sábado, 15 de fevereiro de 2025

Capítulo 116: Às vezes é tão confuso ser uma Campeã.



    Galar inteira envolta por partículas Dynamax, impedindo qualquer um de entrar ou sair. Um verdadeiro pesadelo acontecia na região, com os Pokemon entrando em Dynamax por todos os lugares, causando danos em cidades, além das pessoas cedendo aos seus desejos, tornando-se marionetes de Eternatus que dessa forma conseguia fazer seu poder expandir-se ainda mais.
    Grupos de pessoas e Pokemon ainda resistiam como podiam, mas dia após dia a situação ficava ainda mais complicada. Qualquer exposição estava sujeita a provocar um confronto com um Pokemon em Dynamax. E nesse momento, as nuvens roxas de Gigantamax se mesclavam, iluminando-se cada vez com mais frequência como se estivessem carregando.



    O som de um trovão ecoou por quilômetros da Wild Area. As nuvens se abriram, e raios tão intensos caíram que, por um momento, iluminaram tudo como em um dia de céu claro.


    Os raios atingiram diversas áreas. Um deles desceu com força sobre uma montanha, rachando sua encosta e fazendo rochas despencarem morro abaixo. Outro incendiou uma colina gramada, onde as chamas se alastraram rapidamente, engolindo tudo ao redor. O impacto final atingiu um lago, vaporizando parte da água e deixando ondas turbulentas se chocando contra as margens.


    No centro da tempestade, Cynthia surgiu envolta em um diamante translúcido, que a protegeu da destruição ao redor. A barreira brilhou por um instante antes de se desfazer em pequenos relógios cintilantes, que desapareceram no ar como se o tempo tivesse sido fragmentado.



    Leon e Diantha surgiram logo atrás, emergindo das sombras da luz intensa. Ambos estavam suados, ofegantes, e seus rostos carregavam expressões de guerra. Sem hesitar, moveram-se em direções opostas, posicionando-se para o combate. Diante deles, um Pikachu em Gigantamax fincava seus pés no solo, cada passo afundando a terra por conta de seu peso colossal.



    Ao sinal de Cynthia, seu Garchomp voou entre os raios, banhado por um poder extravagante que se mesclou às descargas elétricas. Sua silhueta assumiu a forma de um dragão dourado, que investiu contra a barriga do Pikachu, tentando forçá-lo para trás, mas sem sucesso.


    Diantha deu cobertura com seu Nidoking, que extravasou poder com Outrage, arrancando pedras do chão e lançando-as contra os joelhos do roedor gigante. Enquanto isso, o Dragapult de Leon contornava o adversário, mirando com Lock-On e disparando seus Dragon Darts de Dreepy explosivos.



    Sentindo os impactos dos ataques, o Pikachu liberou raios em todas as direções. Garchomp interrompeu sua investida por um instante, girando o corpo e envolvendo-se em uma tempestade de areia para neutralizar parte dos danos do golpe, embora algumas descargas ainda escapassem.


  Todos vocês, usem Protect!  gritou Sonia.


    Seus Pokémon — Yamper, Pancham, Butterfree e Sandaconda — ergueram escudos de proteção imediatamente, formando uma barreira ao redor da máquina Cramorant sobre o carrinho de mão. Enquanto os três Campeões enfrentavam o perigo, Sonia observava a cena com os cabelos esvoaçando, sentindo uma revolta crescente. Ao seu lado, Hop assistia à batalha em silêncio, amedrontado, com seu Snorlax solto ao lado dele. 



  Wooah!

    Hop prestava atenção em como os três Campeões comandavam seus Pokemon. Garchomp, por vezes, se movia sem esperar um comando de Cynthia, como se qualquer ordem fosse óbvia demais para ser dita. O mesmo acontecia com Diantha e Leon — eles e seus Pokémon estavam tão sintonizados que palavras pareciam desnecessárias.
    Absorvido pelos seus pensamentos, Hop não percebeu quando as árvores ao seu redor balançaram violentamente, nem quando uma sombra gigantesca o cobriu. Só notou quando duas orelhas compridas e pontudas surgiram sobre ele.

