sábado, 23 de setembro de 2023

Capítulo 110: Onde já não existem desejos.

    Para destrancar a prisão dos desejos na dimensão do altar e libertar seu irmão e Morpeko, Marnie precisa da Wishing Star que forma Melmetal, um gigante ferreiro que se dividiu em diversas partes após o fim da guerra que assolou Galar há centenas de anos. Ela propôs um acordo para que Leuri a entregasse, mas foi enganada por um plano elaborado por Cynthia. Frustrada, Paula usou a espada e o escudo que estavam em posse dos monarcas para canalizar a energia do desejo e assumir controle de todas as Wishing Stars na região, prendendo-a numa redoma de desejos que torna impossível para qualquer coisa entrar ou sair dela.


    Agora, por toda a região, sob o céu roxo com nuvens vermelhas, certos Pokemon atingiam suas formas Dynamax. Uma Clefable gigantesca chegava até a Wild Area, trazendo uma chuva de estrelas que explodiam ao caírem na superfície, obrigando diversos Pokemon a correrem desesperados em busca de lugares seguros.


    Apavorados, alguns torcedores da Tem Yell tentavam fugir de uma Starmie em Dynamax em Wyndon. Estavam super confusos com o que estava acontecendo, haviam seguido as ordens de Marnie e entregado braceletes com Wishing Stars para o máximo de pessoas que encontraram, e todas estas agora estavam sob o controle de seus desejos.


Alder: Protejam-se!  gritou aos torcedores que abraçavam-se quando Starmie ia lançar-se sobre eles.


    Saltando para frente deles, o Bouffalant de Alder colidiu com o corpo imenso de Starmie, sua força esmagadora a empurrou para trás e ela caiu sobre a estrutura de um prédio. Nas janelas, algumas pessoas se agarravam nela, todas tinham os olhos vermelhos e pareciam em transe, seus braceletes tinham as Wishing Stars radiantes e enraizando por seus corpos.


Alder: Como isso foi acontecer?  perguntou-se, recuando ao ver os moradores de Wyndon levantando suas Pokeballs para confrontá-los.  Vou precisar da ajuda de vocês!


    Quando não obteve resposta dos torcedores, Alder virou-se e assustou-se ao ver mais criaturas iguais a que lutou contra Diantha, Harley e Klara no dia anterior. Todas estavam piscando as luzes de suas mãos e hipnotizando a Team Yell, que agora também ganhavam braceletes com Wishing Stars.


    Alder viu-se encurralado com Bouffalant quando as criaturas voltaram-se contra eles, também piscando suas luzes. Ele fechou os olhos, tentando resistir, mas em instantes os abriu e estavam irradiando um brilho vermelho como os dos outros. Ele relaxou os músculos, uma Wishing Star surgiu em seu braço, estava também totalmente sob o controle do desejo.


Diantha: Alguém viu o Alder?! — gritou após arremessar seu celular longe, mas o Yamper de Sonia saltou e o pegou antes que caísse no chão.  Ele não está em lugar algum!


Nia: A alternativa mais plausível é que ele esteja sendo controlado pelo próprio desejo, assim como quase todos nessa cidade.

Diantha: Mas ele...  Ela baixou a cabeça, e Harley a puxou para um abraço.  Eca, me solta!

Harley: Eu hein Diantha, achei que fôssemos amigos depois de tudo que passamos!

Diantha: E somos, mas como eu vou saber por onde andou antes de encostar em mim?

Aleíse: Provavelmente se soubesse não iria aceitar o abraço da mesma forma...


Grace: A Leuri! Ela está vindo!!  exclamou, apontando e esticando seu braço livre, já que usava o outro para segurar Camille.


Cynthia: Leuri, como está a situação?


Leuri: Péssima, ganhei uns cem traumas novos e acabei de passar por uma Staryu gigante!


Carbink: E a Marnie já sabe de você, amiguinho  disse saltitando até Golett, que tinha vários Meltan por cima do corpo.  Mas não vou deixar que nada aconteça!


Diego: Sonia, acha que toda a região está assim?  perguntou e a pesquisadora assentiu, deixando de vigiar Leon desmaiado no colo de Raihan.

Sonia: Seja lá o que a criança que acompanha Marnie fez, também bloqueou todas as redes de comunicação, não conseguimos chamar mais ajuda.

Rose: Isso é terrível... O Dynamax, que deveria melhorar a vida na região, é o responsável por colocá-la nesse estado sombrio...

Oleana: Isso não é sua culpa, Presidente. Na verdade, acho que os culpados estão bem aqui.  Ela encarou friamente os monarcas, ambos sentados no chão fingindo não terem ouvido nada.

