♬ Capítulo 57: Os bolos da Raquele!

    No terraço do prédio da Pokétch, a competição teste do novo clube de batalhas duplas estava para começar.

 

 — Seu Blastoise não está com os canhões enferrujados? Está levando uma surra para o meu Onix em completa desvantagem! — Brock provocou, e Sid cerrou os punhos.

 — Também, com o tanto de Harden e Screech que você usa! Luta igual Treinador de verdade!!

 — Claro que ele está aqui... — Brendan revirou os olhos, passando o cartão de uma cliente na maquininha numa compra por aproximação.

 — Esse você já superou, não? — Brendan se arrepiou escutando a voz de Robin, que surgiu por trás dele acompanhado de Togetic. — Como vai, querido?

 — Eh! — Brendan ajeitou os óculos, disfarçando o susto. — Estou bem... Veio pra competir ou...?

 — Não sou fã de competições... Mas meu interesse em você é genuíno — Robin piscou, fazendo-o corar. — Estarei aproveitando do evento, divirta-se!

 — Quem era aquela pessoa? — Isabella tinha etiquetas por todo o rosto e braços.

 — Se eu soubesse, até explicava... — Brendan suspirou.

 — Togeeee!

    Dando voltinhas no ar, Togetic estava reluzindo com a luz do sol. O céu limpo de nuvens parecia mais próximo daquela altura, e ela o olhava de um jeito nostálgico.

 — É divertido, não é? — Robin a perguntou, com uma mão na cintura e o outro braço suspenso. — Consigo entender porque gosta tanto de voar.

    Nas mesinhas do foodtruck da Churrascaria Frangoso, Robin encontrou Looker analisando o cardápio enquanto Croagunk dormia sentado ao lado.

 — Não deveria estar monitorando desvios ou algo assim? — Robin sentou-se, cruzando as pernas sobre a mesa.

 — Eu sei qual é o meu trabalho — Looker respondeu, baixando o cardápio. — Tudo parece estável por aqui, não acho que há motivos para preocupação.

 — No entanto... — Robin rolou os olhos.

 — Todo cuidado é pouco — Looker ajeitou a gola de seu sobretudo, sorrindo de lado. — Um Celestial consciente nesse momento já é sinônimo de problemas, mas a situação se agravou depois da irresponsabilidade de Cynthia em tentar pegar Stakataka desafiando o próprio tempo.

 — Vocês viram que não tem nenhuma sobremesa no cardápio?

    Looker e Robin escutaram uma voz doce vinda de uma mulher negra bochechuda com os cabelos longos e trançados. Ela puxou uma cadeira e sentou sobre o vestido colorido que usava, sorrindo com os olhos.

 — Puff! — Uma Slurpuff acastanhada vinha junto dela, segurando dois espetinhos de carne.

 — Deveria ser mais como a querida Raquele aqui, tanto estresse ainda vai te deixar cheio de rugas — Robin provocou roubando um pedaço de carne de um dos espetinhos da Slurpuff, que não achou nada legal.

 — Robin... — Looker enrugou a testa enquanto Robin tentava empurrar a carne em sua boca.

 — Croaa! — Croagunk riu, apontando pra ele.

 — Não é engraçado! — Looker bateu na mão de Robin, atirando o pedaço de carne para longe.

 — Togeee! — Ela conseguiu apanhá-lo no ar, lambendo os beiços depois.

 — É tão divertido como não pensamos de onde vem essa carne! — Raquele disse, e todos ficaram em completo silêncio.

 — Mooortar. ("Algumas perguntas não devem ser feitas.")

 — Ahem! — Looker ajeitou novamente a gola do sobretudo, como se precisasse. — Raquele, tudo pronto para a inauguração da sua loja amanhã?

 — Tudo sim, estou muito contente por poder fazer parte disso — ela apoiou o rosto numa das mãos, sorridente. — Não vou desapontar!

 — Com certeza terá sua recompensa quando tudo estiver finalizado — Looker sorriu de volta, e Raquele assentiu.

    Jogando a cabeça por cima dos braços, Robin olhou para o céu, sem expressão. Em sua visão, aquele vasto azul acinzentava-se, até escurecer por completo quando fechou os olhos.

AS VELHAS MAIS POPULARES ESTÃO DE VOLTA!

Faltam apenas DOIS dias para as Copas de Argenta e Glacia!

Essa rivalidade que já dura quase um século pode culminar nessa temporada especial!

Quais são as suas expectativas? Esperamos que estejam bem altas!

 — Ah é? Pois eu não vou! — Lisia resmungou, pausando o vídeo em seu celular com a tela rachada.

 — Por quê? — perguntou Magearna, sentada ao lado dela no gramado da mansão da Floresta Eterna.

 — Porque eu não sou obrigada! Perder pra um garoto que me tinha como ídolo há uns dois anos atrás me fez perceber que preciso me empoderar!

 — Entendi — Magearna disse. — Então você vai se empoderar não fazendo nada.

 — Olha, com você falando assim... — Lisia repensou. — Eu só não estou no clima para essas competições todas. Já entendi que não vou chegar em lugar nenhum me forçando a participar, prefiro fazer isso quando eu realmente quiser. Fora que entrar na briga dessas anciãs aí nem pra minha campanha vai servir, elas marcaram as Copas no mesmo dia justamente para disputarem cada migalha de atenção...

 — Eu não consigo entender totalmente, mas parece uma decisão madura que a Lisia de quando chegou aqui pela primeira vez não tomaria.