  HOP, CUIDADO!
  gritou Sonia, protegida junto da máquina pelos escudos de seus Pokemon.



  EEEEEBUIII!  Um Eevee Gigantamax surgiu, absurdamente felpudo, erguendo as patas para esmagá-lo com uma expressão maníaca.


  Aaah!  Hop virou-se de súbito, levando as mãos à cabeça em um reflexo inútil de proteção.



    O chão tremeu quando o Eevee afundou as patas para pisoteá-lo. No último instante, Snorlax saltou à frente, os punhos irradiados da energia de seu Mega Punch. Ele colidiu contra o Eevee por alguns segundos, vencendo-o em força, assim desviando seu ataque e fazendo-o tombar colina abaixo, direto para as chamas onde sua forma se desfez.
    O Snorlax soltou um sopro pesado, os braços ainda esfumaçando pelo impacto. Cambaleou um pouco antes de apoiar as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. Hop abriu os olhos devagar, ainda atordoado. Só então percebeu o que tinha acabado de acontecer — seu Pokémon tinha salvado sua vida.


  Está tudo bem aí?  perguntou Leon, virando-se para Hop, que assentiu com uma mão em seu peito.  Nós já estamos acabando por aqui!


  Lá vem ele de novo!  alertou Diantha, e Nidoking rugiu levantando uma pedra com um Rolycoly em cima.



  PIIIIKA!  O roedor gigante acendeu sua cauda enorme metalizada, agarrando nela.



  Vamos!  Cynthia gritou, e Garchomp voou por cima dela, balançando seus cabelos.



    No auge da velocidade, Garchomp abriu bem os braços, suas garras se revestindo por um brilho azulado, formando camadas densas de diamante. Num golpe certeiro, rasgou o rosto do Pikachu em um arranhão cruzado, deixando uma marca entre os olhos e forçando-o a cambalear para trás.


    Diantha franziu o cenho, querendo ser a responsável pela vitória. 
Olhou para seu Nidoking, que pisoteava o chão com raiva, ainda desorientado pelo fim do Outrage. Ele não parecia totalmente ciente do que fazia, mas sua fúria ainda existia. Aproveitando-se disso, Diantha comandou Stomping Tantrum.


    O solo estremeceu. Rachaduras se espalharam pela área, dificultando ainda mais o equilíbrio do Pikachu, que ainda foi atingido na barriga por uma grande rocha lapidada que o fez segurar o choro.



    Cynthia e Diantha olharam para Leon, que entendeu o recado, ele deveria finalizar. Então comandou para que seu Dragapult usasse Dragon Rush, já vendo-o com a aura acendida.


    O dragão disparou, reunindo toda a energia possível no ataque. Seu corpo começou a se distorcer junto à aura dracônica, como se sua forma física tivesse sido abandonada pela própria força. No instante seguinte, atravessou o Pikachu, deixando um rastro de energia que se dissipou logo atrás dele.


    Os três Pokemon recuaram para perto de seus treinadores quando o Gigantamax começou a se esvair do corpo de Pikachu, com as partículas se perdendo pelo ar e o roedor diminuindo de tamanho até retornar ao seu tamanho normal, desmaiado no chão.



    Os escudos foram desfeitos ao redor da máquina Cramorant, que agora estava agitada, movimentando sua cabeça e absorvendo as partículas Dynamax da direção que o Eevee caiu e as liberadas por Pikachu. Ao terminar, a máquina arrotou, soltando um vaporzinho, e o saco atrás dela estufou.


  Ela absorveu com sucesso, continua funcionando  disse Sonia, aliviada.

    Diantha e Leon regressaram seus Pokemon, relaxando momentaneamente, enquanto Cynthia acariciava a cabeça de Garchomp, séria como sempre.

  Essa coisa vai aguentar até chegarmos na floresta?  perguntou Diantha vendo Sonia apertando um parafuso do bico de Cramorant.

