Capítulo 114: No papel de vilã!

    No palco abandonado de Spikemuth, vários alvos com o rosto de Marnie estavam posicionados como num campo de treinamento. Bede estava agachado, usando óculos de proteção e com uma arma similar a uma bazuca apoiada nos ombros. Nela haviam vários frascos instalados com um líquido rosa dentro. Rose e seu Inteleon o supervisionavam, de pé, quando o garoto começou a disparar. Os alvos atingidos ficavam cristalizados, e logo Bede terminou os testes.

 — Beleza, o Projeto Obsidiana é um sucesso! — exclamou Bede, se levantando e fazendo um cumprimento com Rose, terminando com os dois colidindo os traseiros.

 — Projeto Obsidiana? — perguntou Leuri desconfiada, se aproximando com Frogadier, o que pareceu desconcertar Rose e Bede. Inteleon logo se camuflou.

 — Isso, é um dispositivo para destruir a Marnie... — Bede começou a explicar, percebendo a indignação no rosto de Leuri, quando Rose o deu uma cotovelada. — Ehr, moralmente!

 — Rose! Nós não vamos atacar a Marnie!

 — É claro que não vamos, Leuri! — Ele segurou nos ombros da afilhada, enquanto Bede se afastava com a bazuca. — Mas preciso estar preparado para proteger as pessoas em qualquer situação...

    Enquanto Rose falava, Bede voltou a atirar nos bonecos, e os disparos explodiam e cristalizavam. Leuri cruzou os braços, e quando o garoto terminou, ele voltou para perto deles.

 — Mas eu não usarei isso sem a sua aprovação. — Rose se afastou dois passos dela, e Inteleon se revelou segurando um documento e uma caneta. Leuri observou com alguma tristeza e desviou o olhar.

 — Leuri, acredite, eu também não quero machucar a Marnie. Mas quem garante que ela não vai tentar nos machucar? Depois do que ela fez com você no templo do Solgaleo... — Bede insistiu e Leuri respirou fundo.

 — Tá bem! Eu vou assinar para proteger as pessoas, mas nós não vamos precisar porque eu sei que lá no fundo a Marnie que amamos ainda existe — disse, pegando a caneta e assentindo para Frogadier. Ela assina o documento e o devolve para Inteleon.

    Ao mesmo tempo, Spectrier galopava pelo infinito vazio de Wishing Stars, a cada instante ficando ainda maior, reagindo com o poder delas. Ele nunca manifestava emoções, mas estava agitado. Seu instinto o deixava perturbado naquele lugar. A dimensão que prende Eternatus num cristal... Acessada através da passagem do altar da floresta. Marnie estava sentada recostada num grande cristal vermelho, observando a mão que escapava da prisão pendurando Wishing Stars.

 — Piers, Morpeko... Eu tenho pensado no que vai acontecer depois que estivermos todos juntos. No que eu vou fazer... Talvez pudéssemos viajar juntos para outra região, tipo Hoenn. Nenhum motivo específico. — Ela deu um micro sorriso esquisito de lado, mas logo se desfez, suspirando. — Eu ensinaria novos movimentos ao Morpeko... Purrloin me ajudou muito e cresceu desde que aprendeu Night Slash. Queria que pudessem ver.

    Mais tarde, Marnie regressava com Spectrier para a Ilha Armadura. O corcel foi direto para o topo da Torre Obscura, mas a garota decidiu dar uma volta na praia, com os braços corrompidos jogados para trás da cabeça. Ela caminhava deixando pegadas sombrias quando viu algo vermelho reluzindo na areia.

 — Isso é... — Ela se abaixou para pegar, vendo a casca vermelha que carregava consigo desde que esteve em Stow-on-Side. Franzindo a testa, retirou o Cosmoem rachado de sua mochila, tocando no núcleo dele.

    A projeção se iniciou mostrando os dois ursos gigantescos que um dia Kubfu foi capaz de sumonar para lutarem por ele. Eles se encontravam no limiar entre o mar e a lua cheia, dois caminhos que se conectavam ao formarem um círculo como o símbolo do sol no templo de Solgaleo. Marnie e Leuri andavam sobre as águas, mas Leuri deixava Marnie para trás propositalmente, triunfando enquanto ela fracassava.

    Visualizar a profecia deixava Marnie furiosa por representar tudo que sentia. Leuri sempre a atrasou em seu propósito, a fazendo esperar mais tempo, não indo atrás do que ela queria. Decidiu por conta própria criar suas próprias chances e renegar o seu lugar invisível. Mas...

    Ao colocar a casca na rachadura do Cosmoem, este se acendeu e brilhou em vermelho. O susto a fez soltá-lo, mas ele levitou para sua frente. Respirando fundo, a garota observou a profecia sendo reproduzida mais uma vez, mas no lugar do final que ondulava, agora Leuri voltava para ajudá-la e as duas, com as mãos dadas, erguiam seus braços conforme erguiam-se os ursos, se encontrando no mesmo limiar que eles.

 — Quer me explicar como isso chegou até aqui?!

    Agora no topo da Torre Obscura, Marnie segurava o Cosmoem na frente de Paula, que era abanada por Poipole enquanto balançava suas perninhas, deitada no altar do pergaminho.

 — No templo de Solgaleo, eu achei que a Leuri estava me manipulando para voltar atrás no meu caminho e continuar na minha frente!

 — E...? — A garotinha prolongou sua pergunta, continuando a se balançar.

 — E daí que você tirou esse pedacinho, há muito tempo! — Marnie arrancou a casca vermelha novamente do Cosmoem, que perdeu sua cor. — Me enganou para que eu abandonasse a Leuri!

