segunda-feira, 14 de julho de 2025

Capítulo 52: Lembranças de tempo e espaço.

     Brendan caminhava com as mãos nos bolsos por um jardim alegre, onde pequenos Pokemon da floresta corriam de um lado para o outro, brincando entre os canteiros de flores. Ele sorria ao vê-los, achando todos umas gracinhas.


    O lugar era parte de uma mansão de arquitetura clássica bastante imponente, com portões de grades simétricas e ornamentos milimetricamente padronizados. Tudo parecia perfeito.


    Um carro comprido estacionou com um barulho seco na frente da mansão. Brendan virou o rosto, curioso, e viu a porta do veículo abrir com força. A voz de um homem se ergueu logo em seguida, ríspida.


  Anda, desce logo! — Ele segurava uma maleta robusta e puxou com brutalidade uma criança relutante de dentro do carro. — Pare de choramingar, moleque. Essa é a mansão da família Berlitz! Vamos fazer dinheiro aqui.


    
Brendan sentiu raiva. Mas não era só isso. Levou a mão ao próprio braço, onde uma mancha roxa começava a se formar. Quando olhou para baixo, percebeu que suas roupas não eram mais as mesmas, nem seu corpo. Ele piscou, confuso, e viu mãos menores, sujas de poeira.
    Quando olhou para trás, o carro já se afastava. O motor sumiu no silêncio da manhã. Foi então que um farfalhar entre as folhas o fez se virar, assustado.

  Boool?


    Um pequeno dragão saltou do meio do arbusto, com os olhos atentos e a expressão arredia. Brendan deu um passo para trás, ainda tentando entender o que sentia, e pegou do bolso um bonequinho de Magnezone de plástico, com a tinta gasta nas bordas.

  Você é um... Gible?

  Boool!!
  O Pokemon virou de costas com um resmungo, batendo os pés.

  Entendi, sua barbatana é menor...
  Brendan constatou.  Então você é uma Gible!

  Boool!  A pequena saltou para os braços de Brendan, que caiu sentado na grama.

  Haha!
 Haha!!

    Brendan soltou uma gargalhada sincera, abafada pela pele áspera do dragãozinho que esfregava o rosto no dele, fazendo cócegas. Até o momento ser interrompido por um chute.


    A Gible foi arremessada para longe. Brendan estendeu o braço por reflexo, mas parou no meio do caminho quando uma sombra se projetou sobre ele. A sombra de seu pai. Ele segurou o choro e, de novo, foi puxado pelo braço. Caminhou com passos forçados em direção à entrada da mansão, e antes de atravessar a soleira, olhou para trás, mas não viu mais Gible.

   O interior da mansão era vasto, com paredes altas e compridas que se perdiam entre portas e corredores. Lustres circulares lançavam uma luz amarela e opaca, como se iluminassem por obrigação. O ar era parado e aquele espaço enorme parecia solitário.


    Do final do corredor veio o som de engrenagens de metal girando. Uma criatura mecânica surgiu com passos compassados, olhos redondos e brilhantes, aros dourados nas articulações e uma engrenagem no peito que girava lentamente. Parecia usar um vestido que era parte do próprio corpo.

 — O problema está na afiação elétrica do andar inferior. Os disjuntores não suportam mais as mudanças de tensão — a robô disse, e o pai de Brendan assentiu, resmungando algo antes de se virar para ele.


 — Fica aqui, eu já volto. Não encosta em nada.

    Ele seguiu, e Brendan ficou. O silêncio parecia ganhar corpo, engrossando o ar. Ele esfregava o braço onde o roxo continuava visível quando ouviu um som rápido e baixo, vindo de algum canto do saguão.

 — Shhh!


    Virou o rosto e encontrou uma garota loira espiando por trás de uma coluna. Usava um vestido azul de tecido leve e um colar com um pingente cinza em forma de gota. Os cabelos estavam presos por grampos escuros arredondados, dois de cada lado da cabeça. Ela o observou por um segundo, depois fez um gesto com a mão e virou as costas, esperando que ele a seguisse.


    Caminharam juntos por corredores mais escuros, onde as luzes falhavam de tempos em tempos, até entrarem numa sala ampla, com paredes revestidas por instrumentos musicais organizados em suportes e um tapete grosso cobrindo todo o chão. No canto, um tubo de vidro preservava Pokeballs de tipos que ele nunca tinha visto. E no centro da sala, dominando tudo com sua presença, havia um enorme piano de madeira escura com dois bancos à frente.