  É o plano!  exclamou Sonia.  Todos contam com a gente, não podemos decepcionar.


  Meus Pokemon estão se cansando com tantas batalhas  Leon encarou a Pokeball de Dragapult, atônito.  Mas cada batalha Dynamax está contribuindo para o nosso plano, então precisamos aguentar.


  Nós iremos em frente  Cynthia disse, se colocando entre o grupo.  Continuem atentos. Estamos expostos, Eternatus sabe para onde estamos indo e o que vamos fazer, devemos estar prontos para lutar com Poipole ou ele a qualquer momento.


  Deixa vir esse Poipole aqui que ele vai ver o fecho que eu vou dar!  Diantha fez biquinho, e Leon e Sonia sorriram.


    O grupo continuou a andar. Não dava para ter muito senso de humor naquele momento, ou não conseguiriam se concentrar. Hop observou seu irmão mais à frente, com Diantha e Cynthia também de costas, e não conseguiu mover suas pernas.


  Está bem?  Sonia perguntou ao menino, percebendo que ele ficaria para trás.

  Ahn... Sim, sim estou  ele forçou um sorriso e Sonia pareceu compreender, continuando a puxar o carrinho de mão com seus Pokemon a acompanhando.


  Snooor  Snorlax quase que miou de tão manso que foi seu grunhido, e Hop o regressou, grato pela ajuda e desejando um bom descanso.


    O grupo seguiu andando. O cheiro de queimado se misturava ao ar pesado das partículas Dynamax. Hop observava os arredores — estruturas destruídas, árvores tombadas, rastros de batalhas que deixaram marcas profundas na terra. No horizonte, raios esporádicos iluminavam silhuetas colossais de Pokémon ainda transformados, seus rugidos ecoando ao longe.


    Diantha, parecendo alheia ao caos ao seu redor, puxou um pequeno espelho da bolsa e aplicou mais uma camada de gloss. Hop franziu o cenho ao notar o brilho exagerado nos lábios dela. Ele tinha certeza de que aquilo deixava um formigamento absurdo, mas ela parecia acostumada. Talvez fosse seu jeito de escapar de momentos muito difíceis. Passar gloss. Ele gostaria de tentar também, mas não teria uma loja de maquiagens aberta nesse momento para que pudesse comprar um. Talvez Aleíse ou Bede tivessem algum para emprestá-lo e...


    Leon soltou um suspiro pesado, passando a mão pelo pescoço.

 — Estou com sede.

    No mesmo instante, Hop puxou a mochila para frente, abrindo o zíper rapidamente e pegando uma garrafinha de água. Ele a ofereceu ao irmão sem hesitar.


 — Aqui, Lee.

    Leon pegou a garrafa e, antes de beber, bagunçou os cabelos de Hop, como fazia desde sempre.

 — Valeu, mano.

    Hop sorriu de leve, ajeitando o cabelo sem muita pressa. Leon bebeu alguns goles e devolveu a garrafa para Hop, que a segurou, sentindo o peso do líquido ainda pela metade.


 — Seu Snorlax está bem forte — comentou Leon, olhando para o irmão com um ar de orgulho. — Eu vi a força daquele Mega Punch, é um baita movimento.

    Hop se animou um pouco, segurando a Pokeball de Snorlax.


 — Ele me ajudou a vencer os poucos ginásios que consegui. Achei que com um golpe forte como esse, ele venceria todas as batalhas, então pedi à mamãe para comprar o TM do Mega Punch para treinarmos.

 — Ei, algumas insígnias já são um grande feito — disse Leon. — Quando tudo isso acabar, quero ver você desafiando os ginásios de novo. Vou estar lá pra assistir.

    Hop abriu um sorriso de canto, mas seus olhos não escondiam a melancolia. Ele olhou para a garrafa d’água meio cheia em suas mãos e apertou os lábios, pensativo. Por um instante, observou seu próprio reflexo distorcido pelo plástico.


 — Lee… você acha que um dia eu vou ser um Campeão também?

