Capítulo 85: A batalha de corcéis.

    Nuvens roxas cobriam o céu da Crown Tundra, afastando até mesmo a nevasca. A grande árvore do Santuário da Coroa refletia o mesmo tom. Calyrex despertava nos braços de Drizzile, que tinha Cloyster ao seu lado. O Rei voltou a olhar para a criatura que voava girando de cabeça para baixo, rodeando Marnie, esta agora montada em Spectrier, a metade sombria e vazia de seu antigo corcel.

 — O que foi, Calyrex? Não gosta de diversão? 

~Myah? — Meowth perguntou para o Rei, que levou uma mão ao peito e se ergueu.

Calyrex: Você deveria ter morrido no túnel! Como ousa tentar a minha súdita?!

Marnie: Ele não me tentou, só me fez enxergar de verdade. Você estava nos enrolando o tempo inteiro, fui ingênua de acreditar que poderia me ajudar. Mas agora não importa mais, Spectrier vai me levar até o altar! — Ela bateu as rédeas do cavalo, mas nada aconteceu.

    Leuri abriu os olhos, sendo protegida por Grapploct. Os dois pensaram que algo aconteceria, como outro pulso sombrio. Marnie voltou a tentar fazer algo, mas nada acontecia.

Calyrex: Certo, não sabe ativar seus poderes... — disse, se aproximando com uma mão para trás e a outra estendida. — Escute, eu ainda posso ajudá-la. Sei que minhas intenções não foram tão... Esclarecidas, mas agora eu entendo.

    Olhando para a mão de Calyrex se aproximando, Marnie também estende a sua, mas então o surpreende ao puxá-lo para perto. O Rei engole em seco e ela o vira, vendo uma lâmina de raízes verdes em sua outra mão.

Marnie: Mentiroso! — gritou e Spectrier relinchou, emitindo um pulso sombrio que cerca o corpo de Calyrex, mas ele consegue se livrar, caindo na neve.

Leuri: Calyrex, isso não ajuda! Você tentou enganá-la de novo!

Calyrex: Eu sinto muito, mas não posso deixá-la sair daqui com Spectrier! — Desenhando um arco de flores no ar, os olhos de Calyrex acendem-se. Ele clama pelo poder da natureza e levita na altura de Marnie, então os cristais de sua capa se levantam, balançando como sinos. Ele cerra os dentes e uma onda de flores com espinhos se projeta contra a garota.

    Surgindo na frente de Marnie, a criaturinha ri e gira de ponta cabeça, revelando um ferrão em sua cabeça que espalha um fluido roxo contra as flores. Leuri arregalou os olhos quando as viu murcharem e escurecerem suas pétalas. Os espinhos cresciam e se voltavam contra Calyrex, que estendeu as mãos e as desfez em pó.

Calyrex: Glastrier!

    A coroa de Calyrex acendeu-se e ondas psíquicas chegaram até o corcel de gelo. A sombra do que deveria ser um de seus olhos acendeu-se e ele galopou para frente, formando cristais de gelo no ar.

    Mergulhando para dentro dos cristais, a criatura rodopiou com eles, sussurrando algo que os fez voltarem contra Glastrier. Este foi atingido, tombando, mas Calyrex puxou outra espada de raízes, investindo contra seu oponente no ar. Entre as risadas dele, tentava acertá-lo, mas seus bracinhos eram resistentes e ele os usava como lâminas duplas.

Leuri: Meowth, isso tem que parar! Metal Claw!

    Assentindo, Meowth raspa as garras no chão. Elas reluzem em metal e ele se impulsiona pelas pilhas de feno, agarrando a criatura pelas costas. Porém, o ferrão dela se entorta e dispara mais do fluido, o qual ele se esquiva, deixando que caia e corroa o chão. Leuri engoliu em seco, vendo um buraco se abrindo e continuando, parecendo não ter fundo.

Leuri: Você é um Pokemon? — perguntou, ouvindo as risadas. Ela se volta para Marnie, que continuava tentando fazer Spectrier ativar seus poderes.

    Recebendo uma investida e sendo ferroado, Calyrex cai próximo de Glastrier, com as raízes formadoras de sua espada tornando-se pó. Ainda não tinha todo o seu poder de volta, mas esforçou-se para levantar, vendo Grapploct e Meowth combatendo seu inimigo. Ele levitou até Marnie, que o olhou com ódio.

