domingo, 3 de março de 2024

Kalos #1 - Para além de Vaniville!



    Kalos, uma extensa região que é sinônimo de paisagens e monumentos belos, cidades com castelos dos tempos de reis e guerras, variedade em cafeterias e fragrâncias de perfume, Furfrou com os penteados mais criativos que se possa imaginar e Vivillon com padrões de asas tão lindos que podem até hipnotizar. Aqui, os Humanos e os Pokemon, com suas diversas culturas, crenças e sonhos, vivem suas vidas dia após dia da forma que melhor preferirem, dividindo tarefas, montando suas famílias, competindo juntos... Com toda a certeza, um lugar empolgante.



    Mas esta história começa num lugar não tão interessante assim. Sem pontos movimentados com diversidade de pessoas, Pokemon e restaurantes, ou brisas perfumadas parecendo guiadas pela música dos violinos. Nessa pequena cidade, tudo é monótono. As mesmas casas antigas para ver, a mesma praça silenciosa com ar estagnado e as mesmas pessoas que cansam a convivência. Provavelmente, até os Pidgey que vinham pedir por migalhas de pão todos os dias eram os mesmos. Esta é Vaniville, ironicamente conhecida por ser o lugar onde flores desabrocham.


    Em uma das maiores casas da vizinhança, uma das poucas com quintal, uma garota de cabelos longos e castanhos estava em seu quarto no segundo andar. Sua pele é de um belo tom de marrom claro e seus olhos verdes, grandes e expressivo, brilhavam cheios de juventude. Seu penteado era um tanto incomum, com mechas que caíam em cascata por seu rosto até a altura dos ombros, acompanhadas por uma franja despenteada que chegava a lembrar uma estrela. Enquanto ela terminava de se vestir, seu celular tocava a música "Eu jogo inseticida", da cantora Allexya Lyandra, um sucesso mundial.
    O quarto tinha as paredes rosas repletas de pôsteres velhos de filmes de comédia romântica estrelados pela atriz Diantha no início de sua vida adulta, e colagens de recortes de revistas e jornais, com fotos de alguns destinos turísticos do mundo, como a vista da Torre Prisma acesa, as pedras energizadas da Caverna Chargestone, o Theatro de Ecruteak e a Igreja de Hearthome. Também haviam roupas para todos os lados, todas muito parecidas, cheias de lacinhos e bem coloridas sem estampas, além de algumas bonecas caídas numa estante. Uma única prateleira por cima de uma escrivaninha cheia de adesivos, tesoura e cola, tinha uma imagem da divindade Arceus, reconhecido por algumas religiões como o criador do mundo, e encostada nela, a capa do CD do primeiro álbum de Allexya.


???: Essa blusinha nova é bem bonitinha mesmo, minha mãe acertou no presente!  falou ela para o Fletchling em seu ombro, que levantou uma sobrancelha desconfiado. Admirava no reflexo do espelho sua blusa rosa cheia de laços pretos, dando uma voltinha e rindo.  Como ela sabia que eu amo lacinhos? Foi você que contou?

~Fleeetch!
  O passarinho dobrou as asas, deixando o questionamento no ar.

    Esta é Leuri Azura, filha de Grace Azura, uma ex Corredora de Rhyhorn que foi bem famosa em Kalos na época que competia. Há pouco mais de uma semana, a garota completou seus 11 anos de idade, e ainda tinham balões por toda a casa. Dizem que dá para conhecer alguém vendo o seu quarto, e no caso de Leuri, era bem verdade. Fascinada pelo que a vida poderia oferecer, não havia aborrecimento maior para ela do que passar todos os dias em Vaniville, onde ouvir a briga da casa da vizinha era o mais interessante que acontecia na sua semana. Como de costume, ela acreditava que seria um dia como qualquer outro, mas mal sabia que a partir de hoje sua vida seria bem diferente.



Capítulo 1 - Para além de Vaniville!

    Leuri desceu apressadamente as escadas de sua casa, acompanhada pelo Fletchling de sua mãe que voou para não se desequilibrar. Ela saltou para o sofá, caindo de barriga nas almofadas dele e rindo sozinha ao ouvi-lo ranger. O passarinho laranja pousou acima da televisão, adormecendo instantaneamente. Estava passando o noticiário e ela revirou os olhos entediada, então procurou pelo controle, o encontrando no tapete entre o sofá e a televisão. Decidida a não se levantar, se esforçou para esticar o braço e tentar pegá-lo, mas acabou caindo de cara no chão e por lá ficou.


