Capítulo 18: Servindo soco no almoço!

    A Wild Area de Galar é um território perigoso que só os mais fortes e corajosos treinadores decidem atravessar. Os Pokemon são violentos e a maioria não tem convivência com humanos, como o caso desse Rhydon violento que perfurava pedregulhos com seu chifre broca.

    Três Ultra Balls rodopiaram pelo ar e se abriram próximas de Rhydon, que terminou de esmigalhar um pedregulho e virou-se para ver.

    Machop, Machoke e Machamp, três lutadores musculosos cercaram Rhydon. O Pokemon não pensou muito e rugiu, partindo para o ataque.

 — Sua pele é uma armadura natural, é verdade? — Uma voz feminina e séria foi ouvida por Rhydon, que notou ter mais alguém entre seus oponentes. — Mostre-me o que sabe fazer!

    Encarando o Pokemon, a garota se junta aos três lutadores e parte para os socos com ele.

    Essa garota é um exemplo de Treinadora que escolheu encarar a Wild Area...

    Seu treino intenso e diário ao lato de seus Pokemon lutadores a torna quase um deles. Os quatro combatem Pokemon da Wild Area, fortalecendo seus corpos e mentes, melhorando dia após dia. E essa garota não se permite mesmo descansar, nem duas pedras grandes e pesadas a impedem de fazer flexões alternando as mãos. 

    Mas nem ela e nem seus Pokemon parecem satisfeitos com os treinos. O sorriso nunca aparece no rosto da garota. O que será que está faltando?

 — Eu vou... Vencê-lo... — Ela terminava de amarrar uma atadura em seu braço, machucado pela luta com Rhydon. Socar aquele corpo duro era como socar pedras.

    Perspicaz, um Scyther usava seus braços como foices e voava baixo, camuflando-se na grama. Duas mãos musculosas agarraram-se em suas asas, o surpreendendo.

    Sem visualizar seu oponente, Scyther fincou uma das foices na grama e fez um movimento circular com o corpo, arrastando a barriga do oponente pelo chão até que o largasse.

    Revelando-se, um Machop saltou da grama, sem fazê-la balançar. Sua suavidade nos movimentos era resultado de muita técnica, até um simples iniciante reconheceria. Com apenas um golpe certeiro de caratê, Machop acertou o joelho de Scyther, forte o suficiente para fazê-lo se render à dor.

    Jogando o cabelo para o lado, a treinadora do Scyther o regressou. Era Aleíse, que mantinha-se séria naquela batalha. O Machop também foi regressado.

    Sua próxima escolha foi Weepinbell, que prolongou suas vinhas para prender-se na cabeça de Machoke, esticando-se até ele. Ela o abocanha, como se levasse sua cabeça, mas exalava esporos venenosos para enfraquecê-lo.

    Não aceitando aquilo por muito tempo, Machoke a segurou com os dois braços e acertou com o joelho em sua boca, finalizando com um golpe de caratê na cabeça, fazendo-a rolar para o lado de Aleíse.

    A última escolha de Aleíse, seu ás, Lurantis. A oponente trocou para Machamp, que socava todos os projéteis de insetos fosforescentes que ela criava, destruindo um por um.

    Trocando a estratégia, Lurantis recebeu o comando para usar Solar Blade, do jeitinho que Aleíse e ela aperfeiçoaram. A inseto desviou de socos do lutador de quatro braços, absorvendo energia solar durante seus movimentos, até projetar uma grande tesoura solar e desferir um corte no peitoral dele.

    Recuando, Machamp levou uma das mãos ao peito, mas aguentou a dor e rugiu. Lurantis o desafiou de novo com a tesoura, investindo em sua direção. Determinado, ele a tomou a tesoura e a desfez em luz, quase esmagando-a com os punhos se não fosse Aleíse regressá-la.

Aleíse: Wow... Eu sei quando não tenho chances...

"...Bea."

[North Wild Area]

    Aleíse foi convidada por Bea para almoçar. A garota não sabia era que Bea disputava território com um grupo de Ursaring, os espantando só de aparecer. Ela vasculhou um arbusto até achar o que queria, armando uma cabana e começando a cozinhar curry.

