Capítulo 24: Minha nova gangue.

~Kraaa...

    Recebendo um vídeo de um Cramorant babando, tremendo e piscando um olho de cada vez, Brendan ri para o celular. Estava na hora do intervalo para o lanche dos alunos antes de retomarem as últimas aulas da manhã e, como sempre fazia, Brendan sentou-se na mesa mais afastada que encontrou. Seu celular demorava para carregar as mensagens devido ao sinal fraco ali, mas era o que fazia seu tempo passar.

    Quando finalmente conseguiu responder Leuri, ela teve que sair. Lendo sua última mensagem, pensou em como ela parecia mesmo feliz com novas amizades em Galar e desejou estar junto dela nesse momento. Talvez se tornassem seus amigos, também...

Hobber: Vamos lá, não está velho demais para ir assistir a um jogo comigo no estádio! — O Treinador andava ao lado de Samson, cada um carregando uma bandeja com seus lanches. Eles sentaram-se na mesa que Brendan estava, mas o menino nem percebeu, perdido nos pensamentos.

Samson: Argh, esse menino tá aqui de novo... Seria tão bom poder comer com privacidade... — Ele falou a parte final um pouco mais alto, mas Brendan continuou no celular, não prestando atenção. — Humph, queria ser professor de universidade...

    Algum tempo depois, era aula de educação física e o Treinador Hobber apitava sem parar até todos os alunos estarem sentados na arquibancada do campo do colégio. Chang e um menino de outra turma levantaram-se para escolherem os times e começarem um jogo de futebol enquanto as meninas usavam outra quadra para jogarem vôlei.

Chang: Certo, só sobrou o Coordenador... Bem, venha então, só não atrapalhe! — exclamou, chamando Brendan, que se levantou de braços cruzados. Definitivamente odiava aquela aula.

    O time oponente era liderado por um menino mais velho com tranças verdes nos cabelos e uma sobrancelha exageradamente grossa. O Treinador começou a apitar o jogo e Barry foi o primeiro a tirar a bola dos pés do garoto, a dominando enquanto cortava os adversários.
    Brendan observava de longe, admirando o talento de Barry para aquilo. Ficava andando em círculos perto do gol do seu time, protegido por Lucas. Snover estava ao lado dele, jogando frutinhas em sua boca.

Buck: Hey, tô livre! Passa pra mim! — gritou para Barry, que era marcado por outros dois jogadores mas encontrou um jeito de passar a bola. — Eh?!

    Entrando na frente de Buck, outro menino de colete amarelo tirou a bola de seus pés, sorrindo com deboche para ele. Barry, Luiz e Chang se aproximavam e ele sabia o que precisava fazer para evitar um gol; mandar a bola para longe.

    Analisando o cenário, o menino do outro time faz um passe para o que escolheu o time, que passa novamente por baixo dos pés de Barry, o pegando de surpresa. Então, o que armou a jogada chuta com toda a sua força na direção do gol protegido por Lucas, também percebendo que Brendan estava ali, mas se não marcasse, ao menos teria uma chance de rir do Coordenador que viralizou se assustando.

    Lucas bateu as duas luvas que usava por cima de suas mangas compridas, tentando se concentrar. Mas ele as abaixou quando viu que a bola não atingiria o gol, mas sim...

    Acenando para uma Combee, Brendan viu a abelha sinalizar com as asas e olhou para frente, vendo a bola. Tudo aconteceu muito rápido, um flash de lembrança de Zagz saltando para usar Throat Chop voltou e ele levou as mãos para frente de sua garganta. Seus sapatos arrastaram na grama sintética para trás e todos ficaram em silêncio.

Lucas: E-Ele...?!

Barry: Ele agarrou a bola?! — chocado, viu Brendan abaixar as mãos, soltando a bola na altura de seu pescoço.

Brendan: ... — O menino encostou no peito, sentindo o coração acelerado, então deixou escapar um suspiro. Mas logo seus ouvidos doeram com o alto apito do Treinador Hobber.

Hobber: Encostou as mãos na bola, é falta!

Luiz: Nãããão! — Ele se ajoelhou e Murph o consolou.

Barry: Você chutou pra acertar ele de propósito! — Ele reclamou com o outro garoto, que deu os ombros, dizendo que foi sem querer.

    Enquanto os garotos discutiam, Brendan encarou a bola e encostou em sua garganta, onde partículas sombrias escaparam para os lados.