    De repente, todos escutaram um barulho muito alto, como uma colisão. Quando olhavam para cima, viam Pokemon tão grandes que alcançavam as nuvens vermelhas. Hop se agarrou em Bede e Katie levou uma mão ao peito. 

Mustard: Precisamos sair logo daqui, pela nossa segurança.

Leuri: Klara, qual é o lugar seguro que quer nos levar?


Klara: Spikemuth... O antigo centro de entretenimento de Galar que está abandonado  disse com pesar.

Rose: Isso é bastante esperto, o único lugar em Galar para onde a Macro Cosmos não fornece energia.

Leuri: Sem energia, sem Dynamax... Estaremos seguros pelo menos por um tempo!

Cynthia: Então está decidido. Calyrex, nos leve agora!


Calyrex: Se preparem, vai fazer cócegas!  exclamou, segurando nas rédeas de Glastrier, que acenderam-se num brilho esverdeado.

    Todos ficaram juntos numa área circular demarcada por flores que iam se entrelaçando até acenderem-se junto de Calyrex. Antes que Leuri pudesse questionar como funcionava aquele poder e se o antigo Rei sabia como chegar em Spikemuth, num piscar de olhos não estava mais ali.



    Por baixo do teto esburacado que cobre Spikemuth, um Linoone corria com um Pikachu na boca, acompanhado por mais três Zigzagoon. As luzes de led que ainda não haviam queimado fraquejavam, haviam algumas poças espalhadas pelo asfalto com latas de refrigerante e embalagens boiando nelas, os Pokemon passaram por ela fazendo um splash e então saltaram sobre o muro de um hotel totalmente pichado. Eles jogaram o Pikachu no chão, salivando, quando um clarão verde os cegou, assustando-os, assim correram para longe.

Calyrex: Ohhh!
  Ele caiu das costas de Glastrier, esgotado. Nia e Hop foram ajudá-lo, com a menina abrindo sua mochila para pegar medicamentos.

    Junto dele, os demais também perderam o equilíbrio quando chegaram pelo teletransporte. Raihan cuspiu uma flor que caiu no cabelo de Leon ainda desmaiado em seu colo, ficando com a língua para fora depois.


Carbink: Então a Marnie morava aqui? Que cidade deprimente... e fedorenta!

Klara: Nem sempre foi assim! Spikemuth era maravilhosa... A diversidade de pessoas só querendo beber e se divertir nos shows... Foram os melhores dias da minha vida.


Leuri: Marnie me contou como a cidade acabou assim, mas não imaginei que a situação fosse tão ruim... Ela ficou sozinha aqui por tanto tempo!

Rose: Eu não fazia ideia disso...

Oleana: Mas aqui estamos. E agora?  perguntou, cruzando os braços. Cloyster e Rattata se olharam, e todos também começaram a fazer o mesmo, esperando que alguém dissesse algo.


Sonia: A minha avó... Ela foi controlada e eu a deixei sozinha!  Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela buscou conforto abraçando Diego.


Raihan: Não é justo que brinquem com a mente da Nessa de novo... Eu deveria estar lá por ela, mas eu travei e agora... Eu sou mesmo um fracasso!


Aleíse: Minha família, o salão... Nem a Bea foi capaz de escapar.


Carbink: A Bea, é verdade! Agora estou muito mais preocupado!!


Bede: Espero que Opal esteja bem, eu não me perdoaria se algo a acontecesse...

Nia: Estou pensando o mesmo sobre o meu pai, não sei o que faria sem ele!


Rose: Como devem estar os meus funcionários? E todas as pessoas de Galar... Como vão ficar depois de passarem por isso? Nós vamos conseguir passar por isso? Eu não sei mais o que pensar sobre o futuro...


    Camille se agitou no colo de Grace, que olhou para Leuri, a vendo suar. A menina estava muito nervosa vendo todos se desesperando, não sabia o que diria ou faria agora, também estava cheia de preocupações e sem respostas para dar. Então Cynthia a tirou de seus pensamentos.


Cynthia: Se quiserem lidar com a situação, precisam se acalmar.


Harley: Me acalmar?! Meu namorado tá lá possuído pelo desejo dele! Sabe quantos relacionamentos acabam assim?! E se ele me trair??  Ele começou a apontar o dedo no rosto de Cynthia e Diantha o puxou para trás.

Cynthia: Nós não iremos gastar tempo se lamentando aqui. Vamos agir, e primeiro é preciso cuidar dos feridos para todos estarem prontos para o que vier a seguir  disse, se referindo a Leon, Calyrex e o restante dos Pokemon que combateram.