Calyrex: Escute... Marnie. Quando Eternatus foi selado, não foi uma tarefa simples. Houveram muitas, hm... consequências. Todos perdemos algo naquele dia... Para mim, foi o meu corcel e parte dos meus poderes.

Marnie: E eu deveria te dar um abraço por me contar isso?

Calyrex: Não... Mas ouça, parte do seu irmão também foi selada pelo altar. Quando isso aconteceu com o meu corcel, eu usei o meu poder de purificação para separá-lo em dois. Uma metade é a parte que o altar prendeu, mas ela continua viva. A outra é Glastrier. Eu sei que Spectrier pode acessar aquela dimensão, com a ferradura é mesmo possível, mas é perigoso demais! Talvez fique presa para sempre! Desista, me devolva a ferradura e vamos tentar de outro jeito!

Marnie: Quem se importaria com isso? Eu já estou tão vazia que não faria diferença!

Leuri: Isso não é verdade! — gritou, ficando ao lado de Calyrex. Marnie franziu a expressão, séria, quando a viu segurar no pingente do colar que a deu. — E a viagem de melhores amigas? Eu vim até aqui com você! Não vou deixar que fique presa com Eternatus ou o que tiver lá dentro! Precisa parar!

    Fechando os olhos, Marnie absorveu o que ouviu, respirando fundo. Mas pegou numa de suas Pokeballs, a maximizando. Leuri a olhou com receio.

Marnie: O que precisa parar é esse pensamento de sermos amigas! Diego e Carbink a ignoraram por anos e você veio correndo atrás deles, eu fiquei ao seu lado desde o começo, em cada viagem e momento que passamos juntas, mas quem queria ao seu lado não era eu, era? — Ela apertou a Pokeball com mais força. — Você nunca me priorizou em nada. Eu pensei que se esperasse, ia conseguir algo, mas essa eu não existe mais. Agora eu consigo sentir o poder do meu desejo realizado, eu finalmente sou forte e não preciso mais de ninguém.

    Levando a mão até seu peito, Marnie continuava séria, mas Leuri arregalou os olhos quando viu sua Wishing Star. Estava obscura, não mais vermelha, e podia sentir que o poder que irradiava dela não era bom apesar de ser intenso.

Calyrex: Oh... — Ele afastou-se, também puxando Leuri. — Ela cedeu, seu desejo está corrompido!

 — Eu dei uma mãozinha ou duas! — Rindo, ele rodopiou e rebateu Meowth e Grapploct para o chão.

Marnie: Responda ao nosso desejo enfim atendido — disse e a Wishing Star reluziu em sombras, enviando-as para a Pokeball em sua mão. Esta ganhou o aspecto de uma Dusk Ball. — Liepard!

    Materializando-se em sombras, Liepard olhou confusa para Marnie, mas seus olhos se dilataram e ela balançou a cabeça, rosnando para Leuri.

Leuri: Marnie, eu não quero lutar contra você! — exclamou, levantando uma Pokeball.

Marnie: Que pena, porque eu não vou desistir do que pretendo! Liepard, Night Slash! — gritou, estendendo o braço com as sombras escaparem da Wishing Star.

~Lyaaah! — Recolhendo as sombras, Liepard desfaz suas garras nelas, saltando contra Leuri.

Leuri: Frogadier, espuma! — Ela arremessou a Pokeball, encarando a felina se aproximando.

    Se materializando no chão, Frogadier afunda as mãos no monte de espuma de suas costas, espremendo um grande pedaço dela entre seus dedos e deixando pedaços menores voarem contra Liepard. As sombras deixaram suas garras para corromper a espuma e ambos os Pokemon se encararam.

Marnie: Forte, não acha? Você e seu Frogadier ensinaram esse golpe para Liepard quando ela ainda era uma Purrloin. Agora vamos usá-lo para te derrotar.

Calyrex: Cuidado, o desejo corrompido fortalece seus Pokemon — avisou para Leuri, que assentiu sem deixar de olhar para Marnie. — Vou cuidar do meu velho oponente, foque em parar a menina!

Marnie: Devo achar engraçado vê-los tentando me parar! Drizzile, Cloyster, respondam ao desejo!

~Drizz?!

~Cloy?!

    Os dois Pokemon se olharam, não querendo lutar contra Leuri. Marnie continua os chamando, com o braço da Wishing Star estendido.