    Quando a aula chegou ao fim, os meninos foram ao vestiário para se limparem e voltarem a vestir os uniformes. Brendan amarrava seu sapato quando ouviu a conversa dos outros.

Buck: Escutem essa! Eu estava pensando no que poderíamos fazer hoje já que não temos treino, então descobri que existe um tesouro escondido na Passagem Desolada!

Luiz: Que nome dramático para aquela caverna perto de Floaroma...

Murph: Uh... Se estava escondido, como você descobriu isso?

Buck: Eu... Ah, quieto, Murph! Você nem é do time!

Chang: Tesouro escondido... Vindo de você, só pode ser mais uma invenção!

Buck: Não, gente, eu juro! Pode ter um Pokemon muito raro vivendo lá, imagina se você pega ele, Chang?

Chang: Eu gosto dessa ideia...

Buck: Ótimo, eu falei com o Treinador Hobber e ele topou ir também! Vai ser um rolê do nosso time, faz tempo desde o último!

Barry: Talvez eu encontre um dos Pokemon da minha lista pelo caminho, tô doido por um Buizel — disse, deixando uma das cabines com chuveiros, apenas faltando vestir a camisa. Brendan o olhou de canto, mas imediatamente desviou o olhar.

...

~Swaamp!

    Na saída, Brock passava abraçado com Marcy, mas Brendan não se importava, filmando Mudz para mandar pra Leuri enquanto Barry tomava um suco.

Barry: Hoje vai ter que treinar sozinho, amigo! Tenho certeza que essa é mais uma das fanfics do Buck, mas é bom pra fortalecer os laços do time.

Brendan: ...! — Ele virou a capa do bloquinho da Lindona, escrevendo rapidamente "Eu queria poder ir junto" e uma carinha triste ao lado.

Barry: É, eu também... Foi mal, mas é tipo o Murph, ele não vai nessas coisas por não ser do time.

    Revirando os olhos, Brendan sentou-se nas costas de Mudz e roubou um pouco do suco de Barry, que riu antes de pegar o copo de volta.

Barry: Mas cara, todos ficaram impressionados com o jeito que agarrou aquela bola hoje... Você tem bons reflexos! — exclamou, mas seu celular vibrou no bolso, vendo uma notificação de sua mãe. — Preciso passar em casa pra almoçar, mas qualquer coisa pode me mandar mensagem!

    Barry já ia embora, mas teve uma ideia que o fez sorrir e deu meia volta, pegando o bloquinho de Brendan e riscando a carinha triste, desenhando um sorriso no lugar. Brendan achou engraçado e acenou para ele, o perdendo de vista.

    Pensando sobre o que Barry disse, Brendan recebe uma nova mensagem de May sobre um novo Contest em breve. Ele olha para o céu e salta das costas de Mudz, que o olha confuso ao ver seu sorriso de quem teve uma ideia. Então corre de volta para a escola, chamando pelo Pokemon com as mãos.

    Camuflada numa árvore, Shaymin observava Brendan entrando na escola, mas então um Starly pousou ao seu lado, reclamando. Olhando para os dois lados, ele rosna, mostrando seus dentes e a ave voa apavorada. Então...

 — O QUÊ??? — Barry, Buck, Chang e Luiz exclamaram ao mesmo tempo quando o Treinador Hobber apitou para ficarem quietos.

Hobber: Nada impede os alunos de entrarem no time, meninos! Quer dizer, ele vai precisar pagar os uniformes depois e uma parte para a escola, mas... Brendan está dentro, agora temos um goleiro reserva! Vamos fazer a escola de Snowpoint engolir a medalha do segundo lugar nas olimpíadas!! — E apitou de novo enquanto Brendan apareceu ao seu lado, sorrindo satisfeito.

Chang: Tá, né... — Ele deu os ombros enquanto Luiz disfarçava uma risada.

Barry: Então você vem com a gente! — exclamou para Brendan, que assentiu sorrindo. Eles bateram as mãos e, ao afastarem, Lucas encarava Brendan incrédulo.

Buck: Bidoof, Rock Smash!

    Imediatamente ao sair de sua Pokeball, Bidoof desliza seus dentes de castor por toda a extensão de uma grande rocha até ela virar apenas farelo. Em seguida, volta ao colo de Buck, sorrindo.

Chang: Muito bem, Bidoof Caramelo!