Nia: Deixem os Pokemon comigo, o que eu tenho na minha mochila deve ser o suficiente!  disse, recebendo Pokeballs de algumas pessoas.

Katie: Também posso ajudar!  As duas sorriram uma para a outra.

Mustard: Amor, pode fazer aquele chá com mel que sempre me dá quando não me sinto bem? Deve fazer o Leon se sentir melhor.

Honey: E onde eu vou achar xícaras? Água quente? Hidromassagem, esmaltes... Ai, eu quero me arriscar lá fora, não vou viver nessas condições!

Sweetie Pie: Eu tô avisando, vou fazer falta!  Ele segurava um pote de manteiga.


Diantha: Nada disso gente, estamos numa cidade cheia de casas e hotéis abandonados, devem ter deixado algo para trás que possamos usar!

Cynthia: Essa é uma boa ideia, quem não estiver dando suporte para os feridos deve vasculhar a cidade em busca de tudo que for útil para nós. Então nos reuniremos dentro desse hotel maior  disse, apontando para o hotel cheio de pichações o qual estavam perto.  Leuri, você vem comigo, vou precisar da sua ajuda.


Leuri: Minha ajuda?

Cynthia: Não preciso repetir, venha logo comigo, seu poder pode nos ajudar.

Grace: Filha, eu vou com você, estamos juntas!

Leuri: Não!  gritou por impulso, então diminuiu o tom de voz.  Quer dizer... Estou bem. Não era para você estar aqui com a Camille, isso me deixa mais preocupada ainda... Fique aqui mesmo esperando os outros voltarem.

    Deixando Grace apreensiva para trás, Leuri correu para acompanhar Cynthia. A mais velha permanecia em silêncio enquanto andavam, Leuri podia ouvir alguns Pokemon se espreitando nas sombras da cidade abandonada. Estava ficando aflita, então pegou em seu celular, estava mesmo fora de área mas tentou enviar mensagens para algumas pessoas. Cynthia olhou de canto quando ela ligava para Brendan, insistindo.

Cynthia: Ele está bem. É com você que deve se preocupar agora  disse, e Leuri não desistiu de imediato, mas se cansou e baixou o celular. Elas pararam de andar quando estavam de frente para o portão gradeado de Spikemuth.  Chegamos.

Leuri: O que quer que eu faça com isso? Já parece bem fechado...


Cynthia: Você é engraçada  disse, e Leuri não percebeu o motivo, mas corou as bochechas.  Mesmo que desejos não possam chegar aqui, ainda podem nos descobrir e atacar. Minha ideia é criar uma ilusão temporal de um momento onde Spikemuth estava vazia, assim estaremos totalmente escondidos, como fiz no estádio para surpreendermos Marnie.

Leuri: V-Você realmente pode fazer isso?  Cynthia assentiu.  Uau... E onde eu entro?

Cynthia: Minha ilusão não pode se manter sozinha, mas se combinarmos nossos poderes, talvez possamos dar vida a ela, tornando-a independente. Você já tem experiência com isso, certo? Não vai ser difícil.

    Leuri engoliu em seco, dando um passo para trás quando Cynthia levantou as duas mãos. Seus cabelos começaram a esvoaçar e um círculo de pequenos diamantes se organizou pelo ar como números de um relógio. A menina viu o cenário ao seu redor se alterando rapidamente por épocas diferentes, as mudanças a causavam dor de cabeça, mas Cynthia tornou o lugar estático, então tudo voltou ao normal.

Cynthia: A ilusão está ativa, agora é a sua parte.


Leuri: Vamos lá... Poderes, ativar!  Ela juntou as mãos, abrindo e fechando-as tentando fazer algo.

Cynthia: O que era pra ser isso?

Leuri: C-Calma!
  Ela respirou fundo, fechando os olhos.

    Em seus pensamentos, Leuri tentava encontrar seu poder, como se um pequeno foco de luz rosa brilhasse no fundo de um cenário escuro. Antes que conseguisse alcançá-lo, suas preocupações tomaram conta dela, toda a situação que encobria Galar, sua discussão com Diego durante a batalha, sua mãe estar ali depois de tudo... Tudo se materializava na forma de Marnie, Diego e Grace, com os olhos encobertos por sombras e com sorrisos macabros, mãos com dedos afiados tentando agarrá-la até ela se sentir tão pequena que desapareceu.


Leuri: Não dá!  Ela reabriu os olhos, levando uma mão ao cabelo.  Eu sinto muito, Cynthia, mas todas as vezes que usei esse poder foram acidentais, não sei como controlá-lo! Eu tento nem pensar que ele existe para não acabar tendo uma crise existencial porque.. Você sabe, por simplesmente ter poderes!!