 — Vem. É seguro — disse ela, com os olhos voltados para um canto.


    Gible apareceu com um curativo branco no peito, e Brendan se aproximou, passando a mão sobre sua cabeça enquanto ela se deitava no tapete. A garota já caminhava em direção ao piano quando a luz do teto piscou, e Brendan levou a mão ao bolso, tirando o bonequinho de Magnezone para girar sua antena com o polegar. A menina se sentou no banco do piano, e Brendan levantou os olhos.


 — Você é filha dos Berlitz?

 — Sou, a única. — Ela olhou de relance para a Gible. — No jardim, eu estava observando. Você reparou que Gible é uma garota só de olhar para ela.


 — É, eu... passo muito tempo lendo... sobre Pokemon.

 — Também gosto muito de aprender mais sobre eles — ela disse. Percebeu Brendan olhando para o piano. — Sabe tocar?

 — Não... E você?

 — Eu estou aprendendo —  ela respondeu, mexendo em algumas teclas ao acaso. — Mas gosto do barulho que faz.

    Ela deu uma batidinha no banco ao lado, chamando-o. Brendan hesitou, mas foi. Sentou-se, e ela pegou nas mãos dele. Guiou os dedos até as teclas, pressionando devagar, fazendo surgir uma sequência irregular de notas. Eles riram juntos quando uma delas saiu desafinada.

    Sem dizer nada, ela continuou tocando sozinha. Os acordes começaram a sair com mais clareza, e as notas foram se encaixando uma a uma, até preencherem a sala por completo. Brendan deixou os ombros relaxarem, ouvindo. Aos poucos, o som pareceu apagar todo o espaço em volta; o tapete, o vidro, as paredes, até o tempo. Só restava o piano, ela, e ele ali sentado, como se estivessem suspensos dentro de um espaço que não era lugar nenhum. Até que foi puxado pelo braço.

 — Eu falei pra não sair do lugar! — o pai o arrastava, segurando firme. — Perdão, senhorita Berlitz. Ele não entende muito as coisas.

    A garota não respondeu.
    Do lado de fora, o céu estava cinza, e o pai fechava a maleta enquanto falava sozinho.


 — Com esse dinheiro vamos conseguir fechar as contas do mês inteiro.

    Brendan olhou para trás. A empregada mecânica estava imóvel na porta, com a garota loira ao lado, segurando a Gible nos braços. Ele enfiou a mão no bolso a procura do boneco de Magnezone, mas não o encontrou.


 — Espera, eu tenho que voltar! — Ele exclamou, tentando correr, mas seu pai o agarrou. — Me solta!!

 — Pare de me fazer passar vergonha, Cyrus!

    A mão do pai se ergueu e, antes que ela descesse novamente...


  Minhas aulas estão chatas, Brendan?  A voz do professor Samson o acordou. Ele ainda babava por cima de um caderno todo rabiscado com desenhos de combinações.  Preste atenção porque vai cair na prova, e se falhar na prova, vai ter que repetir esse ano e me dar o desprazer de continuar vendo a sua cara.


  Ahn, prova?
  Brendan ainda acordava e escutou risadas ao fundo.


    Barry havia trocado de lugar e agora sentava ao seu lado na sala, longe dos outros garotos. Ele encostou em seu ombro, como se perguntasse se estava bem, e Brendan levou uma mão à cabeça, sentindo-se esquisito pelo sonho que teve.


  Professorzinho!
  Paulette levantou sua preciosa caneta tinteiro metalizada.  Campeões também aplicam narrativa em suas batalhas?


  Depende da intenção da batalha que o Campeão está fazendo. Se for uma batalha por defesa de título, a narrativa é que ele precisa vencer ou vai perder tudo igual a Diantha
  Samson explicou, fazendo a turma rir.  Mas se o Campeão está tentando ensinar algo para um treinador mais jovem, nosso conteúdo é perfeitamente aplicado.


  Bem que poderíamos perguntar sobre isso para a Cynthia, aproveitando que ela está na cidade
  Paulette sugeriu, e agora ficava clara a intenção dela em ter feito aquela pergunta.


  Você acredita mesmo no que o Buck diz?
  Aiyra a perguntou.


  Ei, é verdade! Eu vi o BRENDAN atravessando a rua com a Cynthia, eu juro!


  Claro, e o Murph é um galã
  Chang caçoou dele, e os outros meninos riram.