 — Talvez... Ou talvez eu só tenha dado um empurrãozinho para você se tornar o que sempre quis.

 — Quem é você? — Já sem paciência, Marnie agarrou no vestido da garotinha, que manteve sua expressão de sempre.

    Marnie mal encostou em Paula e sua cabeça foi invadida por flashes aterrorizantes do dia obscuro que assolou Galar no passado, reconheceu a mão que escapava da prisão do altar e o sorriso maligno de...

 — Eternatus! — Marnie soltou a menina, se afastando assustada. — V-Você é aquela besta que foi selada!

 — Awn, para de fingir que ficou horrorizada. Eu e você não somos tão diferentes. Nós duas fomos roubadas dos nossos destinos. Na verdade, somos mais irmãs que você e Leuri...  — Paula dizia enquanto Poipole voava ao redor de seu corpo. Ela se levantou, caminhando na direção de Marnie enquanto esta continuava se afastando. — Perceba, nós até queremos a mesma coisa. E conseguiremos! Se você continuar a deixar que eu a ajude...

 — Não! — Ela levou as mãos ao peito, estas completamente corrompidas. A visão delas não parecia mais tão agradável. — Não... Eu não sou como você! Eu não sou uma pessoa má só porque eu estou buscando o meu destino!

 — Hahaha! Ah, não? — Ela debochou, e Marnie começou a correr para as escadas da Torre. Enquanto as descia o mais rápido que conseguia, continuou ouvindo a voz dela ecoando. — Fuja, Marnie! Mas você não pode fugir do seu desejo... Não pode fugir de quem você é!

    Correndo pela Ilha Armadura, Marnie tinha as mãos na cabeça, eufórica. Sua Wishing Star estava descontrolada, irradiando seu poder e afetando tudo ao seu redor, deixando os Pokemon crescerem em Dynamax. Parecia que continuava ouvindo a gargalhada de Paula em sua cabeça, mesmo já distante da torre. Ela parou para montar em Spectrier, que atendeu ao chamado de seu desejo, aterrissando em sua frente.

    Toda a região de Galar, encoberta pelo poder de Eternatus...

    Pessoas e Pokemon sucumbidas aos seus desejos, perambulando pelas cidades...

 — Ah! — Marnie perdeu o equilíbrio das costas de Spectrier, caindo na grama da Wild Area. Ela se sentou, ainda apavorada, e viu Chewtle saindo de sua mochila um tanto zonza. — Você... 

 — Chew?

 — Então eu sou a vilã? — perguntou para a tartaruga, que voltava a caminhar para dentro da mochila. — O que eu fiz... Com meu lar, com meus amigos, com a Leuri? Eu tenho que consertar isso.

    Interrompendo o momento, Marnie tapou os ouvidos ao ouvir um grito ensurdecedor. Ela se levantou e não foi difícil encontrar quem era, um Flapple em Gigantamax que disparava seu spray ácido de maçã por outras áreas, obrigando Pokemon como o grupo de Rolycoly e as amigas Frillish e Hippopotas a fugirem.

    Acompanhando o Pokemon, Marnie reconheceu Kim, que já havia derrotado na corrida de Circhester. Ao contrário do habitual, ela não estava dançando a cada passo que dava, estava em transe assim como quase toda a população.

 — Por aqui! — Marnie reconheceu a voz e se virou, vendo Florence e sua Sunflora de folhas queimadas, acompanhados por Luiz Claudio, o sobrinho neto de Leila, e mais alguns idosos de Wedgehurst.

 — Espera! — Luiz Claudio gritou, apontando para Marnie, e todos ficaram apavorados.

 — E-Eu não vou atacá-los! — Marnie tentou dizer, mas eles já mudaram a direção, preferindo encarar o Flapple do que ela.

 — É ridículo. Não posso ir falar com a Leuri pessoalmente... — disse, pegando sua bolsa do chão, vendo Chewtle mastigando a chave enferrujada. — Ninguém vai ficar feliz em me ver. Eu preciso achar um jeito de me aproximar sem ser percebida...

 — Chewtle, chew? — A mãe tartaruga entortou a cabeça, o que Marnie entendeu como um pedido para fazer o mesmo. Ela então reparou melhor em Kim.

 — Tive uma ideia...

 — Fu...

    Meditando no colo de Mustard, Kubfu parecia em paz, ignorando o falatório ao seu redor. Ele sentiu a mão do velho afagando os pelos de sua cabeça, mas não abriu os olhos.

 — Heheh... Mesmo que tenha custado o Dojo, é bom tê-lo de volta. Senti sua falta — disse, continuando a acariciar o urso. — Mas podia pelo menos abrir os olhos, Nezly está empenhado em fazer uma dança pra você.

    Era verdade, enquanto Sonia puxava um carrinho de mão com algo grande encoberto por um pano branco e com ajuda de Oleana, Nezly entretia os Pokemon com uma dança viral que aprendeu com Diantha no PikiPek, a plataforma de vídeos curtos popular entre os Coordenadores. Frogadier batia palmas e Carbink o julgava, culpando-o pela forma de consumo de audiovisual da geração atual, mas o Pincurchin de Hop, em seu horário de descanso, reclamava que queria ver outra coreografia, disparando espinhos no traseiro do mímico. Em resposta, ele dançava mais rápido, suando na testa.

 — O que está acontecendo aqui? — Cynthia sentou-se numa das camas do hotel, próxima de Harley e suas muletas.

 — Olha, quem é viva sempre aparece, né? — Harley criticou, mas a Campeã ignorou.