Cynthia: Oh. Isso é esclarecedor.  Ela baixou um dos braços, se aproximando de Leuri, ainda mantendo a ilusão.  Você já esteve em contato com Xerneas, pelo que sei. Chegou a visitá-lo em seu reino?

Leuri: Não é alguém que eu queira ver de novo... Mas não tenho certeza se fui lá. Nem sabia que ele tinha um reino! Como você sabe tanto sobre... tudo isso? É tão estranho te ouvir falar tão naturalmente sobre poderes, Deuses e...

Cynthia: E tudo que não é normal para os humanos?  Ela sorriu de lado, provavelmente a primeira vez que Leuri a viu fazer isso.  Não sou a pessoa certa para falar sobre tempo, eu o sinto passar de forma diferente do habitual. Mas nunca é fácil lidar com algo novo sobre si mesmo... Talvez eu tenha feito bem com o meu poder, mas não com outras coisas.

Leuri: Cynthia...  Ela olhou impressionada para a mais velha, que se mexeu bruscamente e sua franja voltou a cobrir um de seus olhos.

Cynthia: O que eu queria dizer... Está tudo bem que não consiga controlar ainda, mas essa é uma parte de você. E todos nós precisamos da sua ajuda, somos a única esperança para impedir o retorno de Eternatus, não posso aguentar manter a ilusão por dias seguidos. Você precisa conseguir dessa vez.


Leuri: Todos precisam de mim... E-Eu vou ver como os outros estão, me desculpa  pediu, correndo pelo caminho de volta. Cynthia então voltou a se focar em manter a ilusão acontecendo.

    Enquanto isso, no último andar da Torre Obscura, Poipole usava um círculo de veneno como uma tela, passando nela com as mãos para ver toda a região de Galar, onde Pokemon gigantes caminhavam sob o céu roxo e mais pessoas caíam no controle de seus desejos.


Poipole: Como eles podem ter sumido? O poder do Calyrex não vai ultrapassar a redoma que cercou a região. Precisam estar em algum lugar!


Paula: Eventualmente, eles vão aparecer. Não podem se esconder para sempre.

    O barulho de um saco de pancadas caindo interrompeu os dois, que se viraram e viram Marnie ofegante e suando, com uma mão segurando a outra fechada.

Paula: Parece estressada. Ofereceria chá, mas só tem maionese. Humanos comem isso?


Marnie: Dane-se a maionese, Leuri me enganou! E não só ela! Por que aqueles dois engomados estavam com a espada e o escudo?!  Ela apontou para as duas armas enferrujadas repousando num canto.  Eles me sabotaram o ano inteiro!

Paula: Ririri! Tudo faz parte do grande plano do Desejo para você. Não deveria estar chateada, continue se fortalecendo para o que virá a seguir.

    Sussurrando algo incompreensível, o saco de pancadas voltou a se pendurar sozinho, ganhando uma estampa de Leuri e Frogadier. Marnie estreitou seu olhar no rosto de Paula, mas voltou a dar socos com raiva.

"AAAAAAAAAAAAAHH!!!"


Harley: Ai, a Klara tá em perigo, pegaram ela, ameaçaram com caco de vidro!!! Ela não sabe se defender sozinha, não tem nem um Pokemon de verdade, alguém faz alguma coisa, ela tá me devendo vinte reais!!!  Ele começava a chorar debruçado num poste após ouvir um grito apavorado muito agudo.


Klara: Ô criatura renegada por Arceus e Giratina, eu tô bem aqui!  Ela cutucou Harley, com sua Galarian Dustox voando ao seu lado.

Harley: Ué mana, então quem gritou?


Bede: Não se preocupem, foi só o Hop!  exclamou, colocando a cabeça para fora da janela de uma das casas abandonadas.


Hop: Alguém que morava aqui deixou esculturas para trás, e elas são... Assustadoras.


Harley: Ih, isso é obra do Chico lá da rua que eu morava, ele traiu minha irmã num banheiro sujo, será que foi por aqui?

Klara: Ai eu quero ir lá nesse banheiro pra ver!

Harley: Ver o que fofoqueira?


Aleíse: Gente!  chamou um pouco mais distante deles.  Vocês precisam vir aqui ver o que o Rattata encontrou!


Nia: E... Está pronto!

