Capítulo 77: Histórias realmente antigas!

     Anteriormente em Galeuri, os irmãos descendentes da família real de Galar, Espadarnaldo e Escudoberto, estiveram pedindo aos Líderes de Ginásio para não aceitarem batalhas com a desafiante Marnie, aparentemente sem motivo. Também surgiram com tapeçarias contando uma nova versão da história da região, agora com dois heróis no lugar de um viking que impediu uma criatura alienígena de trazer a escuridão completa nos céus. Marnie já desconfiava que a história era falsa, mas uma pista a trouxe até a Crown Tundra junto com Leuri e o Chairman Rose. Agora, estavam todos sentados ao redor de uma fogueira que Heatmor acendeu em alguns galhos na neve, afastada dos pinheiros da montanha.

Leuri: Meowth ficará bem mesmo? — perguntou, vendo o gato dormindo no colo de Rose.

Nia: Ele vai, acredite. Só precisa descansar um pouco.

Rose: Você fez um ótimo trabalho socorrendo ele, agradeço por isso. — Ele recebeu um sorriso de Nia como resposta.

Peony: Minha Peonia sempre cuida de mim quando volto de uma aventura! Hah!

Peonia: Paaaai!! É Nia! Peonia é esquisito...

Marnie: Então... — Ela fala enquanto todos estavam rindo. — Não vamos mesmo comentar sobre essas duas que apareceram do nada e montaram esse acampamento?

Michelle: Não me lembro de já a ter visto antes com a Leuri em Kalos ou Hoenn.

Leuri: Marnie, essa é a Pesquisadora Michelle, eu a conheço desde que saí em jornada pela primeira vez. Bem, agora ela é a presidente da Corporação Devon, então... Presidente Michelle?

Michelle: Só Michelle está bom. Prazer em conhecê-la. E não liguem para Cara Liss, minha assistente está começando agora no trabalho — disse, apontando para a mulher mais baixa e com o cabelo sujo de terra, que fumava afastada deles.

Peony: Essa bela mulher está com um projeto muito legal na Crown Tundra, vocês precisam ver! Nia e eu fomos os primeiros a saber, usei isso para te convidar para visitar também! Hah!

Leuri: Eu não me lembro de ler sobre nenhum projeto na carta...

Peony: Não? Eu escrevi em várias delas... Não viu as outras?

Rose: Caham... — Ele limpou a garganta, encarando Leuri, que se lembrou dele nunca abrir as cartas do irmão.

Michelle: Bem, nenhum dos e-mails ou cartas que enviei para a Macro Cosmos foram respondidos também.

Rose: Não estamos interessados em apoiar o projeto, seja lá qual for. A Macro Cosmos tentou comprar a Devon quando houve o falecimento do antigo presidente Stone, mas a proposta foi recusada. A não ser que esteja interessada em vender a empresa...

Leuri: Não seja assim, Rose! Nem ouviu sobre o projeto!

Rose: São relações comerciais, você não entende disso ainda, Leuri.

Michelle: Tudo bem, Leuri, sabe que eu nunca desisto até conseguir. Mas vou provar o meu ponto que vai fazê-lo mudar de ideia, afinal não fiz seu irmão o trazer aqui para perder a oportunidade, não é? — Ela piscou para Leuri, que riu. — É algo realmente grandioso que vai mudar tudo! O que acham de Pokemon extintos voltando a viver aqui na Crown Tundra?

Marnie: Isso é mesmo possível? — Todos pareceram chocados, no entanto...

...

    Cara Liss, a assistente, segurou um quadro branco ao lado de Michelle, que começou a desenhar rapidamente nele. Leuri riu, lembrando-se do filho dela, Julio, que também era ótimo com desenhos.

Michelle: O principal ponto de minha pesquisa durante anos foi sobre recuperar espécies de Pokemon através dos fósseis. Foram muitas tentativas até obtermos resultados perfeitos, como o Tyrunt confiado ao Líder de Ginásio Grant e uma Amaura que foi entregue a um garoto em Hoenn. Porém, eles precisavam de dispositivos anexados aos pescoços para regularem suas temperaturas corporais e assim mantê-los vivos. Foi então que chegamos à Crown Tundra! — Ela circulou o desenho de uma coroa. — A Crown Tundra tem diversos biomas perfeitos para essas espécies viverem e prosperarem, voltando a habitar o nosso planeta. Recuperando antigas pesquisas do falecido Joseph Stone sobre o uso da energia do infinito encontrei um jeito disso ser possível!

Leuri: Isso é impressionante, Michelle!

