Capítulo 33: Para fora do velho!

    Brendan não era o maior fã de aulas de Criação Pokemon, principalmente porque Cheryl, a professora, também era orientadora educacional e parecia sempre estar reparando nele como se buscasse qualquer sinal de que ele precisava de terapia urgente, o que não era bem uma mentira. É verdade que uma vez ela foi gentil ao ajudá-lo com Umi, seu Burmy, mas isso foi antes dele ter quatro horas seguidas de aula com ela todas as sextas. Ao menos serviu para Educação Física perder a coroa de Miss Odiada em sua premiação das disciplinas desse semestre. 

    Hoje Cheryl havia pedido para que todos juntassem as mesas formando um círculo com ela, então colocou uma música para meditação ao fundo e iniciou sua aula, provavelmente alguma conversa sobre saúde mental dos Pokemon e dos Líderes de Ginásio ser muito importante e blá blá blá, Brendan não se importava o suficiente para prestar tanta atenção nela. Ela adorava falar, assim como todos os Criadores Pokemon que conheceu. Cansando de tentar se manter com cara de paisagem só concordando sem parar com a cabeça para não ser chamado atenção, ele pegou seu celular por baixo da mesa, respondendo uma mensagens de Isabella, quando sentiu Barry o cutucando com o cotovelo.

Barry: Ei, você está bem?

Brendan: Sim, é coisa do trabalho!

Barry: Não sabia que trabalhava num culto — disse, espiando o chat em que Brendan agora respondia outra mensagem.

Brendan: Essa é só a Leuri!

Barry: Ah sim, você quer dizer o fake da Leuri!

Brendan: Eu não sei como te convencer de que ela é mesmo minha amiga, mas tudo bem!

Barry: Hey, não tá nada bem! Você escreveu Arceus com a minúsculo, sabe o que acontece com quem faz isso, né? Coisas muuuito ruins!

Brendan: Tipo mais três horas ouvindo essa música que me faz refletir desde o meu nascimento até o que comi antes de dormir ontem?

 — Caham!

Cheryl: Brendan e Barry, parem de conversar, por favor.

    Os outros alunos olharam na direção dos dois, que se envergonharam com isso. Lucas jogou algumas frutinhas de Snover para dentro da boca, sendo o único a não olhar.

Barry: Desculpa, professora!

Cheryl: Brendan... — Ela esperava que ele também dissesse algo, mas o menino apenas cruzou os braços. — Tudo bem, vamos nos focar na aula. Nossa dinâmica de hoje será de integração, eu sei que o diretor Cyrus proibiu que andassem com os Pokemon fora das Pokeballs deles, mas ele não está aqui, certo?

Brendan: Ainda bem que não... — Sussurrou para Barry, que disfarçou seu riso.

Cheryl: Vamos trabalhar com nossos Pokemon para estreitarmos nossos vínculos! É muito importante para os Líderes de Ginásio estarem em perfeita sincronia com seus parceiros para que eles também entendam que a batalha é uma prova para o desafiante, por isso devem lutar de maneira calculada. Escolham de um a dois dos seus Pokemon em treinamento e vamos fazer alguns exercícios em conjunto!

Chang: Girafarig, saia! — Ele liberou sua Pokemon, que assustou o Hippopotas de Murph, o fazendo rir.

Paulette: Vamos, Buck! O que está esperando para mostrar aqueles seus Pokemon poderosos que tanto fala? — perguntou enquanto seu Bronzor fazia sua caneta metálica levitar.

Buck: E-Eles não estão em treinamento, ia ser contra a dinâmica!

Aiyra: Então cadê o Bidoof caramelo? — Ela sorriu do rosto enfurecido de Buck, que liberou mesmo o Bidoof, mas acompanhado do Shinx. — Awnt! Shinx é tão fofinho, não acha, Pachirisu?

~Chiiipah!

    Luiz estava com Pineco no ombro, mas mostrava seu Shuckle para a professora, que o elogiava pela captura. Lucas aguardava com Snover por alguma instrução do que deveriam fazer.

Barry: Qual Pokemon vai escolher? — perguntou a Brendan, com Chimchar agarrado em seu ombro.

Brendan: Bem... Eu não quero criar uma cena aqui dentro, é melhor ficar de fora...