Leuri: Isso é deprimente, eu pensava que fosse aprender a tratar melhor seus Pokemon... — Ela também respira fundo, mudando seu semblante para lutar a sério. — Frogadier, forme um Water Pulse duplo!

    Colando suas mãos e as separando, Frogadier forma um grande pulso d'água entre elas. Ele expande seu poder, dividindo-o em dois do mesmo tamanho. Marnie levanta uma sobrancelha, tentando prever o que ela faria.

Leuri: Aerial Ace!

    Energizando suas pernas, Frogadier foca sua visão em Liepard e salta alto com os pulsos nas mãos. A energia dos golpes se une e seus pulsos rodeiam seu corpo acelerado. Assim, investe contra sua oponente, que não consegue desviar e desliza pelo chão até bater de costas numa coluna de gesso.

Marnie: Rápido...

Leuri: Continue com Aerial Ace.

    Rodopiando no ar, Frogadier foge da visão de Marnie, que só volta a encontrá-lo quando estava diante de Liepard. A felina se arrepiou com o susto, mas recebeu um chute na barriga.

Leuri: Ice Beam para luvas de gelo!

    Cristalizando o ar, Frogadier soprou gelo e levantou suas mãos, congelando-as para formar um bloco em cada. Usando-os como luvas, ele passa a socar rápido o rosto de Liepard, que resistia e grunhia de dor. Marnie arregalou os olhos e Leuri cerrou os punhos.

Leuri: Aerial Ace!

    Dando socos com as duas mãos nas bochechas de Liepard, Frogadier rompe os blocos de gelo e os pedaços caem pelo chão. Ele gira na ponta de um só pé, agrupando os ventos e erguendo sua oponente do chão.

Marnie: Assist! — Desesperada, gritou o comando.

    Três patinhas de energia se formaram diante de Liepard, embaralhando-se ao redor dela. Com muito esforço pela pressão do Aerial Ace, ela agarrou em uma delas. Suas garras e músculos se fortaleceram e ela liberou grande energia, desfazendo o movimento de Frogadier e caindo por cima dele, devolvendo os danos que sofreu em arranhões furiosos.

Marnie: Play Rough — reconheceu o golpe de seu Morgrem, suspirando.

Leuri: Frogadier, Night Slash!

Marnie: Mude para Night Slash também!

    Frogadier e Liepard se distanciaram minimamente e recolheram sombras de diferentes direções. O sapo formou um sabre enquanto Liepard as uniu com suas garras. O olhar dos dois se encontrou quando colidiram os movimentos, deixando um pulso de energia escapar para os dois lados, balançando os cabelos de Leuri e Marnie. Continuando a colidirem seus movimentos, levavam o combate para outros cantos do santuário. Em algum momento, Frogadier se encurralou numa coluna de gesso e Liepard tentou usar as garras em seu pescoço, mas cortou metade da coluna, fazendo o santuário tremer.

~Driiiz!! — Drizzile fugia das colunas caindo e dos movimentos que falhavam da disputa da criatura sombria com Calyrex, Meowth e Grapploct. Cloyster saltitava ao seu lado, também com medo. Seus olhos encheram-se de lágrimas e Marnie sentiu-se contagiada, olhando na direção dele.

Marnie: Você pode ser útil e parar de chorar e se lamentar por um momento! — Ela estendeu seu braço de novo e sua Wishing Star continuava obscura. — Fique ao meu lado e lute como meu Pokemon! Não é isso que queria?

~Drizz? — Ele para de correr, com Cloyster parando a seguir e olhando em seu rosto.

~Cloy! Cloyoyoy!

Marnie: Você não precisa de um balde ou do Cloyster para o que pode fazer sozinho — disse e Drizzile a olhou, surpreso. — Sinto que posso realizar desejos, não mais esperar que se realizem sozinhos... É um poder incrível! Venha, Drizzile!

    As sombras da Wishing Star de Marnie traçam caminho até Drizzile, com Cloyster o gritando sem parar para chamá-lo de volta. O olhar do Pokemon dilatou e sua franja caiu por cima do rosto, então formou um balão d'água e o explodiu contra seu antigo amigo, o empurrando para trás.

Marnie: Isso! — A Pokeball de Drizzile também tornava-se numa Dusk Ball, mas ela pegou a de Cloyster com as mãos. Encarando o olhar assustado do Pokemon, ela a apertou tão forte que se estilhaçou, com os pedaços caindo no chão.

