♬ Capítulo 58: O Circo de Solaceon!

    Os sons da noite na Floresta de Eterna eram como uma melodia que Lisia aprendeu a apreciar. Já não estranhava quando os Gastly surgiam na área da mansão abandonada, até os cumprimentava e tinha certeza que um deles era uma conhecida sua lá de Hoenn.

    Belle Bellossom estava com as pétalas fechadas, dormindo ao lado de Peta, a Roselia, também com os botões de flor fechados, sob a luz da lua. Mesmo a Beautifly Bow estava sonolenta, embora se esforçasse para continuar uma conversa com Piri, a Pumpkaboo roxa. Em certo momento, seus olhos não aguentaram e também se fecharam.

    Piri compreendeu as colegas, afinal eram todas Pokemon com hábitos diurnos. Ela flutuou até o espaço do gramado onde Lisia, Ali e Magearna estavam sentadas. O bolo confeitado por Raquele estava pela metade, e Magearna terminava de comer mais uma fatia, absorvendo-a com sua mão que se abria como um tubo.

 — Oi, Piri, viu que os Gastly já estão entrando na mansão? — Lisia a perguntou, e a Pumpkaboo balançou-se assentindo. — O que acha de brincarmos com eles?

 — Boo? — Ela ficou surpresa com a proposta, já havia um tempo que Lisia não se mostrava animada com algo assim.

 — Esse bolo realmente me empolgou, estou sem sono algum!

 — Brincar com os Pokemon é parte importante do trabalho de uma Coordenadora, verdade? — Magearna perguntou para Ali, que piou concordando. — Vou acompanhá-las até lá dentro.

 — Sério? Nunca te vi entrando lá — Lisia disse, e Magearna não respondeu, seguindo girando suas engrenagens para a mansão. — Okay...

    Lisia foi acompanhada por Ali e Piri, quando Magearna abriu as portas para entrarem. As luzes estavam acesas e tudo se movia ao som de sanfonas flutuantes possuídas pelos fantasmas. Lisia achou divertido, rindo e puxando por Ali, rodopiando com ela pelo salão de entrada.

 — Altaaa! — Ali ganhava um tom de azul mais escuro nas bochechas, cantarolando com Lisia girando com as mãos entrelaçadas com suas asas de algodão.

 — Haha! Ali, eu te amo! — Lisia disse, abrindo um sorriso. — Obrigada por continuar ao meu lado!

 — Boooo! — Piri flutuou ao redor delas, enquanto Magearna se chegava girando as engrenagens, observando.

    Na presilha de Lisia, sua Key Stone cintilou, bem como a Mega Stone no cordão de Ali. As duas perceberam, afastando-se por um instante, quando a luz de ambas se encontrou, formando fitas coloridas conectando-as. A forma de Ali tremeluziu, começando a se alterar até o símbolo da Mega Evolução ser estampado no ar e a transformação ser concluída.

 — O que é isso? — Magearna levou as mãos à boca. — Como é possível algo assim?

 — Se chama Mega Evolução — Lisia explicou, encostando a testa na de Ali. — É uma transformação temporária que só é possível acontecer quando um humano e um Pokemon compartilham um forte vínculo emotivo, e também precisa dessas pedrinhas chamadas Key e Mega Stone!

 — Todos... os humanos e Pokemon podem fazer isso? — Magearna perguntou, e Lisia coçou o queixo.

 — Não tenho certeza... Mas acho que não. Você gostou?

    Magearna observou Ali voar com Piri pelo salão. Alguns Haunter se revelavam, mostrando suas línguas grandes e provocando-as a brincarem com eles também.

 — Me acompanhe, Lisia. Vou mostrá-la um cômodo.

    Enquanto disparava Dragon Breath contra o Shadow Ball de um Haunter, Ali percebeu Lisia acompanhando Magearna por um dos corredores da mansão.

    Magearna parou no final do corredor, com as mãos juntas na altura da cintura. Lisia seguiu para uma sala ampla e bastante limpa, já que haviam vários instrumentos musicais pendurados nas paredes e nenhum deles parecia empoeirado. O destaque ia para um enorme piano de madeira escura com dois bancos à frente.

 — Magearna... Quem morava nesse lugar? — Ela andava em passos lentos pelo cômodo, como se estivesse tomando cuidado para não pisar em algo que não deveria. Magearna não a respondeu. — Quem... morava com você, aqui? Você mencionou ter uma programação...