  Hmph...
  Lucas jogou umas frutinhas de Snover para dentro da boca, percebendo Samson sentado sobre a própria mesa, também gargalhando.


  Amo como não me perguntam se é verdade ou não
  Brendan resmungou, fazendo Barry rir.


  Mas tem um fundo de verdade, queridos
  Robin tinha as pernas cruzadas, enquanto pintava as unhas por cima do caderno.  Quando cheguei hoje, Cynthia estava indo para a sala do Diretor Cyrus.


  Será que eles tem um caso?
 — Murph cochichou com Luiz.


  O que alguém como a Cynthia ia querer com ele? O Diretor tá acabado!


  Ahem!
  Cyrus estava na porta, com as mãos para trás, e a sala ficou muda.


  Olá, Diretor
  Samson levantou da mesa com um sorriso forçado, percebendo Cyrus o encarar de canto.  O que o traz aqui?

  Essa é minha escola
  ele disse, e Samson deu os ombros.  Brendan e Robin, para a minha sala.

  Iiiihhh!
  Foi a reação coletiva, até Cyrus dar bronca de novo.


    Antes de sair, Brendan acenou para Barry, que respondeu com um sorriso. Assim que a porta se fechou, o loiro abaixou os olhos para o caderno aberto sobre a mesa. As páginas estavam cobertas de anotações rápidas e desenhos toscos cheios de movimento, esboços de batalhas entre seu Chimchar, Skorupi, Starly e Buizel.


  Estamos encrencados?
  Brendan perguntou, e ouviu Robin rir.

  É claro que estamos, querido, ou já esqueceu do que rolou depois da festa?


  Julie, pode nos dar licença?
  Cyrus dispensou a secretária ao entrar na sala, sem ter trocado uma palavra com Brendan ou Robin pelo caminho.


  
Não precisava mandar ela sair. A névoa não a deixaria lembrar de nada mesmo — disse Cynthia, encostada na parede.

    Cyrus ignorou o comentário e sentou em sua cadeira. Ele fez um gesto com a mão, indicando que os outros se sentassem, e Brendan escolheu o sofá, mas Robin preferiu ficar de pé, de braços cruzados.

  Muito bem
  começou, juntando as mãos.  Temos uma grande questão a resolver.


  Ah, temos? Eu incluso?
  Brendan ergueu uma sobrancelha.


  É óbvio. Rayquaza o declarou, você é um Celestial e sabe disso
  Cyrus o encarou.  Seu combate com Zeraora e a fuga de Stakataka estão relacionadas.


  Eu te avisei, não dá para voltar no tempo depois de descobrir  Cynthia disse com um meio sorriso.  Mas não parece surpreso...


  É que... Desde que vim para Sinnoh, meus poderes tem se manifestado o tempo todo. Quando eu estava em Hoenn com a Leuri e o Diego, conheci Xerneas e Yveltal e...


  Leuri e Diego, Xerneas e Yveltal  Cynthia repetiu como se fosse uma grande revelação, olhando para Robin.  Por acaso você sabia disso?


  Importa?  Robin manteve os braços cruzados.  A Shaymin que estava com ele deveria ter o ajudado bem antes.

  Ehr, do que estão falando?  Brendan olhava de um para o outro.



  Brendan  Cyrus o chamou.  Como já está familiarizado, sabe que as histórias dos antigos Deuses do Coronet são reais. Eles continuam a governar esse mundo mesmo depois de eras, mas estão preocupados. Uma profecia foi feita há alguns anos...  Ele lançou um olhar para Cynthia antes de continuar.  E o que sabemos, é que Stakataka não é a única besta à solta.

  Aquela coisa é tão forte assim a ponto de preocupar os deuses?

  Ela é só parte da ameaça  Robin fechou os olhos.  Stakataka estar livre é como um movimento num tabuleiro enorme. Alguém a libertou, não sabemos quem, mas podemos imaginar por quê.


  Destruir os deuses  Cynthia respondeu, e Robin e Cyrus assentiram. Brendan sentiu peso naquelas palavras.  Cada uma das bestas foi criada como o espelho reverso de um dos 12 grandes deuses, com o propósito de destruir sua contraparte.

  E... Stakataka foi criada para destruir quem?


  Aquele que me declarou  respondeu Cyrus. — Palkia. Soberano do espaço, da distância entre todas as coisas, e das dimensões que sustentam o universo.


  Ah, claro!  Brendan se levantou.  E exatamente o que esperam de mim?