Barry: Ah, chama a Lala!

Brendan: Com a Girafarig ali? Ela não vai se controlar, vai querer batalhar!

Cheryl: Brendan, todos devem participar da dinâmica. — Ela foi até onde o garoto estava sentado e ele a encarou. — Qual é o problema com seus Pokemon?

Brendan: Nenhum, só não quero participar.

Chang: Deve estar com medo de perder outra batalha pra mim!

Cheryl: Chang, por favor! Escute, Brendan, vamos fazer um acordo... Você não fez quase todos os trabalhos que passei até hoje, sabe que a nossa nota funciona com base neles. Se colaborar dessa vez, não vou colocá-lo em recuperação.

Barry: Aceita! — exclamou mais alto do que gostaria. Brendan respirou fundo, descruzando os braços.

Brendan: Mas... Com qual Pokemon eu vou?

Cheryl: Que tal o Burmy?

Brendan: Não! Quer dizer, está tudo bem com ele, só... É um Pokemon novo, não temos muito contato ainda...

Lucas: É justamente esse o objetivo dessa aula — falou enquanto mastigava as frutinhas. — Você também pegou uma Finneon naquele dia. Deveria usar seus dois novos, eles estão em treinamento, diferente dos outros.

Brendan: Mas...

Cheryl: Ele tem razão. Vou pegar um aquário para a Finneon, mas está decidido, libere Burmy e ela!

Brendan: Humph... — Ele pegou as duas Pokeballs, encarando-as.

    Aos arredores de uma floresta encontrava-se a antiga cidade de Eterna, onde a Copa Brussel aconteceu há alguns dias. Nesse momento, Lisia acenava para um grande público que rodeava uma loja de bicicletas. Estava com Bow e Ali, suas Beautifly e Altaria, e haviam terminado de fazer uma performance enquanto todas usavam capacetes de ciclismo.

Lisia: Obrigada, gente! Foi uma honra ter sido chamada para participar da estreia da Rotom Bike, que anda até na água! Eu fico chocada com essas coisas com Rotom, mas tudo bem, aproveitem o cupom de desconto que estou oferecendo e garantam já as suas antes que acabem no estoque! Nas cores azul, rosa e arco-íris, hein!

Dan: Urgente! — Ele empurrou uma senhora pelo rosto, a atirando por cima de um bebê montado numa bicicleta tunada. — Lisia, dê algumas palavrinhas para o meu blog! Estamos vendo que está animada, participando de vários eventos para a sua campanha igual fez nos últimos três anos, mas se você não vence um Contest do que adianta tudo isso?

Lisia: Querido, primeiramente não vivo só de vitórias!

Dan: Ah, a gente notou!

Lisia: E acessem o meu perfil do Notável.com, fiz uma enquete sobre qual dos meus Pokemon querem ver na minha próxima apresentação! Sei que estão com saudades e querem me ver de volta aos palcos, mas estou preparando muitas surpresas, aguardem!!

Dan: Coordenadora Lisia critica toda a estrutura dos Contests de Sinnoh e acrescenta que vai dar release no Pokemon menos votado na enquete de seu perfil — dizia enquanto redigia um novo post em seu blog com a foto de uma Altaria em preto e branco.

    Quando conseguiu deixar o evento, Lisia passou a caminhar por Eterna, ainda com as vozes ressoando em sua cabeça. "Lisia, quero ser você!", era o que mais ouvia, mas nunca respondia um sincero "Não, você não quer". Também escutava o clássico "Lisia, suas combinações são as melhores!", o que ela apenas agradecia com seus sorrisos mais ensaiados. Depois de ser eliminada no primeiro round duas vezes seguidas, não parecia que eram tão boas assim quando realmente importava que fossem.