    Vendo os pedaços de sua Pokeball caídos no chão, Cloyster ficou sem reação, esquecendo até do combate que se estendia pelo santuário.

    Com outro comando de Marnie, Drizzile formou novos balões de água, agora mais fortes, disparando-os contra Cloyster.

    Agarrando-o e rolando para perto de Leuri, Grapploct o protege. Cloyster lacrimejava e Leuri tocou em sua carapaça, sem deixar de olhar para Marnie.

 Leuri: Ficará seguro aqui, vamos protegê-lo — disse e Cloyster reparou em Grapploct se rastejando para a frente dela, com Meowth saltando para o seu lado e Frogadier ficando no meio dos dois.

    Do outro lado do campo, Marnie, ainda nas costas de Spectrier, estendeu o braço. Liepard ficou em sua frente, com Drizzile junto dela.

    Disparando seu fluido corrosivo, a criatura que Calyrex enfrentava voltou a girar, o espalhando pelos cantos do santuário. Mais pilares se corroíam e a estrutura ameaçava desabar, o Rei sentia que parte dele ia junto, mas precisava continuar o enfrentando com o poder que lhe restava.

    Montado em Glastrier, Calyrex ergueu sua espada de raízes. Esta se cristalizou para assumir a forma de uma lança de gelo, inspirada pela cenoura que ele tanto gostava de comer. A usou para repelir o fluido e investir contra seu oponente, o pressionando contra a parede. Ele usava seus bracinhos para empurrar o corpo da lança para que seu corpo não fosse atingido.

 — Você sabe que nós dois estamos fracos... Do mesmo jeito que enganou essas garotas para conseguir o que quer, também tenho meus ideais! — exclamou para Calyrex, que tinha os olhos acesos e colocava mais força para empurrar a lança. — Diversão não tem preço, meu velho amigo!!

Calyrex: Cale a boca, besta viscosa! Não vai conseguir corromper os meus ideais — gritou pela telepatia, ouvindo as risadas. Ia perdendo sua força, então o rebateu com a lança.

    A estrutura do santuário começava a desabar por completo e Marnie galopou com Spectrier para deixar o local. Seus Pokemon a acompanharam e Leuri a seguiu junto dos seus. Calyrex apontou para fora e seu cavalo obedeceu, indo embora, mas o deixando para trás. A criatura roxa se levantava no chão quando um bloco de gesso do teto caiu à frente dela.

 — Está louco, Calyrex?

Calyrex: Você não vai vencer... — Ele levitou até a frente da criatura, que olhou para cima, vendo o restante do teto caindo. — Poipole.

    Os dois são cobertos pelo gesso. Do lado de fora, Leuri, eufórica, olha para a estrutura em ruínas. Mas ela escuta uma voz a chamando e se vira na direção do túnel que a trouxe até ali.

Rose: Leuri! — Na entrada do túnel, ele era acompanhado por Peony, Michelle, Nia e o Heatmor.

Leuri: C-Chairman?! — Ela desviou o olhar para Marnie e Rose entendeu, arregalando os olhos.

Marnie: Isso fica mais interessante agora... — Ela olhou para Rose e ergueu uma Dusk Ball.

    Liberando Morgrem, Marnie o comanda para atacar e ele obedece sem pestanejar, esticando seus cabelos contra Rose. Michelle se coloca na frente dele, comandando Heatmor para o combate. Este cospe chamas, mas os cabelos se agarram em seus braços e Morgrem se impulsiona para perto dele, o arranhando no peito e derrubando-o nos braços da pesquisadora.

Leuri: Deixe eles em paz, Marnie! A luta é nossa! — gritou para a garota, que a olhou com raiva.

Marnie: De novo você definiu suas prioridades! Morgrem, acabe com eles!

    Afiando suas garras, Morgrem amedronta o grupo. Peony levanta uma Pokeball, esticando um braço à frente de Nia.

Leuri: Meowth... Não há momento mais certo do que quando se deve proteger seus amigos, entendeu? — disse para o gato, que percebeu lágrimas em seus olhos. — Não vamos... Deixar que mais ninguém se perca, Meowth! Esse é o momento! Esse é o seu momento!

    Ouvindo, Meowth afia suas garras corroídas por Poipole. Mesmo assim, ele arqueia as sobrancelhas e corre pela neve, deixando suas pegadas. Liepard tentou o impedir, mas Frogadier laçou o pescoço dela com a espuma.

