sábado, 8 de fevereiro de 2025

Kitakami Special #2 - Eu quero um macho

    Após perder toda sua fortuna no Jogo do Raikou, um cassino online, Diantha recebeu uma proposta misteriosa no spam de seu e-mail para recuperar o dinheiro, o que a levou para a região de Kitakami. Acreditando fielmente que não se tratava de outro golpe, ela está junto de Agate e Briar, acomodadas no Motel Volbeat & Illumise. No quarto reservado, que para Diantha mais parecia um muquifo nos fundos de um estacionamento, as três amigas veganas se arrumavam para o matsuri daquela noite.


 — Desenrola, bate, e joga no tigrinho, vai!

    Na televisão de tubo do quarto, um comercial do Jogo do Raikou passava. A música chiclete ecoava enquanto Valerie, líder de ginásio em Kalos, fazia uma coreografia extravagante anunciando a nova plataforma Barras Pretas. Diantha desligou a TV num impulso.


 — Isso é pessoal, um ataque de ódio! Eles sabem que eu estou aqui e querem me gatilhar!

    Agate e Briar abriram as malas na cama. A de Agate era de couro marrom, repleta de bottons de destinos turísticos. Embora charmosa, estava visivelmente gasta. Já a de Briar era uma mala cor de vinho, nova, mas por dentro tão bagunçada que parecia que tudo ali tinha sido jogado às pressas.

 — Eu hein Diantha, tá com situação pra ficar reparando nas nossas malas? — provocou Briar, e Diantha fez bico, retocando seu batom vermelho.

 — Ô gente, vocês acham que uso a base da Skyla ou a nova da Caitlin? — Agate perguntou enquanto preparava sua pele para a aplicação da base.


 — Amiga, mas a base da Skyla não foi cancelada? Era aquela que dava poros que ninguém nem sabia que tinha — Briar comentou, vasculhando sua mala.


 — É verdade! Bem que foi aquela Miltank da minha ex sogra que me deu essa base, ela com certeza estava tentando tramar o meu fim. Aposto que nem é vegana de verdade, e agora que a Skyla virou performer com a Swanna, posso ficar mal falada. Obrigada, você é uma amiga de verdade!

 — Quem avisa, amiga é — Briar respondeu melodiosa, arrancando risadas.

    Agate pareceu se lembrar de algo e sorriu disso, então também começou a cantarolar no mesmo ritmo de Briar.

 — Escuta o que eu vou dizer...


    Diantha percebeu o que acontecia e limpou a garganta para acompanhar, mas desafinou tanto que teve que tossir igual a um Galarian Weezing entupido de poluiçãwn.

 — ♬ ♬ Economizar saliva pra não se arrepender ♬ ♬ — Agate continuou, girando para as duas, até todas caírem na gargalhada.


 — ♬♬ Não vivo das tuas custas, não me meto em tua vida, vegana vou te dar uma ideia cuidado com a tua língua! ♬ ♬  — As três cantaram juntas, até rirem sem parar, balançando os dedos juntas.


 — Ai, que saudades disso! — Diantha enxugou uma lágrima de tanto rir. — Essa canetada foi inspirada em quem mesmo?

 — Naquela piriguete da Geeta, já esqueceu? — Agate bufou. — Ela se achava A Representante da classe! Eleita por ela mesma, insuportável! Ficava dando palpite em tudo porque tinha papai empresário. Chata!


 — Mesmo sabendo da existência dela, eu sinto saudades de estar na Blueberry... Como aluna, óbvio — Briar confessou, finalmente encontrando uma máscara de cílios em sua mala. — Sabia que não tinha esquecido!! É de edição limitada do Natal de Celestial!

 — É, na Blueberry vivemos bons momentos... — Diantha já estava nostálgica, até levar um peteleco de Agate na bochecha.

 — Ô Briar, aluga os kimonos pra gente usar no festival? Tô falida depois de me demitir, me separar e pagar um cara pra sumir com meu ex.

 — Osh, eu pago então! Mas não quer conversar sobre? Só tem falado nisso desde que nós chegamos!

 — Ih, amiga, que nada, eu estou ótima! Quero é aproveitar o matsuri!


    Enquanto as duas riam, Diantha ficou em silêncio, observando-as um tanto contemplativa. Depois que se tornou Campeã de Kalos, sua realidade mudou grotescamente, com novas responsabilidades, precisando estar presente em eventos, batalhas de demonstração, assembleias... Mal tinha tempo para atuar em novos filmes. E além disso, enfrentou muitas situações complicadas nos últimos anos. A descida ao labirinto de AZ, a repercussão em Kalos após ter sido capturada por Lysandre, seus cancelamentos na mídia por diversas polêmicas que se envolveu, o reality show que participou e foi a primeira a ser eliminada, ter se assumido vegana por likes, competir no Galarian Star Tournament e, quando estava se recuperando, acabar presa em Galar no meio de uma guerra contra uma besta...
     Ufa. Estar no fim do mun--- em Kitakami, no mesmo quarto com aquelas duas, se maquiando para uma quase festa, depois de tantos anos a fazia voltar no tempo, para quando havia feito intercâmbio em Unova para estudar na Academia Blueberry. Famosa por ser uma das instituições mais prestigiadas do mundo, a universidade oferecia cursos especializados para orientar os alunos em suas carreiras, cobrando uma fortuna por isso.


    Foi nessa mesma época que a amizade delas começou. A Diantha do presente se perdeu por um instante, dando lugar à estudante cheia de expectativas que em breve completaria 15 anos e acabava de chegar naquele cenário deslumbrante...



*Ouça para a introdução*

LEURI ADVENTURES APRESENTA...



ESTRELANDO...


KITAKAMI SPECIAL

#2 - Eu quero um macho


    O campus da Academia Blueberry era grandioso, exalando um ar de modernidade por todo o espaço. Prédios com colunas neoclássicas contrastavam com torres de vidro reluzentes sob o sol. Um gramado impecável era cortado por uma longa passarela ladeada de pinheiros, que conduzia ao imponente edifício central. À distância, o som das batalhas Pokémon se misturava com fofocas dos estudantes e as músicas que ecoavam dos rádios de performers ensaiando — para a frustração daqueles que tentavam estudar, diferente delas. Havia uma energia vibrante ali, natural para um ambiente onde tantos sonhos se concentravam.