 — Cloy oy oy. — Explicou Cloyster.

 — Ele disse que estamos esperando Sonia mostrar no que andou trabalhando. — Calyrex traduziu telepaticamente, mas Cynthia não agradeceu, o deixando sentido. Preferiu ficar quieto de novo, o clima estava estranho desde que enganou a todos colocando Leuri em risco para fazer sua vontade de trazer Kubfu para vê-lo.

 — Coitado do Calyrex, que mundo é esse onde não se pode mais mentir e usar os outros para conseguir o que quer? — lamentou Honey.

 — Me lembra da vez que o entregador deixou a comida cair no chão e falei que queria que ele trocasse, mas comi dali mesmo e tava delicioso. — pontuou Sweetie Pie.

 — Né meu filho, é muito injusto esse mundo, o Harley por exemplo não merecia ter quebrado um pé.

 — E eu em janeiro tive virose.

 — Sim, mas o Harley...

 — Mas estamos falando de mim!

 — Caham! — Sonia tentou interromper o falatório, mas precisou de Grace atirando uma panela em Sweetie Pie para conseguir continuar.

 — Sempre resolve — disse Grace, e Leuri assentiu com a cabeça enquanto Rose lamentava pela pequena Camille.

 — Com a ajuda do núcleo de pesquisa e mesmo com alguns atrasos não previstos... — Ela encarou Calyrex, que procurou ao redor tentando entender quem ela culpava. — Eu posso dizer que está quase concluído o dispositivo que vai nos fazer contornar essa situação.

    Sonia retirou o pano e todos ficaram impressionados de primeira, mas logo depois estavam confusos e questionando se teriam qualquer futuro. A máquina tinha a aparência de um Cramorant de bico aberto, com corpo metálico com uma manivela e tubos nas costas conectados numa caixa pesada. Leuri até verificou a Pokeball de seu Cramorant para garantir que ele estava vivo.

 — A minha inspiração em Cramorant explica o funcionamento da máquina, pela habilidade dele engolir e disparar Arrokuda com muito mais força. Usaremos isso para absorver as partículas Dynamax que rodeiam Galar enquanto estivermos a caminho do altar na floresta, e depois que essas partículas forem processadas, serão liberadas na forma de energia com muito mais força para dentro da dimensão do altar.

 — E pela relação de corrente das Wishing Stars com Eternatus, ele vai sentir dor o suficiente para não resistir, assim como aconteceu da última vez na Macro Cosmos — complementou Oleana, e Sonia assentiu, enxugando o suor na testa e aceitando uma xícara de café de Obstagoon. — Vamos fortalecer a prisão para que ele não consiga sair de lá!

 — Nossa, sinto agora que tudo faz sentido e minhas esperanças voltaram! — Raihan foi o primeiro a dizer, e logo todos estavam concordando, Rattata até abraçava um dos Meltan e o deitava em seus braços, beijando-o, ao mesmo tempo que Leuri levantava uma oração em grupo com Aleíse arrasando no louvor.

 — Eu realmente preciso descansar... — Sonia voltou a falar, depois de ver Pincurchin se sentando diante de um piano. — Mas eu vou continuar com os testes depois e se tudo estiver certo, em breve calculamos nosso próximo passo.

 — Ai, prima, obrigada, de verdade! Descanse o quanto precisar, você arrasou! — disse Leuri, e Sonia assentiu, bocejando a seguir. Oleana logo foi ajudá-la com a máquina Cramorant.

 — Ela toda cansada mas não tira esse cropped, saudades quando os figurinos eram condizentes com o momento. — Harley comentou e Carbink o olhou desconfiado.

 — Você tá muito crítico hoje, viu?

 — É tudo o que me resta depois de me entregar de corpo, alma e corpo para salvar o mundo!

 — Você disse corpo duas vezes!

 — Foi pra enfatizar.

 — Foram boas notícias, né, Cynthia? — Leuri perguntou para a Campeã que já ia sair do hotel. — Depois que ela descansar, poderemos nos reunir novamente!

 — Descansar... Fraca. — Cynthia abria a porta quando Diego entrou correndo com Nia, a fazendo arregalar os olhos.

 — Gente, ajuda! Temos um resgate! — ele gritou deixando os outros em alerta.

 — É a Kim! Estávamos voltando do mercado em Hammerlocke e a encontramos sendo atacada por um Trumbeak Dynamax, e ele sabia usar Bullet Seed!

 — Meu Arceus! — Leuri levou as mãos até a boca. — Vou lá ver a Kim! Vem também, Carbink!!

 — Quem? — perguntou Klara.

 — Não mo, Kim. — Aleíse respondeu.

    Do lado de fora, Kim estava nos braços de Leon com uma expressão impaciente enquanto Hop vinha empurrando um carrinho de compras cheio de enlatados e embalagens de salgadinhos. Quando Leuri se aproximou deles, a garota mudou o semblante, parecendo mais nervosa, mas respirou fundo antes de ser colocada no chão.

 — Kim, você consegue andar? — perguntou para a garota, segurando nos braços dela para oferecer apoio. Ela sentiu um choque e rapidamente se afastaram. — Ahn... Como foi que conseguiu ficar lá fora sozinha todo esse tempo?

 — Eu, bem... Achei que fosse uma grande festa! — exclamou e Leuri sorriu.

 — O importante é que está bem! — Carbink saltitou para frente dela, que disfarçou sua cara de desgosto. — Nia e eu vamos te ajudar a se estabelecer!

 — Isso! Por aqui estamos todos divididos em núcleos para nos organizarmos melhor, ideia da Leuri.