 — Obrigada! — Lisia sorriu pelo reconhecimento. — Passar um tempo em casa foi bom... Percebi coisas que não teria conseguido se não tivesse mudado nos últimos meses. Devo isso a você, também, Magearna! Quero te recompensar de alguma forma!

 — Não precisa fazer isso — Magearna disse, movendo o rosto para ela e fazendo barulhinho de engrenagens.

 — Preciso sim! Vamos ver o que posso fazer por você... — Lisia foi rolando a página de sua rede social, passando por mais vídeos de análises e previsões das Copas de Argenta e Glacia, até chegar numa oferta de viagem. — Quer visitar Kalos?

 — Não sei o que é isso.

 — Não perde nada. Vamos ver... — Lisia parou num vídeo com uma thumb chamativa, mostrando Raquele acompanhada de seu Slurpuff e um Dachsbun. — Ih, hoje vai inaugurar a loja de bolos daquela mulher! Já tem tanto tempo que ela tá prometendo inaugurar isso que estou mesmo curiosa pra ver o que é. Quer ir comigo?

 — Loja... — Magearna olhava para a tela do celular.

 — Você não sabe o que é uma loja? É um lugar onde você pode gastar dinheiro para ter coisas que possivelmente não precisa, mas te fazem feliz!

 — Você parece gostar, então deve ser bom — Magearna juntou os braços na altura da saia metálica. — Mas eu não posso deixar a mansão.

 — Como? — Lisia guardou o celular. — Tipo, sentimentalmente ou...

 — Não posso cruzar o jardim — Magearna apontou para o portão. — Ou serei desativada. É a minha programação.

 — O QUÊ?! Que absurdo! Você merecia ver tudo que tem lá fora, inclusive comer os bolos da Raquele!

 — Comer... — Magearna piscou algumas vezes. — Não tenho permissão para isso.

 — Você nunca comeu?

 — Não se sinta mal por mim, Lisia. Aqui costumava ser movimentado, como quando vocês estão aqui, mas o tempo inteiro. Até a música sumir — Magearna disse, se voltando para a mansão quase como se pudesse visualizar o passado. — Gostaria de ter suas permissões. Você pode comer o que quiser.

 — Eu... — Lisia levou uma mão até a barriga, sentindo uma sensação ruim. — É, posso... Ah, mas quer saber? Eu vou trazer algo bem gostoso para você provar! Me espere aqui!

 — Não vou a lugar algum — Magearna continuou sentada enquanto Lisia montava nas costas de Ali, sua Altaria que acabara de sair da Pokeball dela.

    Segurando firme na Pokemon, Lisia pensava no que Magearna disse sobre ela poder comer o que quiser. Uma memória que achava ter esquecido havia retornado com muita força, da época que se tornou uma pop star em Hoenn, sendo gerenciada por Juan. Sua relação com a comida nunca mais havia sido a mesma depois de tantas restrições para manter o corpo que ele julgava ideal para as performances...

 — Allltaa? — Ali piou para ela, que sorriu em resposta.

 — Não se preocupe, Ali, estou bem.

    Na apertada loja Pés & Patas, o sininho da entrada tocava a cada vez que alguém abria a porta.

 — É claro que temos ração para tipo fada, senhora! Mas é para essa Galarian Ponyta, tem certeza? Segura nas minhas mãos que tenho uma notícia pra te dar...

 — Deixe-me ver... Esse Metapod está quase se tornando um Butterfree, então um pouco de pó de prata deve ajudá-lo a concluir essa fase da vida dele com mais conforto, e também vai fortalecer seus movimentos tipo inseto por pelo menos uma semana!

 — Ahn... Vamos recapitular, Professor William, você quer doze Itens X para cada categoria, correto? — Brendan segurava o telefone com uma mão enquanto anotava com a outra. — Ataque, defesa, velocidade, precisão, chance crítica e... isso, proteção contra redução de estatísticas, eu sabia!

    Do balcão, Isabella assistia Brendan indo de um lado para o outro para atender os clientes. Ele agora sabia a diferença de cada item X, conseguia fazer recomendações e não mais derrubava ração toda vez que ia pegar a quantidade pedida. Nem parecia o mesmo de um mês atrás.

 — Tchaaaau, volte sempre! — Ele acenou para o último cliente antes de quase cair pra frente de cansaço.

 — Brendan! — Isabella o encontrou costurando no balcão e o entregou uma flor. — Acho que combina com seu tecido.

 — Obrigado, Isa! — Ele aceitou a flor, que realmente combinava. A garota continuou o encarando até ele entender que ela queria saber o que estava fazendo. — Estou aproveitando o tempo quando não tem clientes para costurar um novo conjunto para Pulu e Mini. Peguei esses panos lá em casa e estou continuando um projetinho antigo que parei no meio do caminho... Mas com um novo toque do Brendan atual!

 — Que legal!! Eu adoro quando você costura, um dia vou encomendar algo para Maru ou Brian — Brendan riu envergonhado. — Você está planejando uma apresentação com Pulu e Mini na Copa Argenta?

 — Sim, e envolve uma coreografia com vários detalhes... Temos praticado mais de noite, mas costumo sair tão cansado que só quero ir dormir.

 — E por que não pratica aqui?

 — Aqui? — Brendan até largou o que costurava. — Não tem como, né...

 — É óbvio que tem! Veja como Jacaranda está agora mesmo ensaiando para... bem, quando eu decidir competir de novo!

    Jacaranda encarava um dos corredores apertados, segurando um espanador. Ela não sabia como aquilo conseguia ficar tão empoeirado de um dia para o outro, mas sempre acontecia. Brendan a acompanhou com os olhos enquanto ela atirava o espanador para o alto e começava a girar o corpo, rapidamente afastando a poeira das prateleiras.

