Capítulo 21: Modo silencioso.

 

[Escola de Líderes de Ginásio - Jubilife]

Paulette: Aí eu falei pra ela, mas se você quer treinar um Feebas e é contra usar TMs, o que você tá esperando, sucesso? Porque meu amor, isso aí é caso perdido! — Ela estava debruçada em sua cadeira, conversando enquanto enrolava um cacho. — Tá acompanhando?

Luiz: Aham... — Ele copiava a matéria do quadro da sala em seu caderno e a menina revirou os olhos, estalando os dedos na frente do seu rosto, mas isso só acordou Buck que babava em seu caderno.

Samson: E é isso, alguém tem alguma dúvida? — Ele baixou o giz, colocando uma mão na cintura, quando Lucas levantou a mão. — Arrh... Lucas, claro, fala.

Lucas: O que se escreve separado.

Samson: O quê?

Lucas: Sim.

Samson: Sim o que, garoto?

Lucas: Se escreve separado, o senhor escreveu junto.

Samson: Onde que eu escrevi junto?

Lucas: Ali, escreveu o que junto.

Samson: O que que eu... Ah, não importa, eu realmente não me preocupo com isso, vai gastar o tempo de outro — disse, sentando em sua cadeira de professor e cruzando as pernas.

    Encolhendo-se na cadeira, Lucas abre uma lancheira, jogando algumas uvas para dentro da boca.

Barry: Ei, fez o dever da aula de estudo de golpes? — Ele levantou de sua cadeira no fundo da sala, apoiando-se na de Lucas e cochichando no ouvido dele.

Lucas: Pega logo — disse, levantando uma folha para o garoto, que sorriu amarelo. — Seu amigo Coordenador vai chegar depois do fim das aulas com cara de sonso de novo?

Barry: Não... — Ele abaixou a folha, reduzindo o sorriso. — Ele não vem hoje, teve um imprevisto.

Paulette: Com licença? — Ela empurrou Barry para o lado. — Eu estou tentando fofocar aqui, mas tem uma bunda esfregando nas minhas costas!

Barry: Eh? — Ele percebeu que do jeito que estava apoiado na cadeira de Lucas, acabava se encostando em Paulette. — D-Desculpa!

Aiyra: Ai, Paulette, como se você não gostasse! — Ela riu baixinho em seu lugar.

Paulette: Que isso, Aiyra? Tá insinuando o quê?

Murph: E-Eu posso esfregar a minha nas suas costas se você quiser... — Ele corou, juntando os indicadores e desviando o olhar.

Paulette: N-Não, muito obrigada! — Ela afastou o menino.

 — Caham... — Os alunos reconheceram imediatamente quem pigarreou e rapidamente se sentaram em seus lugares, fingindo que estavam comportados.

Cyrus: Professor — disse o diretor, parado na porta da sala, cumprimentando Samson. — Tem um aluno chegando agora, mas está tudo certo, ele pode se juntar aos outros.

    Aparecendo ao lado de Cyrus, Brendan estava envergonhado pela sua introdução, mas caminhou até seu lugar no fundo da sala, ao lado de Barry.

Samson: Ah, ótimo, mais um de vocês... — Ele girava um chaveiro, ainda na mesma posição.

Lucas: O que dizia? — perguntou, se virando para Barry, que acompanhava Brendan com o olhar.

Barry: Brendan, mas... Você tinha atestado para faltar — disse, percebendo que o menino tinha uma bandagem presa no pescoço, como um curativo. Apenas sorrindo em resposta, ele começa a abrir sua mochila. — Sua voz já...?

    Pegando um bloquinho com estampa da Lindona na capa, Brendan abriu a primeira folha, o mostrando um "Não" circulado. Os alunos voltaram a conversar e Barry chegou sua mesa para perto da dele.

Barry: Legal o seu bloquinho. — Ele pegou um lápis, desenhando um boneco de palitos nele. Sorrindo, Brendan fez um chapeuzinho e uma gravata, também o fazendo sorrir. — Agora ele parece bem formal!

Brendan: ...! — Tendo uma ideia, ele vira a página no bloquinho, começando a rabiscar algo com o lápis.

