda terminou de comer, agradecendo e se levantando. Alder pegou o prato e pensou um pouco na resposta.

Alder: Não entendi ainda o que isso muda na sua vida.

Diantha: Já está me irritando! Como não consegue entender que se Kalos me vê como uma piada, significa que... — Ela então escuta Alder rindo ao seu lado. Ele coça a barbicha no queixo e ela cruza os braços.

Alder: Você não me levou a sério até perceber quem eu era e nem me importei. Durante todos os anos que mantive meu cargo de Campeão em Unova, sempre foi da mesma forma, acredito que pelo meu jeito mais relaxado.

Diantha: E você não surtou tentando fazer com que te amem?

Alder: Hahaha!! Diantha, você é mesmo um charme! Se não percebeu, eu não me importo com o que pensam e falam. Deveria fazer o mesmo!

Diantha: Mas... — Ela olha para o fogo se apagando, suspirando. — Não faz sentido...

Alder: Quando foi a última vez que fez algo por você?

Diantha: Olha, antes de vir para cá eu passei num salãozinho bem caído de uma Leila e... — Ela vê Alder negando com a cabeça.

Alder: Por você de verdade — encostou no próprio peito, bem no coração. — Anda, vou ensiná-la!

Diantha: O-Okay! — Segurando na mão gigante de Alder, Diantha se levantou.

    Perseguindo Diantha e Alder, o grupo de Beedrill de antes para no meio do caminho, vendo os dois sentados e tomando chá, servidos por Nezly.

Alder: Quer mais açúcar, Diantha?

Diantha: Não, já está docinho! — Ela piscou e as Beedrill afastaram-se, percebendo que ela não se importava.

Bea: Ei, tomem cuidado!! — gritou, vendo Diantha e Alder conversando num barquinho pela lagoa, com Nezly remando.

    Um Gyarados que vivia ali se ergueu da água para atacar, mas Alder e Diantha o apontaram uma câmera, fotografando e depois o mostrando como saiu a foto. Corada, a serpente volta para debaixo d'água.

Diantha: Oh... — Em seu celular, ela vê uma mensagem de Drasna da Elite de Kalos "Amiga.Estão.Tds.Faland.O.De vc. * Imagem de bom dia * * Imagem de oração * Verdade que.Foi para.            W.illson Area ?Wild.E screvi errado kkk."

Alder: Não é importante — disse, abaixando o celular. Diantha assentiu com a cabeça, desligando o aparelho.

    Quando Diantha e Nezly brincavam de jogar pedras na água, uma Chewtle saltou para o braço dela, cravando seus dentes. Alder sorriu, perguntando se estava bem.

Diantha: Estou ótima... Melhor impossível... Hahaha... — Prendendo as lágrimas, ela continuava mostrando que não se importava.

    Mais tarde, Diantha seguia um grupo de Rolycoly que levava Alder por cima deles, todos deslizando pela Wild Area em direção a uma caverna.

~Roly coly! ("Vamos sacrificar esse humano para agradar o nosso Deus!") — disse o maior entre eles, o líder.

Diantha: Tudo no controle, Diantha, estamos só nos divertindo!

Diantha: Não parece muito!! — Ela vê os Rolycoly virando para jogar Alder no fogo.

    A noite chegou e agora Alder liberava seus Pokemon. Diantha percebeu que ele carregava várias Pokeballs presas em sua roupa e viajava sem muita bagagem. Aos poucos o cheiro dele não a incomodava mais, talvez pelo dela estar ficando semelhante. Nezly olhava as estrelas, com a cabeça por cima dos braços, deitado na grama.

Diantha: Ufa... Está certo? — Ela viu o fogo acender por cima de gravetos e folhas. Alder assentiu e ela enxugou o suor da testa. Agora estava sem seu traje de Campeã, usando uma camiseta simples. — Isso me resgata memórias tão antigas que quase parecem sonhos...

Alder: Quer contar? — Ele a entregou um marshmallow enquanto sua Volcarona se esfregava em seu rosto como se o beijasse.

Diantha: Quando eu saí de casa pela primeira vez ao lado da minha Ralts... Antes de ser tão famosa, linda, colocar silicone e... Enfim, já fui uma viajante simples e sonhadora. Costumávamos acampar todas as noites e dar nomes para as estrelas. Pensávamos que todas elas eram nossas amigas também, era divertido. Coisas de criança...

Alder: Guarde essas memórias, são importantes. Eu as levo sempre comigo e por isso não perco meu jeito de viver, gosto de viajar dessa forma, não importa o que falem.

Diantha: É por isso que veio para Galar, de verdade? Cultivar suas memórias de jornada.