Rose: Saia, Meowth, podemos lidar com isso! — exclamou, desviando de Morgrem, que tinha as Pokeballs dele e de Peony presas em seus cabelos.

    Morgrem ia desferir um arranhão no paletó já rasgado de Rose, mas Meowth segurou em seu braço. O olhar deles se encontrou e o gato o mordeu, fazendo-o gritar.

Rose: Meowth? — Assustado, ele viu o gato saltar para os seus braços, o dando um abraço. Com lágrimas nos olhos, correspondeu com força, mas então Morgrem se recuperou.

Peony: Ele tirou todas as nossas Pokeballs!

Michelle: Heatmor, por favor! — pedia ao Pokemon, que recebia cuidados médicos de Nia.

Rose: Nós conseguimos — falou para o gato, que assentiu. Sentia que Leuri também pensava o mesmo. — Metal Sound!

~Myaaah! — Ele roçou suas garras, produzindo um ruído que irritou Morgrem, o fazendo levar as mãos aos ouvidos.

Rose: Agora, Metal Claw!

    Investindo, Meowth colidiu as garras com as de Morgrem. Os dois continuaram trocando golpes, rolando pela neve. O gato conseguia sentir os desejos de Leuri e Rose o fortalecendo, os dois que compartilhavam vínculos com ele. Mas...

"Todos que eu ajudo não fazem o mínimo e me deixam para trás. Fogem de mim como se eu fosse um monstro. Leon fugiu. Bede fugiu. E agora, Meowth e você."

    Pensando no que Rose disse mais cedo, Meowth lembrou-se das vezes que fugiu do escritório dele para seguir Leuri e o deixou preocupado. Assim, ele hesitou e Morgrem junto os punhos, os afundando em sua cabeça.

Rose: MEOWTH! — gritou, vendo o gato de joelhos. — Não... Desculpe se não fui o suficiente. Você quer tanto entrar em batalhas... Eu tive medo que me deixasse também e eu estava certo. Mas não vou deixá-lo! Você consegue!!

    A Wishing Star no pulso de Leuri reluzia enquanto ela comandava Frogadier para lidar com Liepard e Drizzile, com Grapploct auxiliando. Ela sentiu algo diferente e olhou na direção do gato.

~Nyah myah... — Seu corpo passava a reluzir, com Morgrem sentindo sua pele queimar e se afastando. Ele estendeu as patas e um feixe começou a se formar. Sua cabeça foi revestida por um capacete de metal e ele se levantou, ficando mais alto.

Rose: Meowth...

~MYAAAAH!! — Ele disparou o feixe, cobrindo o corpo de Morgrem, que gritou de dor. Ao terminar o movimento, ficou ofegante novamente.

    Sua aparência estava diferente e seu rosto era revestido por metal, com as orelhas erguidas como dois chifres de um elmo viking. Suas garras voltaram a crescer e estavam maiores do que nunca. Ele se virou para Rose, sorrindo.

Rose: Perrserker, né? — Ele se aproximou do gato, mas também sorriu. — Parabéns, eu sabia que conseguiria!

    Recolhendo suas Pokeballs e as do irmão, Peony vê Morgrem se levantando, envolto por sombras. O desejo de Marnie restaurava suas forças.

Nia: Os Pokemon estão se machucando, Marnie! Pare com isso, você é uma menina legal, não é essa que eu conheci! — Borrifando uma poção em Perrserker, ela exclamou para Marnie.

Marnie: Tsc. Então você é uma estúpida mesmo por achar que me conheceu em dois dias. Aliás, o que está pensando para falar de mim quando também esconde quem é?

Peony: Como assim, filha?

    De costas para seu pai, seu rosto se empalideceu. Marnie forçou um sorriso para ela, mas o desfez quando a garota pegou Pokeballs de dentro do bolso de sua camisa.

    Liberando Tyrantrum e todos os fósseis combinados que Cara Liss criou, Nia se volta para seu pai, chocado.

Nia: Pai, eu já guardo esse segredo por tempo demais! Mas... Chega de mentiras. Eu sei o quanto se preocupa comigo e não queria que eu me colocasse em perigo treinando Pokemon, mas também sei me defender e vou fazer isso agora. Vamos, ao ataque!

Michelle: Boa, garota! — exclamou e Rose olhou para ela, confuso — Eu já sabia, oras! Concordei que as criações de Cara Liss ficassem aos seus cuidados.