Barry: Cara! Isso ficou uma Starly perfeita! — exclamou, impressionado, mas viu Brendan desenhar um balãozinho de fala e escrever "Obrigado!" dentro. — Haha! Então, por que decidiu vir hoje?

    Pensando um pouco, Brendan voltou a rabiscar. Barry prestou atenção em como sua mão segurava o lápis, mas desviou logo o olhar.

    Desenhando o rosto de um Chimchar envergonhado, Brendan escreveu "Nada pra fazer, queria me sentir ao menos útil".

Barry: Qual é, você está desenhando só pra exibir que é ótimo nisso! — exclamou e Brendan levantou uma sobrancelha, então o entregou o lápis. — Certo, vamos conversar por desenhos, mas saiba que meus bonecos de palito tem anos de aperfeiçoamento!

    Enquanto Barry tentava rabiscar o rosto de uma Amaura, Brendan repousou o queixo em uma mão, o observando. Porém... Ele percebeu algo na janela que chamou sua atenção.

    Não conseguindo ver com clareza, Brendan sente-se atraído, então aponta para o que estava vendo. Parecia-se com um Pokemon, mas saltou e saiu da janela antes que Barry pudesse vê-lo.

Barry: O que houve?

Brendan: ...! — Ele tentou falar, mas levou as mãos até a garganta quando sua voz não saiu parecendo sentir dor. Barry o devolveu o lápis e ele tentou escrever, mas a ponta quebrou.

    Parecendo desesperar-se, Brendan volta a levar as mãos até a garganta, apertando-a. Uma nuvem cinzenta começou a se formar em cima de sua cabeça e Barry arregalou os olhos, caindo da cadeira.

Buck: Caraca! O Brendan tá usando Rain Dance, igual meu Politoed sabe fazer!

Aiyra: Você não tem um Politoed...

Chang: E o Brendan não é um Pokemon, eu acho...

Samson: Ok, acalmem-se. Um dos adolescentes está com uma nuvem na cabeça e eu sou o professor... — Pensava enquanto Paulette tirava uma foto e Brendan tentava afastar a nuvem com as mãos. — Já sei! Chang, leve-o para a enfermaria.

Chang: Eu?

Samson: Você é o representante, faça logo isso.

Barry: Deixa que eu levo — disse e Chang deu os ombros.

    Saindo da sala, Barry carregava a mochila de Brendan enquanto a sua estava pendurada no corpo, mais semelhante a uma bolsa. Ele olhava preocupado para o garoto, que ainda tentava afastar a nuvem.

Barry: Ei, Brendan... Vamos respirar um pouco, que tal? — Ele deu um soquinho no ombro do menino, que assentiu com a cabeça.

May: Essa não! — gritou assim que viu Brendan e Barry deixando o prédio da escola. Ela estava sentada com Mudz em uma das mesas externas. Correndo até eles, segurou nas mãos do amigo. — Você foi expulso por ser Coordenador?

Brendan: ?!

Barry: N-Não! — respondeu por ele, então apontou para a nuvem acima da cabeça.

~Swaam! — Mudz arregalou os olhos.

Brendan: !!! — Ele levantou seu bloquinho e May procurou por uma caneta em sua bolsa, o entregando, então escreveu "O que está fazendo aqui?".

May: Olha, eu fiquei muito preocupada que decidir ir pra escola e decidi fazer companhia ao Mudz enquanto te esperávamos sair...

Barry: Ehr... É melhor levar ele pra casa? Pra descansar e ver se a nuvem some?

May: Pode ser, eu armo a barraca.

Barry: Barraca? Do que ela está falando? — cochichou para Brendan, que pegou a caneta e escreveu que não tinha dinheiro para alugar um quarto de hotel ali. — Eu pensei que seus pais te mandavam dinheiro todo mês...

May: E mandam, mas é pouco e ele usa isso pra comer e investir nos Contests. Os pais dele seriam muito doidos se achassem que só esse valor daria pra alugar um quarto. Eu sempre digo que deveria pedir para a Leuri, mas nunca me escuta!

    Negando com a cabeça, Brendan levanta seu celular, abrindo na conversa com Leuri.

May: Recusar dinheiro grátis... Como somos melhores amigos? — Ela sorriu para Brendan, que guardou o celular. — Mas é fofo que não queira preocupar ninguém.