Aleíse: Gata, me amarrota que eu tô passada! Como você conhece todos os cantos da Wild Area? É gigantesca!

Bea: Eu vivo aqui há anos, não tem nada que me surpreenda. — Ela acerta um golpe numa pedra, a partindo facilmente e revelando...

Bea: Ok, isso me surpreendeu.

Aleíse: Nossa, anos no meio de tantos Pokemon perigosos... Não me espanta que seu estilo de combater seja tão... bruto. Mas com tantos Pokemon por aí, por que me desafiou para uma batalha?

Bea: Pensei que seria o suficiente, mas não foi. Não quero ofender, mas não era uma oponente como você que procurava.

Aleíse: Relaxa girl, só vou te xingar no Twitter! — Ela brincou, provocando uma curta risada em Bea. — Mas faz sentido, você está num nível muito acima do meu, só tenho duas insígnias até agora. Quantas você tem?

Bea: Insígnias? Ah, não, não... Eu estou participando do Galarian Star Tournament. Estou no Top 50 — disse, provando o gosto do curry. Machop, Machoke e Machamp também esperavam sentados pela comida, mas um tanto entristecidos.

Aleíse: Seus Pokemon não parecem satisfeitos...

Bea: Como assim?

Aleíse: Amiga, eu trabalhei num salão de cabeleileilos, eu sei quando um look não agrada alguém.

Bea: Você quis dizer cabeleireiros, não é? — perguntou, mas não foi respondida. — Mas não deve estar errada... Talvez estejam cansados de seguirem uma pessoa tão vazia como eu.

Aleíse: Uh? — Antes que pudesse perguntar algo, ela sente um pingo d'água cair em seu nariz. Olhando para o alto, começa a ver nuvens escuras rapidamente se aglomerando. — Chuva?! Mas o céu estava limpinho há um segundo atrás!

Bea: Droga... Vamos, me ajudem a levar o curry para o abrigo! — exclamou, e seus Pokemon se colocaram em prontidão para pegarem o caldeirão de curry.

    A chuva se intensificou rapidamente, mas Aleíse foi com Bea até a entrada de uma caverna escura. A lutadora acendeu uma vela, revelando as paredes da caverna com alguns cortes. Todos almoçaram, estranhando aquele temporal.

Aleíse: Gente, se lá em Wedgehurst chove assim e estraga o penteado de alguma cliente, ia ser uma choradeira! Haha!!

Bea: Não é a primeira vez que isso acontece... Ontem mesmo estava tendo uma tempestade de areia por aqui, nesse mesmo lugar. Cheguei a ver neve mais para perto de Motostoke. 

Aleíse: Que esquisito! Mas sabe o que eu gosto de fazer nessa chuvinha, gata?

Bea: U-Uh?

Aleíse: Comer... doces! — Ela passa sua bolsa para frente e a vira para baixo, despejando diversas barras de chocolate e balas. — Amou? Peguei todos os doces do salão quando saí de lá.

    Salivando, os três Pokemon sentem seus estômagos roncarem. Eles lambem os beiços, mas Bea interfere.

Bea: Não podem comer isso! Precisamos manter o físico para sermos os mais fortes de todos!!

Aleíse: Relaxa um pouco aí, garota! Aposto que você tá doida por um Skittykat, né? — Ela levantou uma barra de chocolate, provocando Bea, que virou a cara.

~Mako! — Machop cutucou Bea, abrindo um sorriso como ela não o via fazer há bastante tempo. Ele a entregou o chocolate, mas ela só aceitou quando Machamp, Machoke e Aleíse insistiram mais.

Bea: Yuuum! Isso é... uma delícia! — Corada, ela também sorri, mastigando o chocolate.

Aleíse: Não te falei, bonitona? Que físico nada! Você tá ótima, não vai ser um chocolate que vai...

Bea: Você não sabe.... — Quando Aleíse percebeu, Bea já tinha comido todos os doces. — Eu sou chocólatra! Não consigo parar, yuuum!