  Primeiro, você precisa ter noção de que nossos poderes nos trazem grandes responsabilidades.

  Já ouvi isso num filme
  murmurou Robin, sem se mexer. Cynthia ignorou.


  Quando você começa a entender quem é e do que é capaz, os... monstros, também passam a perceber isso. Você se torna um alvo, e mais cedo ou mais tarde eles vão te procurar, seja por motivos próprios, por instinto de antigas disputas ou para testá-lo e manter seus poderes sob controle. É um ciclo eterno de glória e conflito que molda a história, e isso coloca você em risco, assim como quem está ao seu redor.

    Enquanto Cynthia explicava, Cyrus respirava fundo, como se estivesse se contendo. Uma gota de suor escorreu por sua testa, e ele bateu na mesa ao fim da fala dela, chamando a atenção dos três presentes.


  Por que não fazemos isso de forma diferente? — Cyrus forçou um sorriso, mas o cansaço estampado em seu rosto traía qualquer tentativa de firmeza. — Depois do intervalo, nos encontre na quadra coberta. Agora, voltem vocês dois para a aula, andem!


    Brendan engoliu em seco e não encontrou palavras antes de sair com Robin. Cyrus suspirou, levando uma das mãos à testa, enquanto Cynthia o observava em silêncio, notando como sua palidez se acentuava.


  As histórias dos Deuses do Coronet... Você tem certeza disso?



    Já estava na hora do intervalo entre as aulas e como de costume, Brendan sentava afastado de todos os outros alunos no refeitório, na mesa com o Professor Samson e o Treinador Hobber, que a essa altura já estavam acostumados com a sua presença. Porém, dessa vez, Barry estava junto dele, mastigando um sanduíche enquanto olhava para figuras num livro sobre mitologia que pegaram emprestado na biblioteca.


 — Se bem que depois de tudo que já vi, não parece impossível... — Barry pensou melhor a respeito, e Brendan suspirou, jogando a cabeça para trás.


 — Ótimo, antes era só um adolescente, agora são dois! Eles estão se multiplicando, deveríamos arrumar outra mesa — Samson resmungou e o Treinador gargalhou.


 — O que me preocupa é que eles estão lendo um livro, quanto tempo que não via os jovens daqui fazendo isso? — O Treinador disse de boca cheia.


    Brendan apontou para a ilustração da silhueta de um dragão comprido, cheio de triângulos verdes em seu corpo, e ao seu lado a representação de um homem que flutuava junto das nuvens, usando um grande chapéu.


  Veja o que diz essa página. A "Era dos Heróis", onde os deuses frequentemente estavam em contato com os mortais, marcada por vários feitos épicos daqueles que eram abençoados por eles tornando-se seus heróis. Rayquaza, Senhor dos Céus, protetor da ordem e da justiça, rei dos deuses e governante do Monte Coronet, soprou os ventos para que seus heróis, os chamados Celestiais, pudessem guiá-los como extensões de sua vontade. Está aí representado ao seu lado o mais conhecido deles, Zéfiro.


 — Caramba... Eu só nunca pensei nessas histórias como fatos, sabe?
 — Barry folheava o livro, passando por uma página com o símbolo dos arcos de Arceus. — Meus pais acreditam em Arceus, mas em nada mais. Lembro de ir com a minha mãe e a Marley na igreja de Hearthome quando era bem criança e ver sua representação no vitral...


    Brendan permaneceu em silêncio por um momento, olhando para o desenho de Rayquaza impresso na página. Era como se o encarasse de volta.



  Eu só... Não entendo. Não pedi para fazer parte de nada disso, e já tenho problemas suficientes para lidar agora.


  Heeey!
  Barry encostou em suas mãos sobre o livro, e eles se olharam nos olhos.  Parece muito agora, mas você vai conseguir. Lidamos com uma coisa de cada vez, tudo bem?


    Brendan respondeu com um sorriso, até que Barry percebeu estar a tempo demais com as mãos sobre as dele, as recolhendo de volta rápido. O Treinador Hobber deu um sorriso de lado, e Samson revirou os olhos, guardando seus talheres.


    Depois que Chingling tocou o sinal de fim do intervalo, os alunos resmunguentos voltavam para as suas salas. Para a classe de Brendan, seria a aula de treinamento DA (Defesa no Ataque) com o Professor Ricardo, o que ele realmente não se importaria em perder hoje. Ele seguiu para a quadra coberta, despedindo-se de Barry.