    No hotel onde ficou combinado que seria o ponto de encontro de todos, Nia terminava de fazer um curativo na perna do Cinderace de Hop, em seguida enxugando o suor na testa. Diego e seus Pokemon psíquicos traziam mobilhas para a entrada do hotel, e alguns já estavam bem acomodados, como Carbink e Golett que afundaram uma cama.


Katie: Podem agradecer à dupla da nova super amizade especial, Katie e Nia!  Ela levantou o braço de Nia, que riu de sua empolgação com alguns dos feridos aplaudindo.


~Wappa wappa!


Raihan: Isso não é um exagero?

Carbink: É melhor do que ficar chorando  disse, apontando com as orelhas para Rose.


Leuri: Heeeey!  Ela abriu a porta do hotel, forçando um sorriso.  Eu ouvi risadas, foi isso mesmo?

Grace: L-Leuri!

Nia: Estamos tentando levantar o clima por aqui, todos estão se recuperando!

Katie: Hey, quer água, Leuri? O filtro da cozinha funciona!

Leuri: Obrigada.  Ela aceitou uma caneca com a logo da banda Maximizers estampada.

    Sentando-se perto de sua mãe, Leuri sorriu para ela e desviou o olhar. Calyrex estava inquieto, também com uma caneca nas mãos. Leon continuava deitado de olhos fechados numa cama. Já sua irmãzinha Camille brincava com Mustard e Honey.

Leuri: Então... Que tal nós...


Calyrex: Eternatus... Eu odeio pronunciar esse nome  interrompeu, sem tirar os olhos do líquido em sua caneca. Sua voz tinha um pesar que rapidamente deixou o clima sério.  Eu nunca soube o que ele realmente pretendia, mas era uma força destrutiva, uma criatura de outro mundo que com certeza tinha um propósito maior. Ele se fortaleceu na escuridão por muitos anos com os desejos do habitantes de Galar... E quando me dei conta, eu estava declarando guerra contra seu exército de bestas, mas nenhuma delas se comparava ao seu poder. Ele não pode voltar.

Rose: E pensar que o Dynamax que achávamos estar melhorando a vida das pessoas, na verdade só o fortalecia... Como posso me perdoar, Oleana?!

Oleana: A ideia de utilizar o Dynamax como fonte de energia em Galar não partiu do senhor, Presidente Rose. Quem ofereceu e incentivou o uso desse recurso para a Macro Cosmos foi a realeza de Galar.


Espadarnaldo: Não olhem para nós, não devemos explicações...  Ele segurava um algodão por baixo do nariz, sentado com seu irmão mais afastado dos outros.

Escudoberto: Ainda nem entendemos porque estão cuidando de nós.

Sonia: Talvez porque somos pessoas boas, e por isso vocês devem sim explicações?

Carbink: Vocês estavam fazendo saudações ao Eternatus e tentaram fazer a mídia acreditar numa nova versão da história dele!

Espadarnaldo: Humph... Nós tínhamos um acordo com Eternatus. Lemos sobre a espada e o escudo e fomos investigar...

Calyrex: Ignorando totalmente o meu aviso para nunca a procurarem!

Espadarnaldo: Caham... Ele disse que nossos desejos eram sinceros e abriram caminho até o altar, então nos confiou a espada e o escudo até quando fosse necessário. Não nos contou o seu propósito, mas nos recompensaria se ajudássemos...


Raihan: E o que vocês desejavam era ter poder sobre a região? Acreditaram mesmo que seriam ajudados por uma besta alien do mal enquanto só pensavam nas próprias vantagens?

Escudoberto: Por que não seríamos? Fizemos tudo o que ele nos pediu... Propagamos o uso do Dynamax através da Macro Cosmos, reformamos os ginásios para se tornarem estádios espaçosos o suficiente para as batalhas... E mesmo assim ele nos traiu! Nós vamos nos vingar dele!!


Diego: Vocês são nojentos... E patéticos!


Grace: É isso que acontece quando você se envolve com o Dynamax... Foi isso que levou o seu pai, Leuri  disse e a menina arregalou os olhos.  Meyer ficou obcecado quando descobriu sobre o altar que realizava desejos. Ele partiu em busca desse altar e essa foi a última vez que o vi.

    Todos ficaram em silêncio, disfarçando que olhavam para Leuri esperando por uma reação dela. A menina levantou-se, cerrando os punhos. Suor escorria em sua testa e ela mordeu o lábio inferior antes de falar do jeito mais calmo que conseguiu.


Leuri: Nós já sabemos quem estamos enfrentando! Podemos pensar em outra coisa, por favor?!


Leon: Não, vocês não sabem  disse, agora sentado na cama. Sonia e Raihan o olharam aflitos, mas ele não parecia ter forças pra se levantar.  Se soubessem, já teriam desistido...