    Leon parou de andar por um segundo, virando-se para o irmão.


 — Claro que sim. Por que pergunta isso?

    Hop suspirou, chutando uma pedrinha no chão.
\\

 — Eu nunca consegui a minha Wishing Star. Nunca cheguei na Liga. Toda vez que penso nisso, e vendo vocês três lutando hoje… eu só percebo o quão longe estou de ser forte o suficiente.

    Leon ficou em silêncio por um momento, avaliando as palavras do irmão. Não conseguiu concluir algo para dizê-lo, mas um gritinho de Diantha os interrompeu. Todos se viraram para ela.

 — O quê? — Sonia perguntou.


 — Ouvi alguém pedindo ajuda — Diantha disse, franzindo a testa. — Tenho certeza.


    Eles continuaram a andar, atentos. O caminho levou até as ruínas da antiga torre de vigilância, ainda coberta de musgo e desgastada pelo tempo. Sonia passou os olhos pelas paredes rachadas e resquícios da estrutura.


 — Eu lembro desse lugar — comentou. — Foi aqui que Carbink conheceu o Golett. Quando Shauntal publicar o livro que Leuri escreveu, vamos conseguir resgatar o que os monarcas tentaram apagar da história de Galar, afinal foi nessa torre que Calyrex subiu até o topo para enfrentar Eternatus numa luta que cobriu Galar em escuridão. A torre acabou destruída… e enterrada na história oficial.

    Cynthia examinou o local e logo encontrou algo: uma escotilha de ferro semiaberta, revelando um caminho subterrâneo.


 — Tenho um péssimo pressentimento — murmurou, observando a entrada escura.

    Mas os pedidos de socorro voltaram a ecoar, mais claros agora. Diantha estreitou os olhos, sentindo seu coração disparar.


  Tem mesmo pessoas lá dentro!!

  CHING CHANG CHONG BTS  outro som ecoou de lá.

  E Alcremie
 — Hop complementou.

 — Isso pode ser uma armadilha — Leon alertou. — Não devemos ir.

    Diantha lançou um olhar de reprovação para ele.


 — Você deveria ser o mais solícito aqui. Se não tivesse feito um acordo com Eternatus para virar Campeão, talvez isso nem estivesse acontecendo! Nós temos que ajudar essas pessoas!

    Hop prendeu a respiração. Ele observou Leon, percebendo que o irmão abaixava o olhar. Aquilo era... vergonha. A menção ao passado o atingiu em cheio.

 — Eu vou — Diantha disse. Cynthia suspirou, cruzando os braços.


 — Se um vai, todos vamos.

    Eles desceram pela passagem, e Cynthia formou um diamante radiante para iluminar o caminho. Sonia regressou seus Pokemon para que descansassem um pouco, recebendo uma lambida de Yamper antes dele também voltar para a sua bola. Logo, a trilha os levou a uma caverna de paredes azuladas e cintilantes.


 — Wishing Stars purificadas — observou Cynthia, tocando a superfície fria e brilhante. — Como as que Calyrex faz.

    Hop olhou para o chão e encontrou algo inesperado: um papel de embalagem de chocolate.


 — SkittyKat! — ele leu em voz alta.

 — Ah, eu mataria por um desses agora! — Sonia sonhou, soltando a mão do carrinho por um segundo.


    No instante seguinte, um estrondo ecoou pelo túnel, e Sonia agarrou logo o carrinho de novo, temendo que algo acontecesse. A passagem atrás deles se fechou abruptamente. Antes que pudessem reagir, uma silhueta flutuante surgiu diante deles.


 — Hihihi!! Vocês são muito idiotas! — Poipole riu, debruçando-se no ar.

 — Era uma armadilha! — Hop exclamou, apontando para ele.

    Cynthia puxou uma Pokeball, mas parou. Um cansaço estranho percorreu seu corpo. Leon sentiu o mesmo — um peso crescendo, como se a energia estivesse sendo drenada dela.

 — O que…? — Leon cambaleou, levando a mão à testa.