  ...  Barry o esperou descer as escadas para segui-lo, mudando a expressão.


    Ele passou apressado na direção contrária dos garotos que voltavam para a sala de aula, que nem repararam nele, com exceção de um. Lucas não seguiu os outros, parando de andar e olhando para trás, desconfiado.

    A quadra coberta era onde a maioria das aulas que envolviam batalhas na prática aconteciam. Seu0 campo de cimento tinha marcas de combates anteriores e, parados no meio dele, Cynthia e Cyrus aguardavam Brendan em silêncio.


  Cyrus, olha...  Cynthia parecia ter se preparado para falar com ele, pelo seu tom hesitante.  Você quer conversar sobre alguma coisa?

  Hm?
 Por que a pergunta?

  No dia que Stakataka escapou, aconteceu algo estranho... Como se o mundo estivesse se dobrando ao meu redor. Você me disse que não sabia o motivo, mas chego aqui e encontro Robin se passando por estudante e você mais cansado do que o habitual.

  Ah...
  O diretor desviou o olhar.

    Na arquibancada, Robin escutava os dois enquanto fazia uma bolha com o chiclete que mascava. Ela estourou assim que Brendan chegou, e tanto o Diretor como a Campeã se voltaram para ele.

  Brendan, ótimo
  Cyrus deu alguns passos para se aproximar dele.  Está pronto?

  Você não me disse exatamente o que vamos fazer aqui...



  
Ora, vamos ter uma batalha! — disse Cyrus, erguendo duas Pokeballs. — Eu e meus Pokémon contra você e os seus. É uma ótima forma de demonstrar o que podem fazer... e esse é o espaço perfeito para isso.


    De algum jeito, Brendan entendeu que não eram apenas os Pokemon que usariam seus poderes naquela batalha. Cynthia resmungou algo e foi até a arquibancada, sentando ao lado de Robin, que a ofereceu um chiclete prontamente recusado.

  Magnezone e Garganacl
  Cyrus chamou, atirando as duas Pokeballs para cima.


    Seus dois Pokemon se materializaram com imponência. Magnezone flutuava emitindo um chiado, com seus ímãs girando. Garganacl tinha o corpo feito de blocos espessos de sal compactado, em tons pálidos, e mantinha uma postura firme e quadrada.


    Brendan nunca tinha visto um Garganacl antes, mas também não estava com sua Pokédex para descobrir mais. Não importava, já sabia quem escolher.


  Mudz, Melvin, arrasem!
  Ele cruzou as Pokeballs encapsuladas no ar antes de arremessá-las, e as duas se abriram com pequenos raios saltitantes.


    Na entrada da quadra, Barry se certificava de que ninguém estava por perto e de que não seria visto naquela posição, observando a batalha.

  Pode começar
  Cyrus deu um meio sorriso.


  Certo, vamos com Muddy Water, Mudz!  Brendan esticou o braço.


    Mudz se lançou à frente com firmeza. Uma massa de água barrenta se ergueu às suas costas e avançou conforme ele se movia, ganhando altura e volume. Brendan fez sinal para Melvin, que assentiu com a cabeça e levantou voo.


    Melvin girou no próprio eixo aproveitando o impulso de seu voo. Ele abriu as asas e as fechou com força e rapidez num abraço que evocou um ciclone, puxando a onda de Mudz e transformando-a em uma espiral veloz de vento e água escura que se alargava conforme avançava pelo campo.


  Garganacl, Gravity  Cyrus inclinou a cabeça, mantendo as mãos para trás e o olhar fixo na formação


    Garganacl ergueu os braços. As palmas se abriram e faíscas violetas se desprenderam em múltiplos feixes, cruzando o campo em arcos pesados. De repente, o ar ficou mais denso. Brendan sentiu o peso nos ombros e o joelho cedeu por um instante. A espiral de lama perdeu força e se desfez no meio do caminho.

  E
le anulou o fluxo da água para romper o meu combo...

  Doraam...
  Melvin tentou alçar voo, mas o corpo pesava demais sob o novo campo. Deu um passo para o lado e parou ali, ofegante. Mudz olhou de relance para o parceiro.


  Magnezone, Lock-On.
  Cyrus inclinou a cabeça para o outro lado, e seu Pokemon levitou para sua frente.


    O grande olho de Magnezone se acendeu. Ele escaneou o campo com um brilho vermelho, enquanto seus ímãs liberavam dois pontos luminosos que se moveram em linha reta, fixando-se em Mudz e Melvin como marcadores.