Leuri: Eu não aguento mais essa televisão, não tem nada novo passando! Canal de culinária do Siebold com aquele fantoche esquisito de Totodile, reprises das performers fazendo a mesma coisa pela milésima vez, filmes de heróis... Ai, alguém avisa que já esgotaram a fórmula?

    Enquanto Leuri reclamava, Fletchling abre um de seus olhos, incomodado. Ela continua falando sozinha e sem parar, então o fechou mais uma vez, preferindo continuar dormindo.

Leuri: Ahh, de novo isso! Por que será que se recusam a exibir os episódios de Aventuras do Starly Encantado na ordem?  indagou para o Fletchling adormecido.  Eu desisto, não tem nada interessante, já assisti tudo que eu podia e até o que eu não podia!

    Se rastejando para baixo do vidro de uma mesinha de centro, Leuri imitava um Caterpie para passar o tempo. Se Fletchling tentasse devorá-la, pelo menos seria engraçado, mas ele virou de costas, preferindo ver a parede. Será que estava satisfeito com essa vida?

Leuri: Chateada, entediada...  Falava o que agora estava digitando em seu celular.  Frases tristes para status, pesquisar.

    A casa tinha móveis antigos que Leuri não sabia de onde vieram, mas pelo que se lembrava, sempre estiveram ali. Sua mãe presava muito pela limpeza e arrumação, por isso seu Rhyhorn era proibido de passar a tarde dentro de casa, com exceção dos dias de chuva, onde ia para o quarto dela e se escondia por baixo do edredom. A sala unia-se com a cozinha, sem portas para separá-las, e enquanto cozinhava, Grace ouviu a filha resmungando. Ela abaixa as chamas do fogão e aperta o laço de sua calça de moletom, caminhando para perto da televisão. Rapidamente, a menina saiu do chão e voltou para o sofá.

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Grace: Já disse pra você repensar sobre estudar em Santalune, pelo menos iria aprender algo e não ficaria o dia todo reclamando da mesma coisa.  Ela se senta ao lado de sua filha, tomando do café de sua xícara.

Leuri: Desiste, mãe, não vai conseguir me convencer! Imagine ter que ir todos os dias para aquele lugar, ficar horas prestando atenção em alguém falando e ter que socializar com gente chata... Não mesmo, isso não é pra mim!

Grace: Se você acha... Depois não chore quando não souber como treinar um Pokemon  ela ri, repousando a xícara na mesinha.

Leuri: Jamais! Eu ensinei o Fletchling a abrir a geladeira e me trazer sorvete, claro que conseguiria treinar um Pokemon.

Grace: É mesmo? Falando assim até parece desocupada. Cadê seu quarto arrumado? E esses balões por toda a casa, quando vai estourá-los?

Leuri: Se você fechar os olhos, tenho certeza que nada disso te afeta.

Grace: Leuri, Leuri... Eu fico preocupada com você. Está sempre enfurnada naquele quarto, não vê nem a luz do sol.

Leuri: Talvez... eu seja uma vampira e você não saiba!

Grace: Sempre uma resposta que não responde nada... Você é criativa, mas tem que parar de fugir de comprometimentos. Mesmo correndo, uma hora te alcançam.

Leuri: Eu... Eu na verdade queria algo épico, algo fantástico!

Grace: A louça tá lá pra lavar.  A menina franziu a testa quando a viu apontar para a cozinha.


Leuri: Essa eu passo...

"KYAAAAAAAAAAHH!!!!!!"

    Um grito de pavor interrompe subitamente a conversa das duas, que se levantaram assustadas. Fletchling também acordou dando chutes e golpes no ar, achando estar sendo atacado em sonho.

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???: Me larga!!  gritava uma menina de longos cabelos loiros que era perseguida pelo Rhyhron de Grace. Segurava a saia jeans de seu vestido para que não levantasse com o vento.

Grace: Rhyhorn, deixe a Serena em paz! Ela não é comida!!  Ela grita pela janela de casa, repreendendo o Pokemon.

~Rhy? ("Não?")