 — Essa foi a mansão da família Berlitz — Magearna disse, seguindo com as engrenagens para perto do piano. — Eu fui um presente para eles e os servi desde o primeiro dia, mas a música parou há bastante tempo. Esse espaço está muito silencioso, desde então.

 — E eles nunca te deram algo para comer? — Lisia levantou uma sobrancelha.

 — Você toca piano? — Ela a perguntou, sentando-se num dos banquinhos do piano.

 — Não, desculpa.

 — Não tem pelo que se desculpar — disse, começando a tocar.

    Lisia fechou os olhos, escutando a melodia agradável. Ela os abriu novamente e sentou-se com delicadeza sobre a saia no segundo banquinho, sorrindo para Magearna.

 — Tanto os humanos quanto os Pokemon não possuem programações. — Magearna parou de tocar. — Podem fazer o que quiserem com o próprio tempo... Comer bolo, ir fazer compras em lojas, competir em Contests como Coordenadores e até realizar a Mega Evolução.

    Lisia pensou um pouco, olhando para as teclas do piano.

 — Tem razão, não somos programados. Embora... algumas vezes eu tenha sentido que estava seguindo uma programação. Isso bateu muito forte quando vim para Sinnoh, mas me sinto diferente agora. A última vez que senti isso, foi quando estava começando como Coordenadora. Eu gostava de trazer musicalidade para as minhas performances... Ali sabia vários movimentos de canto, e eu cantava junto com ela no palco.

 — Música — Magearna disse, olhando para Lisia. — Por que parou a música?

 — Conheci alguém que encheu minha cabeça com besteiras, e mudei totalmente o meu estilo, usando golpes solares e brilhantes...

 — Se eu tocar... você canta?

    Lisia observou Magearna com alguma surpresa. Fazia tanto tempo desde que não arriscava sequer cantarolar. A robô começou a tocar, e Lisia respirou fundo, olhando para a parede à sua frente cheia de instrumentos.

 — Quem sou eu quando quem eu sou está mudando? — Lisia começou, acompanhando a melodia.

    No grande salão inicial, Ali sentiu um arrepio, olhando na direção do corredor. Ela desceu para o chão, e Piri veio ver se estava bem.

 — Altaaa...

♬
Eu estou olhando para as estrelas, mas o horizonte está escuro

Mas eu sei o que eu sei, e não tem como voltar atrás

    Deitado na barriga da pelúcia gigante de Snorlax em seu quarto, Barry mexia no Notebook. Digitou "bissexualidade" no navegador de internet e chegou em um vídeo de um perfil chamado "Elesa Galariana" dentro da rede social PikiPek.

 — Percebi que era bissexual aos 13 anos. Meu pai estava sempre ocupado se aventurando, então eu passava muito tempo na casa de uma amiga... Estávamos sempre grudadas, e... um belo dia, nos beijamos, e não foi esquisito. Eu não me senti estranha. Na verdade, foi ótimo! Eu achava que só me sentia assim por garotos, mas aí comecei a sentir isso por garotas também. Foi quando percebi... sou bissexual!

    Barry pausou o vídeo, levantando um pouco a cabeça. Viu Monferno pendurado no armário, dormindo com os braços esparramos no chão. Sua mente o levou para algumas horas antes, quando foi encontrar Brendan depois de enfrentar Katy e ganhar sua segunda insígnia.

    Pulu, Mini e Monferno brincavam de perseguir pelo parque de Jubilife no entardecer. Brendan e Barry estavam deitados sobre uma toalha, com a caixa de donuts restando apenas migalhas. Eles olhavam para o céu laranja, sentindo o vento nos cabelos.

 — Viu o que a Zoey postou no Notável.com? — Brendan perguntou, mostrando o celular para Barry. Era uma foto dela abraçada com Dawn, e na legenda dizia "Namoradas juntas na Copa Argenta! <3". O loiro observou em silêncio. — Parece que elas se assumiram... e vão competir com a gente no domingo.

 — Fico feliz por elas... — Barry suspirou, ainda pensativo. — Eu... Ainda não sei o que eu sou.

 — Está tudo bem, não tem pressa em entender isso — Brendan deitou sobre as mãos, admirando-o. — Eu não acordei um dia e disse "Olha, eu acho que sou gay agora!".

    Os dois riram, ouvindo o barulho de folhas caindo, e provavelmente Mudz havia esbarrado com a mesma árvore pela terceira vez em menos de dez minutos.

 — Desculpa por estar confuso.

 — Eu achei que era eu que pedia desculpas demais.

 — Ei! — Barry riu novamente.