Barry: Eu não fazia ideia que você acampava todos os dias... — Sentindo-se mal pelo amigo, ele continua andando com May e Mudz.

May: Você já pode voltar pra sua aula de como comandar evasiva e choque do trovão pra dar uma insígnia no final, deixa comigo agora.

Barry: N-Não! Quero ajudar também, Brendan é meu amigo, tô preocupado com essa nuvem.

May: Não precisa! — Ela forçou um sorriso, aproximando-se de Barry, que forçou um maior ainda.

Barry: Ah, mas eu insisto!

May: Jamais ia querer gastar seu precioso tempo, você vai perder uma matéria tão importante... Pode ir, não precisa se sentir mal por isso.

Barry: Que isso, sem problemas, sua nobreza é algo lindo mas deixa que eu ajudo!

    Enquanto Barry e May tentavam um dispensar o outro educadamente, Brendan desviou seu olhar para o Pokemon que viu na janela da sala de aula, agora passando correndo pela calçada. Arregalando os olhos, ele decide ir atrás, atravessando a rua.

~Swam? — Percebendo Brendan afastando-se, ele passa a tentar avisar os outros dois.

Barry: Ué, cadê o Brendan?

May: Bren? Breeen! — chamou pelo garoto, então Mudz apontou para o outro lado da rua. — Meu Arceus, ele saiu daqui!

Barry: Por que não nos avisou, Mudz?

~Swaam...

May: E agora? Essa cidade é maior do que qualquer outra que já estive, só sei ir até o Fan Club e na sorveteria! Vou acabar me perdendo também!

Barry: Starly, me ajude a procurar o Brendan! — exclamou, arremessando a Pokeball para o alto.

~Staar!

Barry: May, deixe que eu te ajudo a... Woooah!

~Troop! ("Glow!")

    Vendo um grande Tropius em sua frente, Barry força a visão e reconhece May montada em cima dele. Sem falar nada, a menina o usa de carona para procurar Brendan pelo alto, mas o Pokemon atrapalhava-se com os prédios altos.

    Tentando acompanhar o Pokemon, Brendan virava em ruas que ele nem conhecia, quase esbarrando em algumas pessoas. Logo estava sem fôlego e suando muito.

Barry: Oi, moço, com licença! — Acompanhado por Mudz, ele parou na frente de um rapaz que olhava a vitrine de uma loja de almofadas de Inkay e Staryu. — Por acaso viu um garoto da minha idade passando por aqui? Ele tem uma nuvem cinza na cabeça!

Dan: Não vi, mas quem é? É famoso?

Barry: Hm... Talvez? Se chama Brendan, ele é um...

Dan: Não conheço, lamento! Agora licença, preciso comprar treze almofadas.

~Swam?

May: AAAI! — Montada em Glow, ela tinha problemas pra controlar a trajetória do Pokemon, acabando por rasgar um outdoor que anunciava uma série documental de Diantha intitulada "A vida depois do tombo".

~Troop! ("Glow!") — Ele tinha o corpo de Diantha em papel pendurado em seu pescoço.

    Passando pelos portões do Parque de Jubilife, o Pokemon que Brendan perseguia se enfia nos arbustos. Cansado, Brendan não consegue mais acompanhá-lo, tropeçando no próprio pé e caindo de joelhos, com sua nuvem ainda o seguindo.

    Exausto, ele respirava ofegante, então sua visão começou a ficar turva. Ele pensou em chamar algum de seus Pokemon para ajudar, mas qual deles seria? Em sua cabeça só rodavam cenas de Lala coberta pelas auroras, Scarlet assustada, o sorriso de Pulu sumindo, Zagz...

    Sem que o menino percebesse, o céu ia se cobrindo de estrelas, mesmo durante o dia. Elas ultrapassavam as nuvens, dando a impressão de que todo o azul cintilava como uma tela onde glitter foi derramado.

    Percebendo as estrelas se estendendo pelo céu, Starly decide segui-las, mudando a direção de seu voo. Pelas ruas da cidade, Mudz também notou, avisando Barry. Montada em Glow, May também reparou.

    Após algum tempo, o Pokemon colocou a cabeça para fora do arbusto, vendo Brendan ainda de joelhos no chão. Parecendo confuso, aproximou-se um pouco com o corpo todo.