Leuri: Serena!  Já ela saltou pela janela, chocando Grace. Se ralou no chão, mas levantou desajeitadamente e foi para perto da loira.

Grace: Leuri, nós temos porta!! Cadê a educação que te dei?!

Leuri: Iiih! Volte pro quintal, garoto, vamos, vamos!!  pedia ao Pokemon enquanto empurrava seu corpo pesado, até que ele decide andar por conta própria.


Serena: Ai amiga, obrigada! Queria entender o que esse Rhyhorn tem comigo, toda vez é isso...  Ela terminava de tirar a poeira de suas roupas, então ajeita o chapéu rosa na cabeça, mais calma.

Leuri: Eu lamento muito pela recepção dele, mas ainda bem que você veio para me salvar desse dia entediante! Vamos fazer qualquer coisa, por favoooooor!!

Grace: Serena deve ter passado no laboratório do pai, não foi?  Serena assente em resposta e Grace ri sozinha, então vai pegar um pote de ração para servir Rhyhron no quintal. — Rhyhron fica um pouco agitado quando sente o cheiro de outros Pokemon, você deve estar com vários diferentes nas roupas.

Serena: Deve ser isso, vou começar a trazer meu perfume na bolsa.

Leuri: Eu ganhei um novinho de aniversário que minha tia trouxe lá de Paldea, vou te emprestar!

Serena: Calma!  Antes que Leuri voltasse correndo para casa, ela segura em seu braço. — Acho que vai querer ouvir o que tenho a dizer primeiro. Você lembra do sorteio que se inscreveu no começo do ano?



Leuri: O sorteio do laboratório do seu pai para incentivar jovens a viajarem com um Pokemon... Claro que lembro, penso nisso todos os dias! Mentira, Serena, mentira!!  Emocionando-se, ela começa a se abanar com as mãos.


Serena: Verdade, Leuri, verdade!


Leuri: Eu mal posso acreditar! Mãe, chegou a minha hora, eu vou sair desse fim de mundo!!  gritava saltitando, o que deixa Fletchling e Rhyhron confusos, enquanto sua mãe estava desconfiada.

Serena: Na verdade, 
eu ainda não vi o resultado, mas os dois nomes estão nesse envelope que papai me deu! Pensei em abrirmos juntas enquanto tomamos um refresco, o que acha?


Leuri: Agora mesmo!  Ela já ia com Serena quando ouviu Grace tossindo.  Hehe... Mãe, posso ir?

Grace: Assim está melhor. Vá, mas volte para o almoço!

Leuri: Obrigada, te amo!!

    Leuri se despede com um beijo na bochecha da mãe, correndo para acompanhar sua amiga. Grace relaxou os braços, desejando o melhor para a filha, quando Rhyhron mordeu sua mão e os dois começaram a brigar.


    Um Pokemon... Essa era a desculpa perfeita para Leuri conseguir fugir da mesmice do dia a dia de Vaniville. Lembrava-se do regulamento do sorteio; receberia uma ajuda financeira mensal para cobrir parte de seus gastos durante um ano inteiro. Além disso, teria consigo a nova edição da Pokédex, um dispositivo eletrônico similar a um tablet, desenvolvido por um estudioso de Unova que viajou o mundo inteiro quando vivo para reunir informações de todos os Pokemon que encontrava. Leuri sempre admirou a história dele e talvez gostaria de seguir seus passos.
    As duas amigas giram juntas a alavanca que arriava o portão para o centro comercial de Vaniville, chamado de Aquacorde. Havia um grande muro de pedras coberto por musgo e trepadeiras separando a parte residencial, o que Leuri nunca entendeu, parecia que faziam questão de isolar sua cidade. Elas conversavam, saltitando pela estrada de pedrinhas coloridas, e agora o ambiente ficava repleto de barraquinhas de comerciantes, camelôs e cafeterias pequenas.


Serena: Aaah! Aquacorde é tão mais tranquila do que Lumiose... As vezes sinto que amaria a vida em Vaniville.

Leuri: Quer trocar? Eu que iria adorar estar no seu lugar, vivendo na capital... Lumiose tem tudo, é tão grande que até quem mora lá se perde! — Ela abre os braços para dramatizar. Agora as duas estavam na fila de uma cafeteria, aguardando um Eevee terminar de pagar seu croissant parcelado em três vezes no cartão de crédito. 