~Makonia! — Machamp também sorriu, divertindo-se em ver o rosto de Bea sujo de chocolate. Os três Pokemon começaram a rir e Aleíse também os acompanhou.

Bea: Heh... Hehe!! Hahaha! — Não conseguindo prender o riso, ela também gargalhou. — Ai, não ria assim há algum tempo...

Aleíse: Tá vendo, gata! Mas e aí, sabe o que eu também gosto de fazer em dias de chuva?

Bea: Envolve chocolate?

Aleíse: Melhor!

Maquiagem!!!

Bea: Como ficou? Eu estou bonita? — perguntou. Aleíse afastou-se com um pincel em mãos, segurando o riso. — O que é engraçado?

~Makokokoko! — Machoke não aguentou e caiu na risada, sentindo a barriga doer de tanto que ria.

Bea: Hey!!!

    A chuva continuava e as duas se divertiam mais, jogando jogos de mímica, montando times com os Pokemon. Machop não quis mais brincar depois de Aleíse não entender sua mímica perfeita, claramente um Dratini voando sobre um lago. Cansadas, decidiram dar uma pausa.

Bea: Você me lembra uma ex amiga minha... Ela sabia como me convencer a me divertir — disse, encostando as costas numa pedra. — Quando não estou na Wild Area, estou viajando pelo mundo, aprendendo diferentes técnicas de luta, aumentado meu repertório com formas de ficar mais forte... 

Aleíse: Isso é incrível, você deve ter conhecido tantos lugares! — Ela também repousou numa pedra, cruzando as pernas.

Bea: Não é o bastante... — Sua voz saiu como um suspiro. A iluminação da vela ficou mais fraca e os Pokemon voltaram a parecer tristes.

    Antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa, os Pokemon de Bea sentiram que alguém aproximava-se. A vela se apagou e Aleíse acendeu a lanterna de seu Rotom Phone, vendo um vulto passando pelas paredes marcadas por cortes.

    Conseguindo iluminar o que havia aparecido, Aleíse ligou os pontos. Viviam Honedge naquela caverna, o Pokemon espada amaldiçoada.

Bea: Ataquem! — comandou, mas seus Pokemon estavam tristes demais, não querendo obedecer. — Quê?!

    Mais Honedge chegavam, ali era mesmo o territórios deles e atacariam quem quer que fosse. Bea não teria problemas em vencê-los normalmente, mas nessa situação, sua única chance seria sair e enfrentar o temporal.

Aleíse: Sem desespero! Um Pokemon que a especialidade é cortar, né? Gato, essa é a minha também! — Ela tomou a frente, liberando Lurantis entre pétalas. A Pokemon as corta em pedaços que são levados pelo vento para fora da caverna.

    Os Honedge se unem para formar um guerreiro empunhando uma espada, mas Lurantis não se intimida, empunhando sua tesoura solar e combatendo, cortando os braços, pernas e pescoço do guerreiro. Os Honedge iam caindo, mas um deles era muito mais determinado, conseguindo desferi-la um corte nas costas.

Bea: Andem, andem! Temos que ajudá-la! Qual é o problema de vocês?! Se continuarem aí parados, nós nunca iremos vencê-lo!! É o nosso desejo... — Ela encara sua Wishing Star presa na pulseira no pulso, com os olhos marejados.

~Makonia...

Bea: É o nosso desejo, não é? — perguntou, abaixando o braço.

    O Honedge persistente foi jogado para fora da caverna, mas surpreendeu quando brilhou no temporal, que agora contava com raios. Um atingiu o corpo do Pokemon espada, que evoluiu e tornou-se um Doublade.

Aleíse: Corte duplo, é? — Ela enxuga o suor da testa. — Solar Blade!

    Tentando duelar com Doublade, Lurantis forma uma nova tesoura e os dois continuam o combate, mas agora podendo defender-se, o oponente de Aleíse estava bem mais versátil. Scyther e Weepinbell não teriam condições de lutar, Bea precisava ajudar.

Aleíse: Amiga, não quero apressar, mas o negócio tá feio aqui...