Buck: Não chama ele assim, eu não aprovo!!

    Brendan ficou surpreso com o lugar. Quando estava pesquisando a melhor forma de chegar em Floaroma para competir no Contest em duplas, leu sobre uma caverna tão explorada que parecia estar em pedaços, mas que se seguisse a trilha construída dentro dela conseguiria chegar numa rota para a cidade. O lugar tinha o chão desproporcional em várias partes, estalactites que para ele iriam cair a qualquer momento, o fazendo perguntar-se se não deveria ter ido de capacete ou isso seria muito ridículo. Também havia uma corrente de água para mais fora da trilha, onde um Magikarp boiava de barriga para cima. Torcendo para ele não ter morrido, seguiu o seu caminho.

Luiz: Aaah! Vejam só, é um Wormadan que usa sedimentos e rochas para fazer seu casaco, igualzinho ao meu! — exclamou, parando para fotografar um Wormadan pendurado num pedregulho pontudo. — Sabiam que os que se vestem assim conseguem imunidade à eletricidade? A Aiyra nunca tem chance quando o uso!

~Woorm?

Luiz: E ali tem um Nincada, que bonitinho! Quando ele evolui, sua concha oca é possuída e se torna outro Pokemon! Já aconteceu comigo, de repente surgiu um Shedinja na minha Pokeball!

~Cadaa! — O Pokemon deu meia volta ao ouvir Luiz falar e correu para dentro de um túnel.

Hobber: Garoto, você gosta mesmo de insetos!

Luiz: Eu sei tudo sobre eles, por isso minha inspiração é o Aaron, da Elite de Sinnoh! Ele é um orgulho para nós caçadores de insetos — disse enquanto seus olhos brilhavam. — Bem que o Pokemon raro que o Buck inventou podia ser um inseto extinto, tipo Kleavor ou Armaldo.

Buck: Eu não inventei nada!!

Barry: Ei, Brendan, olha que pedra esquisita! — Apontou para uma pedra vermelha vazada nos lados e em cima.

Brendan: ...? — Parecendo reconhecer aquilo, ele saca sua Pokédex, a chacoalhando para acordar Duskull e vendo o olho dele rolar pela tela.

Lucas: Nunca vi uma pedra assim... — Ele caminhava com as mãos dentro dos bolsos do casaco.

Chang: Te desafio a sentar nela!

Buck: Fechado! — Ele correu com um sorrisão no rosto e aproximou seu bumbum à pedra, fazendo caretas enquanto Chang ria.

Hobber: Esperem... — Ele pegou seu apito e apitou na hora que uma imagem apareceu na tela da Pokédex de Brendan.

    Membros amarelos começaram a sair pelos buracos da suposta pedra e Buck caiu sentado no chão quando ela revelou-se um Pokemon. Duskull o chamou de Shuckle e disse que ele pode fazer vinho, mas ficou entediado e cansou de ler sobre.

Luiz: Shuckle...? Não conheço esse!

Hobber: Tipo inseto e pedra, eles não costumam atacar a menos que sejam provocados!

Buck: Não o provocamos... Né? — Ele virou-se para Shuckle, que tinha o rosto bem próximo do seu e não parecia contente.

    Recolhendo seus membros para dentro dos buracos do casco, Shuckle passa a girar apenas com a cabeça para fora. Várias rochas energizadas são disparadas contra Buck, que junta a cabeça com os braços para se proteger.

Luiz: Pineco, Reflect nesse Rock Blast! — gritou, arremessando uma Pokeball de capsula verde com estampa parecida com a de uma rede.

    Assim que deixou a capsula na frente de Buck, Pineco iluminou seu corpo e uma barreira refletora devolveu o golpe de Shuckle, fazendo as pedras explodirem no corpo dele.

Luiz: Agora, Bug Buzz!

    Girando seu corpo em contato com o chão, um som agoniante atordoa Shuckle, que balança sua cabeça em desespero.

Luiz: Buck, melhor se afastar! — exclamou e o garoto assentiu, correndo para trás do Treinador do time. — Pineco, termine isso com Explosion!

    Se lançando em cima do casco de Shuckle, Pineco libera toda a sua energia numa centelha branca que cobre Shuckle e ele. Brendan se assusta com isso e uma nuvem se forma em sua cabeça, mas abaixa a touca para tapar os ouvidos quando o movimento explode. Ao reabrir os olhos, fumaça saía de Pineco, que estava desmaiado junto de Shuckle no mesmo estado.