 — Claro que foi ideia dela... D-Digo, é uma ótima ideia, agradeço por tudo! Mas é que sou alérgica à pedras e... tinta de cabelo.

 — Dá pra ter alergia à pedras? — Carbink quis saber enquanto Nia se afastava para não prejudicá-la.

 — É hereditária. Leuri, se puder ser você...

 — Ah, tudo bem! Você pode vir comigo, tenho algumas coisas pra fazer mas vou te deixando a par de tudo.

 — Tem algo de diferente nela... — Diego reparou enquanto a garota acompanhava Leuri e Frogadier para dentro do hotel. — Deve ter emagrecido.

    Diferente dele, Cynthia manteve suas suspeitas, mas também bocejou e olhou para os dois lados esperando que ninguém tivesse visto. Ela encontrou um Zigzagoon a olhando com cara de bobo e franziu a testa para ele, como se pedisse segredo.

 — Nós vasculhamos a cidade, muita gente deixou coisas para trás até pelo hotel, então conseguimos reunir bastante variedade — explicava para Kim, caminhando pelo segundo andar do hotel. Não havia luz, mas Pincurchin vinha iluminando o caminho. A garota não parecia muito confortável, mas então Leuri parou de andar, voltando-se para ela. — Estamos todos assustados também com o que está acontecendo, você não está sozinha. Vou arranjar roupas limpas e algo para você comer, tudo bem?

 — Tu... Tudo — corada com a proximidade, Kim perde a fala. Leuri logo retorna com um suéter rosa e pantufas felpudas nos braços. — Não tem algo de outra cor, não?

 — Uh? Não gosta de rosa? — Leuri sorriu vendo a garota envergonhada. — Haha! Me lembra até alguém...

 — Piiincur... — Pincurchin revira os olhos e Frogadier o dá um tapinha nas costas, terminando por se espetar. Antes que continuassem, ouviram alguém correndo na escada.

 — Cloy! Cloy oy oy! — Cloyster chamava por Leuri, e Kim deu um passo para trás ao vê-lo, o que ele não entendeu.

 — Leuri! — Ele quase tropeçou, se segurando em Kim, que o empurrou. — E-Eu acho que fomos seguidos! Mas isso não faz sentido, teríamos visto...

 — Hein? Seguidos por quem?! — Leuri se assustou com o garoto ofegante, quando todos escutaram algo muito grande grunhir. — Dynamax...

 — Está se aproximando da cidade, isso nunca tinha acontecido!

 — Cloy, cloy-oy-oyster!!

 — Kim, espere pela gente aqui, vamos resolver isso!

 — Tá brincando? Não vou perder a diversão.

    Leuri terminou por concordar e o grupo correu para o portão gradeado da cidade, onde a ilusão do tempo estava viva os encobrindo. Próximo a ele, um Meowth gigantesco, com o corpo comprido e os olhos dourados profundos, causava estrago arranhando árvores e postes.

 — Vão! — gritou Cynthia, esticando os braços para cima enquanto fractais de pequenos diamantes azuis se reagrupavam pelo ar.

    Montado em Charizard, Leon disparou para cima do Meowth, seu dragão cuspia fogo contra ele que tentava derrubá-lo com suas patas. Aleíse corria para rodeá-lo, com seu Scizor voando junto dela. Ela esticou o braço, descendo a manga de seu casaco felpudo, revelando uma tesoura com uma Key Stone acoplada.

 — O que ela está fazendo? — perguntou Kim, vendo Cynthia se esforçando para manter seus poderes enquanto Scizor Mega Evoluía.

 — É complicado de acreditar, mas a Cynthia consegue nos manter ocultos para não nos encontrarem — explicou Leuri, se posicionando com Frogadier. — Se saíssemos da cidade sem a proteção dela, seríamos revelados.

    Recebendo uma quase mordida de Meowth, Charizard escapa por pouco. Leon acaricia seu pescoço, demonstrando que estava junto com ele, e o dragão cruzou suas garras, energizando-as com eletricidade e voltando ao embate, arrepiando os pelos do gato.

 — Corte e recorte, Bullet Punch! — Aleíse viu uma abertura quando o gato levou as mãos para as costas para se coçar.

    Investindo contra o peitoral do gato, Scizor passou a dar socos rápidos com suas pinças, empurrando-o. Cynthia se posicionava para conseguir manter tudo encoberto, agora precisando esticar o outro braço para aumentar a área de seus poderes.

 — Myaaaaah? — Incomodado com Scizor, Meowth inclinou seu corpo, deixando sua cabeçorra bem próxima dele. Aleíse o chamou para recuar, mas o gato o deu um peteleco, o empurrando metros para frente.

    Observando o Meowth se reposicionar e ignorar os golpes de Charizard e Scizor, Kim deu alguns passos para trás, longe da vista dos outros, séria. Ela esticou o braço e suas roupas tremeluziram, revelando a pele enraizada pela corrupção da Wishing Star por baixo dela. Levantando o queixo, suas chiquinhas balançaram e a Wishing Star começou a absorver partículas Dynamax, mas de repente parou de brilhar e nada aconteceu.

 — O quê? — Kim olhou para o próprio braço, não entendendo o que deu errado, ela deveria ser capaz de influenciar com o poder do desejo.

 — Precisamos mantê-lo o mais parado possível! — A voz de Leuri a cortou do que estava pensando. — Frogadier, Ice Beam!

    Próximo das pernas do gato, Frogadier esticou um braço, condensando o ar e agrupando as gotículas d'água para formar uma shuriken. Em seguida, a levou até a boca, assoprando-a. Esta cristalizou e se desfez num feixe gélido levado pelo vento, diminuindo a temperatura e começando a congelar os pés do Meowth.