Brendan: ...! — Tentou dizer algo, mas sua voz não saía e seus olhos se encheram de lágrimas quando ouviu passos apressados e virou a cabeça, ainda com a visão bagunçada.

Barry: É ele! Eu acho que vai desmaiar!! O que vamos fazer?!

May: Por que tá me perguntando isso?! Não era você que queria cuidar dele sozinho?!

Barry: Eu nunca disse isso! Você que tá implicando comigo o tempo todo!

May: E o que isso importa? Temos que levar ele pra algum lugar!

    Parando de escutar, Brendan levou as mãos até a garganta. Sua nuvem aumentou de espessura e ele só conseguia ver que Barry e May gritavam um com o outro, enquanto Mudz, Glow e Starly olhavam assustados. Então, seus olhos se fecham, só vendo a escuridão no silêncio...

    Ao reabrir os olhos, Brendan viu o teto de sua barraca. Sem sinais da nuvem. Ele abriu levemente a boca, mas nenhum som saía, então se espreguiçou e ficou sentado em seu saco de dormir. Havia uma garrafa térmica ao seu lado e ele a abriu, descobrindo ser um chá e pelo cheiro era de hortelã.

    Ao seu lado, reparou em Mudz dormindo, ocupando quase todo o espaço da barraca. Com cuidado para não acordá-lo, ele engatinhou para fora. Estava de noite e o céu continuava estrelado. Reconheceu o cenário pelas árvores e o barulho dos Kricketot, ainda era o parque da cidade.

    Rolando pelo gramado e consequentemente aparando a grama, a Jigglypuff Lita era perseguida por May, que tentava acompanhá-la mas não conseguia alcançar sua velocidade, até cair sentada.

May: Por que ela precisa ir tão rápido e não me espera? — perguntou-se, vendo a Pokemon explorando o parque enquanto rolava.

    Golpeando uma árvore com suas asas, Starly também praticava seus movimentos, com Barry a incentivando até uma fruta cair em sua cabeça, a derrubando. Suspirando, o menino também se senta na grama, próximo de onde May havia caído.

Barry: Então... — Ele quebrou o silêncio, mas May não o olhou. — Você participou da Copa Fantina também, eu estava assistindo...

May: Que bom, viu como eu não consegui controlar o meu Pokemon e agora me apelidaram de babá...

Barry: Como é?

May: Como é o quê?

Barry: Você sabe... Competir... Em vários Contests...

May: Não é tão mágico como já foi — respondeu, olhando para as estrelas. — Essa temporada está mais difícil e embora tenha começado há pouco tempo, o nível dos Coordenadores que estou assistindo está absurdo... Eu quero me tornar uma Anfitriã algum dia, então ter a experiência de vencer uma Copa e ser uma campeã enquanto estou fazendo a minha campanha pode ser um divisor de águas. Mas eu nunca sequer passei do segundo round em qualquer Copa que já tenha entrado... É como se na hora de jogar sério, meu estilo não valesse de nada. Pensei que se eu trouxesse algo diferente dessa vez, algo mudaria. Só não sei se foi uma boa mudança...

    Lita passou rolando na frente de May, então parou e acenou para ela. Suspirando, ela acenou de volta. Barry tinha os olhos bem abertos e pensou em falar algo, mas abria e fechava a boca, hesitando. Quando tomou a sua decisão e formulou uma resposta, May continuou.

May: Olha, esqueça o que eu disse. Foram dias cansativos, não sei porque estou falando disso... Acho que só estou preocupada com o Brendan.

Barry: Eu também estou! — Ele elevou um pouco a voz involuntariamente e May olhou para o seu rosto. Suas bochechas coraram ao perceber o modo como falou, então tentou amenizar. — Eu... Também estou. Me importo muito com ele e vejo como ele não dá a mínima para a escola.

May: Tem como criticá-lo?

Barry: Eu sei que o Brendan não quer ser um Líder de Ginásio, mas se ele repetir esse semestre... — Ele abaixou a cabeça, enfiando as mãos nos cabelos e jogando o topete para trás. — Foi tão divertido assistir a Copa Fantina, até queria estar lá como em Floaroma!