  Ui, está adaptado à gravidade
  Robin ressaltou, descansando o rosto numa mão.


  Agora, Salt Cure, Garganacl  Cyrus levantou a cabeça, e seu Pokemon ergueu os braços.


    Das palmas abertas, disparou sequências de cristais brilhantes em alta velocidade, todos se unindo num único feixe denso que avançava em linha reta.

  
Precisamos reagir — Brendan disse, mais para si do que para os parceiros. — Melvin, use Hyper Voice!


  DORAAAAAAM!!  Melvin soltou um rugido alto e rouco, fazendo os pelos do corpo vibrarem. A onda sonora avançou em impacto direto contra o feixe de sal, quebrando parte dos cristais no ar e forçando Garganacl a interromper o movimento.


  Agora Mudz, agarre-os com Mud-Slap!


    Juntando suas duas mãos com força, Mudz as separou e apertou o chão de cimento. Uma esteira de lama escorreu por baixo do curso do Hyper Voice de Melvin. Duas mãos de lama se ergueram dela assim que alcançaram Garganacl e Magnezone, espremendo-os um contra o outro.


 — Bem pensado — Cyrus murmurou, e levantou uma das mãos. Os olhos se tornaram pérolas líquidas e ao seu redor, pequenas orbes peroladas começaram a girar. — Mas é aqui que começamos.

    As mãos de lama que prensavam seus Pokemon começaram a se afastar, como se algo entre elas estivesse se esticando. Brendan estreitou os olhos, tentando entender o que acontecia. Aquilo não era força bruta dos dois, Cyrus estava alterando o espaço entre os corpos, distorcendo a distância para soltar Magnezone e Garganacl.
    O ar ao redor se tornou instável, ganhando tons multicoloridos, e as pérolas à volta do braço dele giravam em ritmo crescente, como se reagissem ao que ele comandava.


  O que consegue fazer contra as habilidades de um Cosmo, Celestial?  Cyrus o perguntou, ainda com os olhos perolados, e Brendan rangeu os dentes.


    Brendan rangeu os dentes e empurrou o ar com uma das mãos. Uma rajada de vento cortou a quadra, fazendo Cyrus recuar um pouco, mas ele levantou a outra mão e apertou ainda mais o campo. A gravidade se sobrepunha, e Brendan caiu de joelhos. Na arquibancada, Robin e Cynthia não esboçavam reação.


  Arrrgh! Mudz, Melvin, Hydro Pump e Dragon Pulse!


    Os dois Pokemon concentraram seus ataques ao mesmo tempo. A água pressurizada e a energia dracônica giraram em espiral no ar, unindo-se num pulso único que cruzava a quadra com reflexos roxos vibrantes, firme e contínuo como um só movimento.

 
— Wide Guard, Garganacl
 
 Cyrus chamou o comando.


    Garganacl ergueu os braços e uma barreira translúcida de tom bronzeado surgiu em frente aos dois, sólida o bastante para bloquear o impacto.

    Brendan observou e respondeu com um gesto curto com a mão direita. Uma corrente de vento percorreu a quadra, desviando a trajetória do golpe combinado e curvando-o no ar até atingir Magnezone e Garganacl por trás. Cynthia e Robin levantaram os rostos, com atenção ao desfecho, e Brendan voltou a ficar de pé, ainda ofegante.


  Nada mal  Cyrus notou seus Pokemon se reerguendo. — Mas não paramos por aqui. Magnezone, Electro Ball no Drampa. Garganacl, pegue o Swampert com Salt Cure!


    Magnezone aproximou seus ímãs faiscantes gerando uma esfera elétrica que pulsava crescente. Ao lado, Garganacl concentrou o sal nas extremidades dos braços, inflando-os até que suas mãos se tornassem enormes. No momento seguinte, ele as lançou à frente, esticando os braços como blocos segmentados. A Electro Ball se dividiu e as duas metades passaram a orbitar ao redor dos membros alongados, guiadas com precisão por Magnezone enquanto ambos avançavam em conjunto.

  Druuua!  Melvin recebeu as Electro Balls, abaixando o pescoço com faíscas percorrendo seu corpo.

  Swaam!  Mudz correu, desviando do alcance das mãos, mas com esforço sob a gravidade ainda presente.

  Mudz, eu te dou cobertura, pode avançar  Brendan pediu e seu parceiro assentiu.