    Parando de girar, a Steenee juntou as mãozinhas que se encantaram num brilho esverdeado. Ela fez um círculo no ar e várias folhas brilhantes se formaram, encantadas para se juntarem como uma vassoura.

    Depois de varrer tudo, ela desfez sua vassoura de folhas e sacudiu a cabeça, liberando um aroma agradável que podia ser visível num tom levemente rosado. As prateleiras reluziram e ela bateu palminhas, satisfeita.

 — Eu nunca tinha percebido! — Brendan tinha os olhos brilhando. — Achava que Jacaranda só estava te ajudando na limpeza!

 — Não, não! Jacaranda é CLT e recebe o próprio salário, foi a funcionária do mês desde que começou a trabalhar aqui!

 — Tô gag veyr — Brendan realmente estava impressionado. — Talvez Pulu e Mini realmente possam praticar algo aqui, com certeza vão se sair melhor que o Mudz que alagou o corredor da última vez que entrou na loja.

 — Inesquecível... — Isabella olhou para uma placa na parede com a foto do Swampert Mudz marcada pelo símbolo de proibido.

    Brendan sentiu o celular vibrar e olhou para a tela do Pokétch, onde a notificação da mensagem chegava. Barry o enviou uma foto na entrada do Fan Club Pokemon, sorrindo e dizendo que levaria um donut para ele depois do trabalho, com dois corações amarelos ao lado.

 — Awn... — Brendan corou imediatamente, mas sentiu-se observado e olhou para Isabella o encarando muito desconfiada. — Que foi? Era uma mensagem da May, só!

 — Unhum — Isabella levantou as sobrancelhas e depois ficou rindo de Brendan tentando disfarçar.

 — Garoto, eu estou me esforçando para ser simpático... — dizia um homem de avental de Togepi atrás do balcão do Fan Club de Jubilife, tentando entregar um saquinho com donuts para Barry. — Nossos donuts são comuns, não tem nenhuma receita para fortalecer Pokemon.

 — Mas a Shaymin dizia que sentia cheiro de poder neles... — Barry retrucava. Chimchar estava se balançando em seu ombro.

 — Eu não sei quem é essa mulher! — O homem esbravejou, assustando os clientes da fila. Ele viu seu chefe o lançar um olhar de morte do outro lado da loja. — Leva logo os seus donuts...

 — Aceita pagamento em aproximação de pokétch? — Barry perguntou e o homem rasgou o próprio avental, se descontrolando. — Okay...

    Enquanto o atendente surtava dentro da loja, Barry e Chimchar foram conduzidos por duas Happiny para fora da loja. Ele viu a resposta de Brendan no visor do seu Pokétch, mais corações, e suas bochechas esquentaram. Sem prestar atenção no seu caminho, esbarrou em alguém e quase derrubou Chimchar.

 — Ai!!

 — Chaaar! — Chimchar reclamou.

 — Odeio quando isso acontece... Eh? — Barry esfregava a cabeça quando viu em quem tinha esbarrado. — Lisia?

 — Hm? Olha, eu acho que te conheço de algum lugar...

 — Altaaa! — Ali piou para Chimchar, que saltou do ombro de Barry para cumprimentá-la.

 — Sou o Barry! — exclamou, e ela levantou os ombros, não reconhecendo. — Amigo do Brendan... Nos conhecemos no Vale Windworks, mas nos reunimos com May, Shaymin e Isabella na Rota 218 há poucos dias!

 — Ahhh, sim, menino... Verdade, lembrei! A May te odeia!

 — Estou sabendo... — Barry sorriu sem graça.

 — Que bom te rever, fofo, tchau — Lisia acenou e seguiu seu caminho, mas Barry se lembrou de algo e correu para frente dela. — Oi?

 — Você é uma Top Coordenadora! — Barry apontou para ela, que corou. — Significa que já venceu muitas batalhas nos Contests... E-Eu pretendo competir na Copa Argenta, você poderia me ajudar batalhando comigo!

 — Batalhar — Lisia repetiu, como se assimilasse a informação. — Bem...

 — Au! — Os dois foram interrompidos por um latido, e olharam juntos na direção de onde ouviram o som.

    Era um Dachsbun, abanando o rabo e babando fermento. Barry e Lisia se olharam sem entender, até o cachorro acenar com a cabeça para que o seguissem. Ali e Chimchar foram sem nem pensar, e os dois foram obrigados a acompanharem, descobrindo que do outro lado da calçada havia uma pequena aglomeração de pessoas e Pokemon no entorno de uma loja. Logo reconheceram o espaço onde placas de "em breve" e "vem aí" ocupavam anteriormente, era a loja de Bolos da Raquele que finalmente estaria inaugurando hoje.

 — Aproximem-se, podem vir!

    Na frente da porta da loja estava uma mulher vestida de uniforme de confeiteira, com luvas enfeitadas com renda e o cabelo verde preso num coque. Ao seu lado, Raquele e Slurpuff acenavam para as pessoas e Pokemon.

 — É tão mágico recebê-los aqui hoje! — disse a mulher. Ela levantou uma tesoura grande e a entregou para Raquele. — Faça as honras, Raquele.

 — Obrigada! — Raquele pegou a tesoura com as duas mãos, segurando firme nela.

    Uma grande fita vermelha estava amarrada sobre a porta. Dachsbun abriu espaço entre o público para ficar perto de Raquele, que acariciou sua cabeça, recebendo uma lambida de fermento. Ela respirou fundo e cortou a fita, iniciando uma chuva de aplausos.