Alder: Foram nelas que me tornei um Campeão, estou certo? Quero subir no ranking por aqui e quem sabe recuperar meu título algum dia... Isso só o tempo vai dizer.

Diantha: Passar o dia fingindo que não me importo com duvidarem de mim foi divertido, mas eu vim aqui por outro motivo... Qual era mesmo, Nezly?

~Riiime! — Ele gira sua bengala e uma Pokeball flutua do bolso de Diantha.

Diantha: Oh, era mesmo isso! Ouvi falar que existe uma área chamada Dusty Bowl onde posso evoluir meu Pokemon.

Alder: É exatamente onde estamos — disse, mastigando. — De frente para as muralhas de Hammerlocke, onde a antiga civilização de Galar caiu em ruínas.

    Caminhando pelo local, Diantha vê diversas grandes pedras espalhadas. Ela nem havia reparado antes, quando de repente uma iluminou-se e se moveu diante de seus olhos.

    Tratava-se de um Steelix que parecia querer impedir que Diantha passasse por um arco de pedras. A serpente rugiu e Alder comandou Volcarona para intervir, com esta se envolvendo em chamas e batendo no rosto do Pokemon.

Diantha: Deixe comigo! Nezly, Yamask! — exclamou, arremessando uma Pokeball.

    Juntando-se com Nezly, um Yamask com os punhos envoltos por sombras encara o Steelix. Nezly faz mímica com o Pokemon, copiando seus golpes de pedra e devolvendo-os para ele. Quando o pequeno Yamask parte para atacar, a pedra que carregava acende-se junto de escrituras nas rochas dali, todas reluzindo em escarlate.

Alder: São runas — disse, encostando nas pedras. Steelix curvou-se para o Pokemon de Diantha, que não esperava por isso. — Talvez... Runas de proteção para a cidade?

    Yamask flutua por dentro do arco de pedras, como se lesse as runas e descobrisse um segredo ali guardado. Diantha viu seu corpo inteiro se modificando e sua sombra se deformar. A pedra que levava tinha o desenho semelhante a uma cauda e novas outras juntam-se a ele, como se agora fosse um enorme mural... Onde um dragão vermelho era representado nos escritos rúnicos.

    Yamask havia evoluído para Runerigus, identificado por Diantha. Pelo arco de pedras, as runas ali representadas começam a se mover, revelando que eram outros da mesma espécie, também com as pinturas representando um dragão. Alder supôs que esses Pokemon protegessem a cidade Hammerlocke há muitos anos e agora o Yamask de Diantha se tornou parte desse grupo.

Diantha: Quem diria que meu Yamask se tornaria tão poderoso assim! — Ela levantava a Pokeball com Runerigus dentro, caminhando com Alder, Nezly e Volcarona. — Cozinhar, acampar, enfrentar Pokemon selvagens e treinar novos... Você estava certo, Alder.

Alder: Não estava? O melhor jeito de pensar é que devemos fazer as coisas por nós mesmos, de verdade.

    Diantha reflete um pouco com tudo isso. Ela repara no jeito de Alder, era alguém que não se importava mesmo com o que os outros pensavam, conseguiu entender isso. Mas ela era diferente, se importava e estava enfrentando o pior momento de sua vida, provavelmente. Ao mesmo tempo, sentia que todos aqueles momentos que viveu hoje ainda parecia incompletos, como se faltasse algo...

    Ou alguém...

Diantha: Tomei minha decisão. Não voltarei para Kalos agora, quero me dedicar ao Galarian Star Tournament também. E talvez... — Ela levanta a Pokeball de Gardevoir, a vendo dormindo lá dentro. — Talvez o tempo possa me dizer o que devo fazer.

Alder: Bem vinda ao time dos Campeões caídos — disse entre risadas, estendendo a mão para Diantha. — Vamos juntos?

    Assentindo com a cabeça, Diantha fecha os olhos e junta os lábios, aproximando seu rosto de Alder. Este olha para os lados, não entendendo e se afastando.

Alder: Q-Que isso, Diantha?!

Diantha: Achei que estivéssemos no clima, por favor, não posta na internet!

Continua

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    Sliggoo disparava seu Dragon Pulse no campo de batalha de um ginásio com várias árvores e flores por todos os lados. Havia um velho tomando café e apoiado numa grande tesoura de jardinagem, assistindo ao combate.

    Sendo derrotado, o Gogoat da líder de ginásio logo foi regressado. Esta caminhou até a desafiante, segurando um distintivo em formato de folha.

Aliana: Aqui está, sua insígnia do cultivo! É a sua quarta, não é? Não sabia que voltou a desafiar os ginásios de Kalos...

...Leuri.