Bea: Não são só os meus Pokemon que lutam... — Ela soltou o laço de seu cabelo, desafiando Doublade. 

Aleíse: Tá doida?! É uma espada, você vai se machucar!!

    Investindo em Doublade, Bea o soca com o braço machucado, aguentando a dor. Seu corpo metálico nem arranhou e o Pokemon tentou cortá-la, mas ela desviou das duas tentativas.

    Observando-a lutar, Machop, Machoke e Machamp não tinham força de vontade para ajudar. A Wishing Star de Bea reagia brilhando em vermelho, mas isso deixava Doublade mais furioso.

Aleíse: O desejo dela... — Ela olha para os Pokemon em seguida, nas sombras da caverna. — Bea, seu desejo e os dos seus Pokemon estão distantes!!

Bea: Impossível! — Ela se vira para Machamp, mas sente a lâmina de Doublade encostar em sua garganta. Uma corrente de pétalas a fez cair, Lurantis a protegeu. — Por quê?! Eu treino duro todos os dias!! 

Aleíse: E eles se esforçam junto com você, mas escutam que não é suficiente! Bea, o que está faltando?!

    Memórias voltavam à cabeça de Bea enquanto ela continuava caída, vendo Lurantis manter Honedge preso nas pétalas.

Bea: Eu sempre viajava nas férias, para uma cidade em Kalos... — disse, levantando-se. Aleíse a olhou com pesar.

Aleíse: Sua ex amiga...?

Bea: É, ela vivia lá. Havia um lutador experiente, o mestre da Torre da cidade... Ele treinava essa minha amiga e eu, mas sempre fui a mais dedicada, a melhor. Eu ia substituí-lo no futuro, mas para ele, não era o suficiente. Eu ainda vou voltar lá, depois de ser a mais forte de todas, e provar que ele fez a escolha errada!!

~Mako...

~Makoko...

~Makonia...

Aleíse: Bea... Sabe, gata... Eu também sinto que a vida não me deu privilégios que outras pessoas tiveram independente de mérito, mas eu me esforcei para alcançá-los e não vou provar nada pra ninguém, sacou? Se você quer mesmo vestir esse look, vai em frente, mas estou te dizendo que acho que não precisa disso para preencher o vazio que sente! Você já é forte o suficiente!!

    Tocada com as palavras, Bea vira para seus Pokemon, que concordavam com a cabeça. Machamp fez positivo em suas quatro mãos. Por outro lado. as lâminas de Doublade captavam a energia de Bea e o Pokemon investiu contra ela, pronto para amaldiçoá-la.

Bea: Hyaaah!! — Reerguida, ela arremessou uma pedra para seus Pokemon, que a empurraram contra Doublade, cravando as lâminas dele nela. — Pegue-o!!

Aleíse: Vem aí!! — Ela expandiu uma Dusk Ball, piscando antes de arremessá-la em Doublade. O Pokemon foi capturado sem problemas e as duas garotas foram ao chão, exaustas.

    Estranhamente, minutos depois, a tempestade já havia passado. Bea, Aleíse e os Pokemon saíram da caverna, deixando os outros Honedge para trás. 

Aleíse: Que dia esquisito... Mas pensa bem no que te disse, tá? — Ela estendeu a mão para Bea. — Você tem amigos incríveis ao seu lado... Podem fazer o que quiserem juntos! Não sei sua história inteira, mas te afirmo isso! Não concordam, gatíssimos?

~Makoo!

~Mokoko...

~Makonia!

Bea: Obrigada... — Ela apertou a mão de Aleíse e as duas sorriram. — Te desejo sorte nos ginásios, Aleíse.

Aleíse: Obrigada, linda! Vou continuar meu treino por aqui, a gente se vê por aí! — Ela acenou para Bea e correu pela grama, sendo seguida por Lurantis.

    Poucos segundos depois, quando Aleíse já havia se afastado, Bea suspirou e sentou sobre suas pernas. Machamp sentiu algo diferente no ar e se virou na direção da caverna, vendo algo rastejando para dentro.

~Makonia...

Continua