 — Eu lamento amigos, mas não posso ficar para vê-los perecendo. Tenho um encontro marcado com Eternatus! Beeeeijo! — Poipole jorrou seu veneno para o seu redor em círculo, então desapareceu dali.

    As paredes brilhantes pareciam vibrar, absorvendo a vitalidade de todos de maneira sutil, quase imperceptível.


 — Desgraçado! — Diantha gritou com raiva. — Por que me sinto tão fraca?!

  Ele nos atraiu para um lugar onde não precisamos lutar — Sonia concluiu, tentando se manter firme. — A caverna está sugando nossa energia, de alguma forma!

    Diantha apertou os punhos, sentindo suas forças escaparem pouco a pouco. Eles precisavam sair dali. E rápido.


    Leon agiu primeiro. Soltou Aegislash e Rhyperior, ordenando que atacassem os cristais que os cercavam. O barulho dos impactos ecoou pela caverna, mas os cristais não se despedaçavam como esperado. Em vez disso, um brilho azul percorreu as paredes, drenando ainda mais a energia dos Pokémon. Aegislash tremeu, com suas lâminas enfraquecendo, e Rhyperior recuou, respirando pesadamente.


    Cynthia apertou os punhos. A aura de diamantes brilhou ao seu redor por um instante, mas logo vacilou. Ela caiu para trás, ofegante.

 — Cynthia! — Hop correu até ela e puxou a garrafinha de água de sua mochila, oferecendo-a. — Aqui, bebe um pouco.

    Cynthia recusou a garrafa, empurrando-a e levantando sozinha.

  Não vai adiantar apenas atacar... Wishing Stars não quebram assim, e quanto mais energia liberarmos, mais rápido ficaremos exaustos.


 — O que vai acontecer se ficarmos aqui? — Sonia murmurou, trêmula. — A gente é a esperança dos outros. Se não conseguirmos sair, a máquina Cramorant vai ser destruída, e então...  Seus olhos lacrimejaram.


    Leon ignorou tudo ao redor e continuou atacando. Rhyperior socou a parede com toda sua força, mas nada acontecia. Ele cerrou os dentes, frustrado.


 — Ô seu metido! — Diantha gritou. — A oxigenada já disse que isso não vai dar certo!

    Ele se virou para ela, os punhos fechados. Seu olhar queimava de cansaço e raiva.


 — E o que você quer que eu faça? Sentar e aceitar? Ficar esperando? Porque isso não é uma opção pra mim!

 — Ah!, mas ficar se desgastando é, né? — Diantha retrucou.

 — Eu sei que errei, Diantha. Eu errei feio. Mas agora eu posso agir diferente e eu não vou deixar tudo acabar assim! — Leon berrou. — Mas e você? Já pensou em fazer algo útil, já que isso tudo é culpa sua?!

    O silêncio pesou.


    Diantha não piscou. O impacto das palavras dele foi imediato, como se algo dentro dela que estava ainda se recuperando tivesse se despedaçado novamente.

 — Eu...

    As lembranças a atingiram com força. O povo de Kalos. Os insultos. As manchetes dizendo que ela não servia para nada. O gosto amargo na boca era o mesmo de antes.


    Sentindo o ar faltar, Diantha virou-se e se afastou. Hop hesitou por um segundo, olhou para Leon uma última vez e então foi atrás dela.
    Encontrou-a sentada, de cabeça baixa. Por um instante, apenas o barulho distante dos Pokémon ofegantes preencheu o espaço.


 — Eu tentei tanto... — Diantha murmurou. — Estou fazendo de tudo para colaborar. Mas quando erro... um único erro... uma falha... é inadmissível. Para mim, sempre é.

    Hop ficou em silêncio. Desejava ter algo em sua mochila que pudesse ajudá-la.

 — Não duvido que o Leon volte a ser prestigiado — ela continuou. — Mas não importa o que eu faça... Eu não...

    Ela abaixou a cabeça. Hop, sem pensar muito, a abraçou.