    Perdendo a paciência por não conseguir levantar as pernas, Meowth começa a arranhar o ar repetidamente até uma moeda gigante se projetar em sua frente. Esta cintilava, acendendo e apagando como se fosse explodir.

 — Pincurchin, Zing Zap! — Hop esticou o braço para o comando e seu Pokemon quicou para a frente dele.

    Acendendo cada um de seus espinhos como pontos de eletricidade que passaram a se conectar como numa corrente, Pincurchin quicou impaciente ao redor do corpo de Meowth.

 — Entendi o que quer fazer! — Leuri assentiu para Hop e pegou numa Pokeball. — Wooloo, ajude aqui também!

    Deixando a capsula, a ovelha já saiu rolando pelo chão de cimento até alcançar o gato e subir pelo corpo dele. Hop a olhou com alguma confusão, mas tudo acontecia muito rápido, quando a moeda ia explodir, Pincurchin e Wooloo rolaram por trás dela, a empurrando para o peito do gato.

 — Nyaaaaaaaaah! — Desnorteado com a explosão, Meowth começa a cair para trás.

 — Leon, Aleíse! — Leuri alertou os dois, que souberam o que fazer.

    Scizor abriu suas pinças enquanto o vento se coloria em escarlate, envolvendo sua armadura metálica. Ele flexionou os braços e seu poder irradiou ao seu redor, se sobrepondo ao ar e ganhando a forma de lâminas que vão girando cada vez mais rápido até Meowth, deixando cortes por várias partes de seu corpo, com mais foco nos joelhos.

    Ao mesmo tempo, Leon suava enquanto o corpo de Charizard aquecia, mas juntou os dentes e segurou firme nos ombros dele, não se importando com os cabelos no rosto. O dragão iluminou seu estômago e assoprou tanto fogo que este dividiu-se em forma, assemelhando-se a uma grande estrela, quase da largura do corpo do gato. Junto das lâminas de Scizor, a pressão fez o gato realmente tombar com tanto impacto que as árvores distantes se chacoalharam.

    Vendo o fogo se dissipando com uma lufada do bater das asas de Charizard, Wooloo franzia a testa, incomodada. Pincurchin quicou por cima da cabeça dela, indo ao colo de Hop, e a ovelha se virou, perdendo a pose ao encontrar os olhos do garoto. Estes se encararam por alguns segundos abafados, mas Leuri passou por ele e quando a ovelha o viu de novo, ele estava com a cara virada, indo até seu irmão.

 — Obrigada aos dois, foram perfeitos como sempre! — Leuri ajoelhou-se dando um abraço na ovelha antes de regressá-la para sua Pokeball, enquanto Frogadier coçava a nuca, corado com os elogios.

    De volta a Spikemuth, Cynthia relaxava seu corpo, recebendo água de um copo que Carbink equilibrava entre as orelhas. Golett o acompanhava, mas se virou quando viu Kim, parecendo em alerta com ela.

 — Eu só não entendo como ele estava vindo para cá, não tem nenhum foco de Dynamax por perto para atraí-lo — disse Aleíse, retirando seu casaco pelo calor e o amarrando na cintura. Leon a ofereceu a toalha que usou para secar seu suor, mas ela o olhou com tanto desprezo que ele imediatamente soube a resposta dela.

 — Vamos ficar atentos, quase ficamos em risco dessa vez... — Carbink baixou as orelhas, apreensivo, então se atentou para Kim, encostada no muro de uma casa, de braços cruzados. — Está tudo bem com você?

 — Comigo? Claro que está. Aquele Meowth era só muito chato, mas não era grande ameaça — respondeu sem paciência. Leuri sorriu do jeito dela, mas antes que pudesse respirar um pouco...

 — Ahh! Já se livraram daquele Meowth? — perguntou Espadarnaldo, surgindo com seu irmão.

 — Isso é uma droga, era o melhor motivo para cancelarmos nossa peça! — Escudoberto lamentou.

 — O que eles estão fazendo aqui? — Kim pareceu furiosa em seu tom de voz, apontando para os dois que fizeram bico. — Eles são uns filhos da pu... Digo... Eles... Eles enganaram toda a população, estavam tentando tirar vantagem do Dynamax e ajudando o Eternatus!

 — Ahhh, pare com isso! Somos agora excluídos, estamos vivendo como esses pobres fracassados que pagam impostos! — Espadarnaldo abraçou Hop, como se ele fosse o maior exemplo do que dizia, e seu irmão fez o mesmo.

 — Sim, já estamos recebendo o pior dos castigos! Tem ideia de quanto tempo faz que não tomo um banho de banheira com sais da Shoal Cave?

 — Shoal o quê? — Kim cerrava os punhos, quase se descontrolando com eles.

 — Caverna do Cardume, é lá de Hoenn, mas não vem ao caso... — Leuri colocou as mãos nos ombros de Kim, sorrindo para ela, o que a fez corar. — Nós também não perdoamos o que eles fizeram, mas é melhor que fiquemos juntos nesse momento, tudo bem?

 — Não me importo... — Kim cruzou os braços.

 — Mas estamos numa situação de emergência no momento! — Em lágrimas, Espadarnaldo começou a falar, recebendo um lencinho do irmão. Aleíse revirou os olhos. — Nossa protagonista da peça que montamos está com torcicolo e não vai poder atuar! Precisamos de uma substituta!

 — Pode ser eu! — Carbink sugeriu.

 — Não, você não tem altura o suficiente e nem é tão feminino assim — disse Escudoberto e Carbink se emburrou.