Barry: Ele tem um jeito único de finalizar as coisas, você acostuma...

Chang: Só não faz uma nuvem quando estiver num jogo de futebol, capaz de rirem de você! — riu para Brendan, que respirou fundo e sua nuvem desapareceu.

Luiz: Heheh! Shuckle, vem pro papai! — Balançando seu braço, ele mordeu a língua para fora da boca e arremessou outra Pokeball igual a de Pineco em Shuckle, concluindo a captura. Ao pegar a bola, esta trava, encolhendo. — Mais um pra coleção!

Buck: Eu podia ter me virado sozinho, mas deixei você ter um momento de atenção!

Lucas: Buck, por falar em atenção... Você sabe para onde estamos indo? Se seguirmos essa trilha só vamos encontrar o fim da caverna.

Buck: Bem lembrado, juntem aqui! — Ele abriu um mapa de papel na frente de todos, que tentaram entendê-lo. — Diz que precisamos atravessar o lago 

Hobber: Poliwrath, preciso de carona! — exclamou e liberou seu Pokemon na água, montando nas costas dele.

Lucas: Dewgong, por favor.

Chang: Venha, Slowking!

Luiz: Araquanid!

    Brendan também libera Mudz e chama Barry para subir nas costas do Pokemon junto com ele. Todos olham para trás, vendo Buck suando e rindo de nervoso.

Lucas: O Bidoof Caramelo não sabe Surf? — perguntou e Buck o fuzilou com o olhar, mas então abaixou a cabeça enquanto os outros riam.

Brendan: ...! — Ele chamou Buck com a mão e o garoto também montou em Mudz, envergonhado, mas o Swampert sorriu pra ele.

Buck: Esse não vai nos atacar igual aquele outro, né? — perguntou para Brendan enquanto consultava o mapa. — Para a esquerda!

Chang: Verdade, melhor manter aquele Linoone na Pokeball durante os jogos, viu?

    Hobber olhou de canto para Brendan, percebendo que ele ignorava as provocações. O menino abriu a boca, mas não tinha como falar, preferindo se focar apenas em Barry que sorria e conversava com Mudz durante o caminho. Segurava nos ombros dele para não cair.

    Montada no corpo do Magikarp de barriga para cima, Shaymin remava com suas patinhas para seguir os alunos e o Treinador.

Buck: Juro gente, o moço que me vendeu esse mapa disse que era um tesouro dos bons, um Pokemon enorme, majestoso, daqueles que quando você vê já pensa "Quero no meu time!", tipo um... Mamoswine! Ou um Magmortar!

Lucas: Realmente, tá bem escasso o número de Pokemon de fogo na região, mas... Espera, você comprou esse mapa?

Buck: Foi, gastei minha mesada toda nele, mas tenho certeza que vamos encontrar algo!

Lucas: Tô sabendo... — Ele viu placas com tinta fresca coladas em algumas pedras pelo curso do lago, todas com setas apontando na mesma direção do mapa. — Muito escondido esse tesouro...

Hobber: Meninos, eu vou na frente pra pegar o tesouro antes de... Digo, checar se é seguro — falou assim que viu uma entrada por cima de algumas rochas, já começando a escalar.

Chang: A gente deveria confiar nele? Aquele cara é obcecado por prestígio!

Luiz: Eu não sou um menino de grandes expectativas, então tanto faz!

Hobber: Garotos! — chamou e todos prestaram atenção. — Subam aqui e vejam com seus próprios olhos! É mesmo majestoso e super raro!

Chang: Sai da frente, é meu! — Ele pisou na cabeça de Buck, o fazendo morder a língua e já escalando as pedras.

Barry: Credo... — Ele viu o restante brigando por quem subiria primeiro, mas Mudz foi ajudando um de cada vez.

    Assim que Brendan subiu e regressou Mudz, ele se deparou com uma trilha de terra onde podia ficar de pé e mais uma porção d'água entre várias rochas, mas com uma abertura no topo onde a luz do sol refletia na água.

    O som do "Splash" de um peixinho fazia a água do lago saltar e se espalhar em pequenas gotículas cintilantes pelo ar. O peixe tinha a cauda dividida em duas como se fossem asas e elas batiam ritmadas, com partes vermelhas que reslumbravam o ambiente como um filtro de tons quentes. Voltou a mergulhar e saltou girando junto de uma pequena onda, espalhando-a do mesmo jeito novamente. Parecia tentar alcançar o céu para fora da caverna, mas caía sempre quando estava bem perto dele.