 — Eu hein, garoto, também não te dei intimidade assim, não! Sei nem teu nome, pode ir parando! — Diantha resmungou enojada, mas Hop sorriu levemente.



 — É bem difícil ser um Campeão. Definitivamente, eu não estou pronto para tomar decisões assim.

    Após alguns instantes assimilando o que ouviu, Diantha soltou uma risadinha. A ironia daquilo a atingiu em cheio.


 — Difícil ser um Campeão... — repetiu.

    Ela se levantou, enfraquecida, mas com uma determinação renovada em seu olhar.


 — A gente vai sair daqui, coordenador — disse, mesmo o garoto não entendendo porque ela o chamou assim. — Eu não vou agir da mesma forma de quando fui cancelada em Kalos.

♬ ♬ It's so confusing sometimes to be a champion
(champ, champ, champ, champ)
Champion!
♬ ♬ 

    Hop riu baixinho, e os outros se viraram para encarar aquela cena.

♬ ♬ It's so confusing sometimes to be a champion
(champ, champ, champ, champ)
Champion!♬ ♬ 

    Sonia piscou, completamente perdida.


 — Ela... ela está cantando?

    
Leon esfregou o rosto, cansado.


 
— Pelo amor de Arceus...

    
Mas Diantha não parou, e convidou Hop a cantar junto com ela, fazendo seu coro.

♬ ♬ Champion
How do you feel being a champion?
(Champ, champ, champ)
Champion
How do you feel being a champion?
(champion)
Drasna, I don't know, I'm just a champion
(champ, champ, champ, Champion)♬ ♬ 

    Hop sorriu junto de Diantha. Por mais estranho que fosse, aquele momento de desabafo musical tinha feito bem para os dois. Ele olhou ao redor, pensando em alguma saída, e então sua mente ligou os pontos.


 — As Wishing Stars servem pra usar Dynamax, certo? — ele murmurou, observando os cristais azulados ao redor. — Eu nunca usei… porque nunca tive uma.

    Leon, que até então recuperava o fôlego, ergueu o olhar para o irmão.

 — Hop, todos têm o seu tempo, não se preocupa com isso, por favor. Você vai…


 — Eu não quero uma. — Hop interrompeu, de repente. Sua voz soou firme, sem hesitação. Todos se viraram para ele, surpresos. Ele puxou a Pokeball, e continuou enquanto a encarava. — Eu já tenho algo muito melhor. Bede, Cinderace, Snorlax… e todos os outros. Eu não preciso de uma Wishing Star pra saber o que eu posso fazer. Eu já tenho tudo o que eu preciso bem aqui!

    Um silêncio se instalou entre eles. Leon arregalou os olhos, surpreso com as palavras do irmão. Ele o observou por um momento, depois riu baixinho e bagunçou seu cabelo.


 — Heh. Você cresceu mesmo, hein?

    Antes que Hop pudesse responder, as paredes começaram a brilhar. A luz azulada pulsava ao redor, como se reagisse à sua presença. Eles se entreolharam, incertos, e então perceberam algo: Hop não parecia cansado como os outros.

 — Hop… — Sonia murmurou, os olhos arregalados. — Você…


    Ele não entendeu de imediato, mas então sentiu um calor estranho na Pokeball que segurava. Algo dentro dele dizia que deveria tentar. Ele aumentou a Pokeball de Snorlax e a lançou ao ar.

 — Eu confio em você, Snorlax! Vamos sair daqui juntos!

    Snorlax surgiu na frente deles, soltando um grunhido tranquilo, como se dissesse que estava pronto. Hop correu até ele e o abraçou, sentindo o calor reconfortante de seu Pokémon. E então, nesse momento, aconteceu.


    A luz ao redor intensificou-se e envolveu Snorlax. Seu corpo brilhou em tons carmesim, crescendo e se expandindo. Surgiram raízes em sua barriga que logo cresceram tornando-se numa árvore, e seu tamanho gigantesco preencheu a caverna. Hop cambaleou para trás, chocado. Snorlax estava em sua forma Gigantamax.