 — Você quer... me beijar? Isso ajudaria?

 — Uau, vai ser assim? — Barry se levantou ao mesmo tempo que ele, rindo.

 — Foi só uma sugestão, mas se você não quer... — Brendan também levantou os ombros, sorrindo de canto.

 — Espera aí. Eu acho que foi uma ótima sugestão.

    Os dois sorriram um para o outro, e aproximaram os rostos. Mas antes que pudessem se beijar, Barry ouviu vozes conversando e viu alguns funcionários do parque passando ao longe. Ele se afastou rapidamente de Brendan, dobrando os joelhos.

 — Ah... — Brendan percebeu a situação, e se ajeitou na toalha, olhando para Barry.

 — Desculpa.

 — Não me pede desculpa, Barry — Brendan sorriu para ele, que o olhou envergonhado até deitar sua cabeça no ombro dele.

 — Crescer bisseuxal é sempre duvidar de si mesmo. Um dia seu crush vai ser uma garota, e no outro, um cara, e você vai pensar "Qual dos dois é? Escolhe logo." Mas aí percebe... não tem uma escolha. É uma mistura dos dois, e está tudo bem com isso. 

    Fechando a tela do Notebook, Barry se ajeitou no Snorlax, olhando para sua cômoda onde estava a capsula de Pokeball e o selo que ganhou de Hayden, ao lado de suas insígnias.

♬

O que eu sou quando o que eu sou é selvagem?

Mais alto do que eu ouso acreditar...

    Na beira de um lago que refletia a lua, tudo acendia-se quando Pulu e Mini davam as mãos e suas bochechas faiscavam, gerando correntes elétricas que dançavam juntas pelo ar. A união delas conseguia desenhar estrelas, e Brendan suava com os óculos pendurados na camisa, coordenando a performance.

    Em certo momento, o garoto sentou sobre as próprias pernas, ofegante. Sentiu um sussurro em seus ouvidos e olhou para trás, não vendo nada, mas sentindo o vento soprando em sua direção. Ele levantou-se, deixando uma marca triangular na grama.

    Movendo suavemente os braços, Brendan formava algumas nuvens e empurrava-as pelos lados. Fez uma espiral de ventos que secou seu suor e deitou-se sobre uma cama fofinha de nuvens, olhando para o céu com poucas estrelas. Pulu e Mini aconchegaram-se junto dele. Conseguia ver a silhueta de Shaymin ao conectar as estrelas, mas parecia coisa da sua cabeça. O raio de Zeraora foi trazido por uma corrente de ar para sua mão, e ele o segurou junto ao peito, continuando a encarar o céu.

♬

Estou descobrindo que ainda posso mudar com o tempo

E está tudo bem com isso...

    Na cama do hotel que estava passando as noites, May encarava o teto, revirando-se sem parar. Ela olhou para o relógio em cima do gaveteiro ao seu lado, percebendo já estar bem tarde. Levou as mãos até a cabeça, jogando os cabelos soltos para trás, perguntando-se porque não conseguia dormir.

 — Evtchoo! — Sua Eevee saltou para a cama, assustando-a.

    May soltou o ar pela boca e sentou-se na cama, encostando as costas na cabeceira. Colocou Eevee em suas pernas, acariciando-a na cabeça, e ficou olhando para o lado de fora pela janela.

♬

    Na sala do piano, Magearna terminava de tocar quando Lisia também parava de cantar, abrindo um sorriso com os lábios juntos, olhando para ela. O silêncio prevaleceu por algum tempo.

 — Magearna, você deveria tocar mais vezes.

 — Também acho que cantar com suas amigas não faria mal para você.

 — Altaaaaria — Ali voou para dentro da sala, com sua Mega Evolução desfeita. — Altaa?

    Acariciando a cabeça de Ali, Lisia tinha as bochechas coradas, olhando para uma partitura presa no piano.

    Pela estrada, um ônibus passava por várias paisagens, e vários Pokemon reparavam nele.

    Sentados juntos dentro do ônibus, Brendan e Barry estavam virados de frente um para o outro, conversando e rindo bastante enquanto também se provocavam, vez os outra se empurrando.

 — Não acredito que você fez amizade com os palhaços depressivos daquele evento — Barry dizia entre risadas. — Você consegue mesmo conquistar qualquer um, né?

 — Não sei se é assim que funciona, maaas, esses palhaços encontraram meu número de alguma forma e me enviaram um convite para participar do novo espetáculo deles, e é por isso que estamos a caminho!