    Identificando o Pokemon como Finneon, a Beautifly das águas, Chang baixou sua Pokédex, incrédulo. O Treinador, Barry e Luiz não seguraram o riso enquanto Lucas murmurou um "Eu te avisei" para Buck, que já sentia que seria motivo de piada pelo resto do ano.

Chang: É essa droga de Finneon que você chama de Pokemon raro e gigante?!

Buck: B-Bem, ele tem muita personalidade!

Chang: É só um Finneon como qualquer outro, esse ainda parece burro e não percebe que não é uma Beautifly para voar!

Lucas: Nisso tem razão, nenhum Finneon pode voar.

    Se dando conta de que tinham humanos ali, Finneon para de tentar voar, ficando apenas com a cabeça para fora da água, prestando atenção.

Brendan: "É legal que queira voar... Ter um sonho sempre é divertido." — pensava enquanto admirava o peixe, mas...

 — Psss, vem cá! — Uma voz baixinha e fina o chamou.

    Procurando de onde vinha, Brendan vê os garotos brigando e o Treinador rindo, então caminha pelo local, vendo uma sombra se espreitando para trás de uma rocha. Ele espia por trás dela, reconhecendo o Pokemon com flores nas orelhas que não sabia porque estava encontrando tantas vezes.

Brendan: você... — Ele tentou dizer, mas sua voz saiu rouca e sentiu sua garganta doer, levando as mãos até ela.

Shaymin: Faça a Finneon voar! — Sua voz soava na cabeça de Brendan sem que precisasse mexer a boca.

    Piscando para Brendan, Shaymin acha graça da surpresa dele ao ter certeza de que ela falava por telepatia. Ele pegou seu bloquinho e começou a escrever, mas ela não sabia ler, então ele só gesticulou com as mãos, mostrando que estava em dúvida.

Shaymin: É fácil de fazer! Só... Vruuuu! — Ela assoprou e suas flores giraram nas orelhas. Brendan piscou duas vezes, confuso, então ela repetiu o movimento.

Brendan: ...? — Ele assoprou o rosto de Shaymin, que se mostrou indignada e saltou, o dando um tapa. — !!!

Shaymin: Não em mim, nela! — Ela caminhou para fora da pedra, apontando com sua patinha para Finneon na água.

    Escalando o corpo de Brendan, Shaymin abaixou a touca por cima dos olhos dele, que entendeu o recado mas a subiu de volta, ficando de olhos fechados. De algum jeito que não conseguiu explicar, ouviu sussurros... Pareciam estar conversando sem parar, mas que sentido isso fazia?

"Ei! Quem são vocês?"

Pshpshpshpshpshpshpshpshpsh...

    Só ouvindo mais sussurros, Brendan ficou confuso. Sentia as patas de Shaymin encostando em seu cabeça. Por que os sussurros eram tão familiares? Não eram estranhos para seus ouvidos, mas o que tentavam contar?

Shaymin: Em silêncio, você finalmente está tentando ouvir, não só escutar!

    Brendan afastou os lábios lentamente e assoprou para frente, não tendo certeza do porque fez isso, mas os sussurros pareceram mudar de direção, ficando mais agitados e depois se esvaindo.

    Os olhos de Shaymin aumentaram de tamanho, brilhantes. Um sorriso se formou em seu rosto e Brendan abriu os olhos, não tendo certeza do que fez.

    No lago, o corpo de Finneon deixava a água e este olhava para baixo sem entender o que acontecia. Suas caudas balançaram como asas batendo e ele sorriu como nunca.

    Finneon estava voando e passeou pelo ar, mergulhando entre os garotos e depois subindo novamente, tocando cada centímetro do teto com sua cabeça e rodopiando na luz que adentrava pela abertura.

Lucas: Esse Finneon voa?! Certo, agora eu quero ele! Snover, Razor Leaf!

Luiz: Nem vem, já é meu! Kricketune, Fury Cutter!

    Deixando as Pokeballs, os Pokemon dos garotos começam a atacar Finneon. Este nem se importava, nadando pelo ar, maravilhado com a sensação que sempre sonhou em ter.