 — Que lindo, ela era real mesmo — Lisia disse enquanto as pessoas faziam fila para entrar na loja.

 — Ela parece bem feliz com a inauguração — Barry sorriu vendo Raquele abraçando a confeiteira. — Será que tem amostras grátis?

 — Temos sim! — Raquele surgiu entre eles, assustando-os. — Aliás... Como estamos inaugurando hoje, todos vão poder provar nosso menu de forma gratuita!!

 — BOLO DE GRAÇA! — Barry exclamou, fazendo um "toca aqui" com Chimchar.

 — Alllltaaa!! — Salivando, Ali tentou levantar voo para furar a fila, precisando ser contida por Lisia.

 — Calma, nós vamos entrar!!

    O interior da loja era muito espaçoso, com muitas mesinhas redondas de metal forradas com toalhas de renda. As paredes haviam sido pintadas com tinta brilhante e contavam com desenhos em relevo, de docinhos e balas. Slurpuff e Raquele apresentavam o cardápio com muito entusiasmo, e as pessoas achavam divertida a proposta de montarem seus próprios bolos personalizados com o que quisessem entre as opções da loja. Por enquanto, Raquele oferecia amostras de combinações recomendadas por ela.

 — Aiiiii! — Barry sentia-se flutuando numa galáxia de açúcar junto de Chimchar, Ali e Dachsbun. — Isso é muito gostoso!!

 — Essa é uma combinação sugerida pela Katy, a massa leva matcha! — Raquele sorriu de Barry encantado com a fatia de bolo.

 — Katy... Hm...? — Com a boca cheia de bolo, Barry reparou melhor na confeiteira que ajudava servindo bolo para uma Marill de muletas. — K-Katy!! Ela é a Líder de Ginásio de Jubilife!

 — Eu fui, sim — Katy se aproximou sorridente. — Depois de hoje, estarei encerrando meu trabalho como Líder daqui. Afinal, o espaço do meu ginásio se tornou algo tão mágico... Essa loja!

 — Por isso é tão grande — Lisia rejeitava duas opções de combinações de bolos que Slurpuff trazia em bandejas prateadas forradas com renda. — Você está bem com isso?

 — Claro! A decisão foi minha de fechar este ginásio — Katy sorriu. — Também sou uma confeiteira, mas aqui em Sinnoh não posso misturar as coisas... E eu adoro fazer isso, criar novas receitas é mágico!!

 — A Katy está indo para a região natal dela depois de hoje — Raquele disse, e Katy assentiu. — Ela conseguiu um espaço integrado de pastelaria e ginásio!

 — Parabéns, isso é muito legal! — Barry exclamou aceitando mais bolo de Slurpuff.

 — Puff, sluuu! — Slurpuff tentou oferecer novamente para Lisia.

 — N-Não, obrigada! — Ela recusou envergonhada, mas logo Slurpuff veio com mais opções. — N-Não...

 — Slur! Puff! Sluuu! — Sem desistir, Slurpuff acelerou a velocidade que trazia amostras, e todas continuavam sendo rejeitadas por Lisia, até... — Slur?

 — NÃO! — Lisia gritou, com o rosto completamente vermelho, e logo tapou a boca com as duas mãos, percebendo que todos a olhavam.

 — Alllta? — piou Ali, confusa com a reação dela enquanto Chimchar estava em sua cabeça.

 — Slurpuff, Dachsbun, podem segurar as pontas por aqui rapidinho? — Raquele perguntou, e os dois Pokemon assentiram, indo servir outros clientes. — Venham comigo, vamos... respirar um pouco.

    Lisia baixou os braços, envergonhada. Ela olhou de longe as pessoas e Pokemon provando todos os bolos diferentes, e pareciam mesmo tão gostosos, mas...

 — Não se sinta mal, querida — Katy disse, colocando as mãos em seus ombros. — Lá fora tem um bebedouro, pode beber um pouco de água.

    Ali voou livre ao passar pela porta dos fundos da loja, que dava a um campo de batalha com marcações verdes. Chimchar estava em suas asas, abrindo os braços no ar e se divertindo.

 — Você manteve o campo — Barry disse, e Raquele assentiu com a cabeça.

 — Katy me treinou aqui... Não poderia apagar isso.

 — Um dia, encontrei essa linda moça e os Pokemon dela pedindo por emprego no ginásio. Raquele não sabia nada além do próprio nome, mas tinha mão para confeitaria! A ensinei tudo que sei, e agora arrisco dizer que ela me superou!

 — É bom que vocês tenham... se encontrado — Lisia disse, voltando do bebedouro com sua garrafinha cheia. — Desculpem o surto lá dentro, não sei o que deu em mim.

 — Tenho uma pergunta para vocês dois — Raquele disse. — Com que sentimentos chegaram até a inauguração hoje?

 — Sentimentos? — Barry pensou um pouco. — Bem, hoje eu... Almocei com o Brendan e depois decidi treinar com Chimchar. Estou estudando para me tornar um Líder de Ginásio, mas recentemente descobri que também me interesso em ser um Coordenador. Preciso ficar mais forte para alcançar esses dois objetivos e também para ajudar mais... Ainda estou tentando entender bem como chegar nisso.

 — E você? — Katy se voltou para Lisia.

 — Eu vim pela inauguração, mesmo. Estava querendo fazer algo bom para uma amiga que merece muito provar esses bolos gostosos... Minha vida está uma bagunça, cada vez mais percebo que já me desviei tanto de quem eu era, que agora não sei mais quem eu sou.

