Capítulo 14: O filho perfeito!

 Siebold: Agora demonstre nosso tempero especial para finalizar o prato principal! Use Aura Sphere!

    Enquanto mexia algo numa panela, Siebold comandava para seu Pokemon, Clawitzer, que abria sua garra maior aos poucos. Uma luz escapava pelos cantos dela, cada vez mais intensa, até ele abri-la por completo e disparar uma esfera áurica azulada. O pulso de seu movimento é tão intenso que todo o cenário se distorce.

Marley: Então esse é o programa de culinária do Siebold... — Ela estava sentada num banco alto, com os braços repousados numa mesa redonda com estampa do rosto de um Pikachu.

Brendan: Yep! Ele cozinha, apresenta, performa e no final enfrenta algum oponente no castelo dos Campeões de Kalos! — Ele chegava com dois donuts, sentando-se de frente para a garota. — Não precisa mentir, o Fan Club não é seu lugar preferido, né?

Marley: Digamos que minhas roupas têm duas cores e tudo aqui tem pelo menos umas vinte — respondeu e Brendan riu, mordendo um donut em seguida.

Brendan: É bem vinda do mesmo jeito, o Fan Club não é só para Coordenadores! Confesso que ando frequentando mais pelos donuts do que por qualquer outra coisa.

Marley: Tem razão, os donuts me fariam mesmo voltar.

Brendan: Ai, Marley, estou feliz por ter vindo comigo!

Marley: Fala a verdade, ninguém mais quis vir, né?

Brendan: Não foi isso! Okay, talvez tenha sido sim, mas não é como se eu tivesse muitos amigos aqui em Jubilife. Um tinha treino de futebol e a Sara e o Sid estavam ocupados, mas a verdade é que eu ia convidar todos vocês.

Marley: Você é um fofo, Coordenador. Mas então, até agora seu sábado se resumiu em donuts?

Brendan: Também terminei um trabalho sobre itens de manhã, meu amigo me ajudou a achar o item perfeito para a minha Amaura, a Lala. É uma rocha gelada, vai ajudar a aumentar a duração do Hail! Vou apresentar na terça, seria legal consegui-lo também, vou ver se encontro em algum lugar.

Marley: Está fazendo trabalhos da escola? Droga, agora você precisa vandalizar alguma coisa pra voltar pra detenção na segunda! — Os dois voltam a rir.

Brendan: Nah, amanhã vou estar na Copa Fantina, ainda hoje tenho que ir para Hearthome. Mas sério, segunda eu encontro vocês no parque para a próxima arrecadação, prometo! Não vou desapontá-los.

    Sorrindo, Marley encara seu donut. Ela ouve as pessoas no Fan Club vibrando com o que assistiam do programa do Siebold, então tem uma ideia.

Marley: Você podia passar lá em casa antes de ir, eu tenho quase certeza que tenho esse item guardado. Pode te ajudar na sua performance na Copa.

Brendan: Sério?! Seria perfeito!

    Os dois continuaram conversando e terminaram de comer, com Marley ainda levando um donut para viagem. Ela levou Brendan até um dos altos prédios de Jubilife, onde subiram de elevador até o andar do apartamento onde ela morava.

Brendan: Acho que é a primeira vez que uso elevador para visitar alguém! Dá vontade de apertar tantos botões...

Marley: Parece até meu irmão quando era criança... — Ela riu e destrancou a porta de casa.

Lucinda: Marley? Pensei que tivesse saíd... Oh!! Você trouxe um garoto! — Ela estava no sofá assistindo televisão, mas quando viu Brendan, levantou-se.

Brendan: É um prazer conhecê-la, sou o Brendan! — Ele se aproximou da mulher, a cumprimentando com um beijo no rosto e um rápido abraço. — Nossa, eu amei sua pantufa de Buneary, já tive uma igual!

Lucinda: Educado... Marley, onde arrumou esse? Já acho que é o melhor entre todos os amigos que você já me apresentou!

Marley: É, é... Vem, Brendan, vou pegar a rocha gelada, tá lá no meu quarto — chamou pelo garoto, que ria junto com sua mãe, mas obedeceu e a seguiu. — Não repare na bagunça do quarto do meu irmão, só ele não se perde lá dentro...

    Brendan olhou de relance pela porta do quarto do irmão dela, conseguindo ver apenas algumas bolas jogadas pelo chão. Então, parou de frente para o dela, onde a porta era branca e tinha uma placa pendurada escrito "Não entre se não for para me dar dinheiro".

Brendan: Wow... — Foi o que escapou de sua boca quando Marley abriu a porta e ele viu as paredes pintadas de preto e com vários pôsteres de Treinadores e bandas famosas. — Marley, seu quarto é muito gótico!