 — Ai, gente, me desculpa mesmo... — Cheia de dor, Katie se aproximou deles usando um colar cervical, mas quando viu Kim... — Mentira, a Kim! Ela pode me substituir, fizemos aulas de teatro juntas quando éramos crianças!

 — Ahn... Fizemos? — Suando frio, Kim percebeu no que se meteu.

 — Isso é maravilhoso! Você vai arrasar, amiga! — Leuri incentivou e Kim deu um sorriso esquisito.

    Mais tarde, Kim entrava na casa de Marnie, batendo a porta e deslizando as costas nela até o chão, suspirando ao se sentar. Seu corpo brilhou em vermelho e sua forma mudou, revelando-se como Marnie.

 — Gooon... — Obstagoon veio recebê-la, com uma bandeja com xícaras de chá numa mão e a outra na cintura, como se fosse dar uma bronca nela.

 — Tá, eu sei... Você acha que eu deveria falar com a Leuri e contar a verdade de que era eu. Mas você não percebe? Essa peça de teatro é a oportunidade perfeita para fazer uma oferta de paz! Vai por mim, vai dar tudo certo!

— Grooon.— Obstagoon negou com a cabeça.

    No palco de shows de Spikemuth, uma cortina havia sido instalada para receber a peça dos monarcas. Quase todas as pessoas e Pokemon abrigadas ali estavam presentes para assistir, com exceções como Cynthia que não se interessava e Sonia que estava no quinto sono a essa altura. Disfarçada como Kim, Marnie lia o roteiro da peça, com uma mão na cabeça desesperada, usando uma peruca parecida com os cabelos de Leuri.

 — Pobres explorados... — Espadarnaldo começou, mas vendo as expressões do público, mudou seu discurso. — Cidadãos infortunados! Eu apresento a vocês uma obra prima criada por nós dois para diverti-los!

 — Exatamente, meu irmão! Por favor nos defendam publicamente quando tudo isso passar, fizemos tudo pensando em vocês. — Escudoberto continuou. — Fiquem com "O triunfo de Leuri"!

    No melhor lugar da plateia, Leuri iniciou os aplausos, tossindo alto para os demais a acompanharem. Kim continuava lendo o roteiro mais desesperada ainda, quando o Eiscue de Katie saltou para sua frente e guiou uma nevasca para o palco.

 — Kim! — Espadarnaldo sussurrou pra ela. — Vai pro palco!!

    A garota foi, ainda segurando o roteiro e com uma mão na cintura, quando...

 — Renda-se a mim, Leuri! — Diantha subia ao palco, com uma peruca que lembrava os cabelos de Marnie. — Trema perante a minha maldade de vilã e o meu pônei semimorto!

 — Pera aí, a Diantha? É ela que vai fazer... ehr, quer dizer, a Marnie? — Kim perguntou indignada. — Era só o que me faltava...

 — Você sofrerá as consequências de não me ajudar a libertar Eternatus! — Diantha continuou interpretando, bem dramática levantando um braço enquanto fechava um punho no coração. Kim se manteve em silêncio, a julgando com o olhar, agora baixando o roteiro.

    Diantha esticou os dois braços rapidamente, fazendo sua melhor cara de má, e subiram no palco Furfrou com um capacete roxo fingindo ser Poipole e a Hatterene de saia, fazendo o papel de Paula.

 — Qual é, gente, isso tá tudo errado... — Kim atirou o roteiro na plateia e este caiu na cara de Hop, deixando uma marca vermelha. — Marnie, eu entendo que você sinta como se ninguém tivesse te dado uma chance, mas isso é culpa minha!

 — Hein? Quando eu aceitei o papel, eu disse que odiava improvisos! — Diantha tirou sua peruca, colocando-a nas mãos de Escudoberto e saindo do palco.

 — Que vexame... — disse Diego para Carbink, que concordou.

 — Eu faria todos esses papéis bem melhor. — Ele cruzou as orelhas.

    Leuri percebeu que precisava fazer algo, então foi passando pelas pessoas, pedindo licença e subindo ao palco. Ela vestiu a peruca de Marnie e foi contracenar com Kim, que a olhou sem entender.

 — Você tem razão, ehr... Leuri. pode ser em partes culpa sua, mas talvez se eu tivesse sido mais honesta sobre como eu estava me sentindo, as coisas não teriam ido tão longe.

    Agora o público começava a ter interesse, com Harley coçando o queixo e Aleíse já sentindo que ia chorar. A comoção intimidou as duas garotas que contracenavam, mas Leuri sorriu, tentando tranquilizar Kim.

 — Bom... Talvez as coisas não sejam tão simples para todos expressarem seus sentimentos — Kim continuou, sem conseguir olhar nos olhos de Leuri. — Nem todo mundo consegue olhar alguém nos olhos e falar... "Eu tô triste", ou "eu tô magoada", ou "eu gosto de você"... Ou até... "Me desculpa".

 — Pode não ser fácil, mas você deveria ter feito isso — continuou Leuri, ajeitando a peruca de Marnie.

 — Pera aí, gente! — Leon levantou a mão. — Eu fiquei confuso! Quem é a vilã dessa história?

 — É COMPLICADO! — As duas gritaram juntas e depois se olharam, surpresas por isso.

    Um silêncio se instalou pelo palco de Spikemuth, quando Diego começou a bater palmas e logo todos estavam fazendo o mesmo, até Carbink era erguido por Golett e batia as orelhas, emocionado.