Serena: Não sei, eu consigo ver beleza na vida aqui...
  diz mais baixinho enquanto afasta mechas de seu cabelo para que não cobrissem seus olhos. Ela olha rapidamente ao redor de Aquacorde, imaginando o distrito com mais pessoas, música tocando e um evento acontecendo com batalhas entre Pokemon.


    Os desejos da imaginação da loira são cortados quando uma garçonete não muito contente chama pelas próximas da fila. A mulher as acompanha por um tapete florido até uma mesa redonda e arrasta as cadeiras com encostos ornamentados para que sentassem.

Serena: Boa tarde... Bonnie! — A garçonete levanta uma sobrancelha quando ela lê o nome em seu crachá. — Hoje eu vou querer um chá gelado, por favor.

Leuri: Me dá um refresco de Oran Berry geladinho aí! — exclama batendo com as mãos na mesa. A garçonete Bonnie revirou os olhos e foi entregar os pedidos que anotou, quando ela lembra-se que não pegou dinheiro em casa para pagar.


Serena: Okay, vamos lá Ela coloca o envelope na mesa e olha ansiosa para Leuri.

    Muito se passava pela cabeça da garota de Vaniville enquanto Serena lia o que tinha dentro do envelope. Imaginava-se com um Fletchling como o de sua mãe, andando de trem e vendo a paisagem mudando rapidamente, com o rosto colado no vidro e sorrindo com tantos sentimentos que ainda não havia experimentado. Aquela era sua chance...

Serena: Leuri...
  Seu tom de voz foi apreensivo, o que desanimou Leuri imediatamente.

    Ao mesmo tempo, a garçonete acaba se atrapalhando segurando duas bandejas, mas por sorte não derruba os pedidos, conseguindo entregá-los para as meninas. Logo a seguir, seu patrão vem dar bronca nela.

Serena: Eu sinto muito... Mas Leuri, você vai parar de ser desocupada, porque vai ganhar um Pokemon amanhã junto com alguém chamado Calem!!  Ela sorri da felicidade de sua amiga a cada palavra que dizia, então se levanta tão rápido que quase derruba a mesa.


Leuri: Mentira?! Ai, se você estiver brincando...  Perplexa, ela confere na carta do pai de Serena, que a dá um abraço rindo feliz.  Eu nem consigo acreditar!!

Serena: Volta comigo pra Lumiose hoje, que tal? Pode dormir na minha casa para chegarmos cedinho no laboratório!

Leuri: Claro, claro! Só tenho que avisar minha mãe...  Em euforia, ela leva uma mão à testa. Antes que pudesse concluir qualquer pensamento, um Pokemon amarelo salta em seu rosto, a derrubando no chão com o susto.

    Serena grita pela amiga, enquanto a garçonete parava de gravar com seu celular, tendo acompanhado todo o trajeto do corpo até o chão. Seu patrão logo gritou para que limpasse a sujeira.

Serena: Arceus do céu! Você está bem?  Leuri já se levantava, não sabendo o que a havia acertado.


~Helio!! Helioptile!

"É um Pokemon?"

"Quem é esse?"

"Acho que conheço, é ex de uma Chansey amiga minha!"

"Não, esse é diferente."

    Os outros clientes agora se amontoavam ao redor do Pokemon amarelo, que estava tão assustado que só cobriu o rosto com as orelhas e as mãozinhas. Leuri tenta explicar que não se machucou, mas nem a davam ouvidos, então ela sobe numa cadeira.

Leuri: Gente!! É o Helioptile da minha vizinha! O ex da Chansey é o Pidgey Augusto que mora na esquina da pracinha! — Agora que tudo havia sido esclarecido, as pessoas repetiam a informação, tranquilizadas, quando...


~Rhyhorn!!

    Ouviram o chão tremendo e viram Rhyhron correndo na direção do espaço da cafeteria, provavelmente tendo Helioptile como alvo. Este volta a pular no rosto de Leuri, que novamente é derrubada e fotografada, agora tendo dois galos na cabeça.


Serena: O Rhyhorn...

"O que vamos fazer?!"

"Chamem a Campeã!"

"Mas é só um Rhyhorn!"

"E daí? Cadê ela fazendo alguma coisa??"