Rose: Então é mesmo verdade, Pokemon extintos voltando... Oleana me informou que estavam fazendo testes aqui mas não achei que daria certo, então não dei atenção.

Peony: Mas tem dado super certo! Hah, você precisa ver, Rose!! Se for numa aventura comigo vou te mostrar, são Pokemon incríveis!!

Michelle: Com a permissão e apoio da Macro Cosmos, o projeto poderá continuar! O que me diz, Chairman Rose?

Rose: É realmente interessante, mas preciso pensar a respeito. Isso deve explicar o Pokemon que vimos ainda há pouco, deve ter sido um dos extintos que voltou.

Marnie: Ele não parecia estar muito bem...

Michelle: Como ele era? — perguntou e Peony o descreveu, também imitando o jeito que ele andava. — Entendo... Pela descrição parece diferente do que Cara Liss e eu encontramos semana passada. Tem alguém sabotando o projeto e juntando fósseis para trazer espécies misturadas geneticamente, mas não entendo como poderiam ter acesso aos meus equipamentos. Por causa disso algumas pessoas se posicionaram contra alegando que estamos brincando com a natureza, mas não é verdade, a volta dessas espécies podem trazer muitos benefícios ao planeta e...

    Enquanto Michelle continuava falando, Nia aperta os joelhos, inclinando levemente a cabeça. Leuri notou seu desconforto, parando de prestar atenção no que a cientista dizia, quando...

Michelle: ...precisamos descobrir quem está criando essas aberrações, encontrá-las e erradicá-las.

    Levantando-se ainda de cabeça baixa, Nia sussurrou alguma desculpa para seu pai e se afastou dali. Leuri cutucou Marnie com a perna, mas a garota não se importou, então revirou os olhos e a puxou consigo para seguir Nia.

    Subindo a montanha, Nia se desviou do caminho dos pinheiros e correu até um grande pedregulho. Ela deu algumas batidinhas nele e esperou um pouco até que algo o moveu, abrindo espaço para ela entrar. Leuri e Marnie a seguiram na encolha, descobrindo uma pequena caverna com várias decorações nas paredes.

Leuri: É como uma base secreta, é comum em Hoenn — disse baixinho para Marnie, que via pôsteres de divas pop e fazia cara de desgosto.

Nia: Eu sinto muito por não ter aparecido mais cedo, juro. Trouxe comida para vocês — disse, abrindo sua bolsa e desembrulhando alguns petiscos e sanduíches. — Não vai se repetir, prometo.

Leuri: Com quem ela está falando?

Marnie: Além de ter mau gosto, é maluca, era o que faltava... — Leuri levou o dedo indicador até sua boca, a calando. A garota então percebeu um barulho diferente, como gemidos esquisitos e sem sentido.

    O Pokemon de antes, agora acompanhado por dois outros igualmente com corpos estranhos, revelou-se e foi o primeiro a se aproximar de Nia, que o acariciou na cabeça. Ele esticou sua língua azul e puxou um dos sanduíches. Tentou segurá-lo com as mãozinhas, mas não o alcançava e Nia o ajudou com isso, cortando em pedaços menores para ele mastigar. Os outros dois vieram depois para pegar seus lanches também.

Nia: Arctozolt, da próxima vez, não fuja de novo! Você podia ter se metido em grandes problemas!

Leuri: Eu não entendo... São as aberrações que Michelle falou? Fósseis diferentes combinados e restaurados juntos... O que a Nia está fazendo com eles?

Marnie: Eu realmente não me importo com isso, mas está bem claro, não? Sua nova amiga é quem está sabotando o projeto.

Leuri: Não... Nia não faria isso!

Marnie: Por que confia nela? Você a conhece há uma hora! — Percebendo que falou alto demais, ela se encolhe e Leuri a olha preocupada.

Nia: Quem está aí? — Ela esticou o braço e os três Pokemon se encolheram atrás dela. — Eu tenho um lightstick da Allexya Lyandra e não tenho medo de usá-lo!

Leuri: Sério?! Comprou aonde? — Ela se levantou, revelando-se.

Nia: L-Leuri!! Santo Arceus, por que está aqui?! — Ela tentou esconder mais ainda os Pokemon, mas o que chamava-se Arctozolt arrotou.

Marnie: O que eu falei? Ela é a culpada!

Leuri: Nia...

Nia: Por favor, não contem nada para o papai! Ou para Michelle... Ou Rose... Não contem nada para ninguém!! — Ajoelhando-se e chorando, ela curvou-se várias vezes, implorando.

Leuri: Mas por que, Nia? Por que está sabotando o projeto?