Sonia: Essa não é uma opção a se considerar.


Leon: Eu era só um garoto da idade da Leuri e não conseguia usar o Dynamax da forma correta com o Charizard, sempre surgia um redemoinho de fogo que nos esgotava e acabávamos perdendo todas as batalhas...


"Eternatus começou a se comunicar comigo como uma voz na minha cabeça... Ele me fez acreditar que o único jeito de ser um Campeão era aceitando fazer um trato com ele."


Leon: Eu me tornei invencível em batalha, não pensei direito nas consequências desse acordo na época... Não achei que um dia ele viria cobrar a parte dele, mas foi o que fez. Ele se aproveitou do meu desejo assim como fez com vocês dois e como está fazendo com a região inteira nesse momento. Ele... É cruel.


Leuri: E no que isso ajuda agora?!  gritou, com lágrimas nos olhos.  Eu preciso sair daqui!!

Grace: Leuri!  chamou pela filha, que saiu correndo do hotel, então levantou-se.

Katie: O que deu nela?  perguntou para Diego, que enfiou as mãos nos bolsos do casaco, apreensivo.


Diantha: Eita!  Ela esbarrou em Leuri na entrada do hotel.  Aonde você está indo?

Leuri: Não sei, eu só... Não quero ficar aqui!

Diantha: Bem... Talvez tenha um lugar que você deva ver  disse, conseguindo a atenção dela.


    Seguindo Diantha, Leuri chegou até a frente de uma casa onde as luzes estavam acesas por dentro. A porta estava remendada e a maçaneta deslocada. Antes que ela se aproximasse, Aleíse abriu a porta.


Aleíse: Gata, achamos a casa da Marnie.

    Dentro da casa, tudo estava limpo e organizado. Leuri sentiu o cheiro de café e viu Bede e Hop sentados num sofá, enquanto Klara e Harley estavam à mesa com mais alguém. Ela continuou andando, vendo alguns porta retratos com fotos de Marnie criança, acompanhada de sua família. Ela sorria em todos eles.


    Então, um Obstagoon de avental segurando um bule de café ficou de frente para Leuri, que parou de olhar os quadros quando o percebeu. Ele parecia cansado e nada energético como os outros da espécie.


Leuri: Esse é...


Klara: O Obstagoon do Piers. Nós o contamos o que aconteceu com Marnie e ele nos deixou entrar.

Leuri: Mas... O Piers...

    Repousando o bule de café na mesa, Obstagoon sinalizou para Leuri o seguir. Eles foram até o primeiro quarto da casa, onde um homem estava sentado na cama, inexpressivo, pálido e muito magro. Leuri levou as mãos até a boca, sabendo quem era.


"Piers!"

Klara: Mas é apenas o corpo... Ele está em estado vegetativo  disse, parada de costas na porta. Não conseguia olhar para Piers daquele jeito.  Eu não entendia quando estávamos juntos, mas agora eu sei o que aconteceu. Como sua alma foi selada naquele altar... É tão triste....

Leuri: Como o corcel do Calyrex... Sua alma separada do corpo  pensava em Spectrier e Glastrier, levando uma mão ao coração.  Esse é o quarto da Marnie?

    Obstagoon assentiu em resposta, então encostou no braço de Leuri, como se tentasse confortá-la. Ele a seguir se retirou, deixando-a sozinha.
    Andando pelo quarto, Leuri viu pôsteres da banda de seu irmão e de Pokemon fantasmas pelas paredes. A guitarra dela também estava protegida dentro de seu estojo, ao lado da cama. Numa mesa de cabeceira estavam espalhados vários League Cards, e ela os reconheceu, foram os que comprou para presenteá-la na Crown Tundra.


Leuri: Ela guardou...  disse, pegando um deles.

    Leuri passou os dedos pelo card, Marnie havia até o colocado dentro de um protetor para não marcá-lo. Deixando-o, ela se virou para Piers, inexpressivo, vazio. O silêncio só a deixava ouvir sua própria respiração e seus pensamentos desorganizados. Ainda encarando fixamente o corpo do homem, Leuri se colocou de joelhos, levando as mãos ao rosto.


    Chorando, Leuri tentava não fazer barulho ao mesmo tempo que secava as lágrimas com as costas das mãos. Piers mantinha-se distante, na mesma posição, apenas piscando lentamente. Ela nem percebeu quando a porta do quarto se abriu e uma mão acariciou suas costas, a puxando para um abraço.


    Quando Leuri percebeu que era sua mãe a abraçando, afastou-se e se recompôs rapidamente, a deixando confusa.