 — Parece que vocês dois estão se esforçando para descobrirem a melhor forma de seguirem em frente — Katy disse. — Isso é muito bonito, mas também é como numa receita. Ao nos apressarmos e não darmos o tempo necessário, no final, não dá certo.

 — É verdade, meus Pokemon se desentenderam comigo por conta disso... Mas é que... — Barry cerrou os punhos, não conseguindo falar, e Chimchar segurou em uma de suas mãos com as duas dele. — Essa semana está tão intensa...

 — Eu gosto muito de quem eu sou agora! — Barry sorriu, olhando para Chimchar. — Não preciso ser como o meu pai, não preciso ter só uma possibilidade... Eu não quero perder tudo isso que encontrei, de jeito nenhum! Então eu preciso estar a altura de todos os desafios que aceitei, ou não serei bom o suficiente para estar com o Bren...

    Percebendo o que dizia, Barry sentiu as bochechas queimando e se interrompeu. Lisia o olhava com surpresa, enquanto Raquele e Katy sorriam.

 — Desculpem, eu não deveria abrir tanto...

 — Está tudo bem — Katy disse. — Temos isso em comum, Barry. Também me entendi como alguém com várias possibilidades, e eu amo isso, é mágico!

 — É sério?

 — Meu ginásio combinar elementos de confeitaria incomodava os outros Líderes... Diziam que eu estava fugindo do que é uma batalha tradicional de ginásio. Mas eu não me importo! Não existe apenas uma forma correta de finalizar uma receita, isso é ignorar todos os ingredientes diferentes envolvidos nela!

 — E Lisia, eu também não sabia quem eu era até algum tempo atrás, mas descobrir foi muito bom — Raquele piscou para ela, que levou uma mão ao peito. — Não precisa se apressar com isso!

 — Por que não fazemos uma batalha? — Katy assumiu um olhar desafiador para Barry. — Eu sempre defendo que batalhar é o melhor jeito de encontrar uma direção.

 — Uma batalha... — Barry hesitou frente à Líder de Ginásio.

 — Chaar! — Chimchar exclamou para ele, flexionando os braços e fazendo sua chama arder com mais força.

 — Tudo bem, Chimchar, conto com você.

 — E você, se não estiver afim de batalhar agora, pode encontrar outra coisa que faça mais sentido — Raquele sugeriu para Lisia, que assentiu com a cabeça, um tanto desnorteada pela situação. — Acho que a sua amiga já tem uma ideia.

 — Allltaa! — Ali piou para ela, voando até sua frente e ficando de costas para que montasse.

 — Eu entendi! — Lisia abriu um sorriso, saltando para as costas de sua parceira.

    Do lado de fora da loja, as pessoas amontoavam-se, apontando os celulares para o céu. Ali usava seu movimento Dragon Breath para desenhar um bolo entre as nuvens, recebendo muitos elogios.

 — Gostaram? — Lisia perguntou das costas da Altaria. — Venham conhecer a loja de bolos da Raquele e assistir a última batalha de ginásio da Líder Katy!

    Barry, Chimchar e Katy estavam posicionados no campo de batalha, agora rodeado por um público inesperado que Lisia conseguiu em surpreendentes minutos.

 — Chiim, chim char! — O macaquinho encorajou Barry, sentindo que o público aumentou seu nervosismo.

 — Conheça o meu parceiro! — Katy levantou uma Pokeball com delicadeza. — Lokix!

    Sem que Katy arremessasse a Pokeball, Lokix projetou-se para fora, erguendo-se diante de Chimchar. Barry o analisou rapidamente, nunca tinha visto essa espécie, mas sabia que a especialidade de Katy eram Pokemon insetos. O segundo par de pernas do Pokemon desdobrou-se de suas costas, dando um susto em Chimchar. Pareciam membros bem articulados e se firmaram no chão em modo de ataque.

 — Tem o primeiro movimento.

 — Certo — Barry cerrou os punhos. — Chimchar, Flamethrower!

 — Chaaaaaaaaaaar!!! — Ele reuniu fôlego enquanto as chamas já escapavam de sua boca até soprá-las para que alcançassem o oponente.

 — Hah! — Katy mantinha as mãos entrelaçadas na altura do colo. Com uma expressão amigável, ela comandou. — Bounce!

    As chamas se aproximavam de Lokix quando suas pernas dobradas nas costas alcançaram o chão. O inseto cigarreou veloz e saltou muito alto, fazendo até as chamas recuarem para os lados.

 — Estou curiosa para saber se o pequeno Chimmy consegue acompanhar a velocidade de Lokix! — Katy agora levou uma mão ao rosto, deitando-se sobre ela.

 — Chimmy...? — Barry achou graça do apelido, mas lembrou-se de Lokix e quase tropeçou. — Desvia!!

 — Chaaar! — O macaquinho rolou para o lado quando Lokix alcançou o chão.

 — Vriii-zt!

    Chimchar escutou o zumbido grave de Lokix, que dobrou novamente as pernas muito rápido, saltando. O macaquinho precisou correr pelo campo para continuar escapando.

 — Está prestando atenção, então vou dificultar um pouco as coisas. Lokix, Struggle Bug!

    Aterrissando, Lokix manteve seu alvo em Chimchar ofegante. Ele dobrou o segundo par de pernas para trás das costas e abriu os braços, sendo envolto numa luz verde florescente que se fragmentou como se vários cometas estivessem deixando o corpo dele.

    Cada cometa luminoso lembrava a forma de uma caveira com antenas espiraladas, com os dentes batendo sem parar.

 — Uau — Lisia precisou dizer. — Aquele Struggle Bug é muito assustador, não parece o estilo da Katy!