    Diantha estava impactada por estar ali, onde tantas lendas haviam passado. Daquelas que se lembrava que ainda não haviam sido presas ou mortas, estavam a Rainha das Fadas de Galar, Opal, que devia ter deixado glitter rosa permanente pelos corredores; o gostos-- o Domador de Dragões de Opelucid, Drayden; e até mesmo uma das maiores estrelas da música da época, a paldeana Ryme, que fazia metade dos estudantes quererem ser cantores e a outra metade querer processá-la por barulho. Pensava em como todos esses grandes nomes haviam deixado suas marcas na Academia, enquanto observava os monumentos dedicados aos deuses cultuados em Unova, os dragões Reshiram e Zekrom. Para ela, era como pisar em solo sagrado, só que esse solo ficaria ainda mais especial agora que ela estava ali.

    Diantha desceu da limousine com uma expressão confiante. Sua mãe, Rosantha, baixou um dos vidros do fim do veículo, debruçando-se na janela e acenando para ela. Era extremamente parecida com a filha, com exceção da quantidade exagerada de silicone que botou nos peitos depois que passou dos quarenta.


 — Não mostre fraqueza, querida. Vou ser franca com você, esteja preparada porque aqui não é Kalos, não tem monumentos pras Roselia em cada canto! — Diantha sentiu sua pressão cair com a informação, mas tentou se recompor rápido. — Pode ter algum pobre, coordenador, treinador de Chikorita ou até coisa pior por aí! Na minha época já tava começando a ter alolano, foi um horror, era Bullet Seed de Trumbeak pra um lado e Z-Move pro outro, ainda bem que paguei pra me formar mais rápido.

 — Merci mamãe, se aparecer um desses seres inferiores eu vou fazer como a senhora me ensinou e dizer que não tenho dinheiro.

 — Isso mesmo, meu amor, você aprendeu direitinho! Porque lembre-se... Se Chikorita viu, a calcinha já subiu! — Rosantha e sua filha repetiram juntas o ditado da família passado de geração em geração. — Beijos, mocinha, qualquer coisa ligue para o Wikstrom, vou deixá-lo por perto caso precise.

    Wikstrom, que estava ao volante, apenas suspirou. Pelo menos recebia bem trabalhando como segurança, motorista e praticamente um terapeuta familiar de tanta besteira que ouvia.
    Quando Diantha chegou ao seu dormitório compartilhado, ela encontrou duas figuras que pareciam opostas a tudo que ela conhecia, o que não significava muita coisa porque ela não conhecia quase nada fora do twitter.

    Agate estava sentada na cama mais próxima da janela, com um livro gigantesco aberto no colo e um olhar afiado que dizia: “Nem tente falar comigo”. Seus cadernos estavam organizados em pilhas perfeitas, e a decoração ao redor da cama era minimalista, mas elegante.


    Briar, por outro lado, estava jogada na cama de cima do triliche, jogando Pokeballs para o alto e pegando-as como se ajudasse o tempo a passar mais rápido. Seus pôsteres de batalhas Pokémon estavam colados na parede, e uma faixa enorme dizia: “Campeonato regional de Johto 2ª Colocação – Orgulho de Azalea!”.


    Diantha colocou suas malas no chão com um suspiro forçado.

 — Imaginei que o quarto fosse maior, mas posso me contentar com isso. Ai que legal! É minha primeira decepção em Unova!

    Agate nem levantou o olhar do livro.

 — Ah, que ótimo. Vou dividir quarto com a realeza de Kalos. Já conferiu se não esqueceu a Roselia?

 — Pardon? — Diantha não gostou do tom dela. — Vem cá, você é alolana por acaso? Já vou avisando que não tenho dinheiro!

 — Não entendi — Agate franziu as sobrancelhas.


    Briar riu alto, quase deixando a Pokeball cair na testa.

 — Calma, Agate. Quem sabe se a tratarmos bem, ela não nos paga o nosso jantar?

    Diantha não deixou barato. Puxou uma cadeira como se fosse dona do lugar e se sentou.

 — Vocês duas podem continuar com as piadinhas, mas eu não sou fácil de intimidar. Aliás, ótimo saber que as mulheres de Johto têm tanto senso de humor, pra compensar a vida miserável delas tendo que treinar Chikorita!

 — Ah, pera aí, que da minha Chikorita ninguém fala, não!

    Briar desceu da cama com as mãos na cintura, e Agate fechou o livro com força suficiente para fazer Diantha se assustar.

 — É melhor ser engraçada do que ser esnobe, branquela.

    Diantha abriu um sorriso forçado, mas havia algo de desafiador nele. As três pareciam a ponto de entrarem numa batalha, mas Diantha cruzou as pernas, gesticulando.

 — Perfeito. Então estamos de acordo. Vocês me odeiam, eu odeio vocês, e a gente vai fingir que se dá bem para a mídia comentar sobre sororidade, um conceito que seremos pioneiras, e em breve seremos ricas, viajaremos para uma ilha em Hoenn para a virada do ano, e depois não nos verão mais juntas para levantar polêmicas sobre termos brigados por homem.

    As duas ficaram em silêncio com tudo que Diantha disse, mas Briar acabou não segurando o riso, e Agate sorriu de lado, cruzando os braços.

 — Eu gostei dela. Acho que vamos nos divertir. — disse Agate, e Diantha também sorriu surpreendida, e as três se cumprimentaram juntando as mãos e balançando os dedos.

    Assim, elas se uniram na Bluebarry, e logo estavam sempre juntas para todos os lados, mesmo estudando em cursos diferentes.


    Diantha seguia a área das artes e impressionava com seu talento para encenar, além de ser ótima nas aulas de artes. Com sua carreira de modelo já estabelecida, não demorou muito para que fosse chamada para atuar pela primeira vez numa produção para cinema, contracenando com uma Furfrou nos estúdios PokeStar.


    Agate estudava para se tornar uma professora, e tinha um súbito interesse pelo passado. Estava sempre com um livro de história nas mãos, curiosa pelos mistérios e lendas que poderia encontrar, o que a levou a investigar e conhecer diversos Pokemon impressionantes. Por consequência de ser a mais estudiosa, também tem mérito por ajudar as amigas a passarem no testes.