Leuri: O que você está fazendo aqui?! Eu estou bem, deveria estar ajudando quem se machucou!

Grace: Você também está machucada, minha querida... E eu sei que tenho culpa nisso.

Leuri: Não, eu... Eu não preciso...


Grace: Leuri Azura, eu sou sua mãe!  Ela engrossou a voz.  Mas também quero voltar a ser sua amiga... Eu sei que têm coisas demais acontecendo. Você pode dividir comigo, filha.

Leuri: Eu não queria pensar nisso, mas não tem como fugir para nenhum lado...  Ela voltou a olhar para os league cards na cabeceira.  Eu posso vencer batalhas contra campeões, mas não consigo resolver os meus problemas com o Diego, a Marnie, você...

Grace: As pessoas que você ama  disse, e Leuri olhou para o teto. Haviam ornamentos das fases da lua pendurados, provavelmente se acenderiam se apagassem a luz.

Leuri: Consegue imaginar como a Marnie viveu aqui depois do irmão dela ficar nesse estado? Sem os pais, sem a companhia do Pokemon dela... Precisando cuidar de tudo, numa cidade abandonada. Eu consigo compreender seus sentimentos, estando nesse lugar...

    Passando uma mão pelo pôster dos Pokemon fantasmas, Leuri sorriu, lembrando-se do quanto ela gostava de coisas sombrias.

Leuri: Nós nos afastamos, mas não consigo esquecer da nossa amizade...

    Leuri lembrava de quando foi para Galar de trem e deixou seu celular cair. Ela conheceu Marnie nesse momento, quando as duas foram pegar o celular ao mesmo tempo e encostaram suas mãos.


"Uh... Perdão, aqui está."

Leuri: Me incomoda pensar que ela está sozinha de novo, tão angustiada, e não vai me procurar mesmo eu estando aqui... Quem sabe um dia a gente vá se entender?  perguntou-se, sorrindo para Grace.  Eu sinto muita falta dela, mãe. Faria tudo de novo, se eu pudesse.


Grace: Heh... Por acaso eu já te contei sobre a maior briga que eu e a sua tia Sally já tivemos?

Leuri: O quê? Não...

Grace: Nós éramos apenas adolescentes mas a Sally estava com tanta raiva que ela construiu uma parede de tijolos no meio do nosso quarto! Eu tentava falar com ela através da parede, passar bilhetes entre as rachaduras, mas ela se recusava a me responder...

Leuri: E... como essa história terminou?

Grace: Eu peguei uma panela e derrubei aquela parede ao chão! Mas depois disso, a Sally viu o quanto eu queria resolver as coisas entre nós duas... O quanto eu não deixaria nada estranho ficar entre a gente  disse, segurando nas mãos da filha.  Leuri... Você tem o poder para fazer coisas incríveis. E eu sei que só você pode sensibilizar a Marnie.


    Dando um beijo na bochecha de Leuri, Grace soltou suas mãos, deixando o quarto. A menina olhou mais uma vez para Piers, depois para os league cards, e então sorriu.


Leuri: É verdade. Eu vou fazer isso, por todos nós  disse, olhando para Piers, novamente ele não esboçou nenhuma reação, mas ela saiu do quarto correndo.


    Na portão gradeado de Spikemuth, Cynthia continuava mantendo a ilusão, parecendo cansada. Quando ela ouviu a voz de Leuri chamando seu nome, se virou para a menina, vendo-a correr em sua direção. Ela parou bruscamente, quase tropeçando, mas estendeu um braço.


Leuri: Estou pronta agora, vamos fazer isso!  Confiante, ela viu Cynthia assentir e as duas deram as mãos, mantendo um braço erguido cada uma.


    Voltando à sua consciência, Leuri corria na direção da luz rosa no vazio. Suas dúvidas surgiam, mas com as palavras de sua mãe na cabeça, ela continuou seguindo em frente, transformando-os em memórias com Marnie, como as viagens que fizeram juntas e o cordão que ganhou dela. Então, quando abriu os olhos...

Cynthia: É isso!  exclamou. Leuri abriu os olhos e viu a aura de fada sair de sua mão e se misturar com os pequenos diamantes no ar.

Leuri: Aaah!  Ela perdeu a concentração e a aura se dissipou, mas Cynthia também baixou o braço, sorrindo para ela.

Cynthia: Conseguimos, agora a ilusão se sustentará sozinha.

Leuri: Ainda bem... Mas agora é hora do próximo passo, certo?  Cynthia cruzou os braços, mantendo seu sorriso assim como Leuri.