    Lisia sabia o que estava acontecendo de errado, ela não era nenhuma idiota de não perceber. A antiga sensação de que só estava entregando o que esperavam dela o tempo inteiro, como foi construída para fazer e como alcançou tudo que tinha até hoje, abrindo mão de uma individualidade que nem se lembrava mais de como era possuir. Seu sucesso pode ser inegável, a forma como mantém o público envolvido em suas apresentações e sempre sabe o que fazer, ao mesmo tempo que outra verdade é que há uma data de validade já vencida nisso.
    Cativar o público servia para garantir contas pagas e seus luxos já que consumiam tudo que ela participava e a engajavam, como o próprio evento de bicicletas. Ela duvidava que o tanto de Coordenadores presentes realmente se interessasse por uma Rotom Bike, nem ela mesma queria uma e foi seguindo essa linha de pensamento que conseguiu identificar o problema ainda quando o jurado das Copas, Hocus, a disse que queria conhecê-la algum dia; ela não tinha personalidade. Era aí que surgia o segundo dilema; o que fazer com essa informação? Pronto, era com isso que Lisia convivia há muitos anos, mas nunca encontrava a resposta que parecia tão urgente desde que sua campanha sequer foi selecionada para torná-la numa Anfitriã. Isso era uma droga.
    Passando por uma estátua antiga que nem se importou em olhar, Lisia procurava por uma praça onde pudesse sentar num banco já pensando em ler os comentários que não paravam de fazer seu celular vibrar sobre a apresentação com Ali e Bow. Não aguentando esperar, ela pegou o aparelho, começando a rolar pelos comentários.

Lisia: Ai! — Desatenta, ela acabou tropeçando numa concha de Dwebble, se desequilibrando e caindo no chão. Seu celular saltou de suas mãos, indo parar um pouco mais a frente.

Burgh: Deveria prestar um pouco mais de atenção, Lisia — disse o pintor que rascunhava algo num caderno. O Dwebble protestou irritado e caminhou apressado para trás dele.

Lisia: Desculpe Dwebble, eu estava distraída... — Ela apanhou o celular e se levantou tirando a terra de sua saia. — Mas Burgh, o que faz aqui? Pensei que tivesse voltado para Unova!

Burgh: Foi o que disse naquele dia, não foi? Ah, mas eu não consegui!! Estou lidando com consequências de uma tremenda crise artística!!

Lisia: Poxa, tem algo que eu possa fazer pra ajudar?

Burgh: Na verdade, eu já...

Lisia: Ah que pena então, foi bom te rever, beijo! — Interrompeu, voltando a pegar no celular, mas... — Pera, por que não está... NÃO! A TELA QUEBROU!!

Burgh: Deixa eu ver! Nossa, mas quebrou feio mesmo!

~Dwee! — Dwebble mostrou a língua para Lisia, que balançou o aparelho esperando que voltasse a funcionar novamente.

Lisia: Ai, não, não!! Eu preciso dele funcionando hoje, todas as minhas contas estão logadas aí e vai ser um infernooo pra recuperar em outro celular!

Burgh: Calma, sei de uma loja perto do ginásio que fazem conserto, te levo lá.

Lisia: Agora! — Ela puxou o outro Top Coordenador pelo braço, o fazendo soltar o caderno e as folhas voarem pelo ar.

    Enquanto isso, na escola, o Snover de Lucas usava seu Razor Leaf para recortar revistas enquanto seu Treinador fazia uma colagem numa cartolina.

Murph: P-Paulette! — começou falando baixinho, mas quando a menina se virou, ele se mostrou mais confiante. — Cheryl me pediu para distribuir esses acessórios para os Pokemon, pode escolher alguns!

Paulette: Obrigada! — Ela começou a vasculhar na caixa que o menino segurava, então vendo vários pingentes de corações que achou super fofos. Mas também haviam adesivos mais sofisticados, o que a fez pensar se não deveria escolhê-los... Então balançou a cabeça, pegando os que queria e sorrindo para Murph.

Barry: Aqueles dois parecem mais decididos, não acha? — perguntou para Brendan, desviando o olhar de Chimchar que dançava com Shuckle e o Bidoof caramelo. O amigo não respondeu, parecendo muito distante. — Brendan? Como está com Umi e Dory?

Brendan: Eles... Ehr...

    Brendan estava sentado num tapete colorido com um jogo de tabuleiro entre ele e o aquário redondo da Finneon Dory, que tinha a cabeça para fora d'água. Por trás do aquário, o Burmy Umi se escondia esperando que não o vissem, o que não dava muito certo já que o vidro era transparente.

Brendan: É difícil dizer, estamos tentando jogar Monopoly juntos mas não está dando muito certo... — disse enquanto Dory tentava jogar os dados no tabuleiro, mas eles afundaram em seu aquário. Umi se assustou com os respingos e quase deixou seu casaco para trás quando se jogou no chão desesperado. — Escolhi esse porque costumava jogar com Pulu, Mini e a Scarlet, era bem divertido.