~Perrr! — Perrserker a incentivou e a garota exibiu um grande sorriso, esticando o braço. Peony reparou num bracelete com uma Wishing Star presa.

    Comandando seus Pokemon, Nia começa um combate com Marnie. Peony estava boquiaberto, mas lembranças voltavam em sua cabeça.

Ele está vivo! O Cufant também sobreviveu! Meu Arceus, o que o garoto foi fazer além da montanha?

"Ahnn... Rose... Por que tem tanta gente aqui?"

Oh! Vejam a perna dele! Levem-no logo para um hospital!!

"Rose...? A aventura..."

"Rose, o que aconteceu?! Rose!!"

    Abaixando a Pokeball que erguia, Peony olhou nos olhos de seu irmão, que se aproximou e o abraçou por vontade própria dessa vez. 

Rose: Você é um ótimo pai, Peony. Mas não dá para... Protegê-los para sempre, não é? Eles também precisam de suas próprias aventuras — disse, pensando também em Leuri e Meowth. Peony o correspondeu, suspirando. — Ela vai ficar bem com você ao lado.

    Unindo-se com Leuri no combate, os Pokemon de Nia enfrentam Liepard e Drizzile, dando descanso para Frogadier e Grapploct. Dracovish investia com toda a sua energia contra a felina, que usou suas garras para empurrá-lo contra Dracozolt. Porém, Arctovish congelou suas patas e por fim Arctozolt se posicionou para liberar descargas elétricas que terminaram o serviço, a desmaiando.

Peony: Minha filha é incrível! — Mudando sua expressão, ele exclamou para Nia, que se motivou a continuar.

Marnie: Droga! — Ela regressou Liepard, mas viu Tyrantrum agarrando Drizzile e o erguendo até sua boca, rugindo para ele.

~Cloy!! — Cloyster gritou para seu amigo, percebendo que seus olhos por um instante voltaram ao normal, mas logo ele cuspiu água contra o rosto do dinossauro e se soltou.

Leuri: Grapploct! — exclamou e o polvo assentiu, rodopiando com seus tentáculos e recolhendo Drizzile para seu giro. — Frogadier, Water Pulse!

    Explodindo a esfera d'água assim que Grapploct soltou Drizzile, Frogadier o finalizou, obrigando Marnie a também regressá-lo. A garota rangeu os dentes, irritada e vendo Leuri e Nia juntas com seus Pokemon para confrontá-la.

Marnie: Morgrem — falou e seu Pokemon assentiu, parecendo entender o que ela queria.

Leuri: Marnie, estamos em maior número! Não continue com isso, não pode vencer!

Marnie: Veremos! Play Rough!

    Morgrem saltou contra os Pokemon de Leuri e Nia, envolto em sua energia elemental. Leuri tomou a frente, mesmo não querendo continuar aquele combate.

Leuri: Perrserker, Metal Claw!

    Encontrando Morgrem no ar, Perrserker o atinge com suas garras metalizadas, lançando-o para o chão. Marnie se mostra surpresa e Leuri suspira, aproximando-se.

Leuri: Marnie, chega, por favor. Só me escuta!

Marnie: Já estou escutando. — Das costas de Spectrier, ela olhou para a garota.

Leuri: Eu sei que tudo que você me disse sobre não sermos amigas não é verdade.

Marnie: Ah, não é?

Leuri: Eu sei que você também sabe que não é! — Ela aproximou sua mão do rosto de Spectrier.

Marnie: Talvez eu sinta... — Ela caiu o olhar, vendo a mão de Leuri.

Leuri: Eu juro que não é tarde demais, acabe com esse combate, ainda dá tempo de voltar antes que tudo que nós tivemos seja perdido!

Marnie: E então poderemos ir até o altar?

Leuri: Marnie, você sabe que o Calyrex estava certo... Temos que encontrar outro jeito.

Marnie: Não... Eu já encontrei o meu — disse, afastando a mão de Leuri. — Morgrem!

    Deixando de fingir que desmaiou, Morgrem sorri e estica seus cabelos por baixo dos Pokemon de Leuri e Nia, puxando suas sombras e os enfraquecendo.

Nia: False Surrender! — Reconheceu, vendo seus Pokemon caindo.

Leuri: Marnie, não faça isso!!

Marnie: Erga-se, Grimmsnarl!!

    As sombras recolhidas dançavam pelo corpo de Morgrem, que começava a crescer com elas. Seus cabelos caíam pelo corpo, assemelhando-se com músculos.