    De volta ao hotel, as duas Campeãs abriram as portas juntas, chamando atenção de todos.


Leuri: Gente! Não será fácil, mas precisamos agir! Vamos nos organizar e fazer a diferença nessa batalha contra Marnie e quem mais estiver com ela!


Carbink: Você realmente acredita que vamos conseguir?

Leuri: Acredito. Temos que acreditar! Por isso vamos começar agora a traçar a nossa estratégia para vencer!

Diego: Disso eu entendo  disse, levantando a mão. Leuri assentiu para ele e os dois sorriram.


Rose: E quanto aos cidadãos de Galar? A região continua dominada pelo desejo!


Cynthia: Faremos tudo no tempo certo.  Apoiando Leuri, ela repousou a mão em sua cabeça. — Vamos ajudar a todos, tenha a certeza disso.

Leuri: Sim... Todos mesmo!

    Na casa de Marnie, Obstagoon segurava uma tigela com sopa e usava o ombro para abrir a porta do quarto. Ele se senta num banquinho e pega uma colher, levando-a até a boca de Piers, este deitado na cama, nem se mexendo.


Continua


Faltam dez capítulos para o fim de Galeuri.

3 comentários:

  1. “Nia: Deixem os Pokemon comigo, o que eu tenho na minha mochila deve ser o suficiente!” E todos morreram com falta de alimento e cuidado porque tudo o que ela tinha era uma chicla e uma falta de vergonha. Alias, o curativo que ela colocou no Cinderace tava contaminado e ele acabou morrendo dias depois.
    Tirando tudo o que envolve a Nia, eu amei esse capítulo. Começando pelo desespero de não saberem se seus amigos e familiares estão em segurança lá fora ou sequer se estão vivos, já que tem prédios quebrando e pessoas caindo que nem no 11 de Setembro, sinto que vai ter mortes por causa da crise energética, já meus professores diziam…
    Amei a cidade de Spikemuth e de como nos conduziu através dela pelo olhar de Leuri, primeiro ela tentando se manter forte, com Cynthia pedindo ajuda e ao perceber que não conseguiria usar seu poder, começar uma queda em espiral, seguido de Grace contando o que aconteceu de verdade com seu pai e depois descobrindo Piers e o quarto de Marnie, dava para sentir ela se culpando por tudo, por não ter sido capaz de proteger ninguém. Também gostei de como o grupo tentou se manter otimista, forçando os risos para não pensarem no pior, todo o capítulo foi muito bem estruturado. Todos estavam em pânico por dentro, basicamente desistindo por saberem que não eram fortes o suficiente e como se esperassem um herói que descesse dos céus para os ajudar nessa situação aflita… Leuri ver os league cards bem cuidados foi o ponto de virada para ela, vendo que Marnie ainda se importava e não havia caído completamente sob o poder do desejo. Ainda tem algo de bom ali e provavelmente Marnie sabe onde Leuri está, mas algo dentro dela a impede de dizer, como se parte dela a protegesse dela mesma.
    O capítulo foi otimo!

    PS: Ouvi dizer que o Chico também traiu a Lisia num banheiro sujo de Mossdeep e rumores apontam para o Wallace ou a mãe deles… Chico tem o sonho de rodar toda a famila!

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  2. Esses dia eu estava pensando quando será que teremos um capitulo novo de Galeuri, ai você tinha me falado que estava escrevendo o capitulo novo e que estava quase terminando e aqui está capitulo.
    O capitulo foi muito bom, Galar está um verdadeiro caos. Pokémon e pessoas machucadas, galera desesperada e assustada sem saber o que fazer.
    Foi uma sacada genial a galera ter parado lá em Spikemuth, confesso que nem me lembrava da cidade. Leuri inicialmente parece não estava conseguindo usar seus poderes, sem contar várias coisas que se passavam na cabeça dela e tudo o que estava acontecendo.
    Mas a ida dela casa da Marnie, vendo os cards, o irmão dela e a conversa com mãe foi muito importante para que a Leuri pudesse usar seus poderes e pudesse voltasse ser a Leuri que voltou com tudo e que deu a todos esperança que posso reverter a situação. Desculpa por eu não estar tão inspirado pra contar, tanto comentar quanto fazer review ando com zero criatividade.
    Mas de resumo eu gostei e muito do capitulo, estava muito bom mesmo e nem dá pra acreditar que só falta mais 8 capitulos para terminar Galeuri, pra mim ainda parece que foi ontem que tinha saído o primeiro capítulo de Galeuri. E desde já ansioso pelo próximo capitulo :3

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  3. Yo solo queria un nuevo capítulo, pero Davi Sobral és muy gay

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