Barry: Olha, cara... Acho melhor encontrar algo que funcione para vocês três. Por que não tenta uma combinação? — sugeriu parecendo mais animado com a ideia.

~Uuuumi! — Umi também pareceu gostar, parando de se esconder e concordando rapidamente com a cabeça.

Barry: Viu? Ele está empolgado! Lembro que estava o apresentando combinações aos poucos!

Brendan: Sim, mas desde a Copa Fantina... Quer dizer, você ainda se interessa, Umi?

    Assentindo, Umi desenrolou sua antena e levantou o aquário de Dory, que se encantou por estar elevada mesmo que não fosse tão alto, sentia que era quase como voar.

    Saltando para fora do aquário, Dory abriu suas caudas como asas e iniciou uma ventania prateada reduzida para se concentrar ao redor dela, conseguindo se manter no ar por alguns segundos.

    Fazendo malabarismo com o aquário, Umi preocupou Brendan, mas Barry o tranquilizou já que o Pokemon era habilidoso e não deixava nem uma única gota derramar. Além disso, Dory alternava entre a água e o ar no tempo correto, criando uma dinâmica funcional entre eles.

Brendan: Vocês dois... — Seus olhos brilharam por um momento, mas então negou com a cabeça. — Não, deixem isso para outra hora. Vamos tentar colagens ou dança, algo assim...

~Fiiin? — Parando seu movimento, ela voltou para o aquário que Umi trouxe ao chão em segurança.

Cheryl: ... — Ela observava Brendan dando as costas aos dois Pokemon.

Lisia: Aaaaah! — Em Eterna, ela dava as costas para uma loja, saindo com Burgh. — Não acredito que só vai estar pronto de noite!

Burgh: Pode fazer pinturas comigo até lá e assim relaxar, estou indo para o retiro da floresta de Eterna, quer me acompanhar?

Lisia: Retiro...? Olha, não estou afim de pintar nada, eu preciso continuar trabalhando na minha campanha! Se puder me emprestar o seu celular e colocar no meu perfil do Notável...

Burgh: Esse é um pedido complicado, eu não ando com o meu celular o tempo inteiro... Faz parte da ideia do Retiro e das pinturas, o celular é uma distração do mundo exterior e atrapalharia o processo.

Lisia: Que incrível... Não era assim que eu queria passar o meu dia!

Burgh: Bem, talvez seja como precise passar o seu dia!

Lisia: Ah, eu vou achar um celular! — Ela cruzou os braços, andando mais rápido.

Burgh: Claramente você não está no modo ensinável agora, então... Eu vou estar no Retiro se precisar de mim. Até mais!

Lisia: Garotinho! — chamou por um menino que lambia uma casquinha de sorvete. — Acessa aí meu perfil e vê o que estão falando de mim!

 — Mamãe disse pra eu não falar com estranhos!

Lisia: Mas eu sou a Lisia, não sou estranha!

 — Não posso, moça!

 — É o que que você quer com meu filho? — perguntou uma mulher com o triplo do tamanho de Lisia.

Lisia: Pode ser a senhora mesmo, coloca aí no meu perfil!

 — Você vestida assim só pode ser Coordenadora querendo influenciar meu filho, ele já tem o futuro dele traçado, vai se tornar Líder de Ginásio!

 — Mamãe, eu quero ser performer lá em Kalos!

Lisia: Credo pra que se humilhar garoto, melhor ouvir sua mãe mesmo! Mas senhora você não tem um celularzinho pra me emprestar não?

 — Não, acabei de ser assaltada por um Aipom e estava indo dar queixa na delegacia!

~Eippa!

    Saltando por cima da cabeça de Lisia, o macaquinho gargalhou para ela, que decidiu segui-lo para recuperar o celular e ler os comentários. Ela correu pela cidade tentando acompanhá-lo enquanto questionava sua própria sanidade, cruzando um caminho de árvores, passando pelos portões do que parecia uma mansão abandonada, então rolando pela grama ao tropeçar numa berry arremessada pelo Pokemon...