Nia: O quê? — Ela parou de chorar. — Não fui eu que os criei! Só estou dando abrigo para eles. Esses Pokemon não tem culpa de estarem vivos nessas formas e não estão fazendo mal a ninguém.

    Cruzando os braços e olhando de lado para Marnie, Leuri a vê revirar os olhos, afinal estava errada sobre Nia. Após alguns minutos se acalmando, as três sentaram-se em almofadas de arco-íris.

Nia: Eu dei nomes para cada um deles... O com pernas de dragão e rosto de pássaro se chama Dracozolt, ele usa movimentos elétricos e também de dragões, mas não consegue usar as asas dos braços para voar. Já Arctozolt vocês conheceram mais cedo, elétrico e gelo com corpo de dinossauro com barbatanas e a cabeça de pássaro, foi o primeiro deles que encontrei. E o mais recente, Dracovish, cabeça de peixe e corpo de dinossauro, dragão e água, não sabe nadar e gosta muito de morder tudo pela frente, principalmente minhas pelúcias.

    Os três Pokemon terminavam de comer, sentados juntos. Eram grandes e desengonçados, mas logo começaram a brincar, com Arctozolt perseguindo a cauda de Dracozolt e Dracovish tentando mordê-la. Nia riu dos três e Leuri sorriu, compreendendo a situação.

Marnie: Não me parece certo... Eles não estão sofrendo?

Nia: Eu não sei dizer... Mas sinto que não, eles parecem felizes — disse e se virou para os Pokemon brincando despreocupados. — Todos estavam tão confusos e perdidos quando os encontrei...

    Por acidente, Dracovish tropeça e cai de queixo no chão, mas avista uma pelúcia de Swablu e seus olhos brilham. Então se arrasta até ela e começa a mordê-la, balançando-a na boca e depois a entregando toda babada para Nia, que ri e o faz um cafuné que ele parece gostar.

Nia: Mas estão se esforçando e se acostumando com seus corpos. Veja, eles são seres totalmente novos e únicos. São diferentes... — Ela correu a mão pela almofada de arco-íris, caindo o olhar. Seu tom de voz era meigo e parecia estar sendo sincera em suas palavras. — Não existe ninguém como eles. Estou protegendo-os aqui, não posso deixar que os encontrem e simplesmente os matem!

Leuri: Mas Nia... Você não é uma Treinadora!

Nia: Ehr... Isso é verdade, não sou, mas posso protegê-los muito bem! — Então as três olharam para Dracozolt entalado entre a pedra e a parede da caverna. — Hehe...

Peony: Niaaa!! — Elas ouviram sua voz chamando bem longe. — Está na hora de ir, filha!

Nia: Por favor, garantam que não vão contar sobre eles — pediu, segurando nas mãos de Leuri e Marnie, que se olham e assentem.

Leuri: Nia, você tem o meu apoio, sei que fala com o coração! Não contarei, mas não pode mantê-los numa caverna para sempre, sabe disso.

Nia: Eu sei... Mas obrigada!

    Descendo a montanha, o grupo chegou até uma cidadezinha também coberta de neve. Apenas cinco casas com cercas de madeira as rodeando, nenhum Pokemon aparente e vários campos de plantações vazios. Vários velhos agasalhados conversavam debruçados nas cercas.

Michelle: Finalmente... Freezington.

Leuri: Hey, Peony, sabe de alguém por aqui que possa nos ajudar com algumas perguntas sobre uma tapeçaria que encontramos? — Ela tentou fazer a perguntar soar o menos confusa possível, o que pareceu funcionar, pois Peony nem se perguntou que tapeçaria era essa e o motivo de duas adolescentes estarem interessadas nisso.

Peony: Hah! Falem com o Prefeito Frode, ele deve saber de algo!

Nia: Ele mora na maior das casas, fica na parte mais alta também, não tem erro.

Leuri: Obrigada! Vem com a gente, Rose?

Rose: Eu preciso deixar o Meowth descansando na casa do meu irmão e tenho mais alguns assuntos a tratar com Michelle sobre o projeto, mas venham me contar o que descobrirem depois, certo? — Leuri assentiu e foi atrás de Marnie, que já procurava pela casa do Prefeito.

Marnie: Freezington é minúscula... Dá para ver a cidade inteira de qualquer lugar dentro dela.

Leuri: Queria saber como que sobrevivem da agricultura nesse clima, as plantações não parecem estar indo bem...

    Encontrando a casa do prefeito, Leuri bate na porta, mas ninguém abre. Ela ia tentar de novo quando Marnie forçou a maçaneta para abrir, mas estava trancada. Ela pediu para Leuri se afastar que iria tentar derrubar a porta, mas então...