    Brendan soprou de leve, e uma corrente de vento se formou sob os pés de Mudz. Ele avançou contra o campo, saltando com a ajuda da ventania que cortava por baixo, ganhando altitude suficiente para escapar do alcance do agarrão de sal.


 — Não tão fácil  Cyrus esticou um braço envolto pelas pérolas cintilantes.

    O campo brilhou novamente. O espaço se contraiu. Mudz, que voava, de repente parecia estar longe demais. Mas no instante seguinte, estava bem à frente de Garganacl.


  Stone Edge!  Cyrus comandou.


  Rápido, Melvin, Dragon Pulse!


    Melvin abriu a bocarra, sentindo o calor se formar no peito. A rajada saiu vibrando em sua própria silhueta, como um Drampa furioso em chamas. Ela atingiu o pilar de pedras que Garganacl erguia, desfazendo parte da formação.


  Superpower, Mudz, agora!  Brendan avançou junto, os ventos se agrupando ao redor do campo.

  Hm?
  Cyrus sentiu a energia começar a falhar. As pérolas vacilaram e a luz do campo trincou em feixes.

  Olha só
  Robin encostou o indicador nos lábios.

  Os ventos estão superando os limites do espaço que Cyrus controlou — Cynthia falou baixo, observando as rachaduras no brilho e o ar se agitar.

    Na lateral da quadra, Barry se segurava na parede, assustado com o vendaval que agora tomava o ginásio.


  Swaaaaaaaaaampert!
  Aumentando a massa muscular, Mudz caiu sobre Garganacl com uma sequência rápida de socos, golpeando sem pausa até fazê-lo ceder. O corpo de sal rachou sob o impacto e tombou de vez, nocauteado.


    Cyrus correu para perto de seu Garganacl enquanto as dimensões se estabilizavam na quadra, verificando se estava bem. O Pokemon regenerou seu punho, fazendo um positivo com o polegar, e Cyrus suspirou o regressando. Do outro lado, Brendan estava ofegante, bem como Mudz e Melvin que se reerguiam.

  De onde... veio tudo isso?  Brendan perguntou, olhando para as próprias mãos. Triângulos verdes se acendiam discretamente sob a pele.


  Domar os ventos é um poder imensurável, justamente por isso te chamei para essa batalha
  Cyrus disse, guardando a Pokeball de Garganacl.  Já consegue usar, e usar bem, mas precisa ter controle ou...


  Ou posso cair?
  Brendan completou, franzindo a testa ao perceber a pausa de Cyrus, que se calou por um instante.  O que é isso, exatamente? Shaymin já falou sobre, Robin também. Eu quero entender...

 — Nossos corpos não foram feitos para suportar nem mesmo uma fração dos poderes que os deuses nos concederam — Cyrus disse, encostando a mão em Magnezone, que girou a antena em resposta. — Quando usamos isso de forma instável, enfraquecemos... e eles tomam o controle. Apagam o que há de humano em nós.

 — Ah! — Brendan estreitou os olhos, observando o movimento da antena. — Engraçado. Eu tive um sonho hoje, bem esquisito. Eu estava numa mansão, tocando piano com uma garota... e tinha um bonequinho de Magnezone. A antena girava igualzinho a do real.


  O quê?  Cyrus soltou Magnezone imediatamente. Seu rosto empalideceu.

  Foi, bem aleatório. E no final, me chamaram pelo seu nome
  Brendan disse, e Cyrus olhou para trás. Cynthia já estava perto, e pareceu ter o pensado o mesmo.

 — Brendan, por enquanto, encerramos por aqui.

  Eh? E a batalha?!


  Cyrus é sempre assim, inimigo da diversão
  Cynthia comentou, acertando um leve cotovelaço nele, que quase o fez perder o equilíbrio. Ele tentou rir, sem jeito.


    Do lado de fora da quadra, Barry corria pelo corredor com o celular aberto no aplicativo de Notas. Ia digitando rápido, registrando tudo que lembrava. Tinha certeza de que ninguém o viu naquela posição, e subiu as escadas de volta para sua sala. Mas, mais ao fundo no corredor, Lucas o observava de braços cruzados.


    O restante do dia foi marcado pelo final da aula chata do Professor Ricardo, o expediente na Pés & Patas ouvindo Isabella cantarolar sobre as novas combinações que pensou para o seu novo amigo Kingdra que agora atendia o balcão, e uma fila desnecessariamente grande no FanClub para comprar míseros dois donuts com o que restou do dinheiro que Diantha o pagou por segurar sacolas outro dia. Mas ainda havia algo que Brendan se comprometeu em fazer.