 — Não adiantou nada ter escrito tudo isso! — Espadarnaldo cruzou os braços, sendo abraçado pelo irmão enquanto Leuri, Marnie, Furfrou, Hatterene e o Eiscue faziam uma reverência, gratos pelos aplausos.

    De volta em sua casa, Kim tirava a peruca de Leuri e assumia sua forma verdadeira, como Marnie. Ela tinha um sorriso apavorante no rosto, mas ao se sentar numa poltrona, respirou fundo, levando uma mão até a testa.

 — Não pensou que o seu plano de consertar as coisas daria certo, pensou? — perguntou Paula, de pé em sua frente para sua surpresa.

 — Como você veio parar aqui?! — gritou para a garotinha, que abafou sua risadinha infantil com as duas mãos.

 — Seu desejo, querida... Onde o Dynamax alcançar, eu também alcanço. E nesse momento... Você é puro Dynamax! — Ela caminhou pela sala, tocando na Wishing Star no pulso de Marnie, que afastou o braço, segurando nela. — Eu não entendo, você já poderia ter pedido desculpas para ela frente a frente, teve muitas oportunidades mas nunca o fez, por que será? Eu acho...

 — Porque eu tenho medo que ela não me perdoe! — Marnie gritou, interrompendo.

 — Você está certa em ter medo... Acho que ela não te contou sobre o Projeto Obsidiana. Uma arma que ela autorizou o uso pra destruir você. — Ao terminar de falar, se virou de costas, sorrindo ao imaginar a reação de Marnie, confusa com a informação.

 — Eu... Eu não acredito nisso! — Marnie cerrou os punhos.

 — Pois pergunte a ela então se não acredita em mim. Você vai precisar de algo para se proteger, então use esta poção quando ela inevitavelmente se virar contra você — disse Paula, levantando um frasco vermelho. Marnie a encarou nos olhos por alguns segundos.

 — Kim!! — Marnie ouviu Leuri gritar do lado de fora e voltou ao seu disfarce, indo encontrá-la com um sorriso esquisito. — Ah, você está aí!!

 — Oi... — Kim ficou tímida quando recebeu um abraço da garota, quase caindo pra trás.

    Caminhando pela cidade, as duas estavam num silêncio estranho, mas Leuri resolveu quebrar o gelo e falar.

 — Sobre a peça... Foi estranho, né? Mas o que te fez mudar as falas?

 — Eu ouvi que a historia não é bem assim...

 — É verdade... A Marnie teve motivos para fazer o que fez. Mesmo que os seus métodos não sejam os melhores, eu realmente acredito que lá no fundo, Marnie é uma boa pessoa. 

— É s-sério? — Kim perguntou, vendo Leuri sorrrir.

 — Eu sei disso, passei tempo com ela o suficiente para ter certeza. Compartilhamos momentos juntas que eu sei que foram sinceros. De alguma forma, estar com você me faz lembrar um pouco dela... Vocês tem um jeito parecido.

    Olhando para baixo, Kim respira fundo, então encosta nos braços de Leuri, que a olha confusa.

 — Eu preciso te contar uma coisa. A gente... pode falar em particular?

 — Ah... Claro!

    As duas garotas seguem andando pela cidade, fazendo o caminho contrário de volta para a casa de Marnie. Atrás de alguns caixotes, alguns Zigzagoon, Nickit e um Linoone as observavam, mas ao escutarem uma risada, se afastaram. Era Paula, que sorrateira para não chamar atenção, se aproximou de Kim e encantou com as mãos a sua Wishing Star, desfazendo seu desejo de disfarce para revelá-la para todos.

 — O quê...? — Leuri viu Kim passando sua frente e sua forma mudando para Marnie rapidamente. Chocada, ela arregalou os olhos. — Marnie!

    Percebendo que seu disfarce sumiu, a garota entra em posição de defesa, vendo Leuri recuando para trás.

    Os Pokemon que estavam próximos, ao verem Marnie, apavoraram-se e correram para longe, anunciando que ela estava ali.

 — A Marnie está aqui! — Hop apavorou-se, mas Diantha segurou em seu ombro.

 — Vamos defender a Leuri!

 — Leuri, por favor! — pediu Marnie, enquanto ouvia os gritos dos Pokemon correndo com medo. — Eu posso explicar!

 — Afaste-se dela! Cinderace, Blaze Kick! — gritou Hop, arremessando uma Pokeball.

 — Nezly, Ice Spinner! — Diantha também chamou por seu parceiro.

 — Esperem! — Leuri estendeu uma mão, na tentativa de conter o ataque. — Não se aproximem!

    Enquanto Cinderace inflamava seus pés deixando-os incandescentes, Nezly girou seu corpo, cristalizando-o como um peão. Marnie sentiu-se ameaçada e jogou o corpo para frente.

    Com um braço estendido, Marnie acendeu a Wishing Star corrompida em seu pulso, aumentando a pressão na cidade. Seus cabelos esvoaçaram quando uma onda de energia Dynamax se estendeu para cima dos dois Pokemon, que pararam seus movimentos ao mesmo instante, ajoelhando-se. Diantha e Hop também foram atingidos, ficando da mesma forma.

 — Diego! — Carbink saltitou até o garoto que folheava um livro. — A Eldegoss me contou que a Marnie está atacando a Leuri! Ela está na cidade!!

 — Como é possível ela ter chegado até aqui? — Ele perguntou-se, mas logo acompanhou Carbink. Próximos dele, Rose e Bede ouviram a conversa e assentiram um para o outro, correndo em outra direção.

 — Hyah! — Marnie acendia seus olhos, rangendo os dentes enquanto erguia o braço, fazendo o chão se abrir numa erupção de energia Dynamax, engolindo Nia e seu Tyrantrum, que também cederam ao seu poder.