    E Briar, uma prodígio em batalhas segundo os professores, usava das duas amigas para treinar sempre que possível nas quadras da Academia. Dessa forma, as três acabaram aprimorando suas habilidades em combate como treinadoras.
    Todos os dias se encontravam na hora do almoço, e não deixavam ninguém sentar com elas, a não ser que fosse algum herdeiro rico de Paldea. No meio disso tudo, elas se juntaram para formar uma banda e...


 — Dormiu, Diantha? — a voz de Agate a despertou de suas lembranças.



 — Ih que nada, eu tava só pensativa
 — ela respondeu após algumas piscadelas de cílios longos. —  Essa noite eu não durmo tão cedo, nesse matsuri eu vou causar como já não faço há anos!

    Agate levantou uma sobrancelha e riu.

 — Melhor você estar pensando em como amarrar o kimono, porque o matsuri não é um baile funk de Alola, mo.

    Briar, que estava encarando a tela do celular, suspirou enquanto Diantha repensava seu conhecimento sobre matsuris.


 — Tô tentando assistir o tutorial de como amarrar kimono em três passos no CarbinkTube, mas o vídeo não carrega, tá sem sinal.

    Diantha olhou ao redor, perplexa.


 — Ué, não tem Wi-Fi aqui?? Pera aí que eu vou resolver isso agora mesmo! 👠👠

    Ela se levantou e, com um sorriso travesso, foi até o telefone fixo.

 — Vai pedir o nosso resgate? — perguntou Agate esperançosa.


 — Vou chamar a Enfermeira Primeape! — Diantha pegou o telefone e discou rapidamente, até que a voz da Primeape gritou do outro lado da linha.


 — PRIIIIMEAPE!

    Diantha quase mordeu a língua com o susto, teve que segurar a mandíbula para não deixar escapar o grito, e se recompôs, respirando fundo antes de se lançar em sua melhor fluência.


 — Konbanwa, senhaaaa do wi-fi-desu! Onegai, Primeape-Chan?

    A Primeape, claramente irritada, berrou ainda mais alto do outro lado da linha, fazendo o fio do telefone até tremer. Diantha não se abalou.


 — Souka… quer dizer, desculpa querida, eu esqueci que você me entende, é que estou acostumada a me tirarem de contexto, mas vem cá, você pode me dizer a senha do Wi-Fi aqui do muquifo? Precisamos aprender a amarrar kimono em três passos simples com um Pokémon que não tem mãos ensinando!

    A Primeape estalou a língua com raiva e Diantha se descabelou com o grito duplamente escutado, pelo telefone e direto da recepção.


 — Uau. — Briar não pode deixar de comentar.

    Os próximos cinco segundos foram de suspense, com as três ouvindo um som gradualmente escalando. Sem mais aviso, a porta do quarto foi chutada com força, e a Primeape entrou, atirando uma placa na cara de Diantha, nocauteando-a. Agate se abaixou para pegá-la e pode ler as letras grandes que nem pareciam ter sido impressas, e sim socadas nela com tinta;


 — Senha: URSALUNA123.

    As três se entreolharam e se juntaram na mesma cama para assistirem o vídeo do CarbinkTube. Com muita luta, elas conseguiram ficar prontas e agora saíam do motel de Mossui prontíssimas para a noite de matsuri.


 — Garotas, Kitakami que nos aguarde! Hoje estamos perigosas! — Diantha posou junto com as duas amigas para um flash inesperado. — Ué?


    Atrás de um poste, Dan, com uma cara de quem sabia exatamente o que estava fazendo, estava de olho nas três. Com um celular em mãos e uma expressão de puro deleite, ele capturou o momento delas: exageradamente maquiadas, vestidas com os kimonos alugados ainda com etiquetas presas, e o de Diantha ainda tinha um super decote. Ele deu uma risadinha maníaca e já começou a escrever seu próximo post: "Diantha e suas amigas invadindo matsuri em Kitakami. Exemplo perfeito de apropriação cultural em pleno século da tecnologia. #CadêMeuKimono #AmoKimonosMasCuidadoComApropriação".



    As três deixaram o motel sob olhares atravessados de alguns moradores de Mossui. Parecia óbvio que ninguém ali acreditava que três mulheres veganas em viagem estivessem naquele lugar por algo decente e socialmente aceito. Diantha ainda ficou extremamente desconfiada ao ver um garoto passar com um Corphish, e sem pensar duas vezes, guardou o celular na sua bolsa. 


    Sem saber ao certo o caminho, elas resolveram seguir as pessoas que vestiam kimonos exatamente iguais aos delas: brancos com estampas rosadas como o de Diantha, amarelos com toques de verde como o de Agate, e azuis como o de Briar. As ruas de Mossui estavam enfeitadas com lanternas de papel que balançavam suavemente ao vento, enquanto guirlandas de flores coloridas pendiam em arcos sobre as calçadas. O som de tambores ecoava pelo festival, misturado ao burburinho dos cidadãos de Kitakami que riam, conversavam ao redor de mesinhas de madeira e aproveitavam as várias barracas de comida e jogos espalhadas pelo caminho. Pokémon dançavam animadamente ao lado de algumas pessoas que usavam máscaras esquisitas, presas na lateral do rosto ou cobrindo-o por inteiro, o que também deixava Diantha curiosa se aquilo era gente famosa tentando escapar da imprensa, assim como ela costumava fazer.



    Os batuques vinham do Rillaboom integrante da banda Maximizers, que parece que veio de Galar para curtir o festival. Diantha o reconheceu e preferiu que ele não fizesse o mesmo porque não queria contato, então reparou que por baixo da estrutura elevada onde ele tocava, um palco havia sido montado, e alguns organizadores do matsuri traziam bancos de madeira para que o público se acomodasse provavelmente para algum show que começaria em breve.


    Mais à frente, um policial parava uma Mightyena junto a um muro.


 — Mighrrr? ("Quem é você?") — perguntou a Mightyena, olhando-o de canto bastante desconfiada arreganhada no muro.

 — Policial de Kitakami. Encosta na parede, bonita, e abre bem as patas que eu vou te revistar todinha. — Ele a examinava enquanto perguntava: — Hum, você tá solitária?