Lisia: Não vou... Desistir! — Ela se esforçava para levantar, os cabelos bagunçados e os braços já ralados, quando viu o celular parado no chão. Seus olhos dobraram de tamanho e ela se arrastou sedenta até ele, mas novamente o macaco o pegou e saltou para o meio dos arbustos rindo. — NÃO!!!

Burgh: Lisia?

    Quando a Top Coordenadora o ouviu chamá-la, percebeu que naquele jardim da mansão que invadiu estavam sentadas em tapetes algumas pessoas, como Burgh. Ela se levantou arrumando o cabelo e viu o Aipom correndo com o celular.

Lisia: Me dá o celular!!

 — Ei não pode gritar no Retiro! — gritou um garoto com uma gaiola aberta.

 — Cuidado com isso, você quer me gatilhar?! — gritou de volta um homem usando um traje com asas para batalhas aéreas.

~Crustle!! — O Pokemon se fechou em sua enorme concha de pedra, assustado com a gritaria.

 — Entregue o celular para ela, Aipom — disse uma voz robótica.

    Quando Lisia pegou o celular, reparou em quem deu a ordem para o Aipom. Tratava-se de um robô totalmente metálico, seu corpo lembrava um vestido com saia rodada, a cabeça redonda tinha uma engrenagem como um arco a rodeando, e também tinha orelhas como as de um Raboot. No peito, algo colorido brilhava, mas Lisia ficou constrangida por estar reparando tanto.

Lisia: O-Obrigada...

Burgh: Lisia, essa é a Magearna, nossa mentora — disse e a robô assentiu inclinando o corpo levemente, produzindo um som como o de engrenagens rolando. — Os outros são Kooper, Homem Skarmory e o Crustle segurança lá do meu ginásio em Castelia.

Lisia: Ahn, prazer...?

Magearna: Quer se juntar a nós no Retiro? Você parece estar precisando — disse, virando a cabeça robótica. Ela não piscava uma única vez.

Lisia: Eu estou ótima, quero só o celular mesmo!

Magearna: Ok. Na nossa última sessão estávamos explorando os dilemas do Kooper com a identidade dele.

Kooper: Só porque eu treino Pokemon pássaros e coleciono gaiolas, as pessoas supõem que eu sou um Bird Keeper. É desumano!

Homem Skarmory: Olha, eu sei que não é culpa sua, mas essas características me fazem ver você como um Bird Keeper! E... Isso ativa gatilhos em mim!

Kooper: Eu preciso confessar, já criei alguns Starly em viveiro uma vez... — disse, segurando nas mãos do homem.

Homem Skarmory: Ai meu Rayquaza, como você pode fazer isso?! — Enquanto os dois discutiam, Lisia andava ao redor deles ligando o celular.

Magearna: Vamos nos policiar contra a codependência e...

Kooper: Nós não somos codependentes!

Magearna: Interessante, e o que você acha, Homem Skarmory?

Kooper: Nosso relacionamento é maravi...

Magearna: A pergunta foi para o Homem Skarmory.

Burgh: Eu tenho algo a dizer!

Magearna: Ótimo, diga.

Burgh: O Homem Skarmory está passando tempo demais com o Kooper e talvez isso não seja saudável...

~Crustle, crus crus!

Magearna: Desculpe, Crustle, quer dizer alguma coisa?

~Crus crus...

Magearna: Agora, se lembra de como falamos sobre vulnerabilidade e como ela é importante para o processo?

~Crus crus...

Magearna: E sobre como tirar a sua concha é um excelente começo?

~Crus crus... — Ele assentiu, a essa altura Lisia andava ao redor deles, mas prestava atenção curiosa. Os demais ficaram em silêncio por alguns segundos, todos olhando para o Pokemon.

Magearna: Quer sair da sua concha hoje, Crustle?

~Crus crustle... ("Ah, eu me sinto mais seguro com ela e...")

Ricard: Uiiii! — Ele saiu de dentro da mansão, acompanhado pelo Aipom de antes. — Foi mal gente, eu me atrasei, perdi a noção do tempo com os Gastly lá dentro!

Lisia: O quê?!

Ricard: Lá estava incrível, tenho quase certeza que um dos Gastly era minha falecida avó e... — Seu olhar encontrou o de Lisia, que o encarava com ódio — Ah, oi querida!