 — Marnie, não faz isso! — Leuri pediu para a garota, se agarrando no braço dela para impedi-la de continuar atacando, mas antes ela também derrubou Frogadier, espalhando sua espuma. — Não é tarde pra gente consertar as coisas!

    Enquanto Marnie estava em dúvida do que fazer, olhando assustada para Leuri, Bede e Hop chegavam carregados por Inteleon. O mais novo se posicionou com a bazuca no ombro, mirando em Marnie.

 — Não atira. — pediu Rose, sem tirar o olho das duas garotas.

 — Leuri... — Ela chegava mais perto, ofegante. — Eu quero acreditar em você, mas...

    Chegando por trás de Bede, Paula esconde sua risadinha antes de tocar no disparo da bazuca, atirando em Marnie que geme sentindo dor. Seu corpo começa a cristalizar em rosa enquanto ela olha assustada, então ela estende sua mão até o rosto apavorado de Leuri, antes de ser completamente selada.

 — NÃO!! — Leuri gritou, encostando no cristal e se virando para trás, vendo Rose e Bede com a bazuca fumegando. — Eu dei ordens para não atacar!!

 — Eu não sei o que aconteceu, deve ter dado algum defeito...

    Antes de qualquer outra coisa, o cristal que prendia Marnie começou a rachar, até se romper em diversos pedaços que se espalham ao redor. Leuri protegeu-se com as costas do braço, e quando voltou a enxergar, viu Marnie livre, a olhando com raiva.

 — Projeto Obsidiana, huh? Então Eternatus tinha razão... 

 — Marnie... — Leuri tentou dizer, mas a garota continuou, se aproximando com nuvens Dynamax preenchendo o teto de Spikemuth.

 — Você quer que eu seja a vilã? Tá! Então agora eu sou!! — Ela levantou o frasco da poção que Paula a entregou.

 — Marnie, não!! — Leuri gritou em vão.

    Marnie arremessou o frasco no chão e ele se rompeu deixando escapar um gás que fez Leuri atordoada. Sentiu suas pernas bambas e sua visão falhando, então caiu adormecida no chão. Frogadier, envolto numa aura de Dynamax, flexionou os braços e se livrou dela, correndo até sua amiga para ajudá-la.

 — Não!! — Rose gritou, correndo também na direção de Leuri, mas Marnie se virou furiosa para ele.

    Antes da garota fazer qualquer coisa, uma rede caiu por cima dela, a derrubando. Havia sido jogada por Leon e Raihan, que pensaram ter conseguido pará-las, quando o chão novamente se abriu e os dois caíram, sendo encobertos pelo poder do desejo.

 — Perrserker, Inteleon, levem-na para um lugar seguro! — pediu para os dois Pokemon ao entregar o corpo de Leuri para Inteleon, que assentiu, camuflando-se com ela e desaparecendo enquanto o felino ia atrás.

    Com um gemido, Marnie se levantou e viu-se encurralada pelos membros dos outros núcleos. Ela continuou seu ataque, disparando as rajadas que os faziam ceder ao peso de seus desejos, travando-os no meio do caminho e impedindo que a alcançassem. A rua, as casas e postes eram danificados com os ataques sucessivos, até a garota avistar Carbink saltitando com Diego, e Grace com Camille no colo, na direção de sua casa.

 — Eu lamento, mas essa casa já tem dona! — proclamou e estendeu as mãos para o alto, rangendo os dentes.

    Obstagoon deixou a casa, segurando o corpo de Piers e um bule de chá, instantes antes desta ser envolta num campo de poder Dynamax, rompendo o teto da cidade e iluminando-a com os tons vermelhos e roxos que coloriam o céu de toda Galar. Carbink cambaleou, sendo abraçado por Diego antes de tombar, e a garota virou-se percebendo uma presença atrás dela.

 — Marnie... — Calyrex começou a dizer por telepatia, olhando nos olhos da menina tomada pela raiva. Diferente do habitual, ele não parecia imponente dessa vez. — Por favor, este é o seu reino, não é? O seu lar, onde cresceu...

 — Não é mais. Tiraram tudo que eu tinha! Meus pais, meu irmão, Morpeko... O meu lar é com eles e eu vou recuperar tudo o que é meu! — Ela declarou, investindo contra Calyrex, que antes de conseguir se defender, foi acorrentado por uma cela sombria de Spectrier.

    A divindade relutou para se soltar, mas Marnie o agarrou, montando no corcel que veio se reunir com ela. Escondida atrás de uma caixote com os Zigzagoon, Paula riu, esfregando as mãos. Cynthia, da entrada da cidade, encobria Rattata, os Meltan, Carbink e Golett, pedindo para manterem-se em silêncio.

 — Pare com essa loucura! — Diego correu para a frente de Marnie, ainda tentando dizer algo mesmo que ela estivesse em descontrole. — Por favor, Marnie... Você era como uma irmã pra...

 — Me poupe. — Ela cortou sua fala, então Spectrier liberou um pulso sombrio por baixo de seu corpo, fazendo toda a cidade balançar. — Eu quero a Wishing Star de Melmetal.

 — Nunca vão te entregar! — Calyrex ainda gritou e a garota fechou uma mão, apertando-o ainda mais na cela de sombras.

 — Eu vou arrancar essa informação de você, Rei das falsidade. E quanto aos outros, sabem onde me encontrar — disse olhando para Diego se joelhos, antes de galopar com Spectrier e Calyrex para o buraco no teto e deixar a cidade.

Continua

Faltam seis capítulos para o fim de Galeuri