 — Auuuuuu! — respondeu a Mightyena, com convicção.



 — Aaaah! Que clima mais agradável, me lembra tanto Azalea em tempos festivos! — Briar exclamou, os olhos brilhando enquanto mirava uma barraquinha onde um Dipplin organizava suas frutas. — Ali tem apricorns carameladas no espeto! Eu não sinto esse cheiro desde a minha infância!



 — Iiiidip! — O Dipplin saltitou animadamente até a beira da bancada, exibindo os espetos como se fossem tesouros.


 — Parecem muito saborosas. As Pokeballs surgiram por essas regiões, e eram feitas de apricorns nos tempos antigos, uh? — Agate pegou um espeto e analisou as frutinhas cobertas por uma generosa camada de caramelo dourado. — São bem típicas dessa região.



 — Mas é vegana? — perguntou Diantha, um ponto muito importante e sério a ser levantado.


 — Eu acho que é sim — disse Briar, tirando uma nota do bolso, mas Dipplin a olhou insatisfeito e ela adicionou algumas moedas junto. — Quero que provem!

    Diantha deu a primeira mordida e arregalou os olhos.

 — Ai que delícia, me lambuzei toda!

    Ela lambia os dedos para não desperdiçar o caramelo, enquanto Agate mastigava com uma expressão cautelosa.

 — Devo dizer que não sou a maior fã de doce... Mas não é ruim!

 — Hummm!!! — Briar vertia lágrimas por todo o rosto enquanto saboreava uma das apricorns do espeto.

 — Amiga, não vai secar as lágrimas? — Diantha a cutucou.

 — Claro que não, se eu secar, borra a maquiagem! — respondeu fungando e voltando a comer.



    A música festiva ecoava pelas ruas, e pessoas e Pokémon continuavam dançando, os kimonos esvoaçando a cada movimento. Cada vez mais gente usava máscaras coloridas e bizarras, algumas presas na lateral do rosto, outras cobrindo-o completamente e uma até lembrava o rosto de Drasna de tão feia. Uma Oricorio Sensu mascarada assustou a Mightyena, que apenas queria se aproximar de um bebedouro.
    
Diantha olhou para além da multidão e viu um grupo de moradores de Kitakami reunidos, confeccionando lanternas de papel sanfonado nas cores do matsuri. Eles trabalhavam com concentração, dobrando e colando cada detalhe, animados com a preparação para o grande Festival das Luzes que estava por vir. Aquilo a fez lembrar que, enquanto todos ali estavam focados em celebrar, ela ainda precisava descobrir como iria recuperar sua fortuna.
    Antes que pudesse se perder em seus próprios pensamentos, uma voz afeminada cheia de energia cortou o ar:


 — Minhas divaaas, venham cá, venham cá! — Uma mulher alta, de cabelos exuberantes e roupas brilhantes, acenava com animação atrás de uma barraca. — Eu vi vocês aí saboreando essas apricorns, e os meus Houndourzinhos estão aqui tão tristes e famintos iguais as viúvas do Ash, pensei logo: isso é um sinal de Arceus!

    Diantha, Agate e Briar se entreolharam. Elas definitivamente não conheciam aquela figura, mas antes que pudessem reagir, a drag continuou:


 — Não precisam ter medo, que eu só mordo se quiserem e pagarem! — Ela riu do próprio comentário enquanto as três se aproximavam, vendo os Houndour num cercado por baixo de sua barraca. Um estava de língua para fora babando, outro mordendo a própria cauda, um terceiro latindo para a própria sombra, se tremendo todo. — Eu sou Ororo Ivy, expert em Criação Pokemon. Aqui no meu daycare a gente trabalha com amor, carinho e torcendo pra ganhar na loteria e mudar de vida! Olhem só para esses fofuxos!!


 — Estão todos para adoção — disse um garoto magrelo bem pálido que lixava as unhas de maneira desinteressada, sem sequer olhar para elas.


 — Eu quero um macho! — exclamou Diantha, juntando as mãos ao lado do rosto, encantada pelos Houndour.


 — Senhora, aqui se adotam Houndour — a drag respondeu desconfiada.


 — Mas se você quiser um macho, dependendo do quanto estiver disposta a pagar, tem alguns disponíveis por aí — o garoto acrescentou com um sorriso debochado.

 — Ô twink, você me respeita, sabe quem eu sou? — Diantha botou as mãos na cintura já sem paciência com o garoto.


 — Eu sei é que não fui eu que vim aqui pedir um macho!


 — Moças, não liguem para o Kiki aqui, ele tá só fazendo um freela pra mim hoje.


 — É Kieran. Vocês não querem colaborar e levar um Houndour, não? 


 — Que graça, esse parece até gente! — Agate viu um Houndour tentando escrever "S.O.S." na terra, mas Ororo Ivy o chutou para que parasse, sorrindo muito a seguir.


 — Hooorrgrr! — Um dos Houndour não tão pateta quanto os outros ficou de pé na cerca, cheirando a calça de Briar. Esta se abaixou para acariciá-lo.


 — Esse gostou de você. — Kieran se aproximou dela com uma mão na cintura. — Leva ele logo e preencha já esse documento para assinar o plano dental, um ano de ração, serviço psicológico e garantia de devolução caso faça combinação de contest! Dá pra escolher a Pokeball que você quer também, mas tem algumas mais caras que outras!

 — Ele é fofo! — Agate comentou, inclinando-se para olhar melhor. — Já faz tanto tempo, por que não tenta?

    Briar recuou um passo, balançando as mãos.

 — Não, não, eu... eu não tô pronta pra isso.


    O Houndour não pareceu se importar com a hesitação e lambeu o braço dela com entusiasmo. Briar riu involuntariamente.


  — Que... quentinho! — Ela recuou a mão, e ouviu Kieran rir.


 — E esse aqui? — O menino pegou o Houndour com a língua pra fora que Diantha encarava por mais tempo do que pretendia. — Ele é especial, se é que me entende. Ótimo pra quem tem... expectativas realistas, né, diva? — Ele empurrou levemente o Houndour para Diantha, que piscou, incerta.

 — Especial como? — Ela estreitou os olhos.