Lisia: Ali, use Dragon Breath! — gritou, arremessando a Pokeball.

~Altaaaa! — Deixando a capsula, ela soprou sua energia elemental contra o Coordenador e seu Aipom, derrubando os dois junto de uma pilha de tapetes.

Magearna: Ei, Lisia!!

Homem Skarmory: Ah!! Eu que tinha empilhado aqueles tapetes!!

Kooper: Tá tudo bem, deixa pra lá, cara!

Homem Skarmory: Eu tenho o direito de ficar bravo!

Ricard: Ahhh não me machuque!

Lisia: Esse Coordenador trambiqueiro e o Aipom sujo dele tentaram me roubar e me atacaram desprevenida lá no Amity Square, por culpa deles fui expulsa do lugar!

Magearna: Tá, Lisia querida, eu vou pedir para você se sentar num tapete agora. Agora!!

Lisia: Ah, tá bom! Assim que eu sair daqui eu vou acabar com esse cara!

Magearna: Não é assim que resolvemos nossos problemas por aqui — disse e os demais começaram a cochichar.

Burgh: Lisia, você é bem vinda ao nosso círculo!

Ricard: Eu adoraria resolver as nossas questões se você permitir... — disse ainda no chão, e Lisia sinalizou para sua Altaria não atacar.

    Na sala de aula de Brendan, Cheryl e sua Chansey faziam os mesmos movimentos enquanto uma música tocava, as vezes batendo palmas no ar, outras juntando as mãos e virando de costas, e assim começava uma sequência. Os alunos e seus Pokemon faziam o mesmo almejando alcançar a sincronia, Buck se atrapalhava o tempo inteiro, Chimchar as vezes se movimentava rápido demais e Barry ia ao contrário, acabando por ficar atrasado. Paulette com sua experiência como líder de torcida era a melhor no exercício, mas quanto a Brendan...

Brendan: Façam a contagem de passos comigo, vamos! Um, dois! Dois, dois! Um, dois! — Ele tentava Coordenar seus Pokemon, Dory de dentro do aquário fazia os movimentos com só a cabeça e as nadadeiras para fora o que tornava complicado, Umi se atrapalhou e escorregou no próprio casaco, caindo sentado. — Esqueçam, é melhor deixar isso pra lá...

Barry: Hey, calma!

    Brendan se afastou deixando os Pokemon para trás, mas Chimchar foi ajudar Umi a se levantar. Barry tentou ir até ele, mas Cheryl encostou em seu ombro, dizendo para deixar isso com ela.

Cheryl: Brendan, por que está evitando os seus Pokemon? Com esse comportamento só vai afastá-los, estou entendendo errado ou não quer criá-los?

Brendan: Não é isso! Eles só são... Novos. É difícil conciliar, estou só tentando fazer o que eu sei, ou eu não vou sobreviver aos Contests da temporada! — exclamou, corando em seguida. — Quer dizer...

Cheryl: Entendi. Você está se fechando para coisas novas porque tem medo de não aguentar lidar com elas — disse, puxando uma cadeira para ele se sentar de costas para os demais alunos curiosos com o motivo da conversa deles.

Brendan: Cher... Professora, eu sei o que você está querendo me dizer. Eu sei que não me dedico como deveria com a escola, até melhorei um pouco porque percebi que posso aprender algumas coisas, mas... Eu não queria estar aqui. Eu não quero ser um Líder de Ginásio, eu sou um Coordenador!

Cheryl: Eu sei disso. — Ela sorriu para surpresa dele. — Mas não estou te incentivando a participar das minhas dinâmicas porque quero que se torne alguém diferente. Eu quero que viva as novas experiências, as boas e as ruins, também. Brendan, mudanças e coisas novas são inevitáveis... Elas sempre vão chegar até você.

    Descruzando os braços, Brendan baixou o olhar, encarando a pulseira estrelada de seu Pokétch. Cheryl segurou nas mãos dele, o levantando.

Ricard: E foi assim que eu percebi que a verdadeira força vem de você se olhar no espelho e dizer: eu vou trabalhar em mim e no meu Pokemon, não preciso usar dos outros para alcançar o meu objetivo!

    Já no jardim da mansão abandonada da floresta, Ricard Nouveau era aplaudido pelos demais, mas Lisia ainda estava irritada.