Barry: Nah, não tem Finneon na minha lista — disse, abaixando sua Pokeball.

Buck: Use Thunder Fang! — exclamou, arremessando uma Pokeball para frente.

~Shiiin! — O leãozinho saltou para fora dela, abanando a cauda.

Chang: Buck? Desde quando você tem um desses?

Buck: Ahahah, acho que já fazem alguns dias e...

Chang: Iron Tail!

    Apenas distraindo Buck, Chang libera sua Girafarig que acerta Shinx com sua cauda endurecida, o nocauteando imediatamente. Em seguida, tenta alcançar Finneon no ar.

Hobber: Vem cá, Finneon voador! — disse após apitar e assustar o Pokemon. — Machop, Mach Punch!

    Energizando seu punho, Machop se eleva saltando nas pedras da caverna. Girafarig e ele alcançavam o peixe, o encurralando, mas...

~Fiiiin!

    Abrindo suas caudas como um leque colorido, Finneon ilumina-as e estas batem para os dois lados, criando uma ventania que afasta os Pokemon. Todo o ambiente brilhava em prateado e Finneon voltou a mergulhar, caindo nos braços de Brendan, que o olha surpreso.

Brendan: ?! — Ele percebeu correntes de água se formando ao seu redor, todas entrelaçando-se como anéis até o topo do caverna. Finneon olhou para o seu rosto, sorrindo com gratidão.

Hobber: Silver Wind e Aqua Ring... São belos golpes.

Chang: É, acho que Finneon escolheu com quem quer ficar.

Barry: Quem diria! — Ele sorriu para Brendan, que ainda não percebia o motivo daquilo.

Luiz: Bem, pegue isso. A Net Ball não funciona só para pegar insetos, ela também é ótima para os que vivem na água — disse, entregando uma capsula para Brendan.

    Desajeitado, Brendan a encosta em Finneon. Uma rede se materializa sobre o corpo do peixe, que desaparece num feixe de luz azul. A Net Ball gira uma única vez e reluz, concluindo a captura. O Treinador Hobber sorriu ao ver isso, cruzando os braços e apitando.

Hobber: Vamos, garotos, hora de voltarmos!

Chang: Buck, seu fanfiqueiro de uma figa, você me deve um Magmortar!

Buck: Ain...

Lucas: Parece que venceu essa... De novo — disse para Brendan quando os outros já desciam de volta para o lago.

    Sem saber o que fazer com a Net Ball, Brendan a guarda no bolso e leva as mãos até a cabeça, procurando Shaymin. Ele olha ao redor, volta atrás da pedra, mas nem sinal dela. Desistindo, também desce de volta para o lago. 
    Tendo atravessado a abertura do teto, Shaymin olhava para o céu que escurecia, mas estava repleto de estrelas. Ela sorri maliciosa, então rosna para um Zubat que foge de volta para dentro da caverna.

    No dia seguinte, na hora do intervalo dos alunos, Brendan continuava em sua mesa, digitando no celular até não ter mais sinal de novo.

Barry: Hey! Não quer comer com o resto dos meninos? — Ele se chegou ao lado de Brendan, que abaixou o celular. — Professor, Treinador! — Também os cumprimentou e Brendan percebeu que estavam ali.

    Virando para o restante do refeitório, Brendan viu Buck arremessando comida em outros alunos enquanto todos gritavam tanto que mais parecia um Bug Buzz misturado com um Echoed Voice.

    Escrevendo em seu bloquinho que preferia algo menos assustador, Brendan sorri sem graça para Barry, que concorda e volta para perto dos outros.

Samson: Que droga, hein? Nem o menino te chamando você vai! Eu devo ter sido muito ruim em outra vida pra ter que aguentar adolescentes nessa!

Hobber: Brendan — disse para o garoto, que parecia distante. — Eu entendo porque está aqui, comendo longe deles. Acho que estamos todos pelo mesmo motivo, na verdade... A sala dos professores também é uma confusão.

Brendan: ...? — Não percebendo o motivo da fala do Treinador mas o vendo sorrir, Brendan desembrulha um sanduíche, o mordendo.

    Já na mesa dos garotos, Barry desviava do que ele achava ser uma Oran berry amassada, forçando um sorriso para Luiz para fingir que achava aquilo muito divertido também. Lucas o olhou de canto, o vendo suspirar. Em sua mesa, Brendan fazia o mesmo.

Continua