May: Floaro... Espera, você era a dupla dele? O Senhor Combee? — Ela ligou os pontos e o menino levantou imediatamente a cabeça. Mudando sua expressão ao ver o espanto nele, ela apertou a grama com as mãos. — Não consigo acreditar nisso... Nesse seu joguinho!

Barry: Que joguinho?!

May: O Brendan já passou por muitas coisas e não precisa do capitão do time de futebol que quer ser líder de ginásio fingindo que está do lado dele e que a amizade é super mágica em dois universos completamente distintos! — Ela gesticulou bastante e o menino pareceu indignado com isso.

Barry: Eu não estou fingindo nada, eu acho é que você que quer o proteger demais e não precisa fazer isso! — exclamou para May, que cruzou os braços. Os dois não percebiam que Brendan aproximava-se, começando a ouvi-los iniciando mais uma discussão. — Só... Por favor, não conte pra ninguém sobre o Senhor Combee...

May: Argh... — Ela revirou os olhos. — Você é igual ao Brock. É literalmente a mesma coisa, do mesmo time, da mesma escola... Eu não consigo acreditar que ele seja tão descuidado pra só se envolver com quem vai magoá-lo.

Barry: Magoá-lo?! Eu deixei de treinar hoje, saí mais cedo da aula e tô aqui até agora esperando ele acordar!

May: Nossa, você quer um prêmio de gentileza e companheirismo?!

Barry: O que eu fiz pra você? Por acaso eu que decretei que seu estilo inovador e revolucionário de perseguir um Pokemon usando Rollout é um fracasso?

May: O que você disse? Repete!

    Vendo os dois falando cada vez mais alto e se levantando, Brendan começou a se sentir mal novamente. Ele tentou falar, gritar e espernear para que parassem, mas sua voz não saía. Com lágrimas pelos olhos, ele cerra os punhos, deixando de ouvir novamente os gritos dos dois. Sentia a grama fazer cócegas em seus pés, sentia o ar balançar os pelos ralos de seus braços.

    Concentrava-se num símbolo que surgia em sua cabeça. Ele o conhecia, a letra Delta, e parecia vir em boa hora. Estendendo os braços, ele sente a energia em seu corpo transbordar. Por baixo de seus pés, a grama é marcada pelo mesmo símbolo triângulo e sua aura esverdeada contorna seus membros. Abrindo a boca, era suposto gritar, mas ao contrário disso, apenas a pressão aumenta no parque, fazendo uma ventania que quase arrasta May se Barry não a segurasse.

Barry: ...?

May: ...!!!

    Na ventania, os dois não conseguiam falar. Preocupados, olharam para trás, vendo Brendan voltar a se ajoelhar. A ventania se encerra e eles correm até ele para ajudá-lo a se levantar, mas se surpreendem e afastam-se quando seu corpo plana com os ventos concentrados por baixo dele.

Barry: Você tá vendo o que eu tô vendo ou...?

May: Aham... — Perplexa, ela afasta a mão de Barry, que apontava para o garoto.

    Sendo percebido por May, o Pokemon que Brendan perseguia apareceu novamente, agora tentando atravessar a ventania. Ela olhou para o alto, o céu parecia ainda mais estrelado. Então, levantou o corpo o máximo que conseguiu e as flores em suas orelhas iluminaram-se e giraram como se tornassem-se parte do céu estrelado. Uma brisa esverdeada saiu delas e juntou-se ao corpo do menino, que abriu os olhos e se levantou, afastando os ventos.

Brendan: ...  — Ele pegou seu bloquinho da Lindona, afastando as páginas até achar uma em branco onde começou a escrever. — "Desculpem por prendê-los comigo e atrasado as suas vidas por se preocuparem, mas por favor, parem de brigar um com o outro, vocês são meus amigos!"

May: Se desculpar? Não, não!! Brendan, você não tem nada para se desculpar!

Barry: Não mesmo! Perder um jogo e algumas aulas não vão me matar, eu sei que faria o mesmo por mim!

    Abaixando a cabeça, Brendan desviou o olhar para o Pokemon novo ao seu lado. Barry tentou consultá-lo em seu celular, mas não haviam dados sobre a espécie, nem mesmo qualquer relato de algo parecido.

May: Então era ele que você estava tentando encontrar? — perguntou, abaixando-se, mas o Pokemon recuou.