Lisia: Você me enganou com uma proposta de trabalho falsa, me mandou vestir roupas de brechó num banheiro público e quando eu voltei estava roubando meus Pokemon!

Ricard: Oh, eu te entendo, Lisia, e eu assumo a responsabilidade pelas minhas ações. E lamento muito mesmo ter me aproveitado da sua superficialidade.

Lisia: Uau, você lamenta? Nossa, parece que fez um grande avanço!!

~Crustle? ("Isso foi sarcasmo?")

Homem Skarmory: Parece que claramente a madame tem questões para resolver, mas prefere ficar sentada aqui se divertindo enquanto nos ouve do que tentar melhorar — falou enquanto fingia digitar num celular imaginário.

Lisia: Eu não estou me divertindo!

Burgh: Certo, eu vou falar alguma coisa. Minha campanha para Anfitrião significa tudo para mim, já é a segunda vez que não fui chamado, estou sentindo os anos passando e minha arte nunca sendo reconhecida como deveria... Eu sei que está passando por algo parecido, Lisia.

Lisia: Eu... — Ela tentava desbloquear a tela do celular, mas não conseguia porque precisava de uma senha que não sabia. Irritada, arremessou o aparelho longe, mas Aipom o pegou. — Droga!

Magearna: Todos aqui já compartilhamos, Lisia. Tem algo que gostaria de colocar para fora?

Lisia: Não!!

Magearna: Você acabou de arremessar um celular longe, está obcecada por ele.

    Ficando em silêncio, Lisia olhou ao redor, todos a observando esperando que dissesse algo. Ela abriu a boca para falar, mas logo fechou. Mais alguns instantes que pareceram infinitos em silêncio, ela tentou a senha mais uma vez no celular, que agora bloqueou por excesso de tentativas, quando finalmente começou...

Lisia: Querem saber? Essa foi a minha primeira campanha para ser uma Anfitriã, o que significaria dar o próximo passo na minha carreira. — Os demais sorriram prestando atenção, o que a deu confiança para continuar falando. — Eu me esforcei, MUITO, para aparecer o máximo que pude me integrando com projetos, incentivando iniciantes, competindo em eventos de todos os tipos... Como pode ser possível que eu seja a Coordenadora mais popular da minha região inteira e não fui selecionada? Quem é Maika, gente?! Essa mulher surgiu de um bueiro e tava lá!!!

Kooper: Mas você fez isso tudo só para aparecer o tempo inteiro? Não foi por que realmente se importava com o seu conteúdo?

Lisia: Mas quem importa é o público, foi isso que aprendi há muitos anos... Se eles querem que eu sorria enquanto divulgo um cortador de grama que corta no ritmo do hino nacional, eu sorrio! Eu dependo da aprovação deles para ter sucesso! — Seus olhos lacrimejaram, mas ela secou as lágrimas rapidamente. 

Homem Skarmory: Ui, você foi direto no ponto! — Ele e Kooper balançaram os dedos juntos.

Lisia: Vocês são um casal por acaso? — perguntou irritada aos dois.

~Cruuustle! ("Codependência!!")

Lisia: Voltando... Burgh, você me disse que sua campanha foi taxada como confusa, mas a minha... Falaram que ela não tem personalidade, não tem a minha "cara".

Lisia: Dizem que tudo que eu faço não parece eu. Mas se eu mesma não pareço comigo, então quem eu sou? Qual é a minha personalidade? E que sentido isso faz?!

~Altaaa... — A Pokemon a olhou surpreendida por ter verbalizado tudo aquilo.

Magearna: É um ótimo questionamento, Lisia. Já que trouxe a dúvida, nos conte como descreveria a seguinte cena... Você está em sua casa se arrumando para ir comprar pão porque acabou e quer fazer um sanduíche.

Lisia: Ah, primeiro um banho de espuma, né? Escovar meu cabelo, colocar uns acessórios, um blush... Ver se meu celular está carregado caso me peçam pra gravar uma publi. Aí eu escolho uma roupa brilhante assim como as que uso nas minhas performances, me preparo para sorrir o caminho todo e é isso, bem simples, o que sempre faço para sair.

~Crus crus? Crustle! ("Nossa você não consegue parar de sorrir? Isso é carente e clichê!")