 — Bem... — Raquele olhava para a mestra, sorrindo. — Por trás daquele sorriso doce, tem uma treinadora que ama batalhas Pokemon e não consegue se conter quando fica entusiasmada.

 — Chimchar! — Barry gritou pelo parceiro que agora estava sendo atormentado pelo movimento de Lokix.

 — Clek clek clek! — Este era o som dos dentes batendo bem próximos dos ouvidos de Chimchar, que tentava encontrar uma rota de fuga no meio dos cometas florescentes.

 — Vamos ver... — Barry tentou pensar em algo, então olhou para baixo. — Dig!

 — Chaaar! — Socando uma das caveiras, Chimchar rasgou o solo por baixo dos pés e saltou para um buraco.

 — Oh, Bounce!! — Katy pareceu se divertir com a oportunidade que encontrou.

    Desdobrando as pernas, Lokix impulsionou-se com muita força para cima, envolvendo-se numa proteção potencializada pelo vento. Ele pisou com força no campo, fazendo tudo tremer, e repetiu isso algumas vezes até um novo buraco se abrir, expulsando Chimchar.

 — Clek clek clek! — Os insetos voltavam a persegui-lo, encobrindo-o no campo.

 — Chaaaaar!! — Chimchar gritou, fechando os olhos e levando as mãos aos ouvidos.

 — Como sair disso?! — Barry apertou os punhos, assustado com a estratégia da líder de ginásio. — Use Flame Wheel com os braços abertos!

    Chimchar cuspiu chamas para baixo, deitando sobre elas até seu corpo estar coberto como numa bola de fogo. Ele deixou os braços escaparem pelos lados dela, mas os insetos se aglomeraram neles, desequilibrando-o.

 — Chaaar! — O macaquinho caiu de queixo no chão, e ao seu redor o brilho florescente cessava.

 — É isso? Eu deveria ter pego mais leve... — Katy lamentou, entristecida.

 — Não! — Barry gritou, corando em seguida por isso. — Por favor, não pegue leve comigo, eu preciso que seja uma batalha séria.

 — Precisa? O que está escondendo aí, Barry?

    Chimchar continuava caído, de olhos fechados. Barry respirava pesado, e com a pergunta da Líder de Ginásio, ele voltou a atenção para o seu Pokemon.

 — Chimchar e eu... Nós estivemos em algumas batalhas nos últimos dias.

Não vencemos o Brendan porque não conseguimos lidar com as combinações dele.

Não tivemos força suficiente para fazer nada contra Stakataka.

Não conseguimos nos conectar para vencer como Paulette e Tinkaton.

 — Mas eu... acredito no Chimchar! — falou, com pequenas lágrimas surgindo aos pés dos olhos. — E acredito no caminho que estou descobrindo!

    No chão, Chimchar abriu um olho e metade de outro, se esforçando para virar a cabeça e olhar para Barry. O menino se moveu mais rápido com isso, deixando as pequenas lágrimas voarem e se perderem no ar.

 — Você acredita no seu Pokemon e no seu caminho... — Katy disse com o sorriso gentil de costume. — Mas acredita em você, também?

    Escutando a pergunta de Katy, Lisia levou uma mão ao peito sem entender a razão. Virou o rosto para Ali, que assistia sem notar.

 — Eu... — Barry hesitou ao responder, e viu Chimchar fraquejar com os braços, quase caindo com o queixo novamente. — Eu não sei...

 — Barry, como a massa fermenta para virar pão ou como na evolução de um Metapod para Butterfree, a transformação não acontece sem o fator tempo. Você tem consciência de que mudou, e eu acredito que esteja pronto para o que vem pela frente. Chimchar também enxerga isso, então o que está faltando?

"Para ser capaz de mostrar os movimentos lindos da Starly mais forte do Lago da Verdade, que eu quis por tanto tempo ter como parceira!"

"E para ter as batalhas mais difíceis ao lado do corajoso Buizel que não abandonou seu lar no Vale Windworks mesmo no meio de uma crise!"

 — Barry, você saiu do seu casulo, mas ainda precisa bater as asas se também quiser voar!

    Barry sentiu um arrepio, apertando os olhos que cintilaram lacrimados. Em sua cabeça passava o filme de tudo que viveu desde que Brendan chegou na escola, suas pequenas decisões construindo coragem para agir, desde conversar com Lala sobre saudades até experimentar um ginásio e um contest. Entender seus sentimentos por Brendan e enxergar a realidade dos Coordenadores em Sinnoh, ter certeza de que estava na direção certa quando viu Zoey e sua namorada Dawn dançarem juntas.

 — Chaaaar! — Chimchar se levantou, sorrindo para Barry. — Chimmy, chim char!

 — Está tudo aqui, não está? — Barry sorriu, sentindo o calor de suas bochechas se estender pelo corpo inteiro.

    Enxergava-se junto de Chimchar numa chama ondulante nas cores rosa, roxo e azul. Conseguia sentir o alívio em seu Pokemon de poder compartilhar aquele momento com ele, como se agora estivessem mais relaxados sem o peso das dúvidas e hesitações nos ombros.

 — Chimchar e eu nos descobrimos juntos! Vamos continuar essa batalha, nunca vamos desistir de quem somos!

 — Chiiiim!

 — É tão mágico... Eu estou ficando entusiasmada de verdade com essa batalha! — Katy disse, percebendo a chama de Chimchar brilhando com mais vigor.

 — Chimchar? — Barry olhou para o Pokemon, percebendo a chama crescer até quase a altura de seu rosto. — Você...