 — Ainda tinha esperança de que estávamos indo para uma sorveteria.

 — Não teríamos saído de Jubilife se fosse para tomar sorvete!

 — Nem se fosse o melhor sorvete do mundo? — Barry abriu os braços e Brendan riu envergonhando pelas outras pessoas, agarrando neles para abaixá-los. Os dois ficaram muito próximos de novo, quando o ônibus passou por cima de algo que o fez balançar. — Ahh!

 — O que foi isso? — Brendan caiu por cima do peito de Barry, corando muito imediatamente.

    Os dois sentiram cheiro de queimado e ouviram outros passageiros comentarem assustados. Não demorou muito para o condutor pedir para que todos saíssem.

 — Vamos nos atrasar se formos esperar outro ônibus nos buscar... — Barry disse, já do lado de fora e de braços cruzados vendo o ônibus fumegando. — Como que isso acontece do nada?

 — Não estamos tão longe de Solaceon — Brendan consultava o mapa no Pokétch. Ele puxou uma Pokeball do bolso, lançando-a para o alto e a pegando de volta assim que abriu e liberou Mudz. — O que acha de irmos de Mudz?

 — Swaaam! — Mudz flexionou os braços, e Barry riu o acariciando na cabeça.

 — Vamos, então.

    Barry agarrou na cintura de Brendan quando os dois sentaram nas costas de Mudz. Eles riram com os rostos próximos, quando Mudz arrancou numa corrida saltitante pela estrada, mas não repararam que estavam sendo observados entre as árvores.

    Um Gliscor sobrevoava a área quando a corrida de Mudz o chamou a atenção.

    Incomodado pela velocidade dele, Gliscor decidiu competir, perseguindo-o até alcançá-lo.

 — Barry, segura firme, vou dar um impulso para o Mudz — disse Brendan sem notar o Gliscor.

    Brendan concentrou-se, fechando os olhos rapidamente. Quando os abriu, soprou para trás, e uma corrente forte de vento fez Mudz sair do chão, ajudando-o a correr por cima das árvores e ainda mais rápido. Gliscor arregalou os olhos não entendendo como aquilo era possível, e sem perceber o caminho a frente, deu de cara no tronco de uma árvore, caindo sentado.

 — Bren! Até que enfim você chegou! — May segurava ingressos para a apresentação do circo, quando Mudz aterrissou. — Não vai dar nem tempo de conhecer a cidade e...

    May falava enquanto Brendan descia, até ela perceber que ele não estava sozinho. Barry veio logo atrás, e quando Mudz foi regressado, seus olhares se encontraram.

 — Ah, ele veio junto... Claro.

 — Barry! — Lisia exclamou, cumprimentando o garoto, e May quase caiu pra trás por ela lembrar o nome dele. — Monferno está bem?

 — Ele está ótimo! Gostei do estilo, esses suspensórios te caíram muito bem.

 — Quando foi que... — Brendan perguntou, chegando perto de May.

 — Não faço ideia... Mas temos que ir para a fila de entrada, vamos!!

    May puxou Brendan pelo braço, que sorriu sem graça para Barry por ela não querer falar com ele.

    Solaceon era uma cidade aparentemente serena, com quase nenhum prédio à vista e muitas árvores e colinas. O circo era uma grande tenda com um letreiro brilhante pendurado com sua própria estrutura, levando o nome da cidade. Havia um palhaço recolhendo os ingressos de todos da fila para entrar, mas uma pessoa em especial estava gritando...

 — Eu não posso esperar mais nenhum segundo para rir ou vou pegar fogo!! — Flint mordia a própria camisa, se balançando no final da fila quando May chegou com Brendan e ele os reconheceu. — Ah!! São vocês!

 — F-Flint! — Barry foi o primeiro a reagir, nervoso na presença do membro da Elite de Sinnoh.

 — Que bom revê-lo, Flint — disse May, apertando a mão dele, mas logo a puxou de volta. — Que isso?! Você está muito quente!

 — Tudo isso é ansiedade para o espetáculo? — Brendan o perguntou.

 — Eu amo o circo de Solaceon! É sempre muito engraçado, o Volkner que nunca entende o humor dos palhaços e nunca quer vir... Mas eu adoro!!

 — Aiii, solteiro? — May escutou a voz de Lisia, e quando se virou a viu agarrada nos braços gigantesco de um homem desnecessariamente alto.

 — Lisia???

 — Gente, acabei de conhecer esse homem delicioso, o nome dele é Ivor — Lisia apresentou o homem, que levantou uma mão maior que Brendan.