Frode: Porra, tava dormindo! — Um velho abriu a porta, certamente o prefeito, também agasalhado e com óculos de cabeça para baixo.

Marnie: Por favor, temos perguntas a fazer sobre isso! — Ela desbloqueou a tela de seu celular e mostrou a foto da tapeçaria. O prefeito não enxergou nada, então aproximou o celular do rosto dele.

Frode: Eita, eu joguei isso fora naquele restaurante careiro, como encontraram e a prenderam aí dentro?

Marnie: Senhor, é uma foto... Mas preciso saber da história da tapeçaria!

Frode: Huuummm... História, é? Se é isso que querem, entrem!

    O velho se virou para abrir a porta, coçando as costas. Leuri e Marnie entraram, encontrando uma casa muito bagunçada e com estantes de livros por todos os lados, mas também bem quentinha por conta da lareira. Frode encontrou um pacote de salgadinhos e ofereceu para Leuri, que recusou não sabendo a quanto tempo aquilo estava ali, a julgar pelo cheiro provavelmente anos. Então o prefeito sentou-se numa cadeira de balanço.

Frode: Eu tive que jogar a tapeçaria fora depois daqueles dois topetudos a estragarem. Desenharam flores por cima... Arruinaram tudo, até mesmo a estátua do Rei das Colheitas Abundantes! Não sei o que ganham com isso, a realeza não se importa com Freezington ou com qualquer coisa, apareceram aqui só para estragarem tudo e ainda levaram um dos meus livros de My Little Pony, justo o da Rainbow Dash que eu ainda não tinha terminado de ler.

Leuri: Prefeito Frode, o senhor está fugindo do assunto! Viemos pela tapeçaria...

Frode: Justamente, a tapeçaria retratava o Rei das Colheitas Abundantes. Esteve nesse casa por séculos, retrata o momento em que o próprio Rei conheceu os primeiros humanos a habitarem Galar, bem aqui na Crown Tundra...

Marnie: Os vikings... Os velhos daqui são todos descendentes deles.

Frode: Não somos velhos, somos bem experientes, só isso! Mas é uma história muito linda que meu avô me contou na infância... O Rei era um Pokemon com o poder de trazer a abundância e a fertilidade para a Crown Tundra no passado, colheitas exuberantes anuais. Sua mão esquerda podia fazer as flores e a grama verdejante surgirem na neve e dançarem ao seu lado, enquanto a direita fazia os campos de frutas amadurecerem! Vovô me contou que foi assim que prosperamos, mas um dia o Rei sumiu e desde então as plantações estão morrendo. Ninguém mais se importa com esse lugar, nos mantemos porque recebemos ajuda de nossos parentes que se cansaram de viver aqui.

Leuri: Mas... Por que também não foram embora? A história do Rei é de séculos atrás, não é?

Frode: Eu acredito que as plantações podem voltar ao normal de novo. Sei que o Rei das Colheitas Abundantes provavelmente não passa de um mito, uma representação de uma realidade que ficou para trás... Perco minhas esperanças aos poucos mas também sou um ótimo leitor, acredito em contos de fada onde tudo termina bem, tipo My Little Pony. Acredito que os que restam também pensam como eu. Querem salgadinho?

Marnie: Tsc... — Ela roçou os dentes, abaixando a cabeça e tremendo um pouco.

Leuri: Marnie, o que houve?!

Marnie: Eu vim aqui... Achando que descobriria algo sobre a história de Galar, sobre a verdadeira realeza, algo que me desse provas contra aqueles idiotas e também me ajudasse com o meu desejo. Mas não...

    Leuri percebeu o tom de voz de sua amiga ser próximo ao de alguém que está quase chorando. Ela aproximou-se, mas Marnie a deu um tapa nas mãos para se afastar.  

Marnie: Era só uma história estúpida de um Pokemon que nem existe mas velhos idiotas e burros continuam acreditando que ele vai aparecer algum dia! — gritou para o prefeito, que nem se moveu, continuando a balançar na cadeira. Ela correu até a porta, a batendo com força e saindo da casa.

Leuri: Prefeito Frode, eu sinto muito por isso! — Curvou-se rapidamente e foi atrás de Marnie, mas a encontrou parada do lado de fora, olhando para frente.

Marnie: O quê...?

    Em sua frente estava um Pokemon com pernas mais longas que seu corpo, o rosto de um cervo com quatro chifres abrigando um broto de coroa e um colar de cristais triangulares azuis, verdes e brancos no pescoço. Seus olhos azuis fitavam os de Marnie e os pelos de suas costas caíam como uma capa.

Continua