  É bom ter você aqui de novo — Marley disse, dando uma mordida no donut que Brendan a entregou.


  Eu prometi, e não vou faltar mais!  Ele sorriu.  E aliás, também é uma ótima forma de testar o engajamento do público com as minhas combinações!


    No palco improvisado no Parque de Jubilife, Pulu e Mini batiam as mãos, soltando faíscas. Cada um se posicionava sobre um dos canhões de Blastoise, que os lançou para o alto em sincronia. Envoltos em centelhas, seus corpos brilharam em azul e amarelo, desenhando rastros entrelaçados no céu.


    Marley e Brendan deram um abraço, e a garota correu para o palco, arremessando uma Pokeball e liberando seu Graveler. Pulu e Mini saltaram para os ombros dele, começando uma nova performance.



    Brendan assistia da lateral, os olhos cada vez mais pesados. O dia tinha sido intenso... e agora ele tinha muito mais em que pensar. Sentiu uma mão encostar na sua. Era Barry, as bochechas coradas do jeito que Brendan mais gostava, e a Starly no ombro fascinada pelos movimentos exibidos no palco. Pelo menos assim, tudo ficava mais fácil.
    Não perderia isso. Não cairia.
Continua


2 comentários:

  1. Esse capítulo me fez sentir com a névoa igual a Julie, mas ao contrário dela não me vou esquecer dele… maybe.
    O sonho do Brendan foi tão estranho, para começar errou o pronome da Gible e isso hoje em dia é mais grave do que roubar, em algumas sociedades… e depois sonhou com uma loira e todos sabemos que quem sonha com loira é hetero e hetero é coisa que Brendan nunca foi… bom, na verdade foi em um universo alternativo onde ele andava atrás da Serena como metade do twitter… mas não falemos sobre isso, não é relevante.
    No final, o sonho foi uma reflexão da batalha que ele teria no final do capítulo, onde os ventos superam o espaço, ou a palavra que vc usou era mais bonita, mas já esqueci e to com preguiça de ir ver… ta vendo, névoa.
    O Robin me deu desgosto nesse capítulo, eu acho que ele não serve para nada além de observar aqueles que têm poderes, não pode intreferir ou tem poderes dele próprio, apenas um agente… minha teoria.
    Also amei que a Cynthia é uma Berlitz. Você ter ido buscar esse nome realmente me deixou feliz, for no reason…
    Adorei tb voltar à escola, ver todos os personagens que eu gosto… e o Murph. É sempre uma alegria ver essa turma, eles desdenham do Brendan… dever ser por isso que eu gosto tanto deles…
    O capítulo foi incrivelmente bom e teve uma boa dose de lore para eu consumir, a história vai se construindo na perfeição e agora o Brendan está por dentro dos acontecimentos. E o Barry acreditou nele, porque acreditar que os deuses são reais e querem pegar o namorado é mais plausível do que a campeã de Hoenn ser uma das melhores amigas dele…são opiniões, I guess… tem gente que ainda acha que a esquerda ajuda o povo e continuam votando neles, feito burros, então why not, Barry… why not?
    Cynthia aqui também estava muito mais solta, ela em Galeuri está com um ar mais pesado, provavelmente por algo que vai acontecer aqui? Ou somente pela situação em Galar, who knows? Mas ela aqui estava mais alegre e eu gostei. Também foi o capítulo onde vimos mais do Cyrus como personagem e gostei dele, você está a fazer um bom trabalho com estes personagens, tanto os protagonistas como os recorrentes… e o Murph também existe.
    Amei o capítulo, estou adorando o inicio da nova fase de Celestial.

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  2. Mais um capitulo muito bom. Brendan com um sonho aleatório parece eu, com os meus sonhos aleatório. Mas no caso do Brendan tem um pouco de sentido o sonho XD
    Tivemos um pouco mais de história e o Brendan podendo entender um pouco melhor a situação e tivemos uma boa batalha entre ele e o Cyrus e concordo com a Katie sobre a Cynthia aqui ela parece mais solta e fiquei curioso do por que ela está mais séria em Galeur. Também foi legal rever o pessoal da escola e resumindo o capitulo foi muito bom e estou gostando bastante do inicio dessa nova temporada e do rumo dessa história que está muito boa.

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