    Recebendo carinho de Brendan, o Pokemon se deixa levar e é pego por ele. O menino vê suas patinhas brancas sujas e as folhas em seu corpo bem rasgadas.

Barry: Parece ter vindo de muito longe para te encontrar...

May: Você vai capturá-lo ou...?

    Começando a brilhar em seus braços, o Pokemon deixa suas flores brilharem e se abrirem. Uma brisa trazia um aroma agradável para os três, mas esta era inalada totalmente por Brendan, que soltou o Pokemon e levou rapidamente as mãos até a garganta. O símbolo do delta apareceu em seu pescoço, reluzindo antes de sumir enquanto partículas obscuras escapavam para os lados, similares as do Throat Chop que o atingiu.

Brendan: Mmmf... — Sua voz saía baixinho, rouca, mas ele arregalou os olhos por finalmente escutá-la. May e Barry abriram um sorriso, mas quando voltaram-se para o Pokemon no chão...

Barry: Cadê ele? — Ele olhou ao redor, mas nem sinal do Pokemon.

May: Ei, não se esforce para falar! — Ela segurou nas mãos do menino, que assentiu com a cabeça. — Eu acho melhor você voltar a descansar para se recuperar direitinho!

    Olhando uma vez mais para o céu estrelado, Brendan se volta para Barry, sorrindo para ele. O loiro cora e estende a mão trêmula, sabendo que ele queria agradecer. Os dois apertam as mãos antes de se despedirem, afinal, Barry precisava ir para casa também e já estava tarde.

May: Tsc... — resmungou, vendo Barry e Starly deixando o parque, mas notou Brendan continuar sorrindo.

~Jiggly! — Lita voltou a rolar na frente deles, mas May a regressou e os dois andaram na direção da barraca.

"Bem... Ao menos minha voz vai voltar e eu vou poder esquecer que isso aconteceu para trabalhar em ajudar os meus Pokemon."

    No dia seguinte, Brendan chegava na escola, ainda com o curativo na garganta. Ele percorreu o caminho até o prédio confuso com as pessoas olhando em sua direção. Notou Brock ao fundo com a capitã das líderes de torcida, Marcy, e os dois o olharam de canto, disfarçando risadas.

Aiyra: Ei, seu Pokemon foi preso? — perguntou para o garoto, aproximando-se dele. Ele ainda não tinha recuperado totalmente sua voz, mas só franziu as sobrancelhas, confuso com a pergunta.

Chang: Rapaz! — exclamou para Brendan, segurando em seu ombro. — Agora entendo porque tá nesse voto de silêncio! Forças aí!

Emily: Brendan, eu sinto muito pelo que aconteceu, mas não se importe com as risadas e humilhações, tá bom? Se não der atenção, logo param. — A professora que passava pelo corredor disse a ele com um sorriso empático.

    Vendo Luiz rindo enquanto Paulette assistia algo em seu celular, Brendan se espreita por trás deles para ver o que era.

    O vídeo que eles assistiam era um tipo de remix com uma edição de Zagz utilizando o Throat Cop em Brendan no palco da Copa Fantina. O corpo do Pokemon estava duplicado e congelado, e ele passava por vários cenários, parecendo que estava empurrando um meteoro em direção à Terra, derrubando um avião em cima de uma torre que caiu sobre outra, derrubando uma estátua gigante de um homem de braços abertos, entrando na boca de uma mulher sorridente que tentava fazer seu bebê comer papinha...

    Então a cena mudava para Brendan depois de ser atingido, caindo em várias posições com a boca aberta e várias coisas entrando em sua boca, como um hambúrguer gigante, um Caterpie, outro Brendan, outro Zagz na posição do Throat Cop...

    Incrédulo com o que estava vendo, Brendan apenas se virou em choque, captando risadas e a música extremamente constrangedora do vídeo em looping em seus ouvidos.

Barry: Brendan, você viu o que est... — Ele parou de falar assim que viu a expressão no rosto do menino. Então os dois olharam para cima quando uma nova nuvem cinza surgiu. — Oh, a nuvem voltou...

    Pegando em seu bloquinho, Brendan escreveu em desespero; "Esquece a nuvem! FUDEU!"

Continua

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