~Helioo!!

    Atravessado pela coragem, Helioptile carrega suas orelhas com eletricidade, faiscando para todos os lados. Ele mira seu movimento num raio na direção de Rhyhorn, planejando pará-lo.


~Rhy!

    Contra as expectativas do Pokemon, Rhyhorn é atingido pelo golpe, mas não sente dano algum, mantendo sua corrida.

~Helioo!!

Serena: Rhyhorn é imune a eletricidade!  seu anúncio fez Helioptile voltar a entrar em pânico.


    A loira cerra os punhos ao perceber que as pessoas não fariam nada para defender o Pokemon, mas não poderia deixar isso ficar assim. Ela se agacha rapidamente, pegando Helioptile no colo e correndo pelo distrito, fazendo Rhyhorn persegui-la. Não tinha tanta certeza do que estava fazendo, mas seu instinto a movia.

Serena: Você quer?  Ela pergunta ao Rhyhorn assim que sobe num banco quebrado, erguendo Helioptile, nesse momento com o coração super acelerado. O corredor olha para o elétrico, colocando a língua para fora, e o Pokemon finge-se de morto.  Então venha pegar!!


Leuri: Ai...  Tonta, levantou-se e percebeu a situação.  Serena! Santo Arceus, você vai se machucar, o Rhyhorn fica muito agressivo quando quer alguma coisa!


Serena: Eu não tenho medo! Se eu não conseguir lidar com essa situação, eu... Eu nunca vou ser uma Treinadora Pokemon!!

    Leuri sentiu aquele momento durar muito mais do que realmente estava durando. Serena havia gritado a última parte com tanta verdade que a deixou paralisada. Uma Treinadora de Pokemon... É um grande objetivo e, para ela, tão distante.

~Rhyhorn!!!

    O Pokemon não para sua corrida e Serena não pisca nem por um segundo quando ele colide com o banco onde estava de pé, a desequilibrando. Seu chapéu cai para frente e termina rasgando no chifre de Rhyhron, que agora estava preso entre as tábuas do banco ainda mais quebrado. A loira sente seu cotovelo ralando no chão e morde a língua, aguentando a dor. Helioptile, ainda em seu colo, continuou fingindo-se de morto. Mas, diferente de antes, agora as pessoas e Pokemon de Aquacorde a aplaudiam, sorridentes, o que a faz sentir que seu esforço compensou.



Leuri: RHYHORN!! No que estava pensando?! — Assim que se recuperou daquele momento, ela corre em meios aos aplausos e vai ajudar Rhyhorn a se soltar do banco. Ele estava envergonhado, sabendo que tinha exagerado!

    Rhyhorn olha para os lados e vê Serena se levantando, encostando no próprio cotovelo ralado. Ele decide ir até ela para se desculpar, lambendo sua ferida e recebendo um abraço da mesma. Querendo sair dali, deu meia volta para correr para seu quintal, mas ao contrário dele, uma moça chegava no distrito com uma sacola de pano para guardar compras. Assim que vê Helioptile, ela se apavora e corre até ele.


  Helioptile! Meu querido, aquele monstro daquela suja da Grace te assustou, foi?! — Puxou o Pokemon do colo de Serena, não a deixando explicar nada.  Mamãe ama muito você e vai te proteger! Aquele Pokemon é louco igual os que moram naquela casa com ele! Vou fazer a denúncia e comprar uma casinha nova pra você, meu neném, com tudo que quiser!

~Helio...  Mesmo assustado, ele acaba relaxando com todo o carinho que a vizinha de Leuri o dava.

Leuri: Josy, você deveria agradecer à Serena por ter te ajudado! — A vizinha a olha com desprezo, da cabeça aos pés.

Josy: Ralé, você vá procurar o que fazer, pra início de conversa! Segundo, não te autorizei a me criticar, tá achando que é quem? Vamos Helioptile, não se misture com essa descabelada e a amiga dela pedinte.


Serena: Ela tentou me ofender me chamando de pedinte?


Leuri: Só ignora, ela é uma chata!

    Josy voltava para Vaniville, paparicando Helioptile. Serena o olha com um sorriso compreensivo, mas para a surpresa dela, o pequeno acenou por cima do ombro da mulher, agradecido. Sentindo um calor a invadindo no peito, ela deu alguns passos para frente e acenou de volta, ainda mais contente. Leuri a olhou de canto, gostaria de entender aquela sensação.