 — O quê?! — Cynthia exclamou, arregalando os olhos.


 — Isso… isso é incrível! — Sonia colocou as mãos sobre a boca, pasma.


 — Tô rosa choque! — Diantha olhava para Hop, incrédula.


 — Eu… eu não sei! — Hop admitiu, ainda processando. — Mas vamos aproveitar isso! Snorlax, acabe com esse teto!


    O Pokémon gigante rugiu, ergueu seu corpo maciço e então desferiu seu G-Max Replenish, uma extravagância de energia que chacoalhou todo o subterrâneo.


    O impacto foi avassalador. As paredes tremeram, rachaduras se espalharam pelo teto, e, num instante, tudo desmoronou para cima. A luz do lado de fora invadiu a caverna, e uma lufada de ar fresco os envolveu. Todos sentiram suas energias voltarem, como se aquele peso fosse finalmente retirado de seus corpos.


 — Nós conseguimos! — Hop gritou, vibrando com os braços erguidos.

    Cynthia inspirou fundo, aliviada. Leon riu, batendo no ombro do irmão.

 — Isso foi incrível, Hop! Você arrasou!

 — Eu vou ter muito o que estudar sobre esse fenômeno quando tiver tempo e se nenhum Elgyem vir apagar minha memória! — Sonia balançou o garoto, impressionada.

    Diantha, que ainda estava um pouco atordoada, olhou para Hop e sorriu.


 — Você… você fez isso mesmo. Conseguiu.

    Hop coçou a nuca, meio envergonhado.


 — Foi o Snorlax, na verdade… — Ele olhou para seu Pokémon, que voltava ao tamanho normal e parecia satisfeito. Hop correu até ele e o abraçou de novo. — Obrigado! Você foi incrível!

    Snorlax soltou um resmungo contente e esfregou a cabeça em Hop, quase o derrubando enquanto ria.
    Com um novo ânimo, o grupo se recompôs e seguiu caminho até a floresta. Eles ainda tinham um longo percurso pela frente, mas naquele momento, Hop sentia algo diferente. Ele olhou para todos aqueles Campeões e percebeu o quanto cada um deles carregava seus próprios fardos.

 — Fiquem firmes — Hop murmurou para si mesmo, apertando os punhos. — Nós vamos conseguir.

    E, pela primeira vez, ele realmente acreditou nisso.


    Enquanto isso, em Spikemuth, Harley observava os Meltan desaparecendo no céu. O silêncio era sufocante. Grace, Rose, Raihan, Katie e os demais se aproximavam, aflitos, como se aguardassem uma resposta para a tempestade que se aproximava.

 — Cloy... — Cloyster foi o primeiro a quebrar o silêncio agoniante.


 — Melmetal está sendo formado — Mustard disse, sombrio. Sua esposa abraçava Sweetie Pie com força, tentando protegê-la da terrível verdade que se revelava diante deles. — Marnie já está em posse da Wishing Star.


 — Então, significa... — Espadarnaldo olhou para o irmão, engolindo em seco.

 — Sim, exatamente... — Escudoberto estava igualmente pálido.


 — Significa que a Marnie vai conseguir romper o selo da prisão do altar — Aleíse cruzou os braços, tentando manter a calma, mas havia um tremor sutil em sua voz.


 — E que Eternatus vai ser libertado junto com o que mais tiver preso lá, detalhezinho importante! — Harley pontuou, forçando um sorriso que não enganava ninguém.


 — Então não tem mais sentido em ficarmos aqui parados — Rose passou a mão pelos cabelos, frustrado. — Leuri pode estar precisando da nossa ajuda!


 — E o que podemos fazer? — Bede parecia desesperançoso, seu olhar fixo no chão. — Nossos mais fortes estão levando a máquina Cramorant até o altar.


 — Nós... Não podemos ajudar? — Grace segurava Camille em seu colo, tentando esconder a própria ansiedade mas falhando por estar a balançando mais rápido que o normal.