Marley: Obrigada. — Ela puxou uma cadeira e sentou-se de frente para sua penteadeira, abrindo uma gaveta e procurando por algo. — Pode ficar a vontade.

    Brendan espiou o armário de Marley, vendo apenas roupas pretas e calças jeans rasgadas. Ele sentou-se na cama dela, onde o edredom era roxo, mas sentiu algo por baixo e era uma pelúcia de Gothita.

Brendan: Oh... — Ele reparou em várias outras pelúcias de Gothita diferentes em cima de um travesseiro. — Você gosta mesmo da Gothita, né?

Marley: Eu sempre quis ter uma Gothitelle, foi só dizer isso pro meu pai que dez anos depois continuo ganhando várias dessas de aniversário e natal — falou, abaixando-se e puxando um baú que estava escondido por baixo de sua cama. Brendan sorriu para a pelúcia, a deixando junto das outras. — Sou uma grande fã da Caitlin, ela tem um distrito no Battle Resort e sua principal Pokemon é uma Gothitelle.

Brendan: Sério? Isso explica bastante coisa! Caitlin parece ter uma personalidade parecida com a sua, a conheci na inauguração do Battle Resort.

Marley: O quê? Isso parece um sonho pra mim! Você lutou com ela?

Brendan: Não, haha! Eu não consegui vencer muitos distritos, mas pelo que sei da minha amiga Leuri, ela é uma oponente formidável.

Marley: Leuri, a Campeã de Hoenn... Você é cheio de surpresas, Coordenador! — Ela abriu o baú, começando a retirar objetos de dentro dele. Entre eles, um diário com cadeado de caveira. — Seu mordomo Darach cuida do distrito enquanto ela está ocupada em Unova. Eu queria ter ido na inauguração para encontrá-la...

Brendan: Você deveria visitar algum dia quando a Caitlin estiver por lá e tentar os desafios — disse e Marley agarrou em algo dentro do baú.

Marley: Sim... É, talvez sim. — Ela sorriu e levantou uma pedra com cristais saindo de dentro dela. — Aqui está. É uma rocha gelada autêntica, eu mesmo minerei no subsolo de Sinnoh quando desafiei os ginásios.

Brendan: Você tem certeza que posso ficar com isso? É uma memória da sua jornada, eu... Não sei se mereço isso.

Marley: É um presente, você é obrigado a aceitar! Vai continuar sendo uma memória, agora uma melhor ainda. — Corada, ela colocou a pedra nas mãos de Brendan, que a abraçou para agradecer. Ela não abraçou de volta, apenas sorriu.

Lucinda: Oh! — Ela abriu a porta do quarto, segurando uma travessa com sanduíches e dois sucos. — Achei que gostariam de um lanchinho!

Marley: Mãe, não é pra entrar!

Brendan: Obrigado! — Ele se levantou para pegar a travessa. — Parece delicioso!

Lucinda: Tá vendo, Marley? Você bem podia aprender algo com ele — disse, deixando o quarto.

Brendan: Sua mãe é uma fofa — falou entre mordidas no sanduíche.

Marley: É porque não convive com ela...

    Assim que terminou de comer, Brendan foi para a cozinha lavar seu prato e o copo, passando pela mãe de Marley na sala.

Lucinda: Brendan, não precisa! Deixa que eu lavo!

Brendan: Eu que usei, deixa comigo!

Lucinda: Tão prestativo! — Ela continuou sentada no sofá. Sentando-se ao lado dela, Marley cruzou os braços.

Brendan: Você tá vendo dorama?! — perguntou assim que voltou para a sala e viu o programa que a mulher assistia.

Lucinda: Você gosta?

Brendan: Eu assistia o tempo todo! Qual é o seu preferido? Eu amo aquele que...

    Ouvindo os dois conversando sem parar, Marley ficava cada vez mais irritada, até que...

Lucinda: Você é uma ótima influência para a minha filha, podia apresentar a loja onde compra roupas tão coloridas para ela e...

Marley: Ah, ótimo, vai começar com isso de novo, mãe?

Lucinda: Filha, só estou... Ehr, sugerindo, que se você mudasse algumas coisinhas e ficasse mais parecida com o seu amigo ou mesmo o seu irmão...

Marley: Então por que não me troca por ele logo? — O pensamento escapou por sua boca, mas ela apenas virou a cara.

Lucinda: O que você disse? Eu nunca trocaria você!

Marley: Não precisa fingir que gosta de mim igual finge que gosta do meu pai. — Ela se levantou e sorriu sarcasticamente para a mãe, que arregalou os olhos. Brendan tremia os dedos sobre a perna, não sabendo como reagir.