    As sombras se dispersaram, revelando a nova forma de Morgrem. Todos olham para seu tamanho colossal e sentem a pressão aumentando quando ele firma seus pés no chão.

    Grimmsnarl, o último estágio evolutivo. Uma fada sombria das florestas, corrompida por seus próprios desejos. Leuri se afastou, mas o Pokemon não queria combater mais. Ele foi até as ruínas do Santuário da Coroa, levantando blocos de gesso e resgatando algo.

    Com Poipole nos braços, Grimmsnarl se aproxima de Marnie, o entregando para ela. Assentindo, a garota o regressa para sua Dusk Ball e segura nas rédeas de Spectrier, que relincha.

Marnie: Um aviso para todos vocês — disse, vendo Peony e Rose correndo para a frente dela, com Pokeballs nas mãos. — Não tentem ficar no meu caminho. — Então bateu as rédeas e Spectrier saltou por cima de todos, correndo pelo pico da montanha.

Calyrex: Leuri! — Ele se ergueu dos escombros, muito machucado. — Pegue o Glastrier, vá atrás dela!

    Sem pensar muito, Leuri montou no corcel. Frogadier olhou em seus olhos, na frente de Grapploct, Cloyster, Perrserker e todos os outros. O sapo tentou falar algo para impedi-la, mas ela que segurou as rédeas e galopou atrás de Marnie. Os dois corcéis saltaram do pico da montanha, com um grito de Nia chamando por Leuri de fundo.

Marnie: Por que está me seguindo?! — Spectrier descia a montanha com ela, que percebeu Leuri e Glastrier atrás.

Leuri: Eu não quero desistir, Marnie!

Marnie: Argh... Por que você tem que ser assim?! — Ela desviou o rosto, deixando Leuri confusa. — Existe uma diferença entre os escolhidos e o resto. Eu fiz o melhor que eu pude, mas você nunca me deixou ignorar essa diferença. Eu fico com os desprezados... E você vai atrás dos escolhidos.

Leuri: Marnie, eu nunca quis... Quer dizer, eu não sabia que se sentia assim!

Marnie: Você não faz ideia mesmo da quantidade de "Não" e "Depois" que eu já ouvi! Mas não serei mais paciente, eu não me importo mais com essa diferença. Agora é a minha vez e estou muito bem quanto a isso!

    Diminuindo a velocidade de Spectrier, Marnie fica novamente próxima de Leuri, aproximando-se dela. Ambas lacrimejavam, mas Marnie então mudou sua expressão e a empurrou das costas do cavalo. Leuri não conseguiu gritar e a menina a olhou com remorso enquanto caía, mas voltou a galopar para longe dali, desaparecendo na paisagem branca da Crown Tundra.

    Em queda, Leuri não segurava as lágrimas e não reagia. Ela fecha os olhos, mas sente alguém a agarrando.

Rose: Eu te peguei... Te peguei! Vai ficar tudo bem. — Ele estava amarrado numa corda de espuma, que no pico da montanha era puxada por Frogadier e por todos os outros.

Leuri: Chairman... — Continuando a chorar, Leuri é abraçada por Rose enquanto subiam com a corda. 

Rose: Eu sinto muito por falar aquilo tudo sobre obrigações e... Eu realmente não sou o seu pai, mas... — Ele respirou fundo e Leuri o olhou, com os olhos marejados. — Eu sou seu padrinho, afinal. Meu velho amigo Meyer sempre confiou em mim e não vou desapontá-lo, nunca.

    Fechando os olhos, Leuri abraça de volta, sentindo Glastrier os ajudando a subirem. Mas... Não estava tudo bem, Marnie agora estava sozinha com Poipole e seu desejo corrompido, e nada do que ela tentou conseguiu trazê-la de volta ao normal. Talvez ela não estivesse diferente, também. Talvez sempre tenha sido assim e ela demorou muito para perceber o que sua amiga carregava consigo. Estava determinada a não desistir dela, mas também não a deixaria continuar com o que fosse fazer.

    Galopando pela Tundra, Marnie tinha Poipole desmaiado em seu colo. Uma lágrima ameaçou escorrer por seu rosto, mas o frio a congelou e como um cristal de gelo, perdeu-se na nevasca. Mas, segurando-se por baixo de Spectrier, mais alguém também seguia aquele caminho para chegar até o altar.

~Chew!

Continua