 — Assim... introspectivo, sabe? Ele curte a própria vibe, tipo eu. — O twink percebeu Diantha ainda analisando o bicho e perdeu a paciência. — Cê não quer um filhote de Houndour autista pra combinar com o seu estilo não, mulher?



 — Ai que absurdo! Eu não vim aqui pra isso, minha Gardevoir tá três dias sem comer, vou sustentar outro não!!

    Ororo Ivy sorriu, pegando o Houndour de Kieran nos braços.


 — Calma bonequinha, a adoção é um processo que envolve conexão, não é qualquer brincadeirinha. Mas vai por mim, tem um Houndour perfeito pra cada pessoa, ouvi o Ghetsis dizer isso numa pregação por aí, amém aleluia.


 — Nossa ele disse isso? — Agate levantou uma sobrancelha.


 — Chega, pode ficar com seus Houndour! Eu tenho mais o que... — Diantha foi interrompida quando algo saltou em seu rosto. — AAAAH!!


 — CHING CHANG CHONG BTS!! — Era uma Alcremie verde jogando creme para todas as direções.


 — Oh, me perdoe!! Aqui também vendo doces de Alcremie — Ororo Ivy gargalhou enquanto Agate e Briar socorriam a amiga. — Voltem sempre, chuchus!!


 — Uma drag e um twink em Kitakami, isso não devia ser proibido? — Diantha resmungou, pensando já em encaminhar um áudio bem ofensivo para o Lance.

 — Menina, e por falar em ofensa, olha aquela ali! — Briar apontou para uma área reservada, onde uma movimentação chamou sua atenção.


    Lá, estava acontecendo uma batalha entre duas mulheres, e uma delas era alguém conhecida pelo grupo: Jasmine, líder de ginásio de Johto, que havia sido presa acusada de ser Coordenadora. Agora em liberdade condicional, ela estava cumprindo serviço comunitário, mas ali usava um kimono como os outros participantes do festival e comandava seu Steelix contra uma Pyroar fêmea.


 — Não vou perder, sendo líder de ginásio, coordenadora ou o que for — a oponente dizia, tentando se provar. — Natália, Flamethrower!!


 — ROAAAAR! — A leoa saltou e seu hálito incendiou o ar numa espiral, com seu rugido se estendendo como um furacão na direção de Steelix.


 — Muito bem, Gyro Ball! — gritou Jasmine, estendendo seu braço para revidar.


    Foi quando Steelix girou no mesmo eixo, começando a levantar terra para junto de seu corpo. O fogo da Pyroar também rodopiou com ele, e um "Ohhh" coletivo começou, achando aquilo bonito, até uma voz exclamar:


 — EI! AQUILO É COISA DE COORDENADORA! — Era Dan, já com o celular gravando.


 — MALDITA!!! — alguém gritou da multidão.


 — BRUXA VAI QUEIMAR!!!


 — TAPE OS OLHOS, FILHO!!


 — MAS MAMÃE, EU JÁ TENHO TRINTA ANOS!

    A confusão começou, e Jasmine foi literalmente bombardeada com apricorns, enquanto ela gritava desesperada que aquilo era um mal-entendido. Diantha, vendo a cena, puxou o leque da mão de uma criança e começou a se abanar, aflita com a situação, mas não o suficiente para se importar em ajudar, afinal, estava numa situação bem pior que a dela e desde que decidiu ser uma boa pessoa, só perdeu tudo. Ela se afastou rapidamente junto das amigas.


 — Miiigh? — A Mightyena caminhava solitária pelo festival, vendo todos acompanhados e se divertindo. Ela ouviu um assovio e foi na direção do som na esperança de ser um chamado revelador divino, chegando numa barraca de bebidas alcóolicas.

 — Druddigon? — Diantha se aproximou da barraca, vendo o Pokemon fazendo uma batida com seus braços fortes enquanto Senhora Schonfeldt babava nele. — Não sabia que você tinha talento para drinks, foi logo parar com a Drasna.


 — Druuuuh! — O dragão se gabou, balançando ainda com mais força, e a mulher revirava os olhos com tanto prazer, deixando todos desconfortáveis.


 — Agate, você se controla que já tô vendo no seu rosto que quer encher a cara — Briar riu da amiga com o olhar fixo nas bebidas. — Nem dinheiro cê tem!


 — Aiii, mas um desses aqui bem pequenos... — Agate aproximou a mão de um copinho de shot, mas levou um tapa de Briar.

 — Isso aí é saquê fortíssimo fermentado nas profundezas de Kitakami, larga agora!!


 — Queridas, vocês deveriam provar, esses saquês tem efeitos surpreendentes — disse Senhora Schonfeldt. — Vejam esse aqui, "Como aceitar que não é mais criança". Poderosíssimo!! E este? "Ideal para quem está passando por um momento difícil depois de tirarem seu desenho animado do ar"! Nossa, muito difícil de digerir, alguns passam muito mal! Mas o mais procurado... "Como lidar com fim de relacionamento", nas variações se era homem casado, menor de idade ou se foi tudo psicológico.


 — Ih, olha que esse é bom mesmo — Kieran se debruçou na bancada, e Agate e Mightyena prestaram atenção. — Acabei com um relacionamento de sete anos e tomei um monte desse.


 — Nossa, sete anos? Como você está?

 — Eu tô bem, não era meu relacionamento. — Agate revirou os olhos, quando viu Druddigon a oferecendo um shot do saquê para fim de relacionamento. — Aproveita aí, amostra grátis!

 — Forte! Até que é bom... — disse após provar, e logo recebeu outra amostra. — Oh, então tá!



 — Será que aqui tem banheiro? — indagou Diantha.


 — Deve ter sim, quer procurar? — Briar respondeu, dando o braço para ela.



 — Unhum. Já voltamos, Agate — Diantha anunciou, mas a amiga continuava se empolgando com as amostras grátis, deixando até a Mightyena preocupada com a situação.

    Briar logo separou-se quando avistou outra barraquinha de artesãos, mas Diantha se informou e haviam mesmo banheiros públicos instalados somente para o festival. Ela correu para dentro de uma das cabines, sentando-se e suspirando aliviada. Segundos depois, ouviu baterem na porta, e arregalou os olhos.

 — Ocupado! — gritou lá de dentro.