Lucinda: Volte aqui, mocinha! — Ela se levantou também, mas Marley bateu a porta de seu quarto. — Argh! Que isso seja só uma fase...

Brendan: Marley, sou eu — disse, batendo na porta do quarto, mas ela não respondeu. Ele respirou fundo e a abriu, encontrando-a sentada na cama e segurando uma pelúcia de Gothita.

Marley: Desculpa por você ter presenciado isso, minha mãe é sempre assim, não gosta de nada sobre mim. Geralmente a briga é pior, mas...

Brendan: Hey, não precisa me explicar! — Ele sentou ao lado dela. — Só... Saiba que eu te enxergo, se isso ajudar. Também gosto das suas coisas, eu com certeza teria um diário de caveira igual ao seu!

Marley: Haha... — Ela enxugou uma lágrima e olhou para Brendan. — Ela me faz sentir que eu deveria ser como você...  As vezes até eu queria. Ser o filho perfeito, deve ser bom.

Brendan: Espera, o quê? — Ele começou a rir, deixando a menina confusa. — Se eu ganhasse uma moeda a cada vez que quebrasse uma expectativa dos meus pais... Olha, eu já poderia ter comprado muitos donuts no Fan Club!

Marley: Você é mesmo um garoto legal, Brendan. Detenção não combina contigo. — Se sentindo melhor, ela levantou-se. — Bem, acho que precisa ir para Hearthome agora, não é?

    Marley se voluntariou para acompanhar Brendan até um dos ponto de ônibus de Jubilife, onde mais algumas pessoas esperavam o transporte para Hearthome. Passaram o caminho conversando, mas perceberam que ainda teriam que esperar algum tempo ali.

Marley: O que me diz de uma batalha enquanto isso? Nunca cheguei a enfrentar um Coordenador antes!

Brendan: Vamos considerar isso um aquecimento para os nossos próximos desafios — disse para a menina, que sorriu e tomou distância dele, pegando uma Pokeball. — Melvin, Umi, saiam!

    Os dois Pokemon de Brendan deixaram as Pokeballs, mas Umi escondeu-se nos pelos do dragão. Brendan o pegou e ele correu para baixo de sua touca, colocando só a cabeça para fora.

Brendan: Quero que assista essa batalha e absorva um pouco do que é um combate — disse para o Pokemon, que concordou rapidamente com a cabeça.

Marley: Eu escolho Umbreon! — exclamou, liberando seu Pokemon de uma Love Ball.

    Os dois Pokemon se encararam, com Umbreon rosnando e Melvin abrindo seus braços como se fosse abraçá-lo. Brendan o situou de que era uma batalha e ele entendeu, mudando sua postura. As pessoas no ponto de ônibus abaixaram os celulares para prestarem atenção, entretidas com a batalha.

Brendan: Melvin, forme Twister!

    Os olhos de Melvin brilharam em vermelho e ele movimentou suas asas com tanta força que um tornado começou a se formar por baixo de seu corpo, o elevando.

Marley: Umbreon, corte o Twister com Iron Tail e o alcance!

    Endurecendo sua cauda, Umbreon corre e mergulha para dentro do redemoinho, afastando os ventos. Brendan fica impressionado com ele superando seu Pokemon em força, mas Marley vem com o próximo comando.

Marley: Dark Pulse!

    Os anéis luminosos do corpo de Umbreon se tingiram de roxo e expandiram para o exterior. Esferas sombrias percorriam os espaços entre eles e alcançavam Melvin, que juntou as asas para resistir mas despencou no ar.

Marley: Mantenha Dark Pulse!

Brendan: Melvin! — gritou, vendo o dragão sendo atingido continuamente pelos pulsos no ar. — Mostre o seu Hyper Voice!

~DOOOORAAAAM! — Melvin bufou e se recuperou no ar, parando de cair e continuando a receber o Dark Pulse em seu corpo, mas concentrou toda a sua dor num rugido.

    O rugido agitou os ventos e Umbreon precisou intensificar a força de seu movimento, mas não foi o suficiente e o Dark Pulse se voltou contra ele, agora o baleando no ar e o jogando para o chão.

Marley: Usou meu movimento para destacar o seu... Nada mau! — Ela percebeu e Brendan sorriu confiante.

Brendan: Continue, Outrage!

    Uma onda de energia quase invisível é liberada do corpo de Melvin e ultrapassa Umbreon no chão. A raposa se levanta sentindo-se esquisita até perceber que estava numa sala escura, com um grande espelho de frente para ele.

~Breeeon? — Ele caminhou até o espelho, mas no lugar de seu reflexo estavam dois olhos vermelhos. Assustado, tentou correr quando Melvin saltou de dentro do espelho e o abraçou com toda a força.