Bonnie: Vocês duas Ela cutuca Leuri e Serena, que se viram preocupadas já que haviam derrubado mesas e Leuri nem tinha pago ainda seu refresco.  Todos nós da Cafeteria Aquacorde agradecemos por terem nos salvado daquele Rhyhorn, principalmente a você, loirinha, você foi incrível!

Serena: M-Muito obrigada!


  Com licença  pede um homem muito alto de cabelos e barba laranjas, levantando-se de uma das mesas da cafeteria. A jaqueta de couro felpuda o diferenciava dos cidadãos de Vaniville, provavelmente sendo de alguma grife.  A escutei falar que quer ser uma Treinadora Pokemon. Se me permite elogiá-la, você leva jeito para isso, foi mesmo muito inteligente ao lidar com aquele Rhyhorn, além de ser dona de uma grande beleza.

Serena: Estou ficando muito envergonhada com todas as pessoas falando comigo! Obrigada moço, eu só senti que deveria e... fiz!

Leuri: Ah! Seu chapéu!!
  Ela o pega, reparando no rasgo nele.

Lysandre: Chame-me de Lysandre, apreciador de tudo que é belo. — Com um sorriso, beijou a mão de Serena.

Leuri: Onde foi que já ouvi esse nome antes?  Ela olhou com mais atenção ao rosto do homem alto, que ainda segurava a mão de sua amiga, fascinado por ela.

Lysandre: Você compartilha do objetivo dessa corajosa garota? — voltou-se para Leuri, que aponta para si mesma, confusa.

Leuri: Eu não... Quer dizer, eu nunca... Nunca pensei nisso.


Lysandre: Acho bom começar a pensar, ou não vai ter dinheiro nunca para pagar seus lanches.  diz, entregando uma nota de 50 para Leuri, que se espanta com isso.  Peçam o que quiserem, por minha conta.

Leuri: Muito obrigada, senhor! Já te considero um dos meus melhores amigos!

Lysandre: Considere como uma forma de agradecer.
  Apoiando o queixo nas mãos, Lysandre mantém seu sorriso, agora maior ainda ao ver as duas garotas se animarem por terem dinheiro para o lanche.


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    Ambas festejaram naquela cafeteria, pagando até mesmo um macaron para a garçonete Bonnie, que tirou uma foto com as duas e postou em suas redes sociais. Lysandre divertiu-se vendo-as empolgadas, o espírito descontraído e inocente delas o fazia projetar-se quando mais jovem, numa memória com um Litleo olhando para um campo florido, onde pegava uma única flor com pétalas vermelhas por cima e pretas por baixo.
    Uma hora se passou e as duas já haviam almoçado na casa de Leuri. No quarto dela, Serena estava sentada em sua cama, abraçando uma squishmallow de Swinub. A menina tinha dificuldades em decidir o que levaria em sua mochila, de alguma forma parecia apreensiva com a ideia de deixar sua casa, mesmo sendo o que mais desejava ultimamente. O que a vida para além de Vaniville poderia oferecê-la?

Serena: Está tudo bem, amiga?

Leuri: Não se preocupe, eu só... Espero estar fazendo a coisa certa. Ainda não sei o que quero fazer de verdade quando estiver viajando.

Serena: Você poderia ser uma Treinadora... Ou uma Performer, já imaginou?

Leuri: Cruzes, tá repreendido!  As duas riem e Leuri se sente mais tranquila, fechando a mochila. Ela pega um terço, uma bíblia e seu CD da Allexya Lyandra, colocando-os numa bolsinha transversal rosa.  Acho que é isso, estou pronta...!

    Parada e encostada na porta do quarto, Grace tinha os braços cruzados e um sorriso compreensivo. Fletchling estava em seu ombro, e Rhyhorn ganhou permissão para subir, olhando confuso para Leuri arrumando suas coisas. Quando Leuri se virou e viu a mãe, não precisaram falar nada, apenas se abraçaram.


Grace: Estou tão feliz por você, filha... Mesmo que tenha se safado de arrumar seu quarto!

Leuri: Obrigada, mãe! Eu prometo te ligar sempre, vou falar sobre tudo que acontecer e mandar fotos dos lugares que eu passar.