 — Conta outra querida, você não faz nada o dia todo! Mas aproveitando, que tal uma entrevista? Sua viagem está repercutindo muito! — Era Dan, com o ouvido colado na porta, segurando um gravador.


 — Que absurdo, eu tô no banheiro, nem aqui tenho paz? Eu hein!


 — Responde aí, Diantha, estão comentando por toda Kitakami que não gostaram de te ver usando kimono! O que tem a dizer sobre isso?


 — Então quer dizer que vocês me cancelaram em Kitakami, né? Tá, eu não ligo, gente! Se fosse pelo menos um povo inteligente, culto, e que vivesse em uma região com uma Pokédex própria, eu até me sentiria mal. Mas a maioria de vocês são um povo de contenda, gente! Sem QI, que ama um sofá, uma TV, acompanhado de apricorn barata juntamente com cerveja de má qualidade. Um povão que adora um barraco bem formado!


 — Nossa! — Dan brilhou os olhos nem acreditando que registrou aquilo, quando ouviu o barulho da descarga. — E você pode deixar registrado aqui se é verdade que você tá sem dinheiro pra voltar de ônibus?

 — Como é que é?! — Diantha abriu a porta de supetão, quase derrubando Dan no chão.

    Ele se equilibrou na última hora, segurando firme o gravador como se fosse um prêmio.


 — Eu tenho um compromisso com a verdade, querida. O povo tem que saber se a Campeã de Kalos tá sem um centavo pra pegar um busão!

    Diantha revirou os olhos, lavando as mãos.


 — Vê se eu tenho cara de Lisia pra você achar que eu não tenho o que fazer da minha vida? Me esquece, encosto! Mas aliás, você sabe alguma coisa sobre o Jogo do Raikou?


 — O que todos sabem que é golpe? — Ele franziu o cenho, curioso com a pergunta. — Tu apostou nisso, Diantha?!

 — Eu não falei isso não, não falei!! — Ela tentou agarrar o celular do jornalista que já redigia seu novo post sobre Diantha ter apostado o título de Campeã dela numa mesa de bar com a Ribombee da Eliza.


 — Opa! — A treinadora da Pyroar Natália interrompeu, surgindo do nada e quase empurrando os dois. Ela cuspiu um chiclete para o lado e cruzou os braços. — Vocês vieram fazer baderna na minha região? Pois fiquem sabendo que pra badernar por aqui tem que ter no mínimo um Zubat ou um Rattata no time!


 — E você quem é? Digo, quantos seguidores tem? — Dan a olhou de cima a baixo, com muitos julgamentos.


 — Meu nome é Carmine. Sou a mais forte nessas terras, não viu que meti a surra numa Coordenadora agora pouco?

    Dan piscou algumas vezes, raciocinando.


 — Ah! A caminhoneira que humilhou a Jasmine! Tá bom, também quero seu depoimento e te deixo escolher! Você quer falar mal dela, da Diantha, do Brendan ou dos contests para o meu blog?

    Antes que Carmine respondesse, todos ouviram um burburinho vindo da praça central. Quando se viraram, viram Jasmine sendo carregada amarrada num tronco de árvore por quatro sujeitos mascarados.

 — Vem cá, ninguém vai ajudar ela? — Diantha arregalou os olhos.

 — Aqui se faz, aqui se paga, já bem dizia o Ghetsis — Carmine deu de ombros, enquanto Diantha pensava que Ghetsis andava dizendo muitas coisas ultimamente.

    Antes que alguém pudesse reagir, um grunhido agoniado veio de trás. O Rillaboom que tocava o tambor no matsuri estava curvado no chão, parecendo enjoado, sendo abanado por Druddigon enquanto Senhora Schonfeldt se deleitava da visão dos músculos do dragão sendo flexionados. O Dipplin da barraca de apricorns estava sendo algemado pelo policial local, enquanto uma mãe gritava.



 — É APRICORN BATIZADA, É APRICORN BATIZADA!! TAH PASSANDO MAL AQUIII!!


 — Amores, eu sou madrinha dos Criadores pelo estado de Kitakami, deixem comigo! — Ororo Ivy se aproximou, determinada. — Eu cuido dele!

    A drag queen deixou seu daycare sozinho para ir cuidar do gorila. Kieran deveria estar ajudando ela, mas no momento estava se divertindo com Agate, já muito bêbada a esse ponto, falando horrores de seu ex marido.


 — Mas vem cá, e algemas? — perguntou Kieran, tomando outro shot.


 — Algemas? — Agate não entendeu de primeira.


 — É, amor. Algemas. Nunca pensou?


    Sem ninguém tomando conta, o Houndour autista viu a oportunidade e, diferente da Serena, aproveitou. Com uma cabeçada, ele foi capaz de derrubar o cercado, libertando os demais Houndour pelo festival num ato de retomada.



    O barulho de cascos ecoou quando os Houndour derrubaram barracas, rosnando e latindo. Um grupo de crianças na vida adulta começou a chorar, e a mãe tentou jogar arroz nos bichos para afastá-los, tudo em vão porque foi derrubada e rachou o chão. Briar terminava de confeccionar uma lanterna de papel, quando um Houndour saltou em sua direção, mas ela abaixou para desviar. Percebendo a situação, também reparou na Enfermeira Primeape espancando uma Alcremie verde, ficando apavorada com o caos.


 — CHING CHANG CHONG...!! — A Alcremie tentava dizer, mas levou logo outro socão da Primeape.

    Infelizmente, isso foi a última coisa que a Enfermeira fez, porque logo foi pisoteada por vários Houndour. Mightyena se viu encurralada por eles, rosnando como ameaça para intimidá-los. Druddigon também se colocou à frente de sua affair, pronto para o combate, enquanto Ororo Ivy nem ligava mais para o Rillaboom, tentando conter seus preciosos Houndourzinhos.


 — AHHHHHHHHHHHHHHH! — Dan gritou de pavor quando um Houndour tentou mordê-lo, e pulou nos braços de Diantha.


 — Sai de cima de mim, não tô alcançando a minha bolsa!!

    Carmine observou a cena e soltou um suspiro exagerado, cruzando os braços.


 — Duas garotinhas apavoradas por meia dúzia de Houndour... — Diantha e Dan olharam para ela com indignação, mas não tiveram tempo de responder. Carmine já puxava sua Pokeball. — Natália, mostre como se faz! Use o melhor Fire Blast de Kitakami!