 — Chimmy! — Seu corpo começou a reluzir, envolvendo-se numa luz branca que mesclava sua forma diante dos olhos de Barry.

 — Isso... Isso significa que o Chimchar... — Barry viu a chama do Pokemon estourar, dando cor ao brilho dele.

    Os membros de Chimchar alongavam-se, desenvolvendo mais largura. Seu rabo se desenvolveu como uma longa cauda luminosa, ainda com a chama colorida.

 — É tão bonito... — Lisia comentou, encantada. — Ele está mudando... Está...

 — Evoluindo! — Raquele sorriu animada.

 — É mágico! — Katy rodopiou. — Quebre a crisálida e cresça grande e forte!

    Crescendo em altura, Chimchar agora alcançava a cintura de Barry, ainda totalmente coberto pela luz. O loiro observava boquiaberto o momento de evolução que parecia durar para sempre, até finalmente ser concluído e toda aquela luz se dispersar.

 — Mooonfy!

 — Evoluiu para Monferno — Barry disse com o rosto muito vermelho pelo calor e emoção. — Cara, isso é tão legal... Q-Quer dizer, Monferno, é um prazer!

 — Moonfy! — Ele saltou para seus braços, o dando um beijo na bochecha.

 — Então os seus sentimentos conseguiram ressoar com os do seu Pokemon e o resultado disso foi uma evolução para Monferno! — Katy disse, vendo Monferno se reposicionar em campo, de frente para Lokix. — Espero que agora consigam me proporcionar a batalha que eu quero ter! Lokix, use Struggle Bug!

    De braços abertos, Lokix envolveu-se em sua aura esverdeada e a fragmentou como cometas com cabeças de caveiras de insetos que cruzaram-se no ar para alcançar Monferno, todas com os dentes batendo sem parar.

 — Muito bem, Monferno, Flame Wheel!

    As chamas escapavam pelos cantos da boca de Monferno, que deitou sobre elas para assumir a forma de uma bola de fogo e assim deslizar pelo campo, incendiando as caveiras de insetos e se posicionando diante de Lokix.

 — Focus Punch! — Barry socou o ar para comandar.

 — Mooonferno! — As chamas ainda perdiam-se no ar quando ele envolveu seu punho em energia e socou rapidamente Lokix, fazendo uma pressão em sua barriga para empurrá-lo metros para trás.

 — Mas tão rápido? — Barry ficou surpreso com a velocidade do movimento que geralmente demandava tempo para carregar.

 — Acho que ele não precisa mais focar tanto! — Lisia exclamou entre as pessoas que assistiam ao combate. — Esse movimento se chama Mach Punch!

 — Lokix, modo de combate — disse Katy, vendo seu Pokemon desdobrar o segundo par de pernas e firmá-las no chão. — Use Lunge!

    Saltando bem rápido para frente, Lokix fortaleceu o corpo com sua aura insectoide que deixava caveiras de insetos com os olhos acesos para trás.

 — Monferno, Mach Punch!

    Lokix e Monferno colidiram fazendo um pulso verde e branco se propagar pelo campo de batalha, balançando os cabelos naturalmente despenteados de Barry. Os dois Pokemon voltaram a trocar socos e chutes rápidos, enquanto os olhares de seus treinadores encontravam-se e mantinham-se firmes. Quando afastaram-se, estavam ofegantes.

 — Uh? — Barry enxergou novamente a posição de seus Pokemon como jogadores num campo de futebol. Precisava articular aquela jogada para vencer. — Monferno, respire fundo e libere Flamethrower!

    O fogo dançou na boca aberta de Monferno até tomá-la por completo. Ele jogou o corpo para frente, mas reposicionou os pés e abriu os braços, disparando chamas ainda mais intensas do que quando era um Chimchar.

 — Sermos nós mesmos é o que nos move! Lokix, use Bounce!!

    Com mais um salto potencializado, Lokix envolveu-se na ventania que agitou e ganhou uma proteção de ar que afastou as chamas, mas Barry já previa isso.

 — Forme Flame Wheel!

    Deitando sobre as chamas, Monferno assumiu a aparência de uma bola de fogo. Katy entendeu o que ele queria fazer, mas a agilidade de Lokix não o permitiria mudar o curso de seu movimento e ele desceu com toda a força sobre Monferno, fazendo as chamas que o cobriam levantarem e o incendiarem. A Líder de Ginásio rangeu os dentes, mudando o semblante na batalha pela primeira vez.

 — Zz-rtt?!

 — Agora, Monferno, Mach Punch!

 — Feeeeeeeernoooo!!

    Enquanto Lokix pegava fogo, Monferno fortaleceu todo o seu braço esquerdo e o socou no peito. As chamas dispersaram-se quando ele foi arremessado para trás, caindo ainda de pé.

 — Lokix? — Katy chamou, tentando entender se ele ainda aguentaria.

    O brilho dos olhos de Lokix oscilou até se apagar por completo. O inseto perdeu a postura, curvando a coluna e ficando paralisado.

 — Se Lokix está fora de combate, significa que a vitória é de Barry e Monferno! — Raquele correu para o campo, levantando o braço para o lado de Barry.

 — Moooooooonferno!!! — O macaco se virou rápido para Barry, que já corria em sua direção.

    Os dois se abraçaram, mas o salto de Monferno derrubou Barry, que não contava com toda essa nova força. O loiro pegou no rosto dele, encarando-o por alguns instantes, sorrindo ao som dos aplausos dos espectadores.

 — Obrigado, amigo — Barry disse, e Monferno sorriu com todos os dentes, também com o rosto rosado.