 — Ivor — Brendan repetiu, estranhando algo vindo dele. Ele o encarava muito firme.

 — Prazer em conhecê-los — Ivor disse, sem desviar os olhos de Brendan.

 — Está tudo bem? — Barry sussurrou para ele, que não soube o que responder.

    Lisia fazia uma voz esquisita e enrolava o cabelo enquanto se esfregava no homem musculoso que conheceu há dois minutos. Brendan e Barry estavam aos sussurros e risinhos. May não aguentou, cruzando os braços tendo que esperar a fila continuar andando para entrar, quando avistou um conhecido entrando pelos fundos do circo, puxando um carrinho cheio de figurinos.

 — Venezio — o nome dele saiu de sua boca, mais alto do que deveria, e ele olhou em sua direção. Ela acenou tímida, lembrando da última vez que o encontrou na Copa Fantina.

Você não é a única que tenta um estilo único nos Contests. Mas nem todos os estilos funcionam e são bem recebidos, já parou para pensar nisso? É claro que não, você é uma grande exceção, tudo sempre dá certo para o seu lado. Venceu seu primeiro Grande Festival... O mesmo que eu fui eliminado no primeiro round.

    Aquelas palavras a acompanharam por algum tempo, mas tinha esquecido. De repente, voltaram com muita força que a deixou levemente desnorteada. Venezio não acenou de volta, continuando a empurrar o carrinho.

 — Os ingressos! — disse o palhaço quando chegou a vez do grupo.

    Lisia foi correndo para dentro, se balançando no braço de Ivor, e Brendan veio logo atrás com Barry. Flint gravava um áudio para o Volkner, gritando com ele por não ter ido ver o espetáculo. May observou de trás, e parou por um instante antes de segui-los.

    Ao entrarem na grande tenda, o grupo foi recebido por um calor animado, com cheiro de pipoca doce. Não havia cadeiras, então todos ficavam de pé, formando um círculo apertado ao redor do palco principal circular, elevado e iluminado por holofotes coloridos que giravam devagar. Uma banda de Pokemon coordenada por um Spheal tocava uma música alegre e bagunçada nas laterais.

    O espetáculo já acontecia também entre o público. Um Mr. Mime equilibrava-se num monociclo alto, girando pratos com barreiras invisíveis, enquanto um Grumpig sapateava com força, fazendo faíscas ilusórias subirem do chão como se estivesse pegando fogo.

    Brendan avistou os palhaços depressivos de Jubilife, e agora pareciam radiantes. Com maquiagem alegre e sorrisos largos, enchiam balões coloridos e os moldavam em forma de escudos, espadas, flores e até de Pokemon como Purrloin, entregando para as pessoas com gestos exagerados. Ao verem Brendan, correram até ele, apertando os narizes vermelhos em sequência, fazendo "honk! honk! honk!" e entregando um balão em forma de Drampa como boas-vindas.

 — Não é fofo? — Brendan mostrava seu balão de Drampa para Barry, colocando-o próximo do rosto. — Eles devem ter lembrado do Melvin!

 — Dá um sorriso! — Barry pegou o celular, tirando fotos dele com o balão.

 — HAHAHAHAHAHAHAHA! — A risada escandalosa de Flint quase fez Barry derrubar o celular pelo susto.

    O membro da Elite dos 4 de Sinnoh segurava a barriga que já doía de tanto que ele ria de uma Cleffa completamente séria sem entender nada do que estava acontecendo.

 — Brendan! — May abraçou o braço dele, que ainda fazia pose para Barry. — Você não acha que o Harley ia adorar isso aqui? Consigo imaginar ele rebolando com os palhaços!

 — É a cara dele... Quer mandar uma foto pra ele?

 — Você acha que ele não vai ignorar dessa vez?

 — Vale tentar.

    Lisia reparou num Politoed distribuindo saquinhos de pipoca doce. O cheiro era muito tentador, e normalmente ela recusaria, mas...

 — Obrigada! — Ela aceitou a pipoca, e Politoed bateu palmas para ela, quando Brendan e May a puxaram para uma selfie. — Eita, calma, nem tô maquiada!

 — É pro Harley!

 — Ah, então vou fazer carão! — Ela levantou uma sobrancelha, jogando os peitos pra frente e fazendo bico.

    De repente, a música parou e as demais luzes apagaram-se, deixando apenas o palco principal iluminado. Brendan, Barry, May, Lisia, Flint e Ivor se reuniram, com o membro da Elite não conseguindo parar de bater os pés de tão animado.