    A Pokeball se abriu, liberando Natália Pyroar em um salto ágil. A leoa aterrissou com as garras fincadas no chão, soltando um rugido poderoso que fez o ar vibrar ao redor. Natália inclinou a cabeça para trás, puxando o ar com força enquanto sua juba crepitava em brasas. Em um instante, uma esfera incandescente se formou em sua boca, crescendo até atingir seu limite. Com outro rugido estrondoso, ela lançou a rajada, que se expandiu no ar e tomou a forma de uma estrela flamejante antes de atingir o solo diante dos Houndour.
    
As chamas varreram o chão, forçando os Houndour a latirem assustados e a se espalharem em todas as direções. Alguns recuaram com o calor intenso, enquanto outros, em pânico, dispararam para outras áreas do festival, derrubando tudo pela frente e aumentando ainda mais o caos.

 — Voltem aqui!! — Carmine gritou, batendo os pés enquanto a Pyroar corria atrás dos Houndour, e Diantha estreitou os olhos, observando a cena com atenção.



 — Uh? — Briar reparou em um Houndour que não fazia o mesmo que os outros, apenas a encarava. — É você de novo...


 — Miiiighrrr!! — Com sua cauda endurecida, Mightyena acertava alguns Houndour, mas eles rolavam e se levantavam, tomando outras direções. — Grrrr!!!



    Como estavam sendo atacados, os Houndour começaram a reagir com mais violência. Além de quebrarem as coisas, agora também disparavam Ember por toda parte, e Druddigon se esforçava para aguentar o calor e proteger as barracas e a decoração do matsuri.
    Vendo toda a cena, Ororo Ivy franzia a testa, estressada. Seus peitos balançavam muito, mas na verdade eram as cabeças de dois Houndour enfiados em sua blusa, tinham apenas os corpos para fora.


 — Que inferno... Também, o que esperar de machos? — Ela levou uma mão à testa, cansada. — Eu vou ter que pedir sua ajuda...

    Ororo Ivy se distraiu dos pensamentos quando viu Diantha correndo para o centro da área do matsuri, tendo se livrado de Dan. Ela estava suada e o decote do kimono ainda mais caído, mas tinha uma Pokeballs em mãos.


 — Nezly, preciso da sua ajuda! — exclamou, arremessando a Pokeball para o alto.


    A Pokeball se abriu num feixe ciano, liberando Nezly numa acrobacia. Ele aterrissou suavemente, tocando o chão com a ponta dos pés. Ele segurou sua bengala com as duas mãos e começou a sapatear com ritmo, fazendo o som de seus passos ecoar pela área. A cada toque no chão, o gelo parecia se solidificar sob seus pés, criando uma camada suave de cristais.

 — Bravo, Nezly! Mas veja a situação, preciso que use Reflect!


    Nezly levantou a bengala cintilante de gelo e a apontou para o ar. Usando-a como uma varinha mágica, barreiras de gelo encantado foram surgindo por toda parte, intimidando os Houndour. Quando eles iam dar cabeçadas nelas, uma camada de poder psíquico as polia, impedindo que quebrassem. O Mr. Rime concentrava sua energia mental para alinhar as barreiras, obrigando os Houndour a fugirem delas.

 — Heheh... — Agate e Kieran riam com as bochechas queimando, vendo seus reflexos distorcidos no gelo.


 — Reflect? —  Carmine olhou para Diantha com uma expressão cética. — Isso não vai prender eles por muito tempo! Ainda fez a pior escolha contra um Houndour, esse Pokemon usa ataques psíquicos e de gelo, nada vai ser eficaz! Só pode estar chapada essa Diana aí!


    Briar, aproximando-se com o Houndour que gostou dela, no entanto pensava de outra forma. Começava a compreender a estratégia de Diantha e seus olhos se estreitaram enquanto ela observava os Houndour e as barreiras.

 — Ela está criando um espaço controlado — disse Briar para si mesma. — Se ela conseguir limitar o movimento dos Houndour dentro dessa área, as barreiras vão funcionar. Mas... precisa de algo mais para atraí-los para cá.


 — Então você acha que ela sabe o que está fazendo? — Carmine perguntou, e Briar acenou com a cabeça, já sabendo o que precisava ser feito.


 — Ela está controlando o campo. Se conseguirmos direcionar os Houndour para o centro dessa área... aí vai funcionar. — Briar se virou para seu Houndour, que estava pronto para agir. — Por favor, amiguinho, pode usar Odor Sleuth?


    O Houndour assentiu e farejou o ar, tendo compreensão da localização de cada um dos outros Houndour. Com uma energia renovada transbordando de seu corpo, ele começou a correr, espalhando o cheiro que indicava aos outros Pokémon a direção que deveriam seguir.


    As barreiras de Nezly, agora firmemente posicionadas, começaram a brilhar com mais intensidade, refletindo os Ember dos Houndour enquanto eles eram guiados para o centro da área protegida. Diantha estava pronta para reagir a qualquer momento, ajustando as barreiras conforme necessário.


 — Ora... — Carmine cerrou os punhos, agora com sua Pyroar ao seu lado.


 — Mighrrr! — Mightyena gritou quando percebeu que todos os Houndour estavam no centro dos Reflect.


 — Tá bom, garotos, acabou a festa! — Ororo Ivy se aproximou deles, com as mãos na cintura. — Vocês foram meninos muito malvados! Vão ter que ser punidos!!


    Diantha acariciou a cabeça de Nezly enquanto Ororo Ivy colocava os Houndour dentro de sua roupa, nem se importando com as mordidas. Briar atirou um petisco para o Houndour que a ajudou também, e este o abocanhou e correu para junto da drag, deixando-a com uma sensação esquisita.


 — Ela realmente conseguiu... Quem que é você, Dalila? — Carmine perguntou, vendo Diantha e Briar fazerem seu cumprimento.


 — É Diantha, bebê. Quer dizer... Pode ser Dalila mesmo, não pesquisa por Diantha não que vai achar o que não quer!!


 — Uhuuul!! Isso que é a vida de solteira! — Agate vinha apoiada em Kieran, que tinha metade de sua altura.