 — Obrigada pela batalha, Lokix — Katy agradeceu, regressando seu Pokemon. Segurava a Pokeball com carinho, e a beijou antes de minimizá-la para guardar.

    A líder caminhou até Barry, batendo palmas com as mãos guardadas nas luvas na altura da barriga.

 — Barry, tem mais uma coisa que gostaria de te dizer...

(Celestial - Cover pelo canal Jaco Oxley)

    Na Pés & Patas, Brendan, Pulu e Mini contavam o dinheiro do caixa quando a porta se abriu bruscamente, balançando o sininho. A pelúcia de Mankey assoviou quando passaram correndo, e quando o garoto levantou o olhar, Barry já vinha em sua direção.

 — Brendan, olha isso! — Ele tinha os olhos brilhando, e então levantou Monferno, segurando-o por baixo dos braços.

 — Moonfy! — O macaquinho tentou beijar Brendan, que levou as mãos até a boca, surpreso.

 — O Chimchar evoluiu! — Barry exclamou, com um sorriso de ponta a ponta. — Estamos mais fortes!

 — Caramba, parabéns!! — Brendan acariciou a cabeça de Monferno, que comemorou e saltou para as costas de Barry, quase o derrubando.

 — Eu tive uma batalha hoje com a Katy, a Líder de Ginásio da cidade! Agora, ex Líder... Mas eu ganhei e olha o que ela me deu!

 — Isso é... incrível, Barry, parabéns mesmo! — Brendan pegou a insígnia para ver, e Barry riu coçando por baixo do nariz com as costas do dedo.

 — Obrigado... Estou muito feliz! Eu te trouxe donuts, também.

 — Awn! Eu já estou fechando aqui e aí podemos comer juntos.

 — Plus, plus! — Pulu acenou para Monferno, que acenou de volta.

 — Miin! — Mini o deu uma bronca por fazer perder a conta das moedas.

 — E... — Barry sentiu suas bochechas queimarem de novo. Ainda tinha algo a dizer. — Brendan, eu... Tenho uma pergunta.

 — Hm? — Brendan sorriu para ele, esperando que dissesse.

 — Quando você percebeu que queria ser um Coordenador?

 — Eu acho que eu sempre soube, desde novinho. É o mesmo com gostar de garotos... Na época eu não entendia, mas acho que sempre foi assim — disse, percebendo Barry sem resposta, olhando para uma das prateleiras da loja. — Não se sentia assim quando era pequeno, né?

 — Bem, não... — Ele fez uma pausa antes de continuar. — Eu não sei. Na festa do Chang, eu bati um papo com a Zoey. Descobri que ela está competindo na Liga Pokemon, além dos Contests. E a Dawn é a namorada dela.

 — Oh, eu não fazia ideia disso — Brendan disse genuinamente surpreso. — Eu até pensei que... você fosse ficar com ela naquele dia, igual os garotos queriam.

 — Eu não sinto nada pela Zoey, e conversamos sobre isso. Quando nos beijamos há dois anos atrás, eu realmente gostava dela, mas pra ela foi como ter certeza de que não era por garotos que se interessava. Então eu andei pesquisando... sobre ser bissexual. Acho que devo ser isso, mas não tenho certeza. E eu quero mesmo competir nos ginásios e nos contests!

 — Barry... — Brendan o olhou, sorrindo junto com ele. Os dois se abraçaram por cima do balcão. — É ótimo que esteja se entendendo melhor!

 — Obrigado por ter aparecido — ele disse, e os dois se aproximaram mais, selando um beijo.

 — Ahn... — Voltando do depósito de mercadorias, Isabella vinha segurando uma caixa quando viu os dois garotos se beijando no balcão. Eles rapidamente se afastaram, e Barry recuou alguns passos.

 — E-Eu vou te esperar lá fora... c-com os donuts! — Ele disse, puxando por Monferno.

 — A Isabella não vai contar nada — Brendan disse, e Barry o olhou antes de sorrir sem graça e sair da loja.

    Enquanto Raquele varria o chão da loja de bolos com ajuda de Slurpuff e Dachsbun, Looker e Croagunk conversavam com Katy e Lokix, dando um aperto de mãos no final. A boleira apoiou o rosto no cabo da vassoura, olhando pela janela a Altaria Ali se afastar carregando Lisia.

    Na Floresta Eterna, onde a Mansão abandonada da família Berlitz ficava, Magearna estava sentada no gramado quando Ali pousou. Lisia mostrou um bolo confeitado, sorrindo envergonhada para a robô, que se aproximou fazendo barulho de engrenagens.

    Magearna transformou sua mão numa espátula e cortou três fatias. Ali começou a bicar a sua, e Magearna segurou a dela. Lisia encarou a que era dela, um pouco assustada. Ela sentiu as lágrimas vindo, o que não conseguia entender ainda porque se tornava cada vez mais constante. Várias vozes do passado vinham em sua cabeça, e ela apertou os olhos com força.

 — Eu... Posso comer o que eu quiser — Lisia repetiu, enxugando as lágrimas com as costas dos dedos. Ela usou um garfo de plástico para cortar um pedaço da fatia e o levou até a boca, com o braço trêmulo. Ali e Magearna a olhavam, e ela finalmente se permitiu mastigar, suspirando enquanto fazia isso. — É tão... bom. É muito gostoso, essa Raquele arrasa viu! 💋💋💋

    Nesta noite, o firmamento se fez pauta e as estrelas compuseram a partitura do silêncio.

♬

Continua

O design da Raquele foi um presente do meu amigo Malu (clique para ver seu Instagram) que também foi quem fez as artes do capítulo 50, da sequência de Brendan e Barry.