Grace: Haha! Vou fingir que acredito que você vai lembrar disso! Mas... Por favor, tome cuidado. Tenho algo que pode ser útil para vocês duas.  Ela entrega um dispositivo azulado para Leuri, que não o reconhece. Serena também vem ver do que se tratava.  É um mapa eletrônico. Com ele, não vão se perder em lugar nenhum. Podem consultar os caminhos menos perigosos até Lumiose, sei que tem uma rota contornando a floresta de Santalune e... Okay, eu estou me preocupando demais, confesso que me pegou de surpresa.


Serena: Eu conheço o caminho, pode ficar tranquila, é seguro. Chegaremos em Lumiose de noite se sairmos agora.

Grace: Leuri tem sorte de ter uma amiga tão boa.
  Ela dá um beijo na testa da filha, antes de separá-la do abraço.  Tudo bem, é melhor irem então!


Leuri: Só mais uma coisinha antes! Serena, me dê seu chapéu!

Serena: Eu já vou jogar fora, tudo bem.

Leuri: Imaginei que fosse, aí tive uma ideia.

    Leuri coloca o chapéu rosa de volta na cabeça da amiga, que sente-se queimando com a aproximação. Ela então amarra um lacinho preto ao redor dele, cobrindo assim a parte rasgada.

Leuri: Eu passei a vida enrolando... E ultimamente tenho pensado em como não tive aquela sensação de estar com os meus olhos brilhando em momento algum.  Terminava de amarrar o laço, ajeitando-o. Ela se afasta de Serena, sorrindo Te vendo hoje, decidi que agora é o momento de me entregar nessa viagem! E eu quero fazer isso com você!!


Serena: Leuri...  Ela vê seu reflexo no espelho de Leuri, tocando o laço preto que dava uma volta em seu chapéu.  Obrigada, ficou perfeito!

Então... As duas partiram de Vaniville!


Grace: Leuri, não me faça ter que ir atrás de você com uma panela na mão! — gritava na porta de sua casa. Rhyhorn e Fletchling também desejavam uma boa viagem, emocionados.  E não fale com estranhos!!

    Pensando nas últimas palavras de Leuri para Serena, Grace relaxou os braços, deixando as lágrimas rolarem por seu rosto. Vaniville não tinha mistérios, e Leuri queria ver, queria estar, queria ser. Ela sempre soube que um dia a vida se abriria para sua filha e só desejava que ela se entregasse como disse que ia. Sabia bem a sensação de estar numa corrida, vivendo mil e uma emoções de uma só vez. As duas passaram do portão de Vaniville e o destino delas era o mundo.


Grace: E... Eu te amo, Leuri.  Ela enxuga o rosto e olha para o céu alaranjado.  Seremos só nós três agora.

~Rhy!

~Fletchlin! ("Eu fico com o quarto dela!")

    O tempo passou e logo o dia chegava ao fim. Já estava de noite e agora Leuri e Serena caminhavam pelas extensas avenidas da capital de Kalos, utilizando do mapa eletrônico que projetava hologramas das ruas para não se perderem. Serena reconheceu o caminho e puxou por sua amiga, as duas correram por uma praça bem iluminada e, quando Leuri se deu conta, saíram perto do centro da cidade, onde ficava a maior construção de toda a região.

Leuri: A Torre Prisma...
  Ela já a havia visto de dia, mas agora era diferente.  Ainda está apagada... Então...


    Diante delas, toda a estrutura da Torre começou a se acender. Haviam muitas outras pessoas e Pokemon por toda a área que a rodeava. A garçonete Bonnie, com os cabelos soltos e com os primeiros botões do uniforme abertos, bastante exausta. Lysandre, o homem alto que pagou o lanche de Leuri e Serena na cafeteria. Um menino baixo de casacos azuis, acompanhado por uma Furfrou de pelos compridos que cobriam seu rosto. Uma mulher com os cabelos loiros presos num rabo de cavalo, patinando com seu Lucario. E, disfarçada num sobretudo e chapéu preto, outra mulher de cabelos curtos e cacheados, que retirou seus óculos escuros, parando com uma Gardevoir. Em poucos segundos, mas muito belos, toda a cidade estava iluminada.