 — Mentira que Agate bebeu... — Diantha segurou o riso.

 — Eu não tô bêbada, eu tô só feliz, ok? — Ela disse claramente bêbada. — Briar pegou o Houndour?

 — Eu o quê? Não mesmo! — Ela balançou as mãos, negando.

 — Mas fez um ótimo trabalho comandando o Odor Sleuth — disse Diantha, encostando no ombro de sua amiga, que a olhou surpresa. — Você dominava as batalhas muitos antes de mim. Eu sabia que podia contar que entenderia meu plano.


    Os danos foram contidos no matsuri. As barracas que não foram quebradas voltaram a funcionar e agora a música vinha de um Toucannon com o bico dividido em listras rosas, roxas e azuis. Ele tinha fones de ouvido e estava remixando o álbum BRAT para o povo de Kitakami. Já o Rillaboom recebia atendimento médico, e estava bem, mas as pessoas estavam chateadas porque o show foi cancelado e não tinham mais doces caramelizados porque o Dipplin foi preso por tentativa de homicídio.


 — Elas querem um show, é? — Diantha e as amigas se entreolharam. — Que tal ressuscitarmos As Veganas por um dia?


 — Tocar bêbada, como eu amoooo! — Agate rodopiou tontinha.


 — Como nos velhos tempos! — Briar sorriu da sugestão.

    Não muito tempo depois, Mightyena sentava-se num banco de madeira, ao lado de Kieran. Druddigon, 
Senhora Schonfeldt, Carmine, Enfermeira Primeape e o restante das pessoas e Pokemon logo preenchiam todos os lugares livres. O palco montado em Mossui acendia-se com os holofotes, revelando Diantha com um microfone num pedestal, Agate com uma guitarra e Briar com um pandeiro.

"COM VOCÊS, AS VEGANAS!"

    Ao serem anunciadas, elas receberam muitos aplausos, e sorriram umas pras outras, animadas. Dan logo surgiu de dentro de uma lixeira, já filmando, focando só na Diantha pronto para pegar um momento que desafinasse.

 ♬ ♬ Na batida de cabelo já vem raiando o dia!

De Kalos até Kitakami, sempre em sintonia!

No baaaairro de Mossui ou em Laverre City!

Candy Apple, Macaron, com boas companhias!

No Matsuri, a Coordenadora é barrada!

No calor de Melemele, o Curry encaro na raça!

É Moomoo Milk vegano!, Malasada com hashi!

Poké Bean em Castelia!, Lava Cookie em Kitakami!

OLHA OS Z-MOVES DELA!

Kita, Kami, Kita, Kami, meeeeexe o corpo inteiro!

Aqui só entra se tiver Mega Evolution primeiro!

Kita, Kami, Kita, Kami, oooopa!, que beleza!

E ainda tem Alolan Form lá na mesma mesa!

Kita, Kami, Kita, Kami, essa junção é massa!

Mistura Kalos com Alola... Ela já se sente em casa! ♬ ♬ 

    Enquanto todos se questionavam que maldição profana era aquela sendo recitada por Diantha no palco, as três amigas mulheres veganas pobres se divertiam por poderem viver esse momento. Cada uma tinha uma lanterna de papel pendurada em suas roupas, confeccionadas por Briar mais cedo. Mas, de braços cruzados, encostada num poste de luz, Ororo Ivy observava com atenção Diantha sensualizado para o microfone cheio de autotune.


 — Está na hora, Circe.

Continua

Um comentário:

  1. Esse capítulo ficou muito divertido, deu para umas risadas momentâneas, estava precisando, obrigada por isso <3
    Achei que o capítulo seria todo flashback, adorei como elas se conheceram, Briar sendo de Johto me deixou feliz por alguma razão... aposto que o homem que a Agate contratou para fazer desaparecer o ex se apaixonou por ele e os dois sumiram juntos. É meu canon agora. Mas pronto, achei o flashback muito divertido e estabeleceu bem as personagens que eu enquanto lia não achei que fossem ter muita relevância ou algum tipo de plot nessa história, mas pelo final dá a entender que tem mesmo uma história para ser contada aqui e não é apenas surtos da sua cabeça enquanto não volta com os caps finais de Leuri e a continuação de Celestial. Me surpreendeu de verdade.
    Achei a introdução ao matsuri uma coisa incrível, só eu que acho que essa Primeape não chega ao fim da série sem evoluir? Ela foi esmagada por Houndoor, deve estar para breve xD
    Ri demais com o Kieran falando que terminou um relacionamento de sete anos, ele já é meu personagem favorito daqui e amei a relação que ele formou com a Agate. A cena da Diantha indo no banheiro para recriar a temporada de Pokémon Jornadas também ficou divertida com Dan tentando e conseguindo uma declaração de ódio para cancelar Diantha de novo. Por cancelamentos, vimos a Jasmine sendo transportada pelos membros do KKK (Kitakami Klux Klan) e nunca mais se soube nada dela, alguém vai ver se está tudo bem com a coitada, por favor? Ela está em condicional, merece mais do que ser amarrada numa árvore… por gente amarrada, eu sinto que Dipplin não fez nada de errado, ao contrario do Druddigon que estava coisando a senhora contra a banca… essa fanfic virou +18 muito depressa, me fez duvidar se estava lendo no blogger ou spirit. Mas cá estamos. Amei a Mightyena loba solitária sendo revistada pelo policial furry, temo pela sua segurança. Que mais? Carmine caminhoneira sapatona? Amei! Ela é claramente a campeã de Kitakami. Você até pode dizer que esse titulo não existe, mas isso nunca impediu o Ash de dizer que era campeão de Alola. Então ela também tem o direito. Que mais… Ororo Ivy vilanosa? Provavelmente, não dá para confiar em drag queens que lêem histórias às crianças, estão influenciando crianças! Venha ver, Trump e deporte o Ash. A Alcreamie esmurrada nem adianta comentar, não sei o que ela fez, mas mereceu. Também gostei da volta dos Maximizers, ainda que tentassem matar o Rillaboom. O final ficou muito engraçado com elas cantando xD
    Não vou comentar sobre o Nezly, brigada.
    Esse capítulo ficou muito bom, obrigada por ter postado hoje <3

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Kitakami Special #2 - Eu quero um macho

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