Lisia: Você que é carente e clichê!

Homem Skarmory: Mas você sai vestida pra comprar pão do mesmo jeito que se apresenta num palco? Isso não é um pouco demais?

Lisia: Eu sei, não precisa jogar na minha cara os meus erros óbvios, tenho o meu irmão pra isso!

Ricard: Lisia, mas é verdade... Por que tem tanto medo de não ser uma Pop Star o tempo todo?

Lisia: Sabe... Sabe quando você está no colégio e tem uma amiga que é mais legal do que você? Mais atraente, mais popular, que recebe a atenção de todo mundo... Bem... Olá! — Ela gesticulou, abrindo um sorriso como se estivesse se apresentando. — Eu sempre achei que se virasse essa pessoa, todos os meus problemas se resolveriam, todos prestariam atenção em mim, jurados, namorados, fãs... Que não ia ficar numa rejeição eterna por tentar incorporar músicas cantadas em apresentações, visuais únicos ou qualquer ideia que já tive algum dia... Então eu tive a chance de me tornar essa pessoa. E eu me tornei, gostei, e não consegui voltar atrás, nunca. Não sei o que me espera se eu não for a Pop Star... Mas agora nem ela parece estar bem.

(Out of the old - piano tutorial. Anotando caso o vídeo saia do ar e eu precise repor <3)

Kooper: Sabem o que eu acho? Temos que acabar com os Contests mesmo, olha o que fizeram com a cabeça dela!

Homem Skarmory: É, vamos acabar com os Contests!!!

Magearna: Não! Podemos por favor aplicar uma solução com base no que construímos no nosso Retiro?

Burgh: Machuca... — Ele levantou a mão e prestaram atenção nele. — Quando nos rejeitam em Contests dessa forma, porque nos lembra da época que nós nos rejeitávamos.

    Na sala de aula, Brendan olhava de longe Umi e Dory tentando acompanhar o ritmo sozinhos enquanto os outros alunos já estavam em sincronia com seus Pokemon. Com os punhos fechados pelo nervosismo, ele caminhou na direção deles.

Kooper: Tem coisas que por muito que tentemos não vamos conseguir resgatar do nosso passado, mas do mesmo jeito que mudamos uma vez, podemos mudar de novo.

    Assentindo para Barry, Brendan se abaixa para ficar mais perto de seus Pokemon, que o olham curiosos. Com um sorriso, sugere que todos tentem de novo, incluindo ele.

Homem Skarmory: Tenha coragem, você é alguém além do seu medo!

    Observando Brendan rindo com seus Pokemon, Cheryl afasta o cabelo do rosto e repousa a mão na cabeça de Chansey.

Ricard: Experimente parar de usar a Lisia Pop Star como uma armadura e tente vestir essas roupas, são do brechó mesmo, mas e daí? — disse, entregando uma muda de roupas para Lisia, que olhou para Crustle, o único a não se pronunciar.

~Crus... — Receoso, ele fechou os olhos, mas respirou fundo e recolheu seus braços para dentro da concha de pedra. Todos o olharam surpresos, e então...

    Saltando para fora, Crustle deixou a concha no chão. Ele se virou de costas, a olhou surpreso, e escalou para ficar por cima dela, onde sorriu travesso enquanto era aplaudido pelos demais. Vendo tudo isso, Lisia encarou a muda de roupas, a abraçando contra seu peito.

Magearna: Você pode ser alguém incrível também, Lisia! Consegue acreditar que esse grupo pensa assim?

Lisia: Eu... — Ela olhou no rosto de cada um... Burgh, Ricard Nouveau, Aipom, Crustle, Kooper, Homem Skarmory... E então, Ali, sua Altaria, a que mais parecia ansiar pela resposta. — Eu consigo!

Magearna: Então está pronta!

    Alguns minutos depois, todos estavam de pé, lado a lado, quando Lisia saiu de trás de uma árvore...

Lisia: E então? — Ela sorriu tímida, mas todos bateram palmas como fizeram com Crustle. Ali voou e a envolveu com suas asas, e as duas encostaram as cabeças.

Burgh: Como se sente, Lisia?

Lisia: Não acredito que vou dizer isso, mas... Abram as portas dessa mansão, estou doida para enfrentar uns Gastly!

Continua