    Então, um som desesperado preencheu o espaço. Rattata veio correndo, lágrimas escorrendo pelos olhos. Obstagoon se agachou, preocupado, e Litten também veio ouvi-lo.

 — Raaaa!! Rattatatatata!!


 — Fu. — Kubfu cruzou os braços, observando enquanto o ratinho apontava para além dos portões da cidade, como se tentasse mostrar algo a todos.

 — Está dizendo para não desistirmos — Mustard interpretou, sua voz mais firme agora. — Ainda existe um caminho.

 — Fu! — Kubfu juntou suas mãos e assumiu uma posição de luta. No mesmo instante, um brilho azul suave se espalhou pelo chão, formando um caminho que se iluminava na escuridão típica de Spikemuth.


 — Esse deve ser o caminho até a Leuri! — Nia exclamou, com esperança cintilando em seus olhos. — Kubfu, você quer encontrá-la?

 — Fu. — O pequeno urso assentiu, decidido.

    Aleíse inspirou fundo, sentindo a responsabilidade cair sobre seus ombros. Seus punhos se fecharam e ela decidiu.


 — Eu... Eu vou levá-lo — disse ela, sua voz carregada de convicção. — Podem deixar isso comigo. Vocês, vão para a floresta. Se a Marnie está com Melmetal, o próximo passo dela é ir para lá, e vão precisar de muitos para pará-la.

    Todos trocaram olhares, sentindo o peso daquele momento. Era a hora dos reservas entrarem em campo. E, mais do que nunca, sabiam que não podiam falhar.

Continua


Faltam quatro capítulos para o fim de Galeuri

2 comentários:

  1. O retorno mais aguardado do ano <3 Esse capítulo ficou mt divertido e até me fez esquecer que estou falecendo aqui… mas enfim.
    Gostei de todo o segmento da chegada à torre e as duvidas de Diantha que continua se marterizando por cada erro que comete, esperemos que não caia num golpe…
    Todos os personagens tiveram uma boa função aqui, gostei de como combinou com o titulo, além da musica ruim, todos os campeões e o Hop estavam com duvidas sobre o que fazer. Leon ainda se culpa por ter sido controlado, Cynthia recusa ser ajudada e também não estava muito animada em ajudar os outros que poderiam estar em perigo. Mas gostei do se vamos um vamos todos. Ela pode ser fria e distante, mas mesmo sem pedir ajuda diretamente acho que ela entendeu que sozinha não ia conseguir fazer muito e que precisaria de trabalhar com o resto dos campeões e o Hop…
    Porém o mau pressentimento de Cynthia se concretizou ao perceberem que era o Poipole os atraindo e tentando se livrar deles aqui na mesma torre onde o Carbink conheceu o Gollet e a porca da Bea jogou pacote de chocolate pró chão… badalhoca.
    O Hop gmaxizando com o poder da amizade foi bonito, faltou um braveheart para completar, mas gostei de como ele mesmo sendo o mais fraco, incapaz e feio foi o que foi mantendo o grupo unido, seja oferecendo água, fazendo o Leon rir com a ideia dele vir a ser campeão ou abraçar a Diantha e causando um trauma nela com a chance de sua carteira ter sumido…
    Do outro lado o núcleo do Rattata que continua sendo a estrela dessa história, todos também se sentem incapazes mas não são capazes de ficar quietos. Aleise vai levar Kubfu até Leuri e a história entra no seu endgame que dura há 2 anos e ta tudo bem, pelo menos está saindo <3
    Obrigada por ter voltado!

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  2. Eu tinha feito um comentário tão legal, mas o blog aqui travou lindamente, até levei um susto achei que o pc ia de base. Isso dá um desamino pra comentar tudo novamente, então só vou resumir que eu gostei bastante e de como você dando destaque pro grupo da Cynthia, gostei bastante do Snorlax tendo destaque entre os Pokémon do Hop. Sério meu comentário tinha ficado tão bacana, mas dá um desanimo ter que comentar tudo de novo... Então resumi o comentário :P qualquer coisa depois a gente conversa pra falar mais do capitulo o/

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