 — Hm? — Brendan olhou de canto para Ivor, sentindo que continuava sendo encarado por ele.

    As luzes do palco também caíram até os holofotes revelarem uma pessoa no centro do palco. Era Koharu, acompanhada por sua Eevee.

 — Quem é essa palhaça? — Flint cruzou os braços. — Não foi isso que eu vim assistir!

 — Respeitável público! — Koharu exclamou, abrindo os braços assim como Eevee. — É um prazer anunciar que o Vale Eevee agora é parceiro do Circo de Solaceon! Aplausos, aplausos!!

    Uma multidão de aplausos começou, mesmo com a confusão geral pelo que estava acontecendo. Brendan reparou nos palhaços que conhecia terem perdido os sorrisos, assistindo de longe.

 — Eu ganhei a Eevee num evento dela — contou para Lisia, que jogava pipocas para dentro da boca.

 — Gostaria de lembrá-los que as possibilidades são infinitas ao lado de uma Eevee! Então, aproveitem o espetáculo!

 — Eeeeboi! — Sua Eevee ficou na ponta dos pés, levantando as patas num arco assim como Koharu.

 — Eevee é muito superior a qualquer uma de suas evoluções! Eevee, mostre seu Copycat!

    Eevee ganhou uma aura azulada que envolveu seus pelos, fazendo-os balançarem. Ela saltou enquanto uma onda se levantava ao seu redor, e rodopiou junto dela até conseguir se impulsionar para cima, como se estivesse controlando-a do topo.

 — Engraçado, me lembra da performance da Luvdisc do Wallace — Brendan comentou, e Barry concordou.

 — Mais uma vez, Eevee! — Koharu levantou uma das mãos e sua Eevee saltou para cima dela.

    Eevee envolveu-se em eletricidade, disparando-a para todos os lados. A luz amarela misturava-se com a dos holofotes, deixando todo o palco iluminado.

 — Ei! — Lisia percebeu. — Isso é como o "brilho do ouro", a combinação do Chaz com o Meowstic dele!

    Envolta por sombras, Eevee corria ao redor de várias sementes do Leech Seed que acabou de usar, fazendo-as crescerem como raízes cinzentas.

 — É o canteiro prestes a morrer que a Lucy usou de temática na seleção desse ano — May apontou, vendo as raízes criando flores despedaçadas.

    Tendo usado Double Team para se multiplicar por todo o palco, Eevee e suas clones disparavam rajadas de bolhas que aglomeravam-se fazendo um castelo. Em seguida, todas quicavam por cima delas, até as estourarem copiando o movimento Peck.

 — Tenho certeza que já vi a Dawn fazer isso — Brendan disse, e todos se entreolharam, entendendo o que estava acontecendo.

 — Tá, isso é uma palhaçada, mas eu quero ver os palhaços atirando tortas uns nos outros! — Flint reclamou, até que por trás do palco uma projeção começou mostrando um comercial onde várias garotas e suas Eevee estavam felizes em várias situações. — Propaganda, do nada?

 — Bonito esse espetáculo — comentava uma moça com outra.

 — Me deu vontade de ter uma Eevee! — outro rapaz comentou.

 — Ela está copiando performances, uh? — Lisia ouviu alguém dizer, próximo dela. Usava uma jaqueta personalizada e um corte estiloso de cabelo, com dreads caindo por cima do rosto como uma trança. — É fácil reconhecer quando alguém não tem originalidade.

 — É... verdade — Lisia disse, jogando mais pipocas para a boca.

 — E agora eu vou mostrar pra vocês como uma Eevee com Tackle pode mudar o seu futuro! — Koharu exclamou, levantando Eevee novamente, até que tudo ao seu redor começou a incendiar. — Eh...?

 — Gente! — May arregalou os olhos, vendo as lonas pegando fogo e caindo por trás de Koharu.

 — Não estava tão legal mesmo — Flint enfiou as mãos nos bolsos da calça.

 — Que desastre... — Brendan balançou a cabeça, mas reparou no fogo ter tons de roxo nas chamas.

    Antes que Brendan pudesse pensar mais a respeito, a movimentação para deixar o circo começou enquanto vários Pokemon vinham tentar apagar as chamas. Pouco tempo depois, já estavam todos do lado de fora, e ninguém saiu ferido.

 — Aaaaaargh!!! — Flint estava com o rosto vermelho, batendo os pés. — Eu queria me divertir hoje antes de ter que viajar pra Galar!! Eu deveria ficar tranquilo porque vou revê-lo, não era pra ser assim!! Preciso de uma batalha para extravasar!!

    Flint levantou uma Pokeball, mas todos lembravam-se de como ele lutava nesses momentos por conta da batalha que teve com Brendan no Vale Windworks, e ninguém quis se voluntariar.

 — Hm? — May reparou em Venezio com a máscara de sua fantasia nas mãos. — Ei!

 — O que você quer? — Ele a olhou irritado.

 — Eu... Sinto muito pelo que aconteceu com o circo. Alguma ideia do que causou o incêndio?

 — Estavam achando que poderia ser da manutenção incorreta dos equipamentos de luz, mas isso nunca aconteceu antes. Eu tenho certeza que alguém fez isso de propósito com ajuda de um Pokemon... Mas deve ter sido melhor assim. — May ficou surpresa com o que ele disse. — Cada vez menos temos espaço e incentivo financeiro para nosso espetáculo acontecer, dependemos de parcerias horríveis como foi com a Pokétch e agora com essa maluca do Vale Eevee. Ver o circo pegar fogo me fez perceber que talvez seja hora de dar um basta nisso e ir fazer outra coisa da minha vida. Assim como foi com os Contests...

    May não soube o que responder, e baixou a cabeça enquanto Venezio ia embora.

 — Brendan, obrigado por ter vindo, mesmo que tenha sido assim — disse um dos palhaços, acompanhado pelos outros dois. — Talvez tenha sido nosso último espetáculo por algum tempo...

 — Mas vocês vão voltar ainda mais fortes, eu tenho certeza! E vou estar lá pra assistir.

 — Ele é mesmo muito especial... Graças a ele não assusto mais as pessoas!

 — E eu ainda guardo a foto que tiramos! — O outro palhaço piscou para ele.

    Barry sorriu vendo os palhaços acenando para Brendan. A ideia de passarem a véspera das Copas juntos era para terem um dia tranquilo, mas tudo havia acontecido da forma que aconteceu. Admirava como Brendan não estava abalado agora pela mudança, e sentia o impulso de segurar na mão dele, quase como se a sua estivesse sendo atraída. Ele se aproximou, mas então as vozes das pessoas próximas o fizeram parar.

 — Eu não quero saber! Achem o responsável e apliquem a penalidade dele nunca possuir uma Eevee por toda a vida!! — Koharu reclamava com o celular no ouvido, acompanhando enfermeiros empurrando uma maca com sua Eevee enfaixada.

 — Ivor? — Lisia percebeu que ele não estava mais por perto. Ela encarou o saco vazio de pipocas, só com um pouco de milho não estourado. Deixou escapar um suspiro, quando ouviu o som de Pokeballs se abrindo.

*Mantenha em loop clicando com o botão direito sobre o vídeo*

 — E se não deixarmos o espetáculo morrer? — perguntou May. Rochi, Lita e a Eevee estavam com ela. — Essas pessoas queriam se divertir e a gente também! O que me dizem?

 — May... — Lisia levou uma mão ao peito, olhando para ela.

 — O que ela está fazendo? — Venezio parou no meio do caminho.

 — Eu acho que você deveria se apresentar, Brendan — Barry disse, com as bochechas coradas. — Vou te assistir daqui.

    Brendan assentiu com a cabeça, dando um abraço rápido em Barry e correndo para perto de May, arremessando suas Pokeballs para o alto e liberando Mudz, Pulu e Mini.

 — Rochi, use Fire Pledge! — May estendeu um braço, e logo levantou o outro. — Lita, Eevee, entrem em posição!

    Rochi saltou para a frente de May, começando a fazer movimentos de dança sincronizados com ela. A Blaziken levou as duas mãos para a cintura, inclinando o corpo para frente, deu uma volta e abriu seus braços que inflamaram em chamas espiralando pelo ar até se entrelaçarem numa fita. Lita e Eevee observaram encantadas quando os pilares de fogo ergueram-se do chão, mesmo a raposinha parecendo nervosa por ser sua primeira apresentação para com um público assistindo. 

 — Lita, use Gyro Ball! Eevee, Quick Attack!

    Lita foi a primeira a se mover, inflando seu corpo e encantando suas mãos com um brilho prateado. Ela passou a girar e o brilho envolveu todo o seu corpo durante seu caminho contornando os pilares de fogo. Eevee olhou para May, que assentiu para ela e estendeu um braço. A raposinha correu por cima dele, passando por trás de seus ombros enquanto seu corpo era energizado, até saltar também para o topo de um dos pilares como se aterrissasse no fogo.

 — Mudz, quero que agarre Pulu e Mini com seu Mud Slap! — Brendan pediu ao parceiro, que concordou com a cabeça.

    Juntando suas mãos pegajosas, Mudz abriu um largo sorriso quando elas se desfizeram em lama. Ele afundou os braços contra o chão e suas mãos se projetaram como um grande braço de lama, levantando Pulu e Mini na altura dos pilares de fogo de May.

 — Vocês dois, Spark!

    Os dois roedores elétricos deram as mãos, girando sobre a mão de lama enquanto descarregavam eletricidade, a de Mini azulada e a de Pulu amarela. Vestiram as faíscas e se soltaram, impulsionando-se entre os pilares de fogo assim como Lita e Eevee.

 — Está pronto? — May perguntou para Brendan, que assentiu sorrindo. — Rochi, Blaze Kick!

 — Mudz, vá junto do seu Muddy Water!

    Rochi inflamou as chamas de seus braços, flexionando-os quando seus pés ganharam calçados de chamas. Ela juntou as pernas e voou como um foguete.

    Mudz saltou sentindo-se encantador enquanto a lama de seu movimento anterior era lavada por duas correntes d'água, criando uma onda barrosa. Ele a manipulou para que o envolve-se sem que o encobrisse, como uma extensão de seu salto, e cruzou o caminho de Rochi aterrissando cada um em uma ponta diferente.

 — Uau!! — Barry só conseguiu aplaudir, brilhando os olhos.

    Mais pessoas também aplaudiam, gostando do espetáculo de combinações de movimentos, mas Barry escutou alguns comentários que o fizeram parar de aplaudir.

 — Que nojo, Coordenadores...

 — Eles estão sempre chamando atenção!

 — É tão nojento!

 — Quando a Koharu estava copiando performances, nenhum deles reclamou... — Lisia reclamou, quando uma de suas Pokeballs se abriu. — Ali?

 — Altaaa! — Ela levantou voo, girando e Lisia entendeu que também queria participar.

 — Você é Coordenadora? — perguntou a mesma pessoa de antes, e Lisia corou com o susto que levou. — Desculpe, nem me apresentei. Sou Naveen, trabalho como Fashion Designer.

 — Sou a Lisia — ela apertou sua mão, sorrindo. — Eu tenho o título de Top Coordenadora, mas estou um pouco fora do clima dos Contests no momento...

 — Minha intuição não costuma falhar, então vou direto ao ponto... — disse Naveen, prendendo a atenção de Lisia. — Seu estilo de se vestir me chamou a atenção. Estou no processo criativo para a próxima coleção da Elesa, e em breve ela fará uma nova edição de sua Super Copa... Caso tenha interesse, me procure.

    Naveen entregou um cartão de visitas para Lisia com o seu número e sua logo. Ela o pegou, sem saber como reagir, e logo Naveen foi embora.

    Enquanto Lisia tirava uma foto do cartão de visitas, Ali usava seu movimento Refresh enquanto voava, refletindo todos os tons das combinações de Brendan e May. Lita e Mini a chamaram para se aproximar e ela foi, dando carona para elas em suas costas.

 — Se eu não posso ter uma batalha para extravasar, vou ter que me juntar a vocês!

    Flint correu para perto de Brendan e May, que riram enquanto ele liberava seu Infernape e uma Rapidash bem grande. Os Pokemon pegavam fogo exatamente como sempre parecia estar acontecendo com ele.

 — Erhm... — Venezio tinha os braços cruzados, mas havia se aproximado das pessoas que assistiam a apresentação, e May reparou nisso.

 — Sempre tem espaço para mais alguém! — May o estendeu a mão, e ele corou quando suas Pokeballs se abriram, liberando a Gardevoir Tulipa e seu Phantump.

    Rendendo-se, Venezio segurou na mão de May, que o puxou para perto rindo. Seus Pokemon juntaram-se aos demais, usando suas combinações de circo como a torta de Moonblast na cara de Phantump.

    Brendan acenou para Barry, que respondeu acenando de volta. May observou de canto os dois, mas balançou a cabeça e voltou a comandar seus Pokemon.

    Enquanto isso, espiando ao longe, uma garota estava sentada nas velas de seu Chandelure. Ivor juntou-se à ela, e os dois se encararam. 

No dia seguinte, May e eu iríamos participar das Copas de Glacia e Argenta... Não sabia ainda, mas tudo mudaria depois disso. Mas até lá...

Continua