Marley: Umbreon!! — Ela viu seu Pokemon sendo surrado por Melvin, que liberava sua fúria. — Reaja, Quick Attack!

    Acelerando seu corpo, Umbreon se desprende do abraço de Melvin e rompe a sala escura, voltando a enxergar o lugar onde realmente estava. Ele corre ao redor do ponto de ônibus e Melvin o persegue, continuando com seu Outrage.

Marley: Agora, Dark Pulse!

    Parando, Umbreon voltou-se para o dragão e seus anéis deixaram o corpo, escurecidos e liberando o movimento em pulsos que atordoaram Melvin e dificultaram sua investida. O dragão então recuou e agora parecia tonto.

Brendan: Melvin... — Ele levou uma mão ao coração, fechando os olhos. — Concentre-se na minha voz...

~Doraaam! — Melvin acertou uma cabeçada no chão, mas de repente parou o que estava fazendo.

    Vendo-se numa sala escura cheia de espelhos, Melvin voava entre eles, que se quebravam em vários cacos de vidro. Algo começou a se iluminar no fundo, aos poucos parecia-se mais com um símbolo. Um triângulo verde de cabeça para baixo. Melvin mergulhou nele e então retomou sua consciência, surpreendendo Marley.

Marley: N-Não está confuso?

~Uuuurmy! — O Burmy brilhou os olhos ao ver Melvin sorrindo novamente.

Brendan: Dragon Pulse!

    Liberando seu poder elemental, Melvin o dispara contra Umbreon. Toda a energia assemelhava-se com sua forma, um grande Drampa puramente de energia dracônica, que rumava Umbreon.

Marley: Impressionante... Umbreon, encare e termine ele com Iron Tail!

    Voltando a se lançar contra o movimento de Melvin, Umbreon metaliza sua cauda e a gira para cortá-lo, mas o dragão estende suas mãos, entregando mais de sua força. Marley e Brendan encaram os dois Pokemon, a energia aumentava a pressão dos ventos no lugar e quase arrancava a touca do garoto se não fosse por Umi agarrá-la.

~UMBREEE! — Ele consegue cortar o pulso, mas a boca do Drampa de energia o engole e o movimento explode.

    Boquiaberta, ela vê seu Pokemon sendo arremessado contra o asfalto, inconsciente. As pessoas no ponto de ônibus os aplaudem, mas então Melvin se lança em Brendan, o derrubando no chão para abraçá-lo. Umi saltou para a cabeça do dragão, também feliz.

~Draam? — Ele sentiu Brendan se debatendo e retirou seu corpo de cima dele, o permitindo respirar.

Brendan: Arf... Melvin, você foi PERFECT! — Ele levantou-se, abraçando o rosto do dragão.

Marley: Seu Pokemon... Acho que subestimei a força dele, como consegue fazer um Pokemon tão intenso assim funcionar nos Contests? — Com a Love Ball de Umbreon em mãos, ela se aproximou do menino.

Brendan: Tivemos muitos problemas, mas... Não precisávamos nos adaptar um com o outro, mas sim nos entendermos. Foi assim que funcionou — respondeu e Marley pareceu pensativa, quando ouviram a buzina do ônibus e o viram aproximar-se do ponto. — E essa é a minha deixa!

Marley: Espera! Leve isso com você — disse, entregando uma embalagem com a logo do Fan Club Pokemon. — É um donut para comer na viagem. Vou torcer por você, Brendan.

Brendan: Você é demais, Marley! Prometo dar tudo de mim junto com eles. — Se voltou para Melvin e Umi, que assentiram e então foram regressados para as Pokeballs deles. — Nos vemos na segunda!

    Não demorou muito para o ônibus partir no entardecer. Marley ficou sozinha no ponto, de pé e segurando a Love Ball. Ela suspirou, não se dando conta de que já havia anoitecido e nem de que estava sorrindo, quando sentiu alguém cutucá-la.

Barry: Marley? E sorrindo? Quem é você e o que fez com a minha irmã mais velha?

Marley: Idiota! — Ela afastou a franja do rosto, com as bochechas rosadas. — Só vim deixar um amigo aqui, mas ele já foi. E você, não tinha treino hoje?

Barry: Deixei o Lucas em casa, só isso. Mas hey, a mamãe ligou e falou que vai pedir pizza para o jantar!

Marley: Você tem cheiro de pizza — respondeu, começando a andar com o garoto pela rua. O menino ria, mas então ela perdeu seu sorriso. — Barry... Como você se sente sobre os nossos pais?

Barry: Ahn... — Ele pensou um pouco, vendo a expressão distante da garota. — Ótimo, você está com algum problema com eles?

Marley: Não... Não é nada. Vamos pedir pizza, sim.

Continua