Serena: Na véspera de dias importantes, eu gosto de assistir as luzes da Torre Prisma se acendendo antes de ir dormir.

Leuri: É diferente assistir do que ver nas fotos... Foi muito lindo.  Serena sorriu ao vê-la com as duas mãos entrelaçadas na altura do peito. Ela fecha os olhos e parece desejar algo com toda a sua força.

Serena: Nossas vidas vão mudar amanhã quando conhecermos nossos Pokemon. Imagine as aventuras loucas que teremos?


Leuri: Assim não vou conseguir dormir!

    Dessa vez, Leuri tinha os olhos brilhando e não por conta das luzes, mas pelo momento que vivia. Já começava a sentir as portas se abrindo para ela. O vento balança seus cabelos e Serena segura em seu chapéu para que não voasse.


Leuri: 
Sinto que hoje tudo está me dizendo que existe um caminho... Me sinto tão bem! Eu estou pronta para conhecê-lo! A aventura incrível que eu tanto queria... Vai começar agora!

Continua


5 comentários:

  1. Aaaa aqui estou eu, finalmente consegui voltar a ler Leuri! Em primeiro lugar queria dizer que sua escrita é uma delícia Davi, e vc dá ótimos tons de comédia nos momentos certos (como Leuri reclamando e os pokés julgando a mãe dela kkk) Kalos é minha região favorita e XY meu jogo favorito então já tô me sentindo super por dentro da história. A jornada da Leuri finalmente vai começar, eu amo a personalidade dela e estou louca pra ver qual vai ser seu primeiro pokémon! Mais tarde já leio mais um capítulo, tô amando!

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    1. Luccy, nem acredito que gostou disso, mas fiquei muito feliz por saber que sim <3 Leuri é mais simples e bobinho mesmo, principalmente em Kalos onde ela estava começando, mas mesmo assim quero passar algo nos capítulos que for escrevendo. Kalos é maravilhosa e adoro escrever por lá, a região é perfeita <3

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  2. Ai esse capítulo me confortou tanto, vc nem tem a noção do quão eu precisava disto hoje xD
    Leurizinha retomou ao começo e adorei, você adaptou o estilo normal da Leuri Hoenn com o estilo descritivo de Break e deu uma mesclação muito boa.
    Recruta 2 - Lindona Origins foi otimo, agora que tem a história toda feita pode usar mais detalhes no passado para ligar tudo melhor =P Also Lysandre estação HD vendo a Serena e pirando... medo, tenho muito medo xD
    Sério adorei esse capítulo e a ideia de um recomeço me agrada muito, as you know...

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  3. Nostalgia pura <3 Nostalgia demais <3 Que sensação incrivel é essa, a sensação de ver o inicio de tudo é como seu tivesse pegado o anime de Pokémon e começasse a rever claro que Leuri é muito melhor que o anime Pokémon. Eu gostei demais desse primeiro capitulo e de toda a nostalgia que ele trouxe, principalmente na parte em que Leuri e Serena estavam vendo as luzes da Torre Prisma pra mim uma das cenas mais nostalgicas se não a mais nostalgica adorei ver a Grace e os Pokémon, adorei ver todos personagens, e como a Katie falou eu tenho muito medo desse Lysandre todo cheio de graça com a Serena. Outro ponto que vai ser muito rever a jornada da Leuri e dos demais personagens em Kalos, bom para entender ainda mais a história num todo e pra quem começou a ler Leuri em Hoenn, vai ser uma ótima oportunidade para conhecer a origem da Leuri, Serena, Diego, Carbink, Korrina entre outros personagens, adorei a ideia e ansioso para mais doses de nostalgia <3 Continuaaaa <3

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    1. Se o capitulo já era tão bom antes, agora tá ainda melhor <3 Gostei das mudanças, em algumas falas e principalmente nas descrições, as descrições estão muito boas. Sério dava pra imaginar tudo e foi um mergulho no mundo da Leuri e a vida que ela tinha antes de sair de Vaniville. Adorei o perfume de Paldea e o lance do caminho, sinto que foram referências a fic de Paldea :P E eu acho o meu comentário de quase 2 anos atrás ainda vale de certa forma para algumas situações do capitulo. Sério foi muito bom reler o capitulo e sentir essa dose nostalgia que é sempre muito bom :3

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Capítulo